DOSSIÊ DE TOMBAMENTO DA IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GORUTUBA PORTEIRINHA MG MARÇO DE 2002
INTRODUÇÃO Nesse dossiê foram sistematizadas as as informações históricas, a partir de fontes bibliográficas e orais, e arquitetônicas da Igreja de São José de Gorutuba. Este trabalho faz parte do esforço do Departamento Municipal de Cultura de estabelecer uma política de proteção do patrimônio cultural e da memória local, que vem promovendo pesquisas e ações para tal fim. Uma dessas ações é, precisamente, a formação e organização do Conselho Municipal de Patrimônio Cultural e o tombamento de diversos bens culturais do município. A Igreja de São José de Gorutuba faz parte desse conjunto dos primeiros bens que serão tombados no município. Assim, o dossiê é peça fundamental nesse processo de tombamento, uma vez que é ele quem subsidia o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural nas suas discussões e na decisão pelo tombamento do bem.
HISTÓRICO DA IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GORUTUBA A data precisa em que foi construída a Igreja do São José do Gorutuba não se sabe. Calcula-se que em fins do século XVIII e início do século XIX. O monumento é uma preciosidade, o testemunho de uma época, de um lugar do qual não se tem quase nenhum registro que permita a reconstituição da memória local. A data de fundação de São José do Gorutuba é desconhecida. Sabe-se que foi elevado a arraial/distrito/paróquia por um decreto imperial de 14/07/1832 e que fazia parte do município de Grão Mogol. Em 07/01/1875, pela Lei 2107, foi dividido em três distritos (Santo Antônio do Riacho, Serra Branca e São José do Gorutuba) 1. Em 1938, por Decreto-Lei 148, Porteirinha tornou-se Município emancipado e desmembrou-se de Grão Mogol, incorporando São José do Gorutuba. O distrito, já decadente, com a construção da Barragem do Bico da Pedra, na década de 70, foi transferido para o Povoado de Bom Jesus. Mais de 100 anos passaram E o fato consumou A represa do Rio Gorutuba A região inundou... 2 São José do Gorutuba havia sido um povoado importante habitado por latifundiários possuidores de muitos escravos. Um dos filhos mais 1 Documento textual. Secretaria de Cultura de Porterinha. s/a. s/d 2 Estrofe do poema sem título do Gorutubano Adriano Mendes da Conceição, 12/07/01.
ilustres, o Vigário José Vitório de Souza, teve sua história narrada por Simeão Ribeiro, no livro O Padre e a Bala de Ouro 3. Sinhá então mandou Seus jagunços para o estradão Quando o padre ia passando Com seu livro na mão/ Recebeu um tiro certeiro Cortou seu coração Morreu sem saber de nada Daquela cruel traição. 4 "Por toda a vasta região que tinha o Arraial de São José do Gorutuba como seu centro natural de convergência, no vaivém dos transeuntes, compradores de bois e de graãos e camboieiros, notícias inquietantes eram ouvidas nos pousos de viandantes, sobre as tocaias para abater o padre Vitório" 5. Do povoado de Gorutuba restam apenas algumas ruínas, um velho cemitério abandonado, a antiga escola (hoje sede de uma fazenda), também em estado de abandono, e alguns sinais de antigas residências ocultados pelo mato, que está se assenhorando do local. A Igreja, que guarda lembranças de um tempo de glória, insiste em resistir como guardiã da cultura e tradição local. Apesar do seu abandono e da total falta de conservação, ela guarda sua estrutura original (o piso assoalhado, onde outrora foram enterrados seus moradores mais ilustres, paredes com amplas portas e janelas, corredores laterais, coro, púlpito, altar e os sinais dos antigos afrescos 3 O Padre José Vitório foi transferido da Província de São João Del Rey para São José do Gorutuba em 1847, a mando do Arcebispo da Bahia, para substituir o Padre Carlos Prates. Proprietário de terras e escravos foi assassinado por uma mulher com quem havia realizado alguns negócios. 4 Folclore norte mineiro. Moda de viola de autor desconhecido. Música colhida por Nestor Mendes de Porteinha. (Texto digitado. Secretaria da Cultura de Porteirinha). 5 PIRES, Simeão. Na ladeira do Gravatá. In: Gorutuba: o padre e a bala de ouro. Montes Claros: snt.
desbotados pelo tempo). As antigas imagens já não se encontram mais no local. Segundo dizem, estão em poder de particulares e do Bispo Diocesano de Janaúba, que as levou para que não se perdessem definitivamente. Nas paredes encontramos resgistros de antigas missões que visitaram o local.
DESCRIÇÃO E ANÁLISE ARQUITETÔNICA DA IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GORUTUBA Edificação religiosa, provavelmente, da segunda metade do século XVIII, com significativo valor arquitetônico. De linhas simples, desenvolvese em um corpo central anterior, com dois corpos laterais contíguos, e um corpo central posterior, também com dois corpos laterais. O sistema construtivo mostra estrutura autônoma de madeira e vedação em adobe. As coberturas são em telhas curvas de cerâmica, sendo que os corpos centrais apresentam telhado em duas águas e os corpos laterais em telhado de uma água. O corpo central anterior, mais elevado, enquadrado por cunhais de madeira, mostra fachada principal que se ordena em porta única central, de verga reta, vedada por folha de madeira com almofadas e por duas janelas de coro emolduradas em madeira com guarda-corpos, também em madeira, onde se mostram dois sinos (de tamanhos diferentes). A fachada lateral esquerda apresenta três vãos em alinhamento uma porta (que dá acesso 'a escada para o coro) e duas janelas - com a porta da fachada principal, emolduradas e vedadas por folhas de abrir de madeira, tipo calha. A fachada lateral direita apresenta dois vãos janelas emoldurados e vedados em madeira. O corpo central posterior, possui em cada uma das fachadas laterais três vãos uma porta e duas janelas -, enquadrados por cunhais de madeira e alinhados com a porta da fachada principal, emoldurados e vedados por folha de abrir de madeira, tipo calha. Encontra-se em bom estado de conservação.
DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO O perímetro de tombamento constitui-se à partir de retas paralelas ao pano das fachadas localizadas a 10 metros das mesmas.
JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO A delimitação do perímetro de tombamento buscou garantir uma área mínima necessária para a preservação da Igreja sem, contudo, prejudicar o proprietário da fazenda onde ela se encontra, já que Igreja encontrase muito próxima à casa-sede. Caso você estendida a área de tombamento a casa e outras instalações da fazenda seriam incluída no tombamento, o que não se justifica uma vez que essas edificações são recentes e não apresentam nenhum elemento de valor para que sejam preservadas.
DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO O perímetro de entorno do bem tombado constitui-se à partir de retas paralelas ao pano das fachadas localizadas a 100 metros das mesmas.
JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO O perímetro de entorno definido buscou incluir dentro de seus limites o antigo cemitério e algumas ruínas de alicerces, possivelmente da época que ali se situava o povoado de São José do Gorutuba.
DOCUMENTAÇÃO CARTOGRÁFICA 10 m. 100 m. 100 m. 10 m. IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GUTUBA 10 m. 100 m. 100 m. 10 m. Delimitação dos perímetros de tombamento e do perímetro de entorno. Perímetro de Tombamento Perímetro de Entorno
DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA Fachada principal da Igreja de São José de Gorutuba Fachada principal e lateral direita da Igreja de São José de Gorutuba
Vista parcial da lateral direita Vista da lateral direita enfocando o telhado
Fachada da lateral esquerda da Igreja de São José de Gorutuba Vista da fachada lateral esquerda enfocando o telhado.
Vista da lateral esquerda Vista do coro.
Vista do altar lateral. Vista do retábulo-mor
FICHA TÉCNICA ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ Marcus Vinícius Carvalho Coelho Teólogo / Consultor para Projetos Culturais, Ambientais e Educacionais. Maria Rosemary de Oliveira Historiadora FOTOGRAFIAS Vilson Alves Conceição Fotógrafo.
PARECER PARA TOMBAMENTO Edificação imponente, de uma beleza singela mas graciosa, é hoje a mais antiga que o município de Porteirinha possui. Remonta aos tempos em que Porteirinha era apenas uma fazenda. Apesar de seu abandono conserva suas características originais. É um dos remanescentes da arquitetura colonial na região. É também a única testemunha de que naquele local existiu São José de Gorutuba, que no século XVIII foi o principal distrito de Grão-Mogol, importante entroncamento comercial entre essa cidade e a Bahia. O seu tombamento é imprescindível, pelo risco de que a integridade e a autenticidade dessa importante edificação sejam afetadas, já que ela encontra-se praticamente abandonada. Com esse tombamento, Porteirinha estará protegendo um de seus maiores bens culturais, de grande valor arquitetônico, histórico e religioso
REFERÊNCIAS DE PESQUISA CONCEIÇÃO, Adriano Mendes da. Poema sem título. Documentos textuais. Secretaria da Cultura de Porteirinha. s/d. OLIVEIRA, Maria Rosemary de. Informações sobre a Igreja de São José do Gorutuba.. Porteirinha: um convite ao turismo. OLIVEIRA, Palmyra Santos de. Obra sem título. Porteirinha, s/d. Pelos Caminhos do Norte: Porteirinha, Serra Geral de Minas. Jornal do Norte. Montes Claros: 20.01.2000. Caderno Norte de Minas. PIRES, Simeão. Na ladeira do Gravatá. In: Gorutuba: o padre e a bala de ouro. Montes Claros: snt.