Contribuições à Audiência Pública AP 045/2008 27 de agosto de 2008 A) Contribuições gerais: 1) - No preâmbulo da minuta, falta citar a Lei 8078 de 11 de setembro de 1990, Código de Defesa do Consumidor. A sua omissão é sintomática, podendo ser interpretado como a negativa da aplicação da referida Lei, quando para a maioria esmagadora das relações de fornecimento de energia elétrica, (abrangendo praticamente todas as 45 milhões de residências brasileiras), onde são inequívocas as relações de consumo. A aplicabilidade do CDC, no fornecimento de energia elétrica para consumidores residenciais, é objeto das contribuições de inúmeros consumidores e entidades, entre os quais citamos o Ministério Público Federal, PROCON SP, IDEC, PRO TEST, etc, na Audiência Publica AP 008/2008. Esse problema atingiu também a Audiência Publica AP 014/2008 (PRODIST Procedimento de Distribuição). 2) - Lembramos um fato importantíssimo é que os consumidores residenciais já recebem a energia elétrica na tensão de uso (BT). A transformação de alta tensão de distribuição para a baixa tensão de uso é feita pela concessionária e portanto esta é responsável por todos os problema decorrentes desse fato. Assim é de responsabilidade da concessionária a minimização ou eliminação das sobretensões transitórias de origem atmosférica, transferidas do lado da alta tensão para a baixa tensão e que atingem a rede elétrica do consumidor com níveis perigosos para a vida do humana e para a integridade dos bens eletrodomésticos ( mais de 30.000 volts já citados nas minhas contribuições para as Audiências Publicas 008/2008 e 014/2008). Esses trabalhos são os seguintes: Os Efeitos das Descargas Atmosféricas no Fornecimento de Energia em BT da Universidade Federal de Itajubá, Solicitações Elétricas Em Dispositivos de Proteção Contra Surtos em Redes de Baixa Tensão do IEE da Universidade de São Paulo, Efeitos de Descargas Atmosféricas Diretas no Primário das Redes de Distribuição do IEE da Universidade de São Paulo e Proteção do consumidor de baixa tensão contra surtos de origem atmosférica transferidos da rede de distribuição de energia elétrica da Universidade Federal de Minas Gerais. 1
3) - Conforme o Art. 6 inciso III da Lei 8078 de 1990, CDC, é de responsabilidade da concessionária o fornecimento das informações a serem prestadas aos consumidores sobre os níveis de corrente de curto circuito na entrada. Essa informação depende somente dos parâmetros da rede elétrica da mesma e que normalmente não é fornecida. Desta maneira, os disjuntores de entrada são instalados sem todos os requisitos técnicos necessários, afetando a segurança dos consumidores. São também de responsabilidade das concessionárias o fornecimento das informações dos níveis de sobretensões transitórias de origem atmosférica que atingem a rede do consumidor. Também essa informação depende somente dos parâmetros rede elétrica da mesma e que normalmente não é fornecida, prejudicando a especificação técnica para a proteção contra essas sobretensões transitórias. 4) É falácia considerar as descargas atmosféricas e sobretensões transitórias resultantes nas redes de energia elétrica como acontecimentos de força maior ou caso fortuito, conforme o Novo Código Civil Brasileiro. É possível impedir que as descargas atmosféricas atinjam as redes elétricas e as sobretensões transitórias resultantes são perfeitamente possíveis de serem minimizadas, até que seus efeitos destruidores sejam anulados, evitando assim os danos nos aparelhos eletrodomésticos. Citamos a seguir os geradores de impulso, existentes em laboratórios especializados, como CEPEL, IEE-USP, UF Itajubá, UFMG, etc. Esses equipamentos produzem os raios artificiais e servem para testar a suportabilidade dos equipamentos elétricos e das redes elétricas a descargas atmosféricas. Desde os primórdios da utilização de energia elétrica, há aproximadamente um século, as descargas atmosféricas e as sobretensões resultantes das mesmas, no fornecimento de energia elétrica são estudadas, utilizando-se principalmente desses geradores de raios artificiais. Desta maneira, foram estabelecidos meios para evitar que as descargas atmosféricas atinjam as redes elétricas e as sobretensões resultantes minimizadas até que anulem os seus efeitos destrutivos. Citamos o exemplo de linhas de transmissões de energia elétrica. Essas linhas são projetadas e construídas com o cabo pára-raios, também conhecido como cabo terra, fisicamente instalado acima das linhas de transporte de energia elétrica, e que tem a função de receber as descargas atmosféricas e as sobretensões resultantes são escoadas para a terra, evitando assim quaisquer conseqüências danosas na rede elétrica. Essa proteção por cabo para-raio é necessária por causa da grande importância das linhas de transmissão, por transportarem grandes blocos de energia. 2
As linhas de distribuição, consideradas de menores responsabilidades, por transportarem menos blocos de energia, são projetadas e construídas sem os cabos para-raios, por motivos econômicos, considerando que existem construções mais altas nas proximidades e providas de para-raios que podem desviar os raios das linhas de transporte de energia elétrica. Essa opção é de exclusiva responsabilidade da concessionária. Assim se houver descargas atmosféricas na rede de distribuição de energia e transferir as sobretensões transitórias para a rede do consumidor, provocando danos nos eletrodomésticos, a responsabilidade continua sendo da concessionária. 5) - Mesmo com a inexistência do cabo para-raio na rede de distribuição aérea, existem meios para minimizar as sobretensões transferidas da rede da concessionária para a rede do consumidor, anulando os efeitos destruidores. Esses meios são a instalações de para-raios de resistência não linear do lado de alta tensão do transformador de distribuição aérea, aliada a instalação de para-raios de resistência não linear de baixa tensão na saída do mesmo equipamento. B ) Contribuições especificas: Na minuta: Art. 3 - As disposições desta Resolução se aplicam, exclusivamente, para caso de dano elétrico causado a equipamentos elétricos de tensão nominal compatível com a tensão de atendimento contratado no ponto de entrega ou da conexão de energia elétrica. Proposta: Art. 3 As disposições desta Resolução se aplicam, exclusivamente, para caso de dano elétrico causado a equipamentos elétricos que tenham a faixa de variação da tensão admitida, em relação à nominal, compatível com a faixa de variação da tensão da concessionária no ponto de entrega ou da conexão de energia elétrica. Justificativa: Normalmente os aparelhos são projetados para funcionarem com a faixa de variação da tensão de +/- 10% (ou maior) da tensão nominal e também há variação máxima na tensão da rede da concessionária de aproximadamente +10% e 15 % da tensão contratada, conforme a Aneel. Portanto, há necessidade da pesquisa de variação da tensão da concessionária e também da faixa de variação da tensão admitida dos aparelhos. 3
Na minuta: Art. 3, Item 3 - A obrigação do ressarcimento se restringe somente a danos elétricos informados na abertura da solicitação, podendo a concessionária indeferir pedidos de ressarcimento de danos a aparelhos não constantes do pedido inicial. Proposta: Art. 3, Item 3 - O pedido de ressarcimento deve ser feito para todos os aparelhos que apresentaram problemas no mesmo evento, de uma única vez. Justificativa: O novo pedido de ressarcimento poderá ser de aparelhos danificados em evento diferente. Na minuta: Art. 5 - No processamento do pedido de ressarcimento, a concessionária deve comprovar a existência ou não do nexo de casualidade, considerando os registros de ocorrências na sua rede e o nível de tensão na unidade consumidora do reclamante. Proposta: Art. 5 - No processamento do pedido de ressarcimento, a comprovação da existência do nexo de casualidade será feito por uma entidade independente e legalmente qualificada, conforme os procedimentos e critérios técnicos previamente aprovados pela Aneel, nos quais devem obrigatoriamente constar que as descargas atmosféricas e sobretensões oriundas da energização não eximem a concessionária de responsabilidade do ressarcimento. Justificativa: a concessionária é uma das partes interessadas e, portanto fica prejudicada a isenção na verificação do nexo de casualidade. Por outro lado, com os procedimentos e critérios técnicos que orientam os serviços de comprovação haverá maior eficiência e transparência, porque o medidor da concessionária, instalado na entrada da rede elétrica do consumidor, não registra as ocorrências transitórias anormais no fornecimento de energia. Na minuta: Art. 6, item 1 - Caso opte por inspeção in loco, o consumidor deve permitir o acesso ao equipamento e as instalações da unidade consumidora sempre que solicitado, sendo a negativa motivo para a concessionária indeferir o ressarcimento. Proposta: Art. 6, item 1 - Caso opte por inspeção in loco, por uma entidade independente e legalmente qualificada, conforme os procedimentos e critérios técnicos, previamente aprovados pela Aneel, e o consumidor deve permitir o acesso ao equipamento e às instalações da unidade consumidora sempre que solicitado, sendo a negativa motivo para a concessionária indeferir o pedido. Justificativa: A concessionária é uma das partes interessadas e então fica prejudicada a isenção na verificação. A existência de procedimentos e critérios técnicos, que 4
orientam esse serviço, dará maior eficiência, transparência e também maior conhecimento dos consumidores. Na minuta: Art. 6, item 2 - Quando o equipamento supostamente danificado for utilizado para acondicionamento de alimentos perecíveis, o consumidor poderá realizar o conserto antes da vistoria, devendo disponibilizar as peças danificadas do equipamento e o laudo do conserto quando solicitado, assim como permitir o acesso as instalações internas da unidade consumidora. Proposta: Art. 6, Item 2 - Quando o equipamento supostamente danificado for utilizado para o acondicionamento de alimentos perecíveis, o consumidor poderá realizar o conserto antes da vistoria, devendo disponibilizar as peças danificadas e o orçamento do concerto solicitado, assim como permitir o acesso as instalações internas da unidade consumidora por uma entidade independente e legalmente qualificada, que fará verificações conforme os procedimentos e critérios técnicos previamente aprovados pela Aneel. Justificativa: Na analise das peças danificadas por ocorrências transitórias, poderá constatar que os componentes estão danificados, sem poder afirmar categoricamente a sua causa, porque o dano no equipamento, devido a essas ocorrências transitórias, poderá ser aumentado pela corrente senoidal subseqüente de 60 Hz, descaracterizando assim os vestígios de verdadeira causa. A formalização do serviço trará maior isenção, transparência e eficiência, bem como, maior conhecimento ao consumidor. E quanto ao laudo técnico, só poderá ser feito por um laboratório altamente especializado, como aqueles das universidades, e mesmo assim após pesquisa com grande numero de amostras do mesmo modelo. As oficinas de conserto não tem meios e nem pessoal qualificado para emitir laudos técnicos. Na minuta: Art. 7 item 1 - O prazo a que se refere este artigo ficará suspenso enquanto houver a pendência do consumidor, desde que tal pendência tenha sido informada por escrito. Proposta: Retirar esse item. Justificativa: inexistência da relação de pendências passiveis de suspender o prazo, colide com o Art. 6, inciso III do CDC, pois pode-se pedir algo impraticável ao consumidor,. 5
Na minuta: Art. 8, Item 4 - No caso de conserto ou substituição do equipamento danificado, poderão ser exigido pela concessionária os respectivos laudos e orçamentos. Proposta: Art. 8 item 4 - No caso de conserto ou substituição do equipamento danificado, poderão ser exigidos pela concessionária o relatório de quais as peças danificadas e o orçamento. Justificativa: Os laudos só podem ser emitidos por laboratórios altamente qualificados, como aqueles das universidades e mesmo assim, após série de experiências com diversos aparelhos de mesmo modelo. As oficinas de consertos não têm meios, nem profissionais qualificados para emitir laudos técnicos. Na minuta: Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do I comprovar inexistência de nexo causal, nos termos do Art. 5 desta Resolução, devendo, neste caso cientificar o consumidor do direito de verificar, nos postos de atendimento, os relatórios de interrupções do fornecimento e de ocorrências na rede que tenham afetado sua unidade consumidora para o período compreendido entre o terceiro dia anterior e o terceiro dia posterior à ocorrência do suposto dano. Proposta: Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do I comprovação da inexistência do nexo causal, por entidade independente e legalmente qualificada, conforme os procedimentos e critérios técnicos previamente aprovados pela Aneel, devendo, nesse caso, cientificar o consumidor do direito de recorrer as Agencias Reguladoras Conveniadas ou a própria Aneel. Justificativa: O consumidor residencial não tem conhecimentos técnicos suficientes para entender os relatórios disponibilizados nas agencias das concessionárias. A minuta fará aumentar a brutal vulnerabilidade técnica do consumidor. Na minuta: Art. 10, parágrafo único - A concessionária só poderá eximir-se do III - comprovar que as instalações internas da unidade consumidora estão em desacordo com as recomendações e normas vigentes, e que esta inobservância especifica causou o dano reclamado; Proposta: Retirar esse item. 6
Justificativa: A inexistência de entidades independentes e legalmente qualificadas para executar a vistoria. A falta de explicitação das recomendações e das normas vigentes bem como a inexistência de procedimentos e critérios técnicos previamente aprovados pela Aneel colide com o Art. 6, inciso III do CDC e farão aumentar de forma brutal a vulnerabilidade técnica do consumidor residencial e permitir praticas abusivas da concessionária. Na minuta: Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do IV o prazo ficar suspenso por mais de 60 (sessenta) dias consecutivos devido a pendências injustificadas do consumidor, nos termos do item 1 do art. 7. Proposta: Retirar esse item. Justificativa: Falta explicitar quais são as pendências injustificadas, colidindo com o Art. 6, inciso III do CDC e portanto, esse item dá margem a praticas abusivas e o aumento da vulnerabilidade técnico/econômica do consumidor. Na minuta: Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do V comprovar nos termos das normas vigentes, a ocorrência de qualquer procedimento irregular que deu causa ao dano reclamado ou a auto religação da unidade consumidora. Proposta: Retirar esse item. Justificativa: Falta explicitar quais são as normas vigentes, procedimento irregular e a inexistência de procedimentos e critérios técnicos aprovados pela Aneel, colide com o Art. 6, inciso III do CDC. A auto religação não aumenta a probabilidade de danos no equipamento desse consumidor que já está exposto às sobretensões transitórias por deficiências da concessionária, citadas nesta contribuição. Na minuta : Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do VI comprovar que o dano reclamado foi ocasionado por interrupções associadas às situações de emergência ou de calamidade publica decretada por órgão competente, desde que comprovada pro meio documental ao consumidor. 7
Proposta: Art. 10, parágrafo único A concessionária só poderá eximir-se do VI comprovar que o dano no aparelho é atribuído ao fenômeno causador da calamidade publica, decretada por autoridade competente, desde que esse fenômeno seja considerado de força maior ou caso fortuito conforme Art. 393 do Novo Código Civil Brasileiro e a verificação deverá ser feita por uma entidade independente e legalmente qualificada, conforme procedimentos e critérios técnicos previamente aprovados pela Aneel. Justificativa: somente por meio documental, não é suficiente para comprovar que o dano no aparelho foi motivado pelo fenômeno causador da calamidade publica (por exemplo epidemias). Alem disso o Decreto N 97.274 de 16 de Dezembro de 1988, não faz menção a exclusão de responsabilidade da concessionária. Com relação à emergência, a mesma não se caracteriza como descontinuidade do serviço, porém a Lei 8.987 de 13 de Fevereiro de 1995, Art. 6, item 3 não cita a exclusão de responsabilidade da concessionária. Alias, são previsíveis as interrupções de fornecimento de energia elétrica nas épocas das chuvas e para evitar problemas na rede, a concessionária deverá tomar providencias preventivas adequadas, principalmente poda de arvores e manutenção preventiva de sua rede elétrica. Na minuta: Art. 2 - Revogar o parágrafo único do art. 4 e o parágrafo único do art. 5 da Resolução Normativa n 61, de 2004. Proposta: Retirar esse artigo. Justificativa: No caso do art. 4, parágrafo único da Resolução Normativa 61/2004, a reclamação do dano poderá ser feita por familiares do titular que poderá estar impossibilitado de comparecer a agencia. Outras vezes, a conta de energia está no nome do dono do imóvel e não do inquilino. A revogação dificultará a realização do pedido de ressarcimento, pois só o titular da conta poderá fazê-lo. Quanto ao art. 5, parágrafo único da Resolução Normativa 61/2004, está correto e atual e alem disso está de acordo com a Lei 8078 de 11 de setembro de 1990, CDC. Entendemos que essa revogação implica na negação da aplicação da referida Lei, o que pode indicar a omissão ou negação do Estado em proteger o consumidor, das praticas abusivas da concessionária, pois haverá aumento brutal da vulnerabilidade técnica do mesmo. 8
C) Da prevenção Há a necessidade do Estado, por suas concessionárias, providencias cabíveis para que todos consumidores de energia elétrica residenciais brasileiros sejam protegidos contra as sobretensões de descargas atmosféricas, transferidas pelas redes da concessionária, no fornecimento energia elétrica, conforme o Art. 22 do CDC e também conforme o Art. 6, item 1 da Lei 8.987 de 13 de Fevereiro de 1995. Há também a necessidade de informar aos novos consumidores sobre os novos níveis de sobretensões transitórias atmosféricas que atingem a sua rede elétrica, depois das providencias de minimização pela concessionária e também informá-los sobre o nível de curto circuito na entrada da rede elétrica do mesmo, conforme o Art. 6, inciso III do CDC. Eng. Jorge Hasegawa 18/08/2008 9