RACISMO NO BRASIL: O mito da democracia racial FALANDO DE HISTÓRIA: SER PEÇA, SER COISA



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Transcrição:

RACISMO NO BRASIL: O mito da democracia racial FALANDO DE HISTÓRIA: SER PEÇA, SER COISA Por Neila Cristina N. Ramos Embora vivamos num país em que se tente transmitir uma imagem de igualdade e harmonia entre raças, essa é uma realidade ainda bastante distante de ser alcançada. Isso se deve a variados fatores. É válido reforçar as ideias de Lilia Scwarcz no seu livro Racismo no Brasil. Segundo ela, até os dias atuais, um fato marca tristemente a história do nosso país. Esse marco refere-se ao fato de ter sido o Brasil, o último país das Américas a ter abolido a escravidão. Nessa perspectiva, a escravidão no Brasil durou mais de 300 anos, sendo que entre meados do século 16 até a oficialização da abolição do tráfico (1850), cerca de 3,6 milhões de africanos foram importados. Tendo em vista esse longo período de convivência com a escravidão, muitas manifestações do povo negro foram sendo inseridas no Brasil, prova disso é a culinária, as danças, o batuque, cores, as manifestações religiosas entre outros costumes. Além disso, alterou-se também as estruturas sociais. Tendo sido a escravidão um regime em que um indivíduo (considerado superior), tinha o poder sobre outro (considerado inferior), a escravidão justificou, legitimou a hierarquia social e impediu discussões referentes à cidadania. Inclusive, Caio Prado Júnior em Formação do Brasil Contemporâneo, afirma que a escravidão era o único setor organizado da sociedade colonial, em que as relações eram bem definidas. Assim, todo o trabalho manual ficou restrito ao trabalho escravo, afinal, nenhum homem livre empregava seus esforços físicos no trabalho. Os escravos eram, portanto, os pés e as mãos do Brasil, sem o braço negro nada feito. Então, por um longo período de tempo, o trabalho negro foi o alicerce do nosso país. Lilia Moritz relata que ao ser arrancado da África, o negro era separado dos seus costumes, de seus laços pessoais e perdia sua origem e sua personalidade. (pág.39), de modo que não mais tinham antepassados, nomes ou bens próprios. No que se diz respeito a isto, um documentário chamado de Atlântico Negro- na rota dos orixás, um entrevistado africano afirma que antes de virem para o Brasil, os negros eram obrigados a darem 7 voltas ao redor de uma árvore chamada de árvore do esquecimento. Segundo ele, os brancos acreditavam que com aquele ritual, os escravos esqueceriam toda a sua origem e antepassado. Contudo é óbvio que isso não tinha praticidade, pois,embora fosse difícil, os negros buscaram recriar sua religião e seus

costumes, para pô-los em prática. Afinal, eram proibidos de manifestarem suas crenças e modos próprios de vida. O escravo era assim, um bem pessoal e podia ser trocado, vendido, leiloado ou emprestado. Era realmente tratado como uma coisa, uma peça, como outra qualquer posse do seu dono. E até 1.880 o destino do negro era de responsabilidade do seu proprietário. O escravo não decidia os rumos de sua vida. Um paradoxo da época era o fato de que a corte imperial civilizada queria que esse universo escravo fosse silencioso e despercebido, porém, o alto número de cativos era alarmante. Em 1849, 79 mil pessoas eram escravas, dos quais 75% eram africanos. Esse elevado número levou a uma divisão do Rio de Janeiro, onde de um lado tinha-se pessoas com hábitos ocidentais e do outro lado, tinha uma cidade composta praticamente por negros, apenas, região que ficou conhecida como pequena África. Assim, essa alta densidade de negros tornava-se uma ameaça à estabilidade da monarquia. Ou seja, para fora tinha-se a imagem de um Brasil ordeiro,pautado na propriedade agrária, enquanto internamente, tinha-se uma sociedade marcada pelo trabalho servil e por relações de desigualdades. A ciência constitui-se como uma armadilha a favor do racismo Até então, o negro era considerado propriedade, uma coisa, objeto. E Somente com a aproximação do fim da escravidão (1988) e o fim da monarquia (1889), a questão racial começou a ganhar espaço. Ao mesmo tempo em que essas questões começam a ganhar repercussão, surgiam também teorias raciais que negavam a possibilidade de igualdade, colocando-a como algo inalcançável. Os teóricos tinham por base uma ciência positiva e determinista e explicavam de forma muito objetiva que realmente havia diferenças entre os grupos humanos. Essas conclusões davam-se a partir da FRENOLOGIA, os estudiosos realizavam procedimento de medidas, estudavam a estrutura do crânio de modo a determinar a capacidade mental do indivíduo, o intelecto e características físicas. E segundo eles, tais estudos comprovavam as diferenças entre os indivíduos, e, assim, surge a noção de raça, a partir de conceitos biológicos que definiam os grupos humanos de acordo com o fenótipo. Assim, essas teorias ajudaram a colocar desigualdade como um sinônimo de inferioridade. Então, no Brasil, nega-se aquela idéia de que a miscigenação levaria à degeneração. Acreditando numa miscigenação positiva, contanto que, nessa miscigenação prevalecesse o branqueamento.por isso, no século 19, buscou-

se incentivar a imigração européia, como uma estratégia de branqueamento, de modo a tornar o país mais claro. (pág.43) A abolição A abolição da escravatura foi tida como conservadora, devido a seu caráter pacífico e gradual. Os abolicionistas não viam a libertação como algo revolucionário, pois se tratava apenas de acabar com o cativeiro, sem que houvesse qualquer outra proposta, como projetos de inserção da mão de obra desses negros ou até mesmo algum tipo de ressarcimento pelos serviços prestados. A prova do quanto o processo da abolição foi gradual, revela-se nas leis abolicionistas, principalmente nas leis: VENTRE LIVRE (1871), LEI DOS SEXAGENÁRIOS (1885) E LEI ÁUREA (1888) 1-VENTRE LIVRE (1871): Foi uma estratégia política para amenizar a oposição após a Guerra do Paraguai. Essa Lei estabelecia que os filhos de mulheres escravas nascidas a partir da promulgação da lei, seriam considerados livres. No entanto, as mães desses recém-nascidos continuavam sendo escravas. Por isso, os menores ficavam sob o poder dos senhores de suas mães, os quais teriam a obrigação de criá-los até os oito anos de idade. A partir dessa idade, o senhor teria duas opções: Receber do Estado uma indenização no valor de 600 mil réis (nesse caso,o governo é quem dá um destino a estes libertos), ou utilizar os serviços do menor até que ele completasse 21 anos de idade.essa segunda alternativa trazia mais vantagens aos senhores, já que a mão-de-obra era dependente basicamente do trabalho servil, ele continuava a utilizar o trabalho do escravo, além do mais, para não libertar o negro com 21 anos de idade, era comum os senhores alterarem a data de nascimento dos cativos, como um modo de aumentar a permanência dele. 2- LEI DOS SEXAGENÁRIOS (1885): Concedia liberdade aos escravos com mais de 60 anos de idade. Ou seja, essa lei beneficiava os proprietários e não os cativos, pois escravos com trinta anos já demonstravam aspectos de velhice, cabelos brancos e bocas desdentadas (pág.45) Então, aos sessenta anos de idade já não eram tão produtivos, portanto a liberdade desses homens era na verdade um benefício para os senhores. 3 -LEI ÁUREA (1888) Quando a princesa Isabel assinou a Lei Áurea, boa parcela de escravos já tinha conseguido sua liberdade, pois os movimentos de fugas intensificavam-se e frequentemente saiam nos jornais a notícia de que proprietários dormiram com suas senzalas cheias e acordaram com elas

vazias, sem nenhum escravos.diante disso, o exército se negava a perseguir os fugitivos e controlar tal fato fica cada vez mais difícil. Assim, em 1.888, a Lei 3.356 declarava extinta a escravidão. Porém o texto seco presente na lei, nada falava sobre o destino dessa grande população de recém-libertos, simplesmente silenciava sem fazer qualquer ressalva sobre o rumo desses indivíduos daquele momento em diante.as conseqüências dessa suposta organização no processo de libertação, foi colocar um imenso número de indivíduos pouco instruídos e despreparados para competirem com a mão-deobra imigrante. Vale destacar que, diferentemente de outros locais que estabeleceram ideologias raciais e criaram estratégias de separação, como o apartheid na África do Sul, a imagem que buscou-se passar aqui no Brasil, foi a de uma escravidão abolida harmoniosamente, levando a impressão de haver uma DEMOCRACIA RACIAL, dando uma idéia de que a abolição foi um presente do grupo dominante. O resultado disso tudo era que o Brasil passou a representar um acontecimento interessante, uma vez que não se via explicitamente manifestações conflituosas entre etnias, além de que não havia nenhuma medida oficial racial, transmitindo assim, uma falsa idéia de paraíso racial, num país que na verdade foi tão dependente da dominação racial e dependente de um cativeiro negro. (pág.48) Enfim, o Brasil acaba tendo uma história oficial reconstruída de forma romântica e mítica, ainda que não haja fundamentação a partir de documentos, já que RUI BARBOSA ( EM1890/ quando era ministro de finança), ordenou que todos os documentos e registros referentes á escravidão fossem destruídos. Segundo esse texto, Rui Barbosa teria dito que era necessário apagar o nosso passado negro. Embora toda a visão romântica construída, tem-se um país miscigenado onde o branco não é apenas uma cor, mas sim, uma qualidade superior. Porém, como esses conflitos raciais, ficam cada vez mais camuflados e subentendidos, maiores são as dificuldades de desvendálos e infelizmente temos essa falsa idéia de democracia racial. Se reunirmos um grupo de pessoas e perguntarmos se alguém tem preconceito racial, provavelmente ninguém levante a mão. Porém, se perguntarmos se há preconceito racial no Brasil, provavelmente todos levantem a mão. Então, a verdade é que ninguém quer ser visto e considerado racista, isso é moralmente ruim, porém eu, todos concordam que há vivemos num país racista, onde uma maioria tem preconceito, exceto eu. E essa é exatamente a principal característica do racismo brasileiro, o qual é frequentemente praticado, porém pouco oficializado, as pessoas não assumem, no entanto, esse silêncio não significa ausência. E mesmo com a proclamação da república afirmando a universalidade dos direitos, percebemos leis que visam punir o preconceito. Então, se tais leis são necessárias é porque o preconceito existe, ou então, não seria preciso a criação de leis para contê-lo.

Nessa perspectiva tem-se a lei 7.716 que afirma ser o racismo um crime inafiançável. No entanto, para que uma atitude seja considerada discriminatória, é necessário que aconteça em público, como em: hotéis, bares, restaurantes, clubes, ônibus, entre outros, pois, é necessário que haja testemunha. Para Lilia Swarcz, pode-se perceber em alguns artigos da Lei, a predominância de 3 verbos: IMPEDIR, RECUSAR E NEGAR. 3- Impedir o acesso, 4- negar emprego, 5- Recusar inscrição, 7- Impedir acesso escolar, 8- impedir acesso a restaurante, entre outros.. Ou seja, a autora coloca que RACISMO É, PORTANTO, PROIBIR ALGUÉM DE FAZER ALGUMA COISA POR CONTA DE SUA COR DE PELE. Porém o texto da lei não é muito claro, acerca do ato da punição. A lei se cala no que se refere às atitudes discriminatórias no âmbito privado, e o que realmente acontece é que, geralmente, não há punições, pois os flagrantes costumam ser quase impossíveis. Além dessas falhas nas leis, percebemos claramente os contrastes da sociedade brasileira a partir dos números que demonstram a ausência de uma distribuição igualitária em vários aspectos. No censo de 1960, no que se refere ao salário- a renda média dos brancos era o dobro do restante da população e boa parte dessa diferença é atribuída à discriminação. Um sociólogo realizou investigou a possibilidade de racismo nas práticas penais e concluiu que há diferenças de tratamento baseado na cor. RÉUS negros tendem a ser mais perseguidos e encontram maiores dificuldades para terem direito de defesa, além de que têm uma pena mais rigorosa que os brancos. No que se refere à educação, há maior concentração de negros em escolas públicas e nos cursos noturnos. A taxa de analfabetismo atingia 30% dos negros e 12% dos brancos. A COR DOS BRASILEIROS: Em 1988, estimava-se que 55,55% da população era branca e 5,4% era preta. Portanto, há de fato um apartheid social neste país. Um preconceito que ocorre no âmbito privado e é visível, até mesmo, no matrimônio. Os negros casam mais tarde; dos indivíduos que se encontram no grupo celibatário ( que nunca casaram) o número mais alto é o de negros do sexo masculino. Além de que o maior número de casamentos ocorre entre grupos de pessoas da mesma cor. Enfim, a população mais escura ganha menos, tem acesso à educação de menor qualidade, casa-se mais tarde e morre mais cedo. Diante de tudo isso, é inútil falar que vivemos uma democracia racial.

Referências Bibliográficas PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil Contemporâneo: colônia. 12. ed. São Paulo: Brasiliense, 1972. SCHWARCZ, Lilia. Racismo no Brasil, São Paulo, PubliFolha, 2001.