A hora e a vez de Augusto Matraga: uma análise semiótica



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Transcrição:

A hora e a vez de Augusto Matraga: uma análise semiótica Roseli Cantalogo Couto¹ ¹ Universidade de Ribeirão Preto-UNAERP-rcantalogo@hotmail.com Abstract: The aim of this work is to investigate the tale A hora e vez de Augusto Matraga by João Guimarães Rosa in accordance with the French Semiotics Theory. Thus, it is described the generative course of the subject who transforms itself along the time and that makes it question the value of its initial values. A generative model of discourse is applied to this tale so as to develop a semionarrative and semiodiscursive analysis. The work also attempts to observe how these changes occur at a discursive level through different names, which substantiate the subject, who at the beginning of the narration is the actor Augusto Esteves das Pindaíbas, later, Nhô Augusto, and finally, Matraga. Keywords: semiotics; Matraga; generative course; subject; value Resumo: Este trabalho¹ propõe a investigação do conto A hora e vez de Augusto Matraga, com base na teoria semiótica francesa. Aplica-se a ele o percurso gerativo de sentido com o objetivo de desenvolver um exercício de análise semionarrativa e semiodiscursiva. Assim, descreve-se o percurso narrativo do sujeito que se transforma ao longo do tempo, e essa transformação leva-o a questionar o valor de seus valores iniciais. Pretende-se, ainda, observar como essas transformações se manifestam no nível discursivo por meio da mudança de nomes que concretizam o sujeito que, na situação inicial da narrativa, é o ator Augusto Esteves das Pindaíbas, depois, Nhô Augusto, e finalmente, Matraga. Palavras-chave: semiótica; percurso gerativo de sentido; Matraga; sujeito; valor. Aplicando-se o percurso gerativo de sentido da teoria semiótica, ao conto A hora e a vez de Augusto Matraga, de João Guimarães Rosa, podemos observar que o sujeito não é estável, ele muda no decorrer do texto. Matraga não é Matraga, não é nada. Matraga é Esteves. Augusto Esteves, filho do Coronel Afonsão Esteves, das Pindaíbas e do Sacoda-Embira. Ou Nhô Augusto o homem nessa noitinha de novena, num leilão de atrás de igreja, no arraial da Virgem Nossa Senhora das Dôres do Córrego do Murici. (Rosa, 1977, p. 324). No sertão mineiro vive Augusto Esteves das Pindaíbas, ator que inicia o texto como um sujeito do fazer que leiloa uma mulher à-toa, numa festa de igreja. Manipulado por código de honra patriarcal, apóia-se, para esse fazer, em uma herança Estudos Lingüísticos XXXV, p. 1750-1754, 2006. [ 1750 / 1754 ]

de família, seu recurso financeiro, em proteção política e na retaguarda de vários capangas. Este falso poder lhe proporciona uma falsa competência para agir com certa superioridade, ignorando esposa e filha, submetendo seus capangas aos seus mandos de patrão. Nhô Augusto impõe a sua força para conseguir viver sob este código: ele crê poder dominar e o faz à sua esposa, sua filha e seus capangas que lhe prestam serviços e lhe são submissos. Ele quer mandar e desmandar em todos, sabe manipular as pessoas com quem vive, suas reféns, por intimidação, como é o caso da mulher, Dionora: E ela conhecia e temia os repentes de Nhô Augusto. Duro, doido e sem detença, como um bicho grande do mato... ele tinha outros prazeres, outras mulheres, o jogo do truque e as caçadas. (Rosa, 1977, p. 329). Desta forma usa e descarta as pessoas conforme suas necessidades. Adquire o dever-ser com base no código de honra do mandonismo local. Até que ocorre uma alternância de planos que já estavam em curso, mas ele não foi capaz de prever. A esposa resolve abandoná-lo e seguir outro homem, seu Ovídio, levando também a filha. Sem a esposa e com dívidas enormes, sem crédito, os capangas debandam para o lado de um tal Major Consilva. Este manifesta-se como anti-sujeito que acredita poder destruir Nhô Augusto. E como tal, contribui para que o sujeito perca seu papel de patriarca todo poderoso que acreditava poder pairar acima de tudo e de todos. Assim, quase qualquer um capiau outro, sem ser Augusto Estêves, naqueles dois contratempos teria percebido a chegada do azar, da unhaca, e passaria umas rodadas sem jogar, fazendo umas férias na vida: viagem, mudança, ou qualquer coisa ensôssa, para esperar o cumprimento do ditado: Cada um tem seus seis meses... (Rosa, 1977, p.333). Assim, a sorte de Nhô Augusto muda e ele, que vinha tendo uma sanção positiva, inicia um novo percurso temático, o da penitência em relação à vida de desmandos que levara até então. No confronto com os capangas, leva uma surra mortal. É tido por morto. Seu corpo é recolhido por um casal de pretos que passa a cuidar dele às escondidas. Acolhem-no com especial cuidado, protegem-no, alimentam-no, têm paciência na espera de um renascimento. Sua vida parece que foi desmontada e jogada num abismo, longe de tudo que conhece. Agora, parado o pranto, a tristeza tomou conta de Nhô Augusto. Uma tristeza mansa, com muita saudade da mulher e da filha, e com um dó imenso de si mesmo. Tudo perdido! O resto, ainda podia... Mas, ter a família, direito, outra vez, nunca. Nem filha... Para sempre... E era como se tivesse caído num fundo de abismo, em outro mundo distante. ( Rosa, 1977, p. 338 ). Antes era sujeito mandão, violento.agora, pelo sofrimento, torna-se um sujeito cognitivo; capaz de perceber a inconsistência dos valores que detinha. Vai, então, mudar a sua relação com o valor que atribuía aos objetos valores, passando do crer poder ao Estudos Lingüísticos XXXV, p. 1750-1754, 2006. [ 1751 / 1754 ]

saber não poder e sente a necessidade de confessar. Os pretos trazem um padre que o aconselha a esquecer todo o passado e iniciar nova vida. Tem início um novo percurso narrativo em que o sujeito quer acreditar que pode realizar sua performance, deseja ser absolvido de seus pecados e passa a viver uma vida, regrada pela fé cristã, marcada pela ânsia de castidade. Assim, não bebe, não fuma, não briga mais, reza muito, serve a todos e segue acreditando que vai conseguir alcançar sua hora e vez. Quando fica bom para andar, resolve mudar-se para um sitiozinho, perdido no sertão, lugar que pensava que nunca teria de ver. Chegando lá ele trabalha sem parar, ajuda os outros e reparte tudo que ganha. Parece, aos olhos dos habitantes do lugar, meio santo e meio louco.e neste intervalo de transformação o enunciador firma um contrato de fidelidade ficcional com o leitor. E assim se passaram pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho deste jeito, sem tirar e nem pôr, sem mentira nenhuma, porque esta aqui é uma estória inventada, e não é um caso acontecido, não senhor. (Rosa, 1977, p. 343). Depois de muito tempo, neste estado de contrição, passou por lá o Tião da Tereza um velho conhecido seu e trouxe-lhe lembranças e notícias dos capangas, do Major Consilva que tomara conta de tudo que era seu, da esposa que estava pensando em casar-se na igreja, já que estava viúva, e que a filha tinha caído na vida.há, neste ponto, uma expectativa do narratário de que ele pense em voltar para uma possível vingança, mas ele não se deixa manipular, pelo antigo código de ética. Mas pede ao Tião da Tereza que faça de contas que nem o encontrou, pois já não existia mais nenhum Nhô Augusto Estêves, das Pindaíbas. E devagarinho, quase de forma imperceptível, uma transformação passa a ocorrer com o sujeito. Com a chegada da estação das águas as plantas e os animais mudam e Nhô Augusto está mudando também. Passa a haver uma harmonia entre o homem e a natureza. E, uma vem, manhã, Nhô Augusto acordou sem saber por que era que ele estava com muita vontade de ficar o dia inteiro deitado, e achando, ao mesmo tempo, muito bom se levantar. Então, depois do café, saiu para a horta cheirosa, cheia de passarinhos e de verdes, e fez uma descoberta: por que não pitava?!... Não era pecado... Devia ficar alegre, sempre alegre, e esse era um gosto inocente, que ajudava a gente a se alegrar... ( Rosa, 1977, p 347) Um dia aparece por aquelas bandas Joãozinho Bem-Bem e o seu bando, que estava fazendo uns serviços por ali. Nhô Augusto torna-se seu anfitrião, aloja-o em sua casa; ganha assim, sua amizade e respeito. Novamente o narratário tem a expectativa de que ele está se preparando para voltar e vingar os seus algozes. Sempre se espera que essa metamorfose seja momentânea e que, na devida hora, Nhô Augusto vá dar o troco O narratário não estabelece um contrato de fé com o sujeito, ainda não acredita que tenha realmente boas intenções. O sujeito protagonista vivera por muitos anos segundo um código de honra e não é fácil crer que tenha se convertido tão cabalmente. Até que chega seu Joãozinho Bem-Bem ao lugarejo e o convida para fazer parte de seu bando. Estudos Lingüísticos XXXV, p. 1750-1754, 2006. [ 1752 / 1754 ]

E o oferecimento? Era só falar! Era só bulir com a boca, que seu Joãozinho Bem-Bem e o Tim, e o Juruminho, e o Epifânio e todos rebentavam com o Major Consilva, com o Ovídio, com a mulher, com todo-o-mundo que tivesse tido mão ou fala na sua desgarração, Eh, mundo velho de bambaruá!... Eh, ferragem!... (Rosa, 1977, p.355). Nota-se aí que o sujeito tem a competência, readquire o poder de se vingar, mas não se deixa manipular por ele, ou melhor, está em fase de competencialização, movido por outros valores, precisa crer que pode e que sabe fazer: perdoar. Passado algum tempo, o desejo de voltar à vida toma conta de Nhô Augusto. Isso se torna completo dentro dele quando ouve um bando de maitacas. Então, viaja, deixando para trás os pretos; diz que a sua hora vai chegar e ele tem que estar por ela em outras partes. Mais uma vez instaura a expectativa no narratário de que está pronto para a vingança.porém, quando entra no arraial do Rala-Côco, local de muito pouca distância do arraial do Murici; esta expectativa é quebrada. Reencontra ali o mesmo Joãozinho Bem-Bem e o seu bando, envolvidos em uma briga em que queriam vingar a morte de um dos homens do bando.queriam pegar a família do matador a fim de lavar a honra do companheiro morto. Trouxeram o pai, já velho e clemente, pedindo que o matasse no lugar de fazer qualquer judiação com suas filhas e filhos. Aqui se revelam as verdadeiras intenções de Augusto Matraga que não pensa mais em vingança, mas em praticar a justiça. Assim, tenta livrar o velho indefeso das mãos de Joãozinho Bem-Bem.Ambos duelam e feridos mortalmente, Joãozinho Bem-Bem morre primeiro e Matraga revela-se aos presentes: Pergunte quem é aí que algum dia já ouviu falar o nome de Nhô Augusto Esteves, das Pindaíbas! (Rosa, 1977, p.370). E ali estava um meio parente fazendo o reconhecimento da antiga identidade. E sendo morto em combate, recupera assim a sua honra. Não é um morto comum. É um santo: Traz meus filhos, para agradecerem a ele, para beijarem os pés dele!... Não deixem este santo morrer assim... (Rosa, 1977, p.370), falou o velho. Augusto Matraga morre como herói epicamente, vai para o céu, segundo a sua crença, ascende a uma vida superior em que o bem supera o mal, mas não deixa de considerar Joãozinho Bem Bem, seu compadre, a quem deve respeito e admiração. ¹Este trabalho, sob orientação das professoras doutoras Vera Lúcia Rodella Abriata e Marisa Giannecchini Gonçalves de Souza, filia-se ao projeto Semiótica faz sentido, do Curso de Letras da UNAERP, e se apresenta como resultado da iniciação científica desenvolvida. Estudos Lingüísticos XXXV, p. 1750-1754, 2006. [ 1753 / 1754 ]

Bibliografia BARROS, Diana Luz Pessoa de. Teoria do discurso; fundamentos semióticos. São Paulo, Atual, 1988. BERTRAND, D. Caminhos da Semiótica literária. Bauru, SP: EDUSC, 2003. FIORIN, José Luiz. Elementos de análise do discurso. São Paulo: Contexto/EDUSP, 1989. GALVÃO, Walnice Nogueira. Mitológica rosiana, São Paulo: Ática, 1978..Guimarães Rosa, São Paulo: Publifolha, 2000.-(Folha explica). GENETTE, G. Discurso da Narrativa. Trad. F. C. Martins. Lisboa: Veja, s.d. LIMA, Sônia Maria van Dijck. Guimarães Rosa: escritura de Sagarana, São Paulo: Navega Editora, 2003. NASCIMENTO, Edna Maria Fernandes dos Santos e COVIZZI, Lenira Marques. João Guimarães Rosa: homem plural, escritor singular. 1ª.Ed. - São Paulo: Atual, 1988. ROSA, João Guimarães. Sagarana, 20. Ed. Rio de Janeiro, J. Olympio, 1977. SILVA, Ignácio Assis. Figurativização e metamorfose: o mito de Narciso, São Paulo: Unesp, 1995. Estudos Lingüísticos XXXV, p. 1750-1754, 2006. [ 1754 / 1754 ]