AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS, QUÍMICA E ANÁLISE SENSORIAL DA CARNE DE CAVALO



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Transcrição:

Encontro Internacional de Produção Científica Cesumar 23 a 26 de outubro de 2007 AVALIAÇÃO DA COMPOSIÇÃO EM ÁCIDOS GRAXOS, QUÍMICA E ANÁLISE SENSORIAL DA CARNE DE CAVALO Ivane Benedetti Tonial 1 ; Ana Carolina Aguiar 2 ; Fernanda Araújo Bani 2 ; Jesuí Vergilio Visentainer 4 RESUMO: Este estudo teve por objetivo determinar a composição centesimal, de ácidos graxos, concentração de colesterol e avaliar a aceitabilidade gustativa da carne de cavalo entre a população brasileira. As amostras de carne de cavalo (filés) foram obtidas de Frigorífico do Estado do Paraná. A composição centesimal apresentou baixo teor lipídico (2,93%) e elevado teor protéico (22,54%). Na carne de cavalo foram encontrados ácidos graxos de importante valor nutricional como os ácidos araquidônico (AA, 20:4n-6) e eicosapentaenóico (EPA, 20:5n-3) com valores de 2,97% e 0,43%, respectivamente. A razão entre os ácidos graxos poliinsaturados e saturados (AGPI/AGS) foi de 0,97, este valor está dentro dos parâmetros recomendados. A concentração de 40,52mg de colesterol/100g de carne foi considerada baixa em relação a outras carnes como de frango, bovinos, ovinos e suínos. Em relação à avaliação sensorial houve excelente aceitabilidade da carne de cavalo pelos provadores. PALAVRAS-CHAVE: Analise Gustativa; Carne de Eqüino; Lipídios. 1 INTRODUÇÃO A criação de cavalos (Equus caballus) normalmente está focalizada para a prática de esportes e para seu uso em trabalhos. A utilização desta espécie como uma fonte de carne foi questionada em função de sua qualidade comestível, mesmo esta possuindo semelhante valor nutritivo, menor custo e menor teor de gordura quando comparada com a carne bovina (JUNQUEIRA et al., 2005). Dentre muitas culturas, a carne de cavalo é considerada um artigo altamente desejado para o consumo humano. Entretanto, no Brasil, a produção de carne eqüina pouco se destina ao abastecimento do mercado interno, sendo quase sua totalidade produzida para a exportação. O abate e comercialização desta carne muitas vezes são feitos de maneira clandestina e normalmente são realizados para gerar adulterações de produtos cárneos (JANSSEN et al., 1990). O preconceito contra a carne de eqüino torna o mercado interno inexpressivo, embora dispositivos legais permitam sua venda para consumo público. A comercialização de carne de eqüinos e seus derivados no Brasil são permitidos desde que conste nos rótulos a sua especificação (TORRES e JARDIM, 1985). Por outro lado, o trabalho de divulgação, comercialização e industrialização desta carne é dificultado devido aos dados 1 Doutoranda em Química, Universidade Estadual de Maringá - UEM, e-mail: ivanebt@hotmail.com 2 Graduandas em Engenharia de Alimentos, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá, PR. Bolsistas de Iniciação Científica (CNPq PIBIC-UEM) 3 Mestranda em Zootecnia, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá, PR. 4 Professores Doutores do Departamento de Química, Universidade Estadual de Maringá UEM, Maringá, PR.

que caracterizam os cortes de eqüinos serem pouco conhecidos (JUNQUEIRA et. al., 2005). Em comparação com a carne bovina, percebe-se que a carne de cavalo apresenta porcentagem elevada de gordura subcutânea e uma baixa porcentagem de gordura intermuscular e intramuscular, em função disto essa carne pode ser considerada uma carne magra (JUNQUEIRA et al., 2005). As características nutricionais da carne de cavalo têm atraído, atualmente, certa atenção já que existem poucas informações a respeito de seus parâmetros nutritivos, especialmente com relação à composição em ácidos graxos e teores de colesterol. Dentre os ácidos graxos, os poliinsaturados (AGPI) e monoinsaturados (AGMI) apresentam fatores benéficos e nutricionais à saúde humana, tais como redução de doenças vasculares e câncer de colo de útero, além de ajudar na prevenção de enfermidades imunológicas (HUNTER e ROBERTS, 2000). O colesterol é uma substância presente, predominantemente, nas gorduras animais. Trata-se de um componente essencial das membranas celulares e lipoproteínas, além de ser precursor de hormônios esteróides, ácidos biliares e vitamina D. Porém, em grandes quantidades pode causar doenças cardiovasculares, fazendo-se necessário o conhecimento de seu teor em alimentos (COSTA et al., 2002). Portanto, o objetivo deste trabalho foi avaliar a composição centesimal, de ácidos graxos, de colesterol e verificar a aceitabilidade gustativa da carne de cavalo entre a população brasileira. 2 MATERIAL E MÉTODOS As amostras (3 filés) de carne de cavalo (Equus caballus) foram doadas pelo Frigorífico Santa Fé, município de Santa Fé - PR. As amostras trituradas em moinho de facas, homogeneizadas e congeladas a -18ºC e mantidos até a realização das análises em triplicata. Os teores de umidade, cinzas e proteína foram realizados conforme as técnicas da AOAC (CUNNIFF, 1998). Os teores de lipídos totais foram analisados conforme metodologia de BLIGH e DYER (1959). A transesterificação dos ácidos graxos dos lipídios totais foi realizada segundo os procedimentos de JOSEPH e ACKMAN (1992). Os ésteres de ácidos graxos foram separados em cromatógrafo gasosos CP 3380 (Varian, Estados Unidos), equipado com detector de ionização de chama e coluna capilar de sílica fundida CP Select CB (FAME) cianopropil, (100m de comprimento, 0,25mm de diâmetro interno e 0,25µm de fase estacionária). Os fluxos dos gases foram de 0,6mL.min -1 para o gás de arraste (H2), 30mL.min -1 para o gás auxiliar (N2), 30 e 300mL.min -1 para os gases da chama hidrogênio e ar sintético, respectivamente. A razão de divisão da amostra foi de 1/100. A temperatura da coluna foi de 197ºC por 23 min., sendo então elevada para 225ºC a uma taxa de 20ºC.min -1, permanecendo nessa temperatura por 15 min. As temperaturas do injetor e detector foram de 240ºC. As injeções foram realizadas em triplicada e o volume de injeção foi 1,5μL. As áreas dos picos foram determinadas através do software Workstation versão 5,0 (Varian). A identificação dos ácidos graxos foi baseada na comparação dos tempos de amostras com padrões de ésteres metílicos de ácidos graxos (Sigma). A extração e quantificação de colesterol foi realizada segundo método de saponificação direta descrito por AL-HASANI et al. (1993). O teor de colesterol foi quantificado em cromatógrafo gasoso 14 A (Shimadzu, Japão), equipado com detector de ionização de chama e coluna capilar de sílica fundida com 25m de comprimento, 0,25mm de diâmetro interno e 0,20μm de SE-30 (Quadrex, EUA). As temperaturas do injetor, coluna e detector foram 260, 300 e 300 o C, respectivamente. Os fluxos de gases foram:

1,5mL.min -1 para o gás de arraste (H 2 ); 25mL.min -1 para o gás de reposição (N 2 ); 300mL.min -1 para o ar e 30mL.min -1 para o H 2 da chama. A razão de divisão da amostra foi de 1/150. A integração dos picos obtidos foi realizada com o Integrador-Processador CG-300 (CG Instrumentos Analíticos). A identificação do colesterol foi efetuada por comparação com padrão Sigma (EUA). A quantificação do colesterol contido na amostra foi feita após a verificação da linearidade do método, onde foram preparadas e analisadas soluções de colesterol padrão em diferentes concentrações contendo 0,20mg.mL -1 de 5 alfa-colestano. As amostras de carne (aproximadamente 500g) de cavalo foram cortadas em pequenos pedaços (2 x 4cm), salgados, homogeneizados e assados em grelha elétrica. A aceitabilidade foi avaliada com 30 provadores na faixa etária de 20 a 50 anos, consumidores potenciais de carne. Os provadores avaliaram as amostras utilizando teste de escala hedônica de nove pontos (9= gostei muitíssimo, 8= gostei muito, 7= gostei moderadamente, 6= gostei ligeiramente, 5= indiferente, 4= desgostei ligeiramente, 3= desgostei moderadamente, 2= desgostei muito, 1= desgostei muitíssimo), conforme a metodologia descrita por MEILGAARD (1987). 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos na análise centesimal foram: umidade (73,27%), cinzas (1,06%), proteína (22,54%) e lipídios totais (2,93%). Tais resultados caracterizam a carne equina como uma boa fonte protéica e com baixo teor lipídico. De acordo com a Tabela 1, os ácidos graxos majoritários foram os ácidos: palmítico (16:0, 25,94%), linoléico (18:2n-6, 22,88%) e oléico (18:1n-9, 22,15%). Na carne de cavalo foram encontrados ácidos graxos de importante valor nutricional, como o ácido araquidônico (AA - 20:4n-6) com concentração de 2,97% e o ácido eicosapentaenóico (EPA - 20:5n-3) com 0,43%. Tabela 1: Composição, somatórios e razões de ácidos graxos em carne de cavalo. Ácidos Graxos média±dp Ácidos Graxos média±dp 14:0 2,30±0,24 20:3n-6 0,34±0,01 14:1n-2 0,23±0,01 20:4n-6 2,97±0,22 16:0 25,94±0,73 23:0 0,19±0,01 16:1n-9 0,35±0,04 20:5n-3 0,43±0,02 16:1n-7 2,88±0,26 22:4n-6 0,92±0,05 17:0 0,46±0,01 17:1n-9 0,25±0,02 Somatórios e Razões 18:0 7,47±0,23 AGPI 35,78±1,13 18:1n-9 22,15±0,61 AGMI 27,43±0,66 18:1n-7 1,58±0,03 AGS 36,79±0,80 18:2n-6 22,88±0,33 n-6 34,92±1,13 18:3n-6 7,80±1,06 n-3 0,86±0,02 18:3n-3 0,43±0,02 AGPI/AGS 0,97±0,21 21:0 0,42±0,01 Os valores dados na tabela são médias ± desvio padrão, de analises em triplicas. Os somatórios são: Ácidos Graxos Poliinsaturados (AGPI), Ácidos Graxos Monoinsaturados (AGMI), Ácidos Graxos Saturados (AGS), Ácidos graxos ômega-6 (n-6) e Ácidos graxos ômega-3 (n-3), AGPI/AGS: razão Ácidos Graxos Poliinsaturados/Saturados. Esta carne também apresentou considerável concentração de ácidos graxos saturados (AGS - 36,79%) e poliinsaturados (AGPI - 35,78%). Dessa forma, a razão

AGPI/AGS obtida foi de 0,97, caracterizando a carne de cavalo como saudável, uma vez que o Departamento de Saúde e Seguridade Social da Inglaterra (1994) estabelece que valores menores a 0,45 são pouco aconselháveis para saúde em relação às doenças cardíacas. Quanto ao teor de colesterol, foi encontrado uma concentração de 40,52mg/100g de carne. De maneira geral, a carne de eqüinos apresentou baixos teores de colesterol quando comparada a outras carnes. Dentre os participantes da análise sensorial, o índice de aceitação correspondeu a aproximadamente 100% (pontuação do teste com média de 8,3), ou seja, houve excelente aceitabilidade da carne pelos provadores. 4 CONCLUSÃO Apesar de pouco consumida pelos brasileiros, a carne de cavalo apresentou excelente aprovação na análise sensorial. O nível de colesterol encontrado nesta carne foi menor quando comparado a outros tipos de carnes. Em termos nutricionais, mostrou-se uma boa fonte de proteína e de baixo valor calórico (teor de lipídios totais) e o conteúdo lipídico apresentou razão AGPI/AGS dentro dos valores recomendados para uma alimentação saudável. REFERÊNCIAS BLIGH, E. G.; DYER, W. J. A rapid method of total lipid extraction and purification. Canadian Journal of Biochemistry, v.37, p.911-917, 1959. COSTA, E. C.; RESTLE, J.; BRONDANI, I. L., PEOTTONI, J.; FATURI, C., MENEZES, L. F. G. Composição física da carcaça, qualidade da carne e conteúdo de colesterol no músculo Longissimus dorsi de novilhos Red Angus Superprecoces, terminados em confinamento e abatidos com diferentes pesos. Revista Brasileira de Zootecnia, v.31, n.1, p.417-428, 2002. CUNNIF, P. A. Official Methods of Analysis AOAC international, 6 th Association of Official Analytical Chemists, 1998. ed. Arlington: HMSO. Reporto in health and Social subjets, n 46. Nutritional aspects of cardiovascular Disease. Department of Health, London, p.178, 1994. HUNTER, B. J.; ROBERTS, D. C. K. Potential impact of the fat composition of farmed fish on human health. Nutrition Research, v.20, p.1047-1058, 2000. JANSSEN, F. W.; HAGELE, G. H.; VOORPOSTEL, A. M. B.; DE BAAIJ, J. A. Myoglobin analysis for determination of beef, pork, horse, sheep, and kangaroo meat in blended cooked products. Journal of Food Science, v. 55, p.1528-1530, 1990. JOSEPH, J. D.; ACKMAN, R. G. Capillary column gas chromatography method for analysis of encapsulated fish oil and fish oil ethyl esters: collaborative study. Journal of AOAC International, v.75, p.488-506, 1992. JUNQUEIRA, A. C. A.; BRESSAN, M. C.; REBELLO, F. F. P.; FARIA, P. B.; VIEIRA, J. O.; SAVAIN, S. V. Composição centesimal e teor de colesterol na carne de eqüinos (Equus caballus, Linneaus) machos e fêmeas agrupados por peso de carcaça. Ciência Agrotecnica, Lavras, v.29, n22, p.362-368, 2005.

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