SEIS SIGMA: UMA VISÃO GLOBAL DE DUAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR-MÍNERO METALÚRGICO



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Transcrição:

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. SEIS SIGMA: UMA VISÃO GLOBAL DE DUAS EMPRESAS BRASILEIRAS DO SETOR-MÍNERO METALÚRGICO João Henrique Ferreira Flores (UFRGS) jhf.flores@gmail.com Danilo Cuzzuol Pedrini (UFRGS) danilo@producao.ufrgs.br Liane Werner (UFRGS) liane@producao.ufrgs.br O Seis Sigma surgiu como uma opção de estratégia de gestão da qualidade. Apesar de a literatura tratar o Seis Sigma como uma grande revolução em termos de gestão da qualidade, o mesmo não pode ser dito das ferramentas estatísticas utilizadaas. Já que muitas das ferramentas e técnicas estatísticas amplamente utilizadas em Seis Sigma não atendem aos objetivos esperados delas. Técnicas recentes como a Inferência Bayesiana e blend de modelos são alternativas ainda não são utilizadas. Assim, este artigo tem como objetivo apresentar uma breve descrição dos processos de implantação da estratégia em duas empresas, ressaltando principalmente os principais problemas encontrados durante a implantação e as soluções adotadas para sua resolução. Além disso, apresentar algumas novas técnicas estatísticas que podem ser aplicadas a projetos Seis Sigma. Os dois estudos de caso apresentados foram obtidos mediante a aplicação de um questionário que abordou temas relativos ao processo de implementação do programa seis sigma. Um na empresa A que atua na extração de bauxita e produção de alumínio tendo como alvo o mercado interno brasileiro e outro na empresa B que atua na extração e beneficiamento de minérios de zinco, alumínio, níquel e ferro e produção de ligas metálicas a partir desses minérios, tendo como alvo o mercado interno brasileiro. Com base no questionário formulado foi possível observar que as empresas apontam o programa seis sigma como estando acima das expectativas, conseguindo atingir todos os objetivos previamente planejados. Através de um projeto Seis Sigma da empresa B verificou-se a importância de utilizar técnicas mais robustas e recentes para atingir os objetivos do programa. Palavras-chaves: Seis Sigma;setor-mínero metalúrgico;ferramentas estatísticas

1. Introdução A implementação de técnicas e estratégias para o controle da qualidade, tanto em serviços quanto em produtos, há tempos é considerada fundamental nas organizações. Apesar de muitas das técnicas utilizadas para o controle de qualidade terem evoluído lentamente, as estratégias de gestão da qualidade têm avançado de maneira peculiar. O Seis Sigma surgiu como uma nova técnica na Motorola em 1987, motivado pela má qualidade de seus produtos na época (PANDE et al., 2002). No Brasil, entretanto, a organização pioneira a utilizar o Seis Sigma, foi o Grupo Brasmotor em meados de 1997 (WERKEMA, 2002), praticamente 10 após a iniciativa da Motorola. Apesar de a literatura tratar o Seis Sigma como uma grande revolução em termos de gestão da qualidade (PANDE et al., 2002 e WERKEMA, 2002), o mesmo não pode ser dito das ferramentas estatísticas utilizadas. Já que muitas das ferramentas e técnicas estatísticas utilizadas amplamente em Seis Sigma não atendem aos objetivos esperados delas. Técnicas recentes como: a Inferência Bayesiana e blend de modelos, são alternativas que ainda não são utilizadas. Assim como qualquer estratégia de negócio, o Seis Sigma precisa ser avaliado e implantado com precaução, muitas são as causas que podem prejudicar ou até mesmo inviabilizar sua adoção. Dentre algumas das causas apontadas estão o mau uso das ferramentas e técnicas estatísticas e deficiências na implantação. Frente a estas colocações, este artigo tem como objetivo apresentar algumas novas técnicas estatísticas que podem ser aplicadas a projetos Seis Sigma.que visam auxiliar na implantação e manutenção adequada do Seis Sigma, além de apresentar uma breve descrição da implantação da estratégia Seis Sigma em duas empresas, ressaltando principalmente os principais problemas encontrados durante a implantação e as soluções adotadas para sua resolução. 2. Implantação do Seis Sigma O processo de implantação de procedimento de controle de qualidade necessita, primeiramente, do apoio da direção da organização. Isso não é diferente com relação ao Seis Sigma. Segundo Rebelato e Oliveira (2006), as principais barreiras na implantação do Seis Sigma são: falta de envolvimento e comprometimento da direção, mudança cultural, compreensão das ferramentas e técnicas. Ainda segundo os autores, outra grave barreira à implantação é considerar o Seis Sigma como um projeto, quando na verdade é uma série de projetos. Para Werkema (2002), para que o Seis Sigma tenha sucesso na empresa, é necessário treinar pessoal com o perfil apropriado. A união em torno do mesmo objetivo, é fundamental no sucesso do Seis Sigma, conforme Pande et al. (2002). Segundo os autores, essa foi uma das razões atribuída ao sucesso de implantação do Seis Sigma na General Eletric. O Seis Sigma apresenta elementos que inclui uma hierarquia: o Sponsor, Sponsor Facilitador, Champions, Master Black Belt, Black Belt, Green Belt e White Belt. É fundamental que as funções de cada um não sejam confundidas, para não acarretar maiores dificuldades na implantação. Assim que a estratégia Seis Sigma passa a ser utilizada, é necessário escolher alguns projetos que tragam retornos financeiros e sirvam de motivação a toda equipe envolvida. Enquanto os treinamentos são ministrados, as equipes iniciam o desenvolvimento dos projetos. Segundo Cabrera Junior (2006) e Kessler (2004), é necessário, durante todo o processo de implantação que os projetos e suas características devem estar de acordo com os objetivos dos próprios 2

negócios da organização. 3. Técnicas Estatísticas Alguns autores citam como as principais ferramentas estatísticas as cartas de controle, o delineamento de experimentos (DOE, do original em inglês Design of Experiments), amostragem e a análise de efeitos e modos de falhas (FMEA, do original em inglês Failure Mode and Effect Analysis) (WERKEMA, 2002, PANDE et al., 2002 e CABRERA JUNIOR, 2006). Algumas outras ferramentas como análise de séries temporais e testes de hipóteses também são utilizadas, entretanto não com a mesma intensidade. Werkema (2002) também deixa claro que basear o sucesso do Seis Sigma apenas na utilização de técnicas estatísticas não é recomendado. As ferramentas e técnicas estatísticas servem apenas como um apoio do método científico apresentado pelo Seis Sigma (PANDE et al., 2001 e ECKES, 2001). Entretanto, segundo Eckes (2001), 20% dos projetos Seis Sigma fracassam pela má utilização das técnicas estatísticas. Outras ciências, como a Economia, por exemplo, já adota técnicas estatísticas mais modernas, como a modelagem bayesiana. No caso da qualidade, especificamente no Seis Sigma, o mesmo não ocorre. Isso pode ser causado pelas constantes ressalvas feitas por autores quanto a utilização de técnicas complexas, ou ainda do excesso do uso da estatística, o que acaba por desviar o foco na qualidade. 3.1. Técnicas estatísticas alternativas Os métodos de inferência estatística podem ser divididos em 3 tipos: clássica, não-paramétrica e bayesiana, baseados tanto nas suposições feitas a priori, quanto na própria filosofia de cada área. Em grande parte, o Seis Sigma utiliza métodos baseados na estatística clássica, embora existam casos, não tão raros, no qual a estatística clássica não é recomendada (BUSSAB; MORETTIN, 2003). Tendo casos no qual nem se deve utilizá-la. Nestes casos, o uso inadequado costuma gerar os maiores prejuízos, sendo o erro mais comum quando os dados a serem mensurados não seguem uma distribuição normal de probabilidade. Algumas técnicas são bem robustas, gerando resultados adequados mesmo quando algumas suposições não são atingidas. Um dos exemplos mais comuns é o caso da Análise de Variância (ANOVA, do original em inglês Analysis of Variance) que, mesmo com dados não normais, atinge resultados satisfatórios (SNEDECOR e COCHRAN, 1989). Na estatística clássica, um exemplo de técnica, que para ter um bom funcionamento é necessário que os dados sigam uma distribuição normal, são cartas de controle. No caso de cartas de controle com grandes amostras, o fato de os dados não seguirem uma distribuição normal é amenizado pelo Teorema do Limite Central. O teorema garante que, seja qual for a distribuição de probabilidade dos dados, desde que possua média e variância finita, a sua soma padronizada tende a seguir uma distribuição normal de média igual a zero e variância igual a um. No entanto, quando grandes amostras não são possíveis, os métodos utilizados em cartas de controle podem falhar, inclusive, de forma grosseira. Para isso, já existem métodos não-paramétricos de construção de cartas de controle. Existe ainda o problema da correlação entre os dados amostrados, este problema afeta tanto o método de amostragem a ser utilizado quanto a análise. Não é difícil conceber que amostras vindas de um mesmo lote são correlacionadas entre si. Como, para as cartas de controle, tanto as clássicas como as não-paramétricas, existe a suposição de independência entre os dados amostrados, isso pode causar problemas. O principal é o fato de um processo estar fora de controle, mas isso não ser acusado devido a correlação implícita na amostra. Uma forma de corrigir, sem alterar a ferramenta de análise é realizar amostras com um tempo maior entre 3

cada coleta. Isso reduz a possibilidade de correlação, mas prejudica a análise. Com menos dados há menos informações, caso se deseje manter as amostras, deve-se utilizar métodos de análise de séries temporais e, posteriormente, construir uma carta de controle (SNEDECOR e COCHRAN, 1989). Técnicas como os testes de hipótese, análise regressão e análise de previsão (análise de séries temporais) são os mais afetados por violações as suas suposições. Um teste de hipótese que supõe a distribuição de probabilidade normal, mas que tal suposição não seja atendida, pode levar a níveis de erros maiores que o aceitável (costumeiramente 5%). Entretanto, assim como nos casos anteriores, existem técnicas e ferramentas não-paramétricas que contornam este problema de maneira prática e rápida, como o teste de Mann-Whitney e o teste dos postos de Wilcoxon, por exemplo (BUSSAB; MORETTIN, 2003). Quanto a análise de regressão, assim como a análise de séries temporais, os principais problemas encontrados são devidos a dados não normais. Apesar de ambas possuírem métodos não-paramétricos, estes métodos podem, facilmente, se tornar demasiadamente complexos, prejudicando, inclusive, as conclusões. No caso específico da análise de séries temporais utilizando métodos clássicos ou nãoparamétricos se recomenda Flores (2006) e Morettin e Toloi (2006). 3.2 Métodos bayesianos A grande diferença entre os métodos clássicos e não-paramétricos dos métodos bayesianos é mais de ordem filosófica do que puramente matemática. Resumidamente, os métodos clássicos e não-paramétricos baseiam suas conclusões e inferências em dados obtidos unicamente da amostra, enquanto que os métodos bayesianos incluem um fator externo, subjetivo de análise. A inferência Bayesiana, de forma geral, é a mistura de algum conhecimento a priori (uma amostra anterior, o conhecimento do próprio usuário ou de algum especialista) com as informações obtidas pela amostra. Apesar do teorema de Bayes ter sido apresentado por Thomas Bayes sua utilização em 1763, só foi difundida largamente a partir do desenvolvimento do algoritmo de Metropolis-Hasting em 1953 e aprimorado em 1970 e do amostrador de Gibbs (Gibbs sampling, em 1984). O princípio de combinar as duas distribuições de probabilidades (a priori e a obtida pela amostra) pode-se tornar uma tarefa extremamente complexa, podendo, em muitos casos, não ter uma solução explícita. Os algoritmos citados contornaram este problema e atualmente podem ser encontrados em alguns aplicativos. Além disso, existem técnicas estatísticas de auxílio a tomada de decisão que raramente são citadas em livros específicos de Seis Sigma. 4. Metodologia Utilizou-se como método de pesquisa o estudo de caso, que é definido por Yin (2001) como uma estratégia escolhida para se examinar acontecimentos, sem se manipular os comportamentos relevantes. Nesse método, o pesquisador não influencia os resultados a serem coletados, devendo apenas observar os acontecimentos e relatá-los em um trabalho técnico. Os estudos de caso apresentados foram obtidos mediante um questionário composto por 25 perguntas qualitativas e quantitativas, tendo como base um estudo de caso feito por Motwani et al. (2004) sobre o programa Seis Sigma na Dow Chemicals, Werkema (2002), Hagemayer e Gershenson (2006). O questionário foi submetido a Master Black Belts e a Black Belts das empresas estudadas. O questionário procurou abordar temas relativos ao processo de implementação do programa seis sigma nas duas empresas estudadas, iniciando-se pelas principais motivações estratégicas 4

que fizeram com que a empresa implementasse o programa seis sigma, os objetivos do programa, as principais dificuldades e soluções adotadas, questionando por fim os principais resultados do programa. No questionário também se procurou identificar as principais ferramentas estatísticas que são utilizadas pela empresa nos projetos seis sigma. Assim, com base no questionário formulado, serão apresentadas algumas características da implantação do programa Seis Sigma nas empresas, bem como as principais ferramentas utilizadas pelas empresas. Em complemento ao questionário, o segundo estudo de caso apresenta um exemplo de um projeto seis sigma aplicado com sucesso na empresa B, tendo como base um artigo publicado por Pignaton et al. (2007). 5. Estudo de Casos 5.1 Empresa A Produção de Alumínio A empresa A atua na extração de bauxita e produção de alumínio (chapas, discos, tarugos e laminados) tendo como alvo o mercado interno brasileiro. Os produtos da empresa que são matérias-primas essenciais para outros diversos produtos como: como latas, utensílios domésticos, carros, embalagens. Os objetivos da empresa ao adotar a filosofia Seis Sigma foram: conseguir a excelência em seus processos, de forma a se destacar no seu ramo de atuação; aumentar as oportunidades da empresa junto ao mercado consumidor, obtendo vantagem competitiva sobre os concorrentes e, conseqüentemente, aumentar a margem de lucro da empresa. O Seis Sigma é apontado pelos responsáveis da empresa como uma forma de garantir alinhamento de todos os colaboradores e aceleração dos resultados financeiros para a empresa. A implementação do programa Seis Sigma na empresa iniciou-se em 2002, tendo como o principal objetivo a participação de todos os funcionários na melhoria contínua de todos os processos produtivos da empresa. Entre o início da implementação do programa e o funcionamento efetivo foram decorridos 2 anos, tempo que foi considerado adequado pela alta gerência da empresa. No início da implementação do programa Seis Sigma da empresa houve certa dificuldade de adequação à filosofia Seis Sigma, devido principalmente à realização de treinamento de apenas black belts, não ocorrendo o treinamento de todos os gestores da empresa, o que gerou certa resistência de alguns setores em se comprometer com a filosofia Seis Sigma. Para a solução desse problema e empresa fez um treinamento interno para a liderança de cerca de 60% dos gestores da empresa, e apresentou os bons resultados de outros setores que adotaram o Seis Sigma, servindo de estímulo aos representantes dos setores mais resistentes ao programa. A empresa estimula seus colaboradores a fazer cursos de aperfeiçoamento, especializações e mestrado, também há estímulos para que os funcionários participem de congresso, a empresa acredita que essas iniciativas agregam um grande conhecimento técnico para a empresa. Um ponto do programa destacado pelo entrevistado é o elevado comprometimento da alta administração necessário durante a implementação do programa Seis Sigma na empresa, sendo destacado ainda que a empresa busca garantir que todos os colaboradores estejam comprometidos com a mudança cultural da organização, mediante a criação de um modelo de gestão do negócio e entrega consistente de resultados financeiros aos funcionários. Nos quatro primeiros anos, até a conclusão do processo de implementação do programa, os projetos seis sigma possibilitaram um lucro adicional na ordem de US$ 18 milhões, que foram 5

considerados pela alta-diretoria da empresa como acima das expectativas iniciais. Dentre as ferramentas estatísticas atualmente utilizadas pela empresa, destacam-se: cartas de controle, gráficos de Pareto, boxplots, diagrama de dispersão, análise de variância (ANOVA), análise de regressão, testes de hipótese, índices de capacidade, histogramas e métricas Seis Sigma. 5.2 Empresa B - Produção de Ligas Metálicas A empresa B atua na extração e beneficiamento de minérios de zinco, alumínio, níquel e ferro e produção de ligas metálicas a partir desses minérios, tendo como alvo o mercado interno brasileiro. Foram apontados como motivos para a implementação do programa Seis Sigma, os mesmos da empresa A, obter a excelência em seus processos, de forma a se destacar no seu ramo de atuação e, assim, aumentar a margem de lucro da empresa. De uma maneira geral, o Seis Sigma é apontado pela empresa como sendo uma filosofia que auxilia fortemente a gestão e a produção a alcançarem suas metas, contribuindo também para aumentar a massa critica dos colaboradores. A implementação do Programa Seis sigma na empresa B iniciou-se em 2001, sendo que a implementação foi finalizada com sucesso em 2004, os principais objetivos da empresa ao instalar o programa foram: redução de custos, aumento da produção, melhoria da qualidade, diminuição de impactos ambientais e de riscos à saúde dos colaboradores. Os principais problemas encontrados pela empresa durante a implantação do programa Seis Sigma foram a dificuldade de definir o pessoal a ser treinado, resistência de alguns setores e a dificuldade de adaptação à rotina para realização dos projetos, as soluções utilizadas foram a contratação de uma empresa de consultoria e a análise do perfil dos funcionários, de modo a analisar a possibilidade de treinamento para cada indivíduo. A empresa não forneceu os resultados financeiros obtidos pelo programa Seis Sigma da empresa, mas assegura que o programa conseguiu atender os objetivos, destacando-se a diminuição em cerca de 50% dos índices de falha da empresa. Os responsáveis pela companhia informaram ainda que os objetivos alcançados estão dentro do planejamento estratégico da empresa. As principais ferramentas estatísticas adotadas pela empresa são: cartas de controle, avaliação dos sistemas de medição, diagramas de Pareto, histogramas, análise de variância (ANOVA), boxplots, índices de capacidade, análise de regressão e testes de hipótese. Um dos projetos realizado na unidade da empresa B foi realizado onde se realiza a extração de esfarelita e galena e após a flotação desses minerais. Este estudo foi publicado por Pignaton et al. (2007), recebendo o 9 Prêmio da Indústria Metalúrgica. O principal objetivo do projeto é a otimização do processo de flotação da esfarelita. Esse processo enquadra-se na linha de hidrometalurgia, e utiliza os seguintes reagentes: cal virgem (modulador de ph), sulfato de cobre (ativador da esfarelita) e isobutil xantato de potássio (coletor de zinco). O ph inicial do processo é de 9,8, que é elevado a 12 até o fim do processo, gerando consumo excessivo dos reagentes e diminuindo o índice de recuperação de zinco. O primeiro passo foi a realização de experimentos em escala LCT (Locked Cicle Tests), para testar o ph que maximiza o índice de recuperação do zinco, o resultado dessa análise é apresentado na Figura 1. 6

Figura 1 - Gráfico de Recuperação de Zinco x ph de Flotação Pela análise da Figura 1 é possível observar que o índice de recuperação de zinco é maximizado quando o ph é igual a 10,5 ou igual a 12,5. O passo seguinte foi analisar em qual desses níveis do ph ocorre o menor consumo de cal, esse resultado é apresentado na Figura 2. Figura 2 - Gráfico de consumo de modulador versus ph de flotação Pela análise da Figura 2, observa-se que quanto menor o ph de flotação menor é o consumo de modulador (cal), dessa forma decidiu-se por adotar o ph de 10,5 para a flotação da esfarelita. O passo seguinte foi implantar as condições testadas em laboratório no processo, na Figura 3, Figura 4 e Figura 5 são mostradas cartas de controle para valores individuais (I-MR) para o consumo dos reagentes durante a flotação. 7

Figura 3 - Carta de controle I-MR para o consumo de cal antes e após a adoção do ph de 10,5 para o processo Analisando as cartas de controle da Figura 3 a Figura 5 nota-se uma sensível diminuição do consumo dos reagentes do processo, evidenciando uma queda de aproximadamente 50% nos custos. Os resultados mostram que a otimização implantada gerou um aumento de 1% no índice de recuperação de zinco. Essa melhoria propiciou ganhos da ordem de 3,5 milhões de reais por ano para a empresa, além de diminuir os impactos ambientais gerados pelo processo. Figura 4 - Carta de controle I-MR para o consumo de isobutil xantato de potássio antes e após a adoção do ph de 10,5 para o processo 8

Figura 5 - Carta de controle I-MR para o consumo de sulfato de cobre antes e após a adoção do ph de 10,5 para o processo Embora o projeto tenha sido aplicado com sucesso na empresa estudada, fica uma crítica ao início do projeto, já que os experimentos iniciais não foram realizados utilizando-se projeto de experimentos. Com este método, os três reagentes poderiam ter sido utilizados como fatores controláveis, de forma a encontrar os melhores níveis de cada um para maximizar o índice de recuperação de zinco e assim minimizar os custos. O uso de projeto de experimentos nesta situação, iria reforçar a idéia que métodos estatísticos mais robustos podem trazer um benefício maior as empresas. 6. Conclusões O presente artigo analisou estudos de caso em duas importantes empresas brasileiras do setormínero metalúrgico, ambas as empresas apontam o programa seis sigma como estando acima das expectativas, conseguindo atingir todos os objetivos previamente planejados. Durante o processo de implementação as duas empresas apresentaram problemas quanto ao treinamento dos funcionários, sendo que a primeira empresa apontou como principal falha no início da implementação do programa a falta de treinamento de seus gestores, o que gerou certa resistência de alguns setores da empresa. A empresa B também teve dificuldades em definir os colaboradores a serem treinados, contratando consultorias externas para analisar o perfil dos funcionários e definir os profissionais a serem treinados. Para a empresa B se analisou um projeto Seis Sigma, onde utilizou-se análise gráficas de simulações em laboratório visando otimizar o processo do consumo dos reagentes durante a flotação da empresa. Após a realização dos testes em laboratório, implantou-se a melhoria no processo, onde constatou-se uma diminuição de cerca de 50% no consumo de reagentes do processo, um incremento de 1% no índice de recuperação do zinco, além de uma diminuição nos impactos ambientais gerados das atividades da empresa. Dentre as principais ferramentas estatísticas apontadas pela empresa, não foram identificadas nenhumas das novas técnicas estatísticas que foram descritas no texto. No projeto implantado 9

pela empresa B, embora esse tenha apresentado bons resultados, fica a crítica pela não utilização da metodologia de projeto de experimentos, que poderia ter melhorado os resultados do projeto. Sobre o fato de técnica no Seis Sigma, através do projeto da empresa B apresentado, se percebe que ainda há muito a ser feito. Muitas ferramentas não são utilizadas ainda, possivelmente por falta de divulgação e treinamento. Entretanto, há certo receio quanto a este campo devido, principalmente, as ressalvas de muitos autores quanto ao excesso no uso destas ferramentas. Muito se deve a uma má interpretação das ferramentas estatísticas, de que elas resolvem todas as dúvidas. Referências BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística Básica. 5 ed. São Paulo: Saraiva, 2003. CABRERA JUNIOR, A. Dificuldades de implementação de programas Seis Sigma: estudos de casos em empresas com diferentes níveis de maturidade. 2006. 139 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção). Escola de Engenharia, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006. ECKES, G. A revolução 6 Sigma. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2001. FLORES, J. H. F. Aplicação de redes neurais artificiais à previsão de vendas de máquinas agrícolas um estudo de caso junto a AGCO do Brasil Ltda. 2006. 60 p. Monografia (Graduação em Estatística). Instituto de Matemática, Departamento de Estatística, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. HAGEMAYER, C.; GERSHENSON, J. Classification and Aplication of problema solving quality tools. The TQM Magazine, v. 18, n. 5, p. 455-483, 2006. KESSLER, R. M. Implantação do Seis Sigma em organizações: motivações de escolha e resultados obtidos. 2004. 113 p. Dissertação (Mestrado Profissionalizante). Escola de Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004. MORETTIN, P. A.; TOLOI, C. M. C. Análise de séries temporais. 2. ed. São Paulo: Edgard Blücher, 2006. 538 p. MOTWANI, J.; KUMAR, A.; ANTONY, F. A business process change framework for examining the implementation of six sigma: a case study of Dow Chemicals. The TQM Magazine, vol. 16, n.4, pág. 273-283, 2004. PANDE, P. S.; NEUMAN, R. P.; CAVANAGH, R. R. Estratégia Seis Sigma Como a GE, a Motorola e outras grandes empresas estão aguçando seu desempenho. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, 2002. 442 p. PIGNATON, T.V.; SILVESTRE, M.O.; PEREIRA, F.A.; MEDEIROS, M.M.; PERES, A.E.C. Otimização do ph da Flotação de Esfalerita. Revista Minérios, ano XXXI, n.2, 2007. REBELATO, M. G.; OLIVEIRA, I. S. Um estudo comparativo entre a gestão da qualidade total (TQM), o Seis Sigma e a ISSO 9000. Revista Gestão Industrial, Volume 2, Número 1, 2006, p. 106-116. SNEDECOR, G. W.; COCHRAN, W. G. Statistical methods. 8th ed. Iowa State University Press. 1989. 503 p. WERKEMA, M.C.C. Criando a Cultura Seis Sigma. Rio de Janeiro: Editora Qualitymark, vol.1, 2002. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2001. 10