Salvador/BA - Todo mundo quebrado: Elevador Lacerda para e usuários usam ônibus ou o próprio fôlego As cidades alta e baixa, antes separadas apenas por R$ 0,15 e 22 segundos de travessia, estão mais distantes do que nunca. O Elevador Lacerda, que tinha duas cabines paradas há 20 dias, desde quinta-feira parou de funcionar totalmente, após uma pane obrigar a paralisação das outras duas cabines. Como os planos inclinados Gonçalves e Pilar também descansam em paz há meses, a população e os turistas têm que se virar em paciência ou aproveitar para fazer um exercício forçado. É inaceitável estarmos a 22 segundos da Cidade Baixa e fazer um trajeto de 20 minutos de ônibus para chegar ao Comércio, reclamou a servidora pública Tatiana Aranha, referindo-se aos ônibus que a Transalvador disponibilizou. São três veículos convencionais e seis micro-ônibus, além de duas equipes trabalhando para monitorá-los. Eles são oferecidos à população gratuitamente, afirmou o gerente de
fiscalização de transportes da Transalvador, Valdemar Nascimento. Pelo que a equipe do Correio constatou ontem, o serviço funciona. Mas conforto é outra história Além de haver filas tanto na Praça Municipal quanto na Cayru, o buzu virou chacota. Chegou a lata de sardinha. Vixe Maria! Olha que situação! Isso é uma vergonha, bradou um passageiro ao ver um ônibus chegar. Por conta disso, há os que prefiram gastar a sola do sapato. É o caso do administrador Cleber Souza, que, para não chegar atrasado no trabalho e sem paciência para esperar os ônibus, seguiu a pé. Subir a Ladeira da Conceição é mais rápido e menos estressante do que ficar em uma fila aguardando a saída de um transporte lotado. A demanda é imensa e quem sempre acaba pagando é a população, desabafou. O motorista Jaime Coutinho também preferiu usar os pulmões. Como ontem (quinta) o tumulto foi grande, hoje (ontem) preferi não arriscar, destacou o motorista Jaime Coutinho, 28 anos, que, para não enfrentar ônibus cheio, preferiu caminhar da Lapa até o Comércio. Turismo O transtorno certamente marcará a visita do turista francês que, ontem de manhã, debaixo de um sol inclemente, descia todo carregado de malas a Ladeira da Conceição da Praia a pé. Quem vive do turismo reclama. Nosso trabalho sai prejudicado, pois vivemos dos cartões-postais e da história da Bahia. O turista quer ver o elevador e sai frustrado, relatou o guia José Jorge. A turista de Goiânia Paula Tavares desistiu de visitar o Mercado Modelo ao saber que o Elevador Lacerda estava quebrado. É um descaso da prefeitura. Não vou me submeter a pegar esses ônibus, até porque nossa visita é curta e prefiro visitar lugares mais próximos, como o Terreiro de Jesus, disse.
Já Inês Moura, que veio de Minas Gerais para conhecer o elevador, deixa o cartão-postal desapontada. Estou hospedada na Praia do Flamengo. Demorei uma hora para chegar aqui e andar no elevador e me deparo com seu fechamento. É decepcionante. Conserto O diretor executivo de transportes da Transalvador, Marcus Flores, explica que apenas duas cabines do elevador que transporta cerca de 20 mil pessoas por dia estão quebradas. Por recomendação da empresa que faz a manutenção, quando uma cabine está parada a outra não deve funcionar por medida de segurança, porque se a cabine parar de funcionar não temos como resgatar os passageiros, diz. Uma tem problema no motor e a outra foi apenas uma peça que quebrou. Paradas há 20 dias, as cabines 3 e 4 só devem voltar a funcionar no dia 25 de setembro. Já as cabines 1 e 2, que não operam desde quinta-feira, voltarão a funcionar em até cinco dias, segundo Flores. Ele conta que há um projeto de reforma do elevador, que não passa por reestruturação há dez anos. A Otis (empresa que faz a manutenção) apresentará orçamento e projeto à Transalvador na próxima quarta-feira, afirma Flores. Enquanto isso, o sobe e desce de ônibus e pessoas entre as cidades alta e baixa continua. Como dizem, para descer todo santo ajuda. Mas, para subir aí fica difícil. Fazer o quê? Tem outro jeito?, desabafa o comerciante Antônio Silva. Plano Pilar parado desde o final do ano passado As 500 pessoas que dependiam do Plano Pilar para deslocar-se diariamente entre o Comércio e o Santo Antônio Além do Carmo também tiveram a mobilidade limitada desde o final de 2010. Para subir, só a pé mesmo. Tem muito idoso que mora por aqui, mas desiste do percurso por causa desse empecilho. O povo reclama, mas até hoje não resolveram nada, afirma o
cabeleireiro Adson Brito. Na rua que dá acesso ao Pilar, no Comércio, sobraram apenas lava-jatos e duas lojas. Os lojistas relatam que o local transformou-se em ponto de drogas. Aqui antes circulavam turistas que vinham de navio e subiam diretamente o Pilar. Hoje, quase não há gente circulando por aqui e há muita insegurança, relata outro comerciante. A Transalvador diz que o Pilar parou de funcionar por problemas técnicos e por falta de funcionários. O contrato com a empresa terceirizada acabou, mas a Secretaria Municipal de Planejamento já está contratando outra empresa e em setembro teremos o quadro de funcionários restabelecido, afirma o superintendente do órgão, Alberto Gordilho. Segundo ele, no dia 30 de outubro, o Plano voltará a funcionar. Plano Gonçalves sem previsão Parado há sete meses, desde que a Defesa Civil condenou um edifício ao lado, o Plano Inclinado Gonçalves está distante de voltar a funcionar e hoje virou abrigo para mendigos e usuários de drogas. A Transalvador órgão da prefeitura responsável pela operação do órgão diz que já tem planos de reforma para o transporte, mas não pode fazer nada antes de o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) viabilizar a reestruturação do prédio vizinho. A recomendação (de paralisar o funcionamento do equipamento) foi dada porque há uma fissura enorme que pode provocar um desabamento, o que causa risco aos usuários do Plano Gonçalves. Mas, como é área tombada, só o Iphan pode determinar qualquer coisa, afirma o diretor de Transportes da Transalvador, Marcus Flores. Ele diz ainda que o laudo técnico realizado pelo instituto sobre o problema só chegou na Transalvador há dez dias. Enquanto isso, na terça-feira, técnicos da Transalvador se
reuniram com a Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (Ufba). Eles (a Escola Politécnica) ofereceram entregar um estudo gratuitamente em 40 dias. Se, até lá, o Iphan não decidir nada, caberá ao superintendente da Transalvador determinar o que será feito, afirma. O Correio procurou o Iphan para comentar o assunto, mas o órgão não respondeu os contatos. Com a lentidão em resolver o problema, quem sofre são os comerciantes da região do Comércio. Trabalho aqui há 58 anos e nunca vi o Plano Gonçalves parado por mais de um mês. As vendas caíram cerca de 70%. Antes, vendíamos muito para turistas e moradores que desciam o Plano, relata o lojista Manoel Cardoso. Já o proprietário do restaurante Poliana, Antônio Pinheiro, diz que se o transporte continuar fechado por muito tempo ele será obrigado a fechar as portas. Há 15 dias demiti dois funcionários. Antes vendia 340 almoços e hoje não passo de 200. Os turistas que vêm de navio e param aqui no Comércio passavam aqui para comer antes de subir o Plano e ir ao Pelourinho. Isso não acontece mais. Não sei como sustentarei meu negócio, lamenta. A Transalvador garante que um projeto da empresa Otis para reformar o Elevador Lacerda também contempla trocar o maquinário do Plano Gonçalves. Fonte original da notícia