Controle de irrigação e avaliação do crescimento de plantas de pequizeiro (Caryocar brasiliense camb.) irrigadas e adubadas em Goiânia. Irrigation control and evaluation of growth and souari nut trees (Caryocar brasiliense camb.) irrigated and fertilized in Goiânia, GO - Brazil Cynara Cristina Neves 1, Brunna Emily Santos Silva 1, José Alves Júnior 2, Adão Wagner Pego Evangelista 3, Derblai Casaroli 3 Resumo O pequi é o fruto símbolo do cerrado, comumente utilizado na culinária faz parte do contexto social e econômico dos povos que aqui vivem. Contudo, o pequizeiro é uma frutífera nativa que tem sua exploração baseada no extrativismo, um dos grandes problemas relacionados ao seu cultivo é o longo período juvenil, em torno de 6 a 7 anos para colheita dos primeiros frutos. Acredita-se que o déficit hídrico, característico do clima da região durante um período do ano e os solos pobres em nutrientes sejam os fatores limitantes ao seu cultivo. Assim objetivou-se avaliar a resposta em crescimento de plantas jovens de pequizeiro submetidas á irrigação e adubação em latossolo vermelho distroférrico em Goiânia-Go. O experimento foi conduzido em um pomar de 42 meses de idade, com plantas espaçadas 5 x 5m. Para irrigação foi utilizado um sistema de microaspersão com um microaspersor por planta, para adubação foi utilizado composto orgânico (12,5 kg/planta). O experimento foi conduzido em arranjo fatorial duplo em parcelas subdivididas, com 16 plantas por bloco, sendo 8 irrigadas e 8 não irrigadas. As plantas foram avaliadas mensalmente com base na altura e diâmetro do caule a 10 cm do solo e os resultados analisados com base no programa computacional ASSISTAT 7.7 BETA. Os resultados indicam que o pequizeiro não respondeu a adubação e irrigação utilizados(p>0,05). Assim o pequizeiro demonstra ser uma planta extremamente adaptada, não respondendo em crescimento dos 54 aos 66 meses de idade. Palavras-chave: Defict hídrico, pequi, frutíferas do cerrado. Introdução O Brasil detém a maior diversidade biológica no mundo e o cerrado é um dos seus principais biomas, tanto em área quanto em biodiversidade (BIZERRIL, 2003). O cerrado tem sofrido nos últimos tempos um processo de degradação de seus recursos naturais tanto em espécies da flora em virtude do uso desenfreado das queimadas provocadas em virtude da expansão da agricultura em áreas de cerrado principalmente no centro-oeste brasileiro, a fauna que sofre ameaças por conta da caça predatória, assim como a flora sofre em detrimento da demanda de abertura de novas estradas na região que por serem vias de escoamento da ¹ Acadêmica de Agronomia, bolsista em iniciação cientifica (PIVIC-CNPq), Escola de Agronomia (EA), Universidade Federal de Goiás (UFG), e-mails: cynara_agronomia@hotmail.com / brunna_emilly13@hotmail.com ² Orientador, Prof. Dr. Eng. Agr., EA, UFG, e-mail: josealvesufg@yahoo.com 3 Co-orientadores, Prof. Dr. Eng. Agr., EA, UFG, emails: awpego@bol.com.br / derbalicasaroli@yahoo.com.br Revisado pelo orientador
produção agrícola detém um grande fluxo de veículos leves e pesados nessas áreas (BATISTA, 2009). Devido a esse modelo de exploração, grande parte da biodiversidade está se perdendo. Atualmente, um dos grandes problemas das comunidades tradicionais do Centro- Oeste, é a ausência de segurança alimentar, reforçada pela falta de mecanismos que promovam a geração de renda (AGOSTINI-COSTA et al., 2006). Naves (1999) relata que espécies frutíferas nativas do cerrado, têm sido relembradas e exaltadas freqüentemente quanto ás suas qualidades como produtoras de frutos ou outros produtos para aproveitamento humano. A exploração econômica sustentável de espécies nativas do cerrado surge como alternativa para o resgate e a preservação do meio ambiente da região (ALVES Jr. et al., 2013). Entre as espécies que são apontadas como economicamente viáveis destaca-se o pequizeiro, que é a frutífera do cerrado mais inserida no contexto social econômico da população. Segundo Kerr (2007) o pequi e a 3 fruta mais consumida pelas populações do cerrado. O extrativismo e a realidade atual da espécie, que ainda se encontra em estado silvestre na natureza, em quantidade insuficiente para atender a demanda, o que tem de agricultores para seu cultivo (Pozo, 1997). Diante disso, torna-se imprescindível o inicio de seu cultivo comercial, no entanto, ainda são desconhecidas varias informações técnicas a respeito do cultivo da espécie. Muitos ajustes e informações são ainda necessários para se poder recomendar o cultivo do pequizeiro sob pena de conduzir a insucessos ( NAVES et al., 2009). Lopes & Guilherme (1994) apontam que as principais limitações ao cultivo nos solos do cerrado são: a) Existência de uma estação seca bem definida; b) Ocorrência de períodos secos durante a estação chuvosa veranicos ; c) Baixa capacidade de retenção de água; d) Limitação ao crescimento do sistema radicular em função da toxicidade de alumínio e/ou deficiência de cálcio. Assim o objetivo deste trabalho é avaliar o crescimento de árvores jovens de pequizeiro em um pomar de 54 meses de idade irrigado e adubado nas condições edafoclímaticas de Goiânia. Material e Métodos O experimento está sendo conduzido na área experimental da Escola de Agronomia da Universidade Federal de Goiás (EA/UFG), em Goiânia-Go, desde Janeiro de
2009. O trabalho é constituído de um experimento com delineamento em blocos completos casualisados em parcelas subdivididas com seis repetições. Cada repetição com dezesseis plantas, sendo oito irrigadas e oito de sequeiro, constituindo as parcelas. Cada subparcela é constituída por quatro plantas com e quatro sem adubação orgânica. O espaçamento entre plantas é de 5 x 5 m. A irrigação foi realizada por microaspersão durante o período seco do ano. No período chuvoso realizou-se irrigações em caso de necessidade, em períodos prolongados de estiagem (veranicos). A quantidade de água aplicada em cada irrigação é determinada com base na evapotranspiração de referência (ETo- Equação 1) e (ETc- Equação 2), obtida na estação metereologica de primeira classe da EA/UFG, localizada a cerca de 300 m do experimento. ETo = Kp *ECA ------------------------------------------------------------------------(1) ETc = ETo * Kc ---------------------------------------------------------------------------(2) Em que : ETo: É a evapotranspiração de referência (mm) Kp: É o coeficiente do tanque, valor tabelado que leva em conta a umidade relativa do ar média e velocidade media do vento, além da bordadura ao redor do tanque. ECA: É a evaporação de água do tanque classe A mensurada (mm). ETc : Evapotranpiração da Cultura (mm). Kc :Coeficiente de cultura, obtido experimentalmente, no caso do pequi utilizou-se 0,9 para o período; A irrigação empregada foi por micro aspersão, com 1 microaspersor por planta (nos tratamentos irrigados), com pressão de serviço de 10 mca, fornecendo uma vazão de 40 L h -1 e formando um raio molhado de 2 m (12,5 m 2 ). Como apenas 50% da área útil de cada planta era irrigada, a ETc era corrigida, como proposto por (Keller & Bliesner, 1990) por um coeficiente de correção localizado (Kloc = 0,71) para o cálculo do volume de água aplicado por planta (Equações 3 e 2). V = (ETc * Kloc * A)/Ea... (3)
Kloc = 0,1 Pm... (4) Em que, V: Volume de água aplicado por planta (L planta -1 ); Kloc: Coeficiente de correção devido à localização da irrigação (Keller & Bliesner,1990); A: Área útil da planta em função do espaçamento - 5 x 5m (m 2 ); Ea: Eficiência de aplicação de água por microaspersão (90%) (Bernardo et al., 2006); Pm: Porcentagem de área molhada (%); A adubação das plantas foi realizada no mês de novembro de 2013, utilizando composto orgânico na quantidade de 12,5 kg por planta. A adubação foi distribuída superficialmente ao redor do caule em torno da projeção da copa (MALAVOLTA et al,. 1994) da planta. O crescimento das plantas foi avaliado com base na altura de planta, utilizando uma mira topográfica, e no perímetro do caule a 10 cm acima do solo, utilizando uma fita métrica. Todas as avaliações foram realizadas mensalmente. Os dados de cada tratamento foram analisados via programa computacional ASSISTAT 7.7 BETA para avaliar os efeitos da irrigação e da adubação sobre o crescimento das plantas. Resultados Os diferentes tratamentos não apresentaram diferenças mínimas significativas em altura e diâmetro do caule (p>0.05), como mostra a figura 1, é evidenciado que as plantas não apresentam padrão de crescimento bem definido. Algumas plantas crescem mais outras menos em determinados meses, assim acontece com o diâmetro do caule. Além da irregularidade de crescimento durante os meses o pequizeiro apresenta padrão de crescimento variado durante o ano, sendo mais expressivo seu crescimento durante os meses da estação seca.
50 Trat 1 Trat 2 Trat 3 Trat 4 48 46 Diâmetro (Cm) 44 42 40 38 36 34 32 30 440 420 400 380 360 340 320 300 jul/13 ago/13 set/13 out/13 nov/13 Altura (Cm) dez/13 jan/14 fev/14 mar/14 abr/14 mai/14 jun/14 Figura1: Grafico de linhas; Trat 1: Irrigado e Adubado; Trat 2: Irrigado e não Adubado; Trat 3: Não irrigado e Adubado; Trat 4: Não irrigado e não adubado Discussão O pequizeiro mostrou ser uma espécie bastante adaptada ao clima do cerrado, sendo uma planta nativa diversos são os mecanismos que atuam permitindo a sobrevivência da planta. A diversidade da relação entre clima e o solo do Cerrado está relacionada á complexidade de respostas fotossintéticas e de relações hídricas nas espécies vegetais adaptadas a tal ambiente (PALHARES et al., 2010). O pequizeiro apresenta mecanismos de adaptação como a profundidade e distribuição do sistema radicular, que conseguem alcançar camadas profundas. Segundo
Naves et al (2009), o sistema radicular de mudas de pequizeiro desenvolve-se bem mais do que a parte aérea. Apresenta raízes profundas e pivotantes, mas com marcante capacidade para desenvolver-se horizontalmente em solos rasos (BELTRÃO & OLIVEIRA, 2007). As Plantas que se desenvolvem em regiões mais secas melhoram a absorção de água desenvolvendo sistemas radiculares mais profundos, como é o caso de plantas lenhosas nativas dos cerrados (DIAS, 2008). Bucci et al. (2004, 2005, 2008a), Citado por Palhares et al. (2010) relata que além da profundidade do sistema radicular e da capacidade fisiológica das raízes em captar água com potenciais hídricos mais baixos, os mecanismos para o comportamento isoídrico ao meio-dia são a redução da área foliar total e/ou a redução na condutância estomática foliar, bem como a otimização da condutividade hidráulica específica das folhas e a disponibilização da água armazenada no tronco. A seca representa apenas um dos fatores que interferem na alteração da estrutura anatômica da folha (MORRETES, 1967). Os estômatos podem regular rapidamente a perda de água pelas plantas, mas características próprias do sistema vascular de cada espécie também têm um papel importante na determinação da magnitude do fluxo transpiratório (FRANCO, 2008). Sendo a transpiração um dos fenômenos mais importantes relacionados a dinâmica da água na planta, Ramos (2012) estudando a anatomia do folíolo de C. brasiliense, afirma que este apresenta cutícula espessa, principalmente na epiderme da face adaxial, e tricomas, que são do tipo tectores e presentes em ambas as faces, sendo evidentes e em maior quantidade em torno de toda a nervura principal e na epiderme da face abaxial. Segundo Dias (2008) tricomas do tipo tectores e cutícula espessa são adaptações úteis contra a perda de água, atuando dessa forma na redução da transpiração da espécie. Maxímo et al. (2011) concluiu que a luminosidade influência na anatomia foliar do pequizeiro, encontrando as maiores médias de espessuras da epiderme adaxial e dos parênquimas paliçádico e lacunoso sob influência das maiores irradiâncias. Além disso, Haridasan (2008) afirma que as espécies que crescem em solos ácidos, como os do cerrado, são tolerantes ou resistentes ao alumínio por que sua capacidade de absorção de nutrientes essenciais, crescimento e reprodução não são prejudicados por altas concentrações de alumínio do solo. Esse pode ser um dos mecanismos do pequizeiro para se desenvolver e propagar naturalmente nos solos do cerrado brasileiro, que na maioria são latossolos, profundos e em geral ácidos.
Conclusões O pequizeiro não respondeu em crescimento à irrigação e adubação orgânica utilizados, durante o período de avaliação. O pequizeiro mostrou ser uma planta bastante adaptada as condições do cerrado Goiano. Referências Bibliográficas 1. AGOSTINE-COSTA, T. S.; SILVA, D. B.; VIEIRA, R. F.; SANO, S. M.; FEREIRA, F. R. Espécies de maior relevância para a região centro-oeste. In: VIEIRA, R. F.; AGOSTINE-COSTA, T. S.; SILVA, D. B.; FEREIRA, F. R.; SANO S. M. Frutas nativas da região Centro-Oeste do Brasil. 1 ed. Brasília:Embrapa recursos genéticos e biotecnologia, 2006. Cap. 1, 322 p. 2. ALVES Jr, J.; TAVEIRA, M. R.; EVANGELISTA, A. W. P.; CASAROLI, D.; BARBOSA, L. H. A. Crescimento de plantas jovens de pequizeiro na região do cerrado. Revista Agrotecnologia, Anápolis, v. 4, n. 1, p. 58-73, 2013. 3. BATISTA, J. G. F. P. A importância dos biomas mundiais: e o cerrado no contexto brasileiro. In: 10 Encontro Nacional de Prática de Ensino em Geografia, 10., 2009, Porto Alegre. Trabalhos Completos... UFMS/CPTL, 2009. 11p. 4. BELTRÃO, N. E. M.; OLIVEIRA, M. I. P. Oleaginosas potenciais do nordeste para produção de Biodiesel. Documentos, Embrapa:CNPA, Campina Grande, n. 177, dez. 2007, 54 p. 5. BERNADO, S.; SOARES, A. A.; MONTAVANI, E. C.; Manual de irrigação. 8. ed Viçosa, 2011. Cap. 9 p. 483-54. 6. BIZERRIL, M.X.A. O cerrado nos livros didáticos de geografia e ciências. Jornal da Ciência, v.32, p. 56. 2003. 7. DIAS, L. B. Água nas plantas. Lavras:UFLA/Ceapdesgn, monografia. 2008. 53 p. Disponível em: http://www.ceapdesign.com.br/pdf/monografias/ Acesso em: 18 jul. 2014. 8. FRANCO, A. C. Relações hídricas nas plantas do cerrado: As plantas lenhosas do cerrado transpiram livremente? In: Prado, CHBA; Casali, CA. Fisiologia Vegetal: práticas em relações hídricas, fotossíntese e nutrição mineral. Barueri, editora Manole, 2006. ISBN: 85.204.1553-9. www.manole.com.br/
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