A CAPACIDADE DOS INCAPAZES: SAÚDE MENTAL E UMA RELEITURA DA TEORIA DAS INCAPACIDADES NO DIREITO PRIVADO Maria de Fátima Freire de Sá PUC Minas www.cebid.com.br
Evolução histórica Brasil-Império (1841) - Decreto n. 82 criação do Hospício de Pedro II Decreto n. 8.024, de 1881: cria as cadeiras de doenças nervosas e mentais nas Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro, as duas primeiras instaladas no Brasil, em 1808, por ocasião da chegada da Família Real.
Brasil-República: em razão das inúmeras críticas ao modelo de internação, a República passou a regulamentar a política de saúde mental. Decreto n. 142-A, de 1890 Decreto n. 508/1890 Lei 2.321/1910 Lei 2.738/1912 Lei 4.242/1921 Decreto número 132, de 23 de dezembro de 1903
Período Getulista: não há que se falar em mudanças na legislação psiquiátrica. Sem avanços, o modelo de saúde mental permaneceu centrado nas internações e o Brasil não atribuiu importância ao desenvolvimento da Psiquiatria, ocorrido na década de 50, pós Segunda Guerra Mundial
Lei n. 10.216 de 6 de abril de 2001 - dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. artigo 4º. a internação, em qualquer de suas modalidades, só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se mostrarem insuficientes
A Lei n. 10.216 prevê três tipos de internação: a voluntária, que se dá com o consentimento do paciente; a involuntária, feita a pedido de terceiros, sem o consentimento do paciente; e a compulsória, realizada através de ordem judicial (parágrafo único do art. 6º). Em todas as situações a internação psiquiátrica somente será realizada mediante laudo médico circunstanciado com a caracterização dos motivos (art. 6º, caput).
Em qualquer caso de internação, voluntária ou não consentida, as pessoas portadoras de transtornos mentais têm direitos que devem ser respeitados (art. 2 da Lei 10.216/2001): I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito a presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental.
Código Civil 1916 Art. 5 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de 16 (dezesseis) anos; II - os loucos de todo o gênero; III - os surdos-mudos, que não puderem exprimir a sua vontade; IV - os ausentes, declarados tais por ato do juiz. Art. 6 o São incapazes, relativamente a certos atos (art. 147, I), ou à maneira de os exercer: I - os maiores de 16 (dezesseis) e os menores de 21 (vinte e um) anos (arts. 154 a 156); II - os pródigos; III - os silvícolas. Parágrafo único. Os silvícolas ficarão sujeitos ao regime tutelar, estabelecido em leis e regulamentos especiais, o qual cessará à medida que se forem adaptando à civilização do País. (Redação dada pela Lei nº 4.121, de 27.8.1962)
Código Civil 2002 Art. 3 o São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Art. 4 o São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
O fato de uma pessoa padecer de um transtorno mental seria suficiente para a manutenção da sua interdição? Qual seria o limite da curatela em caso de constatação de alguma autonomia?
Art. 1772. Pronunciada a interdição das pessoas a que se referem os incisos III e IV do art. 1.767 (os deficientes mentais, os ébrios habituais e os viciados em tóxicos; os excepcionais sem completo desenvolvimento mental), o juiz assinará, segundo o estado ou o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela, que poderão circunscrever-se às restrições constantes do art. 1.782 (A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração)
Código Civil 1916 Art. 451. Pronunciada a interdição do surdo-mudo, o juiz assinará, segundo o desenvolvimento mental do interdito, os limites da curatela.
Razões da decisão da Corte de Apelação, de 1902, que suspendeu a interdição de DANIEL PAUL SCHREBER: i. o reconhecimento de que o estado de perturbação mental não era suficiente para a interdição de Schreber. Além do transtorno, seria necessário saber se, em consequência do estado de saúde, o paciente não estaria apto a cuidar dos seus negócios; ii. a interdição tem lugar somente quando a doença mental é de natureza gravíssima, culminando com a total incapacidade do doente em gerir seus negócios; iii. a expressão gerir negócios não diz respeito apenas às questões de natureza patrimonial, sendo certo que seu alcance vai além dos contornos financeiros para abarcar as circunstâncias existenciais, tais como cuidados para com a vida e a saúde da pessoa e da sua família.
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