PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA



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Transcrição:

Memorial da Resistência de São Paulo PROGRAMA LUGARES DA MEMÓRIA Palácio da Polícia Endereço: Rua São Francisco, 136, Centro, Santos, SP. Classificação: Aparato Repressivo Identificação numérica: 019-01.020 Em março de 1943, o governo do Estado de São Paulo determinou que seria construído na Praça Correia de Melo, no centro da cidade de Santos, o Palácio da Polícia Civil para centralizar todos os departamentos da polícia, que à época se dividiam entre edifícios alugados e a Cadeia da Praça dos Andradas conhecida como Cadeia Velha. Este novo prédio projetado com estilo moderno e linhas clássicas, só foi concluído após 13 anos, em 1956. Em meados deste mesmo ano, os presos e todas as repartições da polícia, que funcionavam no casarão dos Andradas, foram transferidos para o Palácio da Polícia. Devido sua estrutura, a carceragem deveria funcionar apenas para presos provisórios, mas a lentidão dos processos de investigação e julgamento em pouco tempo superlotaram as 42 celas, dos andares quatro e cinco (respectivamente carceragens masculina e feminina) do edifício. Em abril de 1964, dias após o golpe, os decretos de prisões provisórias aumentaram a população carcerária do Palácio. Operários e lideranças sindicais da Baixada Santista, que se envolveram em grandes greves na década de 1950 e nos primeiros anos da década de 1960, foram perseguidos e presos, assim como, pessoas que não estavam ligadas ao movimento operário e alguns professores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). 1

Imagem 01: Palácio da Polícia de Santos. Foto: J. C. de Carvalho. Fonte: Acervo Memorial da Resistência de São Paulo. Na carceragem do Palácio da Polícia, mais de sessenta pessoas ficaram à disposição das investigações do Departamento Estadual de Ordem Política e Social (Deops/SP) órgão sediado no centro de São Paulo, que se articulou com delegacias regionais para coleta de informações, e desmantelamento de organizações clandestinas, que militavam contra o governo ditatorial. Após serem julgados, os presos políticos foram obrigados a cumprir pena no recém-fundado, Navio Raul Soares. Transformado em presídio político, o navio que ficou ancorado em um banco de areia próximo à Ilha de Barnabé, foi desativado em outubro de 1964 e os presos políticos que não haviam sido liberados (ou que não haviam terminado de cumprir pena) retornaram para as celas do Palácio da Polícia. A atuação do Deops/SP em Santos aconteceu durante todo o período ditatorial (1964-1985) reunindo uma série de documentos relativos aos perseguidos políticos, suas prisões, e as atividades ditas subversivas. Desde 1999, o Palácio abriga o Departamento da Polícia Judiciária de São Paulo Interior (Deinter) que atua em 23 municípios da Baixada Santista, litoral e Vale do Paraíba. Executa atividades da Polícia Judiciária e conta com o Grupo de Operações Especiais (GOE), a Unidade de Inteligência Policial, o Núcleo de ensino Policial e a Delegacia de Investigação de Crimes de extorsão mediante sequestro. Apesar do decreto nº 34.216 de 1991, ter deliberado que cabe ao Arquivo Público do Estado de São Paulo APESP a guarda do acervo do extinto Deops/SP, a 2

documentação do período repressivo em Santos foi mantido em segredo. Apenas em 2010 o acervo foi descoberto e recolhido para o APESP. A documentação estava depositada, de maneira ilegal, no Palácio da Polícia de Santos. Foram 67 metros lineares de documentação pertencente ao Fundo Deops. Toda esta documentação recebeu tratamento de preservação e de organização e foi digitalizada e disponibilizada no site do APESP no Portal Memória Política e Resistência. Trata-se de 39.900 fichas que remetem a 11.666 Prontuários nominais e temáticos 1. O acervo com cerca de 45 mil fichas remissivas (nominais ou temáticas) que possibilita acesso aos 11.600 prontuários produzidos pelo DOPS de Santos, está aberto a consulta pública, após um ano e seis meses de trabalhos de higienização e classificação dos documentos pela equipe do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Imagens 02 e 03: Respectivamente, equipe do APESP trabalhando na documentação do DOPS/Santos; e Prontuários tratados do DOPS de Santos. Foto: Autor desconhecido. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo. Apesar da importância que o Palácio da Polícia de Santos dispôs para a repressão política na Baixada Santista, há poucos relatos e pesquisas sobre o local como prisão política durante a ditadura civil-militar. O local, que foi utilizado como 1 Para acesso a documentação em questão, sugere-se a consulta ao site do Arquivo Público do Estado de São Paulo (APESP). Disponível em: <http://www.arquivoestado.sp.gov.br/memoriapolitica/>. Acesso em 31/10/2014. 3

cárcere e centro da repressão política da região durante a ditadura, carece ser observado como um lugar de memória, que atravessou décadas guardando significativas memórias para a história na repressão na região. Além da documentação escondida e preservada, o prédio é um ativador de memórias dos que ali ficaram passaram e/ou ficaram presos. ATUALMENTE E/OU ACONTECIMENTOS RECENTES O saguão do Palácio da Polícia foi transformado no Espaço Cultural Dr. Paulo Bonavides, e entre fevereiro e março de 2012, recebeu a exposição Colorindo a Alma com pinturas em óleo sobre tela, de 20 artistas da Associação de Amigos da Arte. Outras exposições têm se realizado no local. No dia 27/11/2013 a Comissão Nacional da Verdade juntamente, com o Coletivo Sindical, realizou um Ato Sindical Unitário da Baixada Santista (A verdade e a memória dos trabalhadores Por justiça e reparação), com pessoas que ficaram detidas no Palácio da Polícia durante a ditadura. ENTREVISTAS RELACIONADAS AO TEMA BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Ato Sindical Unitário em Santos (SP). Depoimentos de: Telma de Souza, Aparecido Andrade, Luciano Valadares, Vitorino Nogueira e Altair Leire de Assis. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=82wphdpc26g>. Acesso em 31/10/2014. BRASIL. Comissão Nacional da Verdade. Depoimento de Oswaldo Lourenço e Osmar Golegã. Fundação Arquivo e Memória de Santos. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=b1r7pcsvcsy>. Acesso em 31/10/2014. COMISSÃO DOS TRABALHADORES. Vídeo Memória Sindical (Baixada Santista). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=-saw55pmlgc>. Acesso em 31/10/2014. REMISSIVAS: Navio Raul Soares; Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP); Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP). 4

REFERÊNCIAS MARQUES, Fabricio. O passado emergente. Revista Pesquisa FAPESP. 207, São Paulo, maio de 2013. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/05/14/opassado-emerge/>. Acesso em 31/10/2014. MELO, Lídia Maria de. Raul Soares, um navio tatuado em nós. São Paulo e Santos: Pioneira e Universidade Santa Cecília dos Bandeirantes, 1995. COMO CITAR ESTE DOCUMENTO: Programa Lugares da Memória. Palácio da Polícia. Memorial da Resistência de São Paulo, São Paulo, 2014. 5