AS COLAGENS DE LINDER STERLING COMO UM REFLEXO DA SOCIEDADE DE CONSUMO



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Transcrição:

11º Colóquio de Moda 8ª Edição Internacional 2º Congresso Brasileiro de Iniciação Científica em Design e Moda 2015 AS COLAGENS DE LINDER STERLING COMO UM REFLEXO DA SOCIEDADE DE CONSUMO The Collages of Linder Sterling as a Consumer Society Reflex Domineli, Nathalia dos Santos; Graduanda em Moda; Universidade Feevale; ndomineli@gmail.com 1 Introdução Este trabalho trata de um recorte monográfico que tem como objetivo identificar de que maneira a produção artística da britânica Linder Sterling se relaciona com a denominada sociedade de consumo, enquanto um reflexo do comportamento social. A artista em questão é conhecida por suas colagens, classificadas como feministas por apresentarem uma estética subversiva e um teor reflexivo que expõe de forma crítica questões referentes a objetificação do corpo feminino e estereótipos de gênero. De modo que a arte foi o meio encontrado por Linder para expressar sua visão sobre o tratamento recebido pelas mulheres ao terem seus corpos objetificados e transformados em mercadoria na crescente sociedade de consumo. Produção artística X sociedade de consumo Nascida em Liverpool como Linda Mulvey, o punk fez com que renascesse Linder Sterling. Sua transformação pessoal foi desencadeada em função do show dos Sex Pistols o qual assistiu em Manchester durante o recesso da Universidade, no verão de 1976. Nesta noite, a artista conheceu Howard Devoto, vocalista dos Buzzcocks, que ao saber que Linder se tratava de uma estudante de arte, lhe pediu para produzir material para flyers e, mais tarde, as capas dos discos da banda. Da parceria surgiu o que veio a ser um dos trabalhos mais importantes de Linder, a capa do single Orgasm Addict. 1 Trabalho desenvolvido sob orientação da Prof.ª Me. Marina Seibert Cezar, professora do curso de Moda da Universidade Feevale, com graduação em Tecnologia em Moda e Estilo (UCS/RS), especialização em Cultura de Moda (Anhembi Morumbi/SP), mestrado em Moda, Cultura e Arte (SENAC/SP) e doutorado em andamento em Ciências Sociais (Unisinos).

Figura 1: Poster Orgasm Addict (www.moma.org/collection/object.php?object_id=1 56037) 1977. Figura 2: Sem Título (http://lareviewofbooks.org/essay/in-the-cut-theart-of-linder/) 1977. Este, feito em colaboração com o designer gráfico Malcolm Garrett, traz uma das colagens da série Pretty Girl, feita através da junção de recortes de revistas pornográfica com catálogos de eletrodomésticos. Figura 2: Sem Título (http://www.we-heart.com/2013/02/25/linder-femmeobjet/) 2009.

Em suas colagens Linder utiliza símbolos, como as sobremesas que sintetizam a alusão do consumo e do desejo, e desempenham em seus trabalhos a função de ironia à objetificação do corpo feminino. Roland Bathes faz uma análise dos pratos elaborados, ressaltando o aspecto da superfície ornamentada dos alimentos: neste tipo de cozinha, a categoria substancial dominante é a cobertura [...] É evidente que isto se deve à própria finalidade da cobertura, que é de ordem visual [...]. (BARTHES, 1993, p. 78). As representações das mídias de massa constituídas pela confecção de pratos elaborados são compostas por objetos ao mesmo tempo próximos e inacessíveis, cujo consumo pode perfeitamente ser realizado simplesmente pelo olhar. Desta forma Linder torna explícita as conexões entre o consumismo e o prazer visual. Seu processo de composição emergiu do ato de separar publicações impressas em duas pilhas: uma feminina, com revistas de moda e romance, e outra masculina, com revistas de carros, DIY 2 e pornografia. Segundo a percepção de Linder, havia mulheres nas duas pilhas, mas em nenhuma delas as representavam de forma real. Savage (et al, 2012, tradução nossa) explica que ela percebia que em uma, a figura feminina assava bolos e desempenhava uma função decorativa, e na outra, servia como um adereço para fantasias masculinas. O trabalho de Linder encontrou um contexto na violência e provocação do punk. Rasgar coisas e remonta-las era uma forma de representar a falsidade e construção das imagens sociais existentes (INTERVIEW MAGAZINE, 2015). Ao longo do século XX, o desenvolvimento da produção em massa e da mídia nas economias capitalistas acabou por criar uma transformação total da vida cotidiana, reorientando praticamente todas as atividades para o consumo. Essas mudanças refletiram nos mais diversos aspectos da vida humana. Afetaram a concepção do corpo, transformado em mercadoria na pós modernidade, assim como afirma Bauman (2008, p 76): os membros da sociedade de consumidores são eles próprios mercadorias de consumo, e é a 2 Sigla de abreviação para Do it yourself, que no português significa Faça vocês mesmo. Tradução nossa.

qualidade de ser uma mercadoria de consumo que os torna membros autênticos dessa sociedade. Linder utiliza publicações impressas como um fértil recurso para fornecer o conteúdo de grande parte de seus trabalhos. As revistas apresentam uma criação excessiva de desejos insaciáveis e reforçam as motivações comerciais de identidade e expectativas sobre comportamentos construídos. As mensagens transmitidas muitas vezes configuram ideais estéticos inalcançáveis, instaurados como uma forma de controle feminino, papel exercido nos anos subsequentes ao pós-guerra pelos eletrodomésticos e a imagem da dona de casa perfeita. Naomi Wolf (1992, p.13) observa que à medida que as mulheres se liberaram da mística feminina da domesticidade, o mito da beleza invadiu esse terreno perdido, expandindo-se enquanto a mística definhava, para assumir sua tarefa de controle social. O trabalho de Linder serve como um reflexo do comportamento social, da mesma forma que Banash (2013, p. 17, tradução nossa) observa, a colagem é um espelho da produção e do consumo, também podendo operar como uma forma profundamente crítica, cortando as práticas típicas e ideologias de ambos os momentos do capitalismo. Ao misturar os recortes das revistas femininas e masculinas, a artista cria uma interrupção nas imagens, que acaba por reconfigurar seus significados, criando desta forma problematizações quanto a objetificação do corpo, que na maioria das vezes está associado ao feminino. Considerações Finais A produção em massa desencadeada pelo método de produção fordista, junto a ascensão da sociedade de consumo, causaram mudanças quanto ao significado de objeto. Essas mudanças refletiram nos mais diversos aspectos da vida humana. As montagens de Linder acentuam a impossibilidade do feminino ideal, através da representação da mulher em uma sociedade de consumo patriarcal. Seu trabalho desempenha a função de crítica ao mundo reificado e a exacerbação da sociedade de consumo, por meio da desconstrução das imagens dos veículos de massa que propagam as cresças que ajudam a criar ideais irreais.

Sua obra deixa explícito os problemas ocasionados pela sociedade de consumo, de tal forma que possibilita uma reflexão acerca dos problemas. Ao compreender a resposta criada por sua obra, entendemos as urgências e as possibilidades de um mundo que se desdobra na forma de mercadoria. REFERÊNCIAS BANASH, David. Collage culture: Readymades, meaning, and the age of consumption. Nova York, NY. 2013. BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro, RJ. 1993. BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadorias. Rio de Janeiro, RJ. 2008. MORRISSEY, Art Linder. Interview magazine, Nova York, NY, 22 mar. 2015. Disponível em: < http://www.interviewmagazine.com/art/linder/#_ > Acesso em: 22 mar. 2015 SAVAGE, Jon; GIBSON, William; VAUCHER, Gee; STERLING, Linder; KUGELBERG, Johan. Punk: An Aesthetic. Nova York, NY. 2012. WOLF, Naomi. O mito da beleza: Como as imagens de beleza são usadas contra as mulheres. Rio de Janeiro, RJ. 1992.