Influência Da Matéria Orgânica Na Produção De Mudas De Duas Espécies Arbóreas Da Caatinga Artur Diego Vieira Gomes (1) ; Maria José de Holanda Leite (2) ; Rivaldo Vital dos Santos (3) ; Carlos Roberto Ribeiro Leal Filho (4); Djailson Silva da Costa Júnior (1) (1) Graduandos em Engenharia Florestal; Centro de Saúde e Tecnologia Rural; UFCG, arturvieira1@hotmail.com; djailson_junior@hotmail.com; (2) Pós-graduanda em Ciências Florestais/UFCG, Patos PB, maryholanda@gmail.com; (3) Prof. Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal, UFCG, Caixa Postal 61, 58708-110, Patos PB, rvital@cstr.ufcg.edu.br; (4) Pós-graduando em Zootecnia (PPGZ) - Centro de Ciências Agrárias (CCA) - Universidade Federal da Paraíba (UFPB), campus de Areia-PB, carloszootecnista@bol.com.br. RESUMO A utilização de rejeitos de mineração na produção de mudas é uma boa saída na tentativa de reduzir os impactos causados pela mineração e retirada de solo para produção de mudas. O presente trabalho tem o objetivo, testar a utilização de rejeito de mineradora e matéria orgânica na produção de mudas de faveleira (Cnidoscolus quercifolius Pohl.) e jurema branca (Piptadenia stipulacea Benth) comparada ao método de produção convencional. A pesquisa foi conduzida em ambiente telado, da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal/Centro de Saúde e Tecnologia Rural/Universidade Federal de Campina Grande (UAEF/CSTR/UFCG), Patos PB, durante 70 dias. Os tratamentos foram compostos por: tratamento 1 (S) apenas solo, o tratamento 2 (SEB) solo e esterco bovino 1:1 (v/v), o tratamento 3 (RM) rejeito de mineradora e o tratamento 4 (RMEB) de rejeito de mineradora e esterco bovino à 20% (v/v). A partir deste pode-se constatar que para a produção de mudas de faveleira e jurema branca com a utilização rejeito como substrato, só é possível obter mudas de qualidades com a adição de esterco bovino, pois o mesmo melhora as características químicas e físicas do substrato. Palavras-chave: esterco bovino, faveleira, jurema branca. INTRODUÇÃO A degradação ambiental é um problema que afeta todos os ecossistemas direta ou indiretamente, ocorrendo sob várias intensidades em todo o globo, principalmente nas regiões áridas, semiáridas e sub-úmidas secas, em que são mais susceptíveis ao desaparecimento das espécies (fauna e flora), resultante de vários fatores, entre as quais a atividade humana é a principal vilã (PEREIRA, 2008). - Resumo Expandido - [803] ISSN: 2318-6631
Na tentativa de minimizar os impactos ambientais, alguns métodos mostram-se promissores, tais como: o reflorestamento de áreas degradadas e o enriquecimento florístico através da revegetação, sendo que a maior dificuldade é encontrar técnicas de baixo custo e viáveis que reduzam o impacto ambiental e proporcionem excelentes resultados. Com a necessidade de se produzir mudas com características desejáveis e resistentes às condições adversas, frequentes em áreas de reflorestamento, tem exigido dos pesquisadores o desenvolvimento de técnicas adequadas que possibilite maior sobrevivência das mesmas, principalmente daquelas espécies em que a produção de sementes é escassa ou sofre restrições (SOUZA et al., 2005). Ainda segundo estes autores, dentre os fatores que influenciam a produção de mudas de espécies florestais, destacam-se, além das sementes, as formulações dos substratos e os volumes de suporte dos recipientes tendo efeito direto na qualidade final. Na busca da qualidade de mudas e custo baixo de sua produção, tem sido abordado em vários trabalhos de pesquisa, no qual procuram definir as características, adequando-os à produção de mudas e substratos que reduzam o gasto final de produção. A maioria dos substratos usados nos viveiros florestais é composto por solo e fonte de matéria orgânica nas proporções (2:1v/v), esse solo provém de camadas superficiais de áreas de baixio (Neossolos flúvicos) com alto potencial produtivo voltado para agricultura, o que resulta em degradação ambiental e redução da área produtiva, afetando diretamente a economia, mesmo que em pequena escala. A utilização de rejeitos de mineração na produção de mudas é uma boa alternativa na tentativa de reduzir os impactos causados pela mineração e extração de solo para produção de mudas. Para o sucesso de substratos compostos por este material, a introdução de matéria orgânica se faz necessário já que, segundo Cunha (2006) a mesma é responsável pela retenção de água e fornecimento de nutrientes, possibilitando o desenvolvimento das mudas. Tratando-se de substrato, o mesmo deve proporcionar à planta, condições adequadas para desenvolvimento satisfatório tanto da parte aérea quanto radicular. As características físicas e químicas são fatores indispensáveis na produção de mudas de qualidade. Desta forma, o presente trabalho tem o objetivo, testar a utilização de rejeito de mineradora e matéria orgânica na produção de mudas de faveleira (Cnidoscolus quercifolius Pohl.) e jurema branca (Piptadenia stipulacea Benth) comparada ao método de produção convencional. MATERIAL E MÉTODOS Coleta de solo Os rejeitos de mineradoras (poeira fina e ultrafina de vermiculita) foram obtidos na Mineradora Pedra Lavrada (MPL) localizada no município de Santa Luzia, no Sertão paraibano, estes materiais form secos à sombra, destorroados, homogeneizados e peneirados em peneira com malha de 2 mm. O esterco bovino foi fornecido pela fazenda NUPEARIDO (Núcleo de Pesquisa do Semiárido) e o mesmo foi curtido durante 30 dias. Já o solo coletado de áreas de baixio classificado como Neossolos flúvicos (até a profundidade de 1 m). Em seguida, foi amostrado e posterior análise química no Laboratório de Solos do CSTR/UFCG, conforme metodologia descrita pela EMBRAPA (2006) (Tabela 1). Tabela 1 Atributos químicos dos solos e rejeito de mineradora - Resumo Expandido - [804] ISSN: 2318-6631
Solo e rejeito ph P Ca Mg K Na SB H+Al CTC V CaCl µg/cm³ ---------------------- cmolc dm -3 ---------------------------% S 6,2 44,1 5,0 2,4 0,18 1,9 8,3 1,68 10,4 89,4 RMF 6,4 330 16,5 2,5 0,33 3,7 23,03 0,6 23,6 97,5 RMU 6,7 429 26,0 4,0 0,49 6,1 36,59 0,6 37,2 98,4 *S = Solo de baixio; RMF = Rejeito de mineradora fino; RMU = Rejeito de mineradora ultrafino. Localização A pesquisa foi conduzida em ambiente telado (50% de sombreamento) no viveiro florestal, da Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal/Centro de Saúde e Tecnologia Rural (UAEF/CSTR/UFCG), Patos PB. Beneficiamento das sementes e semeadura As sementes de faveleira e jurema branca foram coletadas de uma única matriz de cada espécie localizadas no Campus de Patos da UFCG, beneficiadas, limpas e armazenadas até utilização no experimento. Antes da semeadura, as sementes de faveleira foram imersas em uma solução de hipoclorito de sódio a 0,5% durante 20 minutos para tratamento contra patógenos, lavadas em água corrente e escarificadas com lixa nº 180 3M para quebra da dormência. As sementes de jurema branca foram colocadas em um becker de 100 ml com água fervente após desligamento da fonte de calor durante vinte segundos, e a seguir foram lavadas em água corrente à temperatura ambiente, com o objetivo de uniformizar a germinação. Após este procedimento, foi feita a semeadura direta no vaso (5 sementes por vaso, com a manutenção da plântula mais vigorosa) com capacidade para 10 L. Os vasos foram mantidos em ambiente telado durante 70 dias, com sistema automático de irrigação ajustado para duas pulverizações diárias de 10 minutos. Variáveis analisadas Quinzenalmente, foram coletados dados de altura, diâmetro basal e número de folhas. A altura (cm) foi obtida com régua milimetrada, posicionando-a ao lado da planta e medindo o comprimento entre a superfície do substrato no vaso e a base do meristema apical. O diâmetro (mm) foi medido com paquímetro digital de 0,05 mm de precisão, e corresponderá à medida tomada logo acima da axila das folhas cotiledonares das mudas de faveleira e à medida observada no eixo caulinar das mudas de jurema branca logo acima da superfície do substrato dos vasos. Ao final dos 70 dias, a parte aérea das mudas de faveleira e jurema branca foram separadas da raiz na região do coleto. A parte aérea de cada planta foi colocada em saco de papel com orifícios e seca em estufa de ventilação forçada por 72 h a 60 C, após este procedimento foram pesadas para determinação da biomassa seca, através de balança digital de 0,1 g de precisão. Delineamento experimental Este trabalho foi composto por quatro tratamentos em delineamento inteiramente casualizado (DIC), quatro tratamentos e cinco repetições, totalizando 40 vasos para cada espécie, os tratamentos - Resumo Expandido - [805] ISSN: 2318-6631
foram compostos por: tratamento 1 (S) apenas solo; tratamento 2 (SEB) solo e esterco bovino 1:1 (v/v); tratamento 3 (RM) rejeito de mineradora e o tratamento 4 (RMEB) de rejeito de mineradora e esterco bovino à 20% (v/v). RESULTADOS E DISCUSSÃO As mudas de faveleira produzidas com o substrato convencional (SEB) (Tabela 2) apresentaram um ganho significativo (p<0,05) em diâmetro, altura, número de folhas e massa seca da parte aérea de 17,9; 91,4; 52,1; 74,9% respectivamente, quando comparo ao tratamento (S), indicando que a matéria orgânica favoreceu o crescimento vegetativo da espécie. O tratamento (RMEB) superou o tratamento (RM) em todos os parâmetros avaliados, com crescimento de 44,6; 178,3; 119,4; 74,2% em diâmetro, altura, número de folhas e massa seca da parte aérea respectivamente, mostrando que este material pode ser usado na produção de mudas, tendo a necessidade de suplemento com material orgânico que forneça nutrientes. Gomes et al. (2012) relata que este material é rico em nutriente, mas muitos deles está fortemente fixado ou sua liberação é muito lenta. Este mesmo tratamento quando comparado ao tratamento (S), mostrou-se estatisticamente iguais, levando em consideração que o solo é quimicamente favorável ao crescimento das plantas (Tabela 1), o acréscimo de 20% de matéria orgânica foi o suficiente para que um material praticamente inerte assemelhou-se ao solo de boas características físico-químicas. Tabela 2 - Dados médios do diâmetro, altura, número de folhas e matéria seca da parte aérea (MSA), para a produção de mudas de faveleira utilizando em diferentes composições de substratos. TRATAMENTOS DIÂMETRO (mm) ALTURA (cm) Nº FOLHAS MSA (g vaso -1 ) S 7,04 b 8,10 b 7,10 b 8,70 b SEB 8,30 a 15,54 a 10,80 a 15,22 a RM 4,24 c 2,30 c 3,10 c 4,53 c RMEB 6,13 b 6,40 b 6,80 b 7,89 b * médias seguida pela mesma letra nas linhas, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,01). S = Solo de baixio; SEB = Solo mais esterco bovino; RM = Rejeito de mineradora; RMEB = Rejeito de mineradora mais esterco bovino. Ao analisar o crescimento da jurema branca (Tabela 3), observa-se o mesmo comportamento da faveleira quanto aos tratamentos analisados na tabela 2, as melhores médias foram obtidas no tratamento (SEB), com crescimentos de 8,1; 26,9; 32,7 e 7,8 % em diâmetro, altura, número de folhas e massa seca respectivamente, quando comparado ao tratamento (S). Ao comparar estes parâmetros entre os tratamentos (RM) e (RMEB) nota-se que este último proporcionou crescimento de 32,4; 262,9; 118,8 e 92,3%. O que evidencia a importância do uso da matéria orgânica, na composição do substrato contendo rejeitos de mineradoras. Trabalhando com guanandi (Calophyllum brasiliense Cambèss.), Artur et al (2007) observaram crescimentos significativos quando acrescentado esterco bovino na composição do substrato. Resultados semelhantes foram observados por Cunha et al (2005) trabalhando com o ipê-roxo (Tabebuia impetiginosa (Mart. ex D.C.) Stand), estudando a produção de mudas de moringa (Moringa oleifera Lam) Neves et al (2010) demostrou maior crescimento na presença de esterco bovino, e Carvalho Filho et al (2003) recomenda o uso do mesmo na produção de mudas de jatobá (Hymenaea courbaril L). - Resumo Expandido - [806] ISSN: 2318-6631
Tabela 3 - Dados médios do diâmetro, altura, número de folhas e matéria seca da parte aérea (MSPA), para a produção de mudas de jurema branca utilizando em diferentes composições de substratos. TRATAMENTOS DIÂMETRO (mm) ALTURA (cm) Nº FOLHAS MSPA (g vaso -1 ) S 4,68 b 47,32 b 11,30 b 15,22 b SEB 5,06 a 60,07 a 15,00 a 16,42 a RM 2,87 d 10,65 d 7,70 c 7,53 d RMEB 3,80 c 38,65 b 16,85 a 14,04 b * médias seguida pela mesma letra na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (P<0,05). S = Solo de baixio; SEB = Solo mais esterco bovino; RM = Rejeito de mineradora; RMEB = Rejeito de mineradora mais esterco bovino. CONCLUSÕES Por promover melhor crescimento em todos os parâmetros avaliados, é recomendado a utilização de matéria orgânica no substrato de mudas de faveleira e jurema branca, mesmo que o rejeito de mineração apresente boas características químicas. O uso de rejeito de mineradora na produção de mudas de boa qualidade (faveleira e jurema branca), só é possível com a adição de matéria orgânica como fonte de nutrientes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARTUR, A. G.; MARA CRISTINA PESSÔA DA CRUZ, M. C. P.; FERREIRA, M. E.; BARRETTO, V. C. M,; YAGI, R. Esterco bovino e calagem para formação de mudas de guanandi. Pesq. agropec. bras., Brasília, v.42, n.6, p.843-850, jun. 2007. CUNHA, A. M.; CUNHA, G. M.; SARMENTO, R. A.; CUNHA. G. M.; AMARAL, J. F. T. Efeito de diferentes substratos sobre o desenvolvimento de mudas de Acacia sp. R. Árvore, Viçosa-MG, v.30, n.2, p.207-214, 2006. CUNHA, A. O.; ANDRADE, L. A.; BRUNO, R. L. A.; SILVA, J. A. L.; SOUZA, V. C. Efeitos de substratos e das dimensões dos recipientes na qualidade das mudas de Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex D.C.) Stand. R. Árvore, Viçosa-MG, v.29, n.4, p.507-516, 2005. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2 ed. Rio de Janeiro, 2006. 212p. GOMES, A. D. V.; LEITE, M. J. H.; SANTOS, R. V. Rejeito de vermiculita comparado ao método convencional de viveiros florestais na produção de mudas de sabiá (Mimosa Caesalpinifolia Benth). Revista Verde (Mossoró RN), v. 7, n. 2, p 236-241, abr-jun, 2012. - Resumo Expandido - [807] ISSN: 2318-6631
NEVES, J. M. G.; SILVA, H.P.; DUARTE, R. F. Uso de substratos alternativos para produção de mudas de moringas. Revista Verde (Mossoró RN Brasil) v.5, n.1, p.173-177 janeiro/março de 2010. PEREIRA, O. N. Gesso e rejeito de Caulim na correção de um solo salinizado e no crescimento de gramíneas. Patos-PB, 2008. 27 p. Monografia Unidade Acadêmica de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Campina Grande. SOUZA, V. C. et al. Produção de mudas de ipê-amarelo (Tabebuia serratifolia) (Vahl. nich.) em diferentes substratos e tamanhos de recipientes. Revista Agropecuária Técnica, v.26, n.2, 2005. CCA/UFPB. - Resumo Expandido - [808] ISSN: 2318-6631