ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES



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Transcrição:

ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES AGNU Assembleia Geral das Nações Unidas CIJ Corte Internacional de Justiça CPJI Corte Permanente de Justiça Internacional CSNU Conselho de Segurança das Nações Unidas DH Direitos Humanos EUA Estados Unidos da América ICISS Comissão Internacional sobre Intervenção e Soberania Estatal IIGM Segunda Guerra Mundial ONU Organização das Nações Unidas TPI Tribunal Penal Internacional R2P Responsabilidade de Proteger 1

SUMÁRIO ÍNDICE DE ABREVIAÇÕES... 1 CARTA DE APRESENTAÇÃO... 3 1 INTRODUÇÃO... 6 2 CASO A: PARECER CONSULTIVO ACERCA DO STATUS DO SUDOESTE AFRICANO... 7 2.1 Contexto Histórico... 7 2.2 Surgimento do Apartheid... 9 2.3 O Requerimento de parecer jurídico à CIJ... 14 3 CASO B: RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO POR AÇÕES GENOCIDAS: O MASSACRE ÉTNICO DE RUANDA... 19 3.1 O caso... 19 3.2 Aspectos fáticos... 20 3.2.1 A relação dos europeus com o continente africano... 21 3.2.2 Ruanda e seus colonizadores... 22 3.2.3 Hutus e Tutsis... 22 3.2.4 A situação política de Ruanda... 24 3.2.5 O final do conflito... 26 3.2.6 A atuação comunidade internacional... 27 3.3 A noção de responsabilidade de proteger... 28 3.3.1 Responsabilidade de prevenir... 30 3.3.2 Responsabilidade de reagir... 30 3.3.3 Responsabilidade de Reconstruir... 32 3.4 O conceito de soberania e sua evolução na história... 33 3.5 Genocídio: história, origem da tipificação, reconhecimento internacional... 38 4 REFERÊNCIAS... 43 2

CARTA DE APRESENTAÇÃO Caros delegadinhos e delegadinhas, É com imenso prazer que declaramos oficialmente iniciados os estudos se trabalhos para a XV SOI para nós, Mini SOI, mais especificamente o comitê da CIJ Corte Internacional de Justiça. Serão três dias de intenso aprendizado, diversão, debates e momentos que ficarão marcados na memória tanto dos delegados e delegadas quanto dos diretores. Mas para que toda essa experiência seja ainda mais prazerosa, é importante que conheçamos bem uns aos outros. Vamos à apresentação da mesa diretora: Carol Sedda (não, gente. O nome dela não é Carolina, Caroline, Maria Carolina, Ana Carolina... é Carol mesmo!) tem 21 anos e é estudante de Direito da UFRN, cursando o 8º período noturno e este já é seu segundo ano como diretora na Mini SOI. Faz parte da nossa direção acadêmica, portanto manda e desmanda em todos nós (DireHitler? Brincadeira! Ela é um amor) e ajuda na condução da CIJ em primeira mão, garantindo que tudo esteja dentro dos conformes. Carol, além de tudo, é uma cozinheira de mão cheia. Boatos fortes de que ela levará docinhos, brownies, bolos e muito mais para os dias de simulação. Só não a convide para comer pizza: seu histórico é de nunca deixar uma pizzaria sem ao menos devorar seis fatias. Dona de um coração do tamanho de seu apetite, Carol é uma mãe para todos. Vamos ver se ela cumpre com o prometido... Giselle Costa (Gise ou XL) tem 22 anos e também faz Direito na UFRN e, assim como Carol e ACM, também está no 8º período noturno. Com Carol, compõe a diretoria acadêmica do nosso comitê. Este é o seu segundo ano como diretora. Para aqueles delegados e delegadas interessados em acompanhar as discussões propostas na CIJ em tempo quase real, podem adicioná-la no Snapchat: nossa DireSnap é a rainha do aplicativo, colocando em Sua História registro de momentos memoráveis. Sigam e acompanhem! Vez ou outra, aparecem também umas ibaaagens e vídeos da Europa. É DireLuxo demais! Ana Clara Maia, ACM para alguns, e, para outros: Peppa Pig, é a nossa carpe diem do comitê. Estudante de Direito do 8º período da UFRN, está em seu terceiro ano como diretora da Mini SOI. Reza uma lenda nórdica antiga que, se você der uma caixa de skol beats pra ela com 6 latinhas, ela fecha os olhos e quando abri-los estará ao lado de um enfermeiro chamado Alejandro, prestes a enfiar uma agulha grande e grossa de glicose no braço dela. Esta jovem esbelta de 21 anos, além de tudo, é solteira (!!!!!) (alô marmanjos) e curte um forrózin no rastapé de quarta à sábado. Só não a chamem para o Whiskritório, pois outra 3

antiga lenda diz que, essa inocente garotinha - que nas horas vagas faz cosplay de RBD - foi proibida de entrar lá depois de alguns acontecimentos... Daniel Augusto (Gugu) cursa o 9º período de Direito na UFRN, tem 23 anos e está pela primeira vez conhecendo a grande felicidade que é fazer parte da Diretoria da Mini SOI. Apesar dessa carinha de menino bom, Gugu é forte candidato a DireBruto, sempre com uma piadinha de humor negro e sarcasmo na ponta da língua. Daniel não deixa escapar uma! Está sempre atento às possibilidades de tiração de onda... Apesar de tudo isso, é um amor de pessoa e é muito disposto a ajudar. Quem quiser indicações de filmes e seriados, pode pedir a ele também. Fontes disseram que ele já zerou o Netflix! Flora Assaf registra 19 anos na sua carteira de identidade, mas a verdadeira idade dela é, no máximo, 13 anos. Cursa o 4º período de Ciências Sociais na UFRN e também está pela primeira vez sendo Diretora da Mini SOI, porém já conhecia o projeto enquanto delegadinha. Apesar da sua fluência em língua francesa, todo seu conhecimento sobre sociologia e muito mais, talvez a lição que ela verdadeiramente tenha a passar para todos vocês seja: quando forem dançar sozinhos em casa, por favor, afastem os sapatos de perto. Assim, vocês evitam ficar andando de gesso + muleta por 345 meses, sendo carregada nos braços e tudo mais. Certamente este é seu ensinamento mais valioso! Gabriela Mariel, ou somente Mariel, é aluna do 7º período de Direito e também está estreando como Diretora da Mini SOI, embora também tenha participado como delegadinha em edições anteriores. Mariel certamente figura como uma das pessoas mais engraçadas do comitê, com a sua sinceridade ácida e sempre no ponto certo do humor. Além de uma diretora muito eficaz e solícita, ela também faz sucesso no Dubsmash. Sim, Mariel, os seus vídeos de dublagem vazaram e qualquer um pode atestar o seu talento para a atuação! Pedro Messias, que está pela primeira vez compondo a Diretoria da Mini SOI. O estudante do terceiro período de Direito da UERN já foi Diretor da União Africana na UniSIM e tem apenas 20 anos, mas sua ficha é mais suja que a de muitos centenários. Na sua ainda curta trajetória pela terra, já destruiu a sua reputação de maneira irreversível. Rei das novinhas, fácil vê-lo nas raves curtindo um progzão. Mas se festas que duram 24 horas não fazem o seu estilo, é muito fácil encontrá-lo em outros ambientes: basta acompanhar a agenda de artistas como Grafith, Rei da Cacimbinha e Luccaz, além de ser figura conhecida no carnaval de Macau. Muito empenhando na operação #fikagrande e #vemmonstro, malha 8 dias na semana, porém se alimenta como um ogro: faz parte do seu café da manhã uma vitamina composta por um litro de leite e 8 bananas, seu almoço no self-service do Camarões 4

não sai mais barato que R$ 100,00 e, para jantar, devora com facilidade 4 sanduíches triplos (um total de oito pães e 12 hambúrgueres) do Mc Donald s. De sobremesa, não dispensa uma rabanada. Ainda assim, consegue manter o shape desejado para conquistar corações das meninas desavisadas. Com seu corpo escultural e rostinho que enlouquece a mulherada tem tudo para ser escolhido como o Diretor #kidelíííííícia desta edição da SOI. Por último, mas não menos importante, temos Francisco André, que atende também pela alcunha de Bonde, certamente é conhecido por aqueles que já trilharam caminhos na Mini SOI. Cursando um período indefinido do curso de Direito da UFRN, sua idade também é um mistério. Sempre disposto a ajudar na construção desse mix de magia e diversão que é a SOI, esse ano atua como tutor do nosso comitê, trazendo para nós sua experiência por ter participado de tantas simulações que é impossível contar nos dedos. Um dos seus talentos é saber a música Saga de um Vaqueiro decorada e criar peixes betas (de acordo com ele, criou o peixe beta brigador mais forte e destruidor da história que arrasou, em média, outros 8 peixes). Além disso, dizem que quando ele está por perto, não chove, só venta... vamos averiguar a veracidade de todas essa histórias na simulação! 5

1 INTRODUÇÃO Criada pela Carta da ONU, em seu artigo 92, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), começou a sua atuação em 1946 e, atualmente, é o principal órgão judiciário das Nações Unidas. Substituiu, com isso, a Corte Permanente de Justiça Internacional (CPIJ), órgão da Liga das Nações, a qual teve suas atividades encerradas em 1939. Sua sede é no Palácio da Paz, em Haia, nos Países Baixos 1. O principal objetivo da CIJ, que tem seu Estatuto inspirado no da CPIJ, é solucionar conflitos entres os Estados sobre os mais diversos temas no que tange ao ordenamento jurídico internacional. Sua importância vem sendo cada vez maior na comunidade internacional, tendo a Corte solucionado mais de cem casos, em seus quase 70 anos de funcionamento, respeitando sempre o direito internacional, a pacificidade e a imparcialidade. Atualmente, tal órgão é composto por 15 juízes eleitos pela Assembleia Geral das Nações Unidas e pelo Conselho de Segurança, para um mandato de nove anos. Cabe salientar, todos os Estados signatários do Estatuto da CIJ têm o direito de indicar candidatos aos cargos de juízes; entretanto, os indicados deverão atuar de acordo com as suas próprias convicções, não representando seu Estado de origem. Ademais, vale lembrar, o Brasil possuiu (e ainda possui) grandes papéis tanto na CPIJ quanto na CIJ, tendo importantes nomes eleitos como juízes em ambas as cortes. Por exemplo, na CPIJ, atuaram os renomados juristas Rui Barbosa e Epitácio Pessoa. Na CIJ, a seu turno, encontra-se em exercício o atual juiz Antônio Augusto Cançado Trindade (membro desde 2009), sucessor de outros grandes jurisconsultos que ocuparam o mesmo cargo, tal qual José Francisco Rezek e Filadelfo de Azevedo (primeiro juiz brasileiro a ocupar esse cargo na CIJ) 2. Além disso, a Corte Internacional de Justiça, é importante ressaltar, possui tanto competência contenciosa (que resulta na solução de disputas legais entre as nações), quanto consultiva (estando autorizada a emitir pareceres consultivos acerca das mais diversas 1 CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA. Disponível em: <http://www.icjcij.org/homepage/index.php?lang=en > Acesso em: 17 nov. 2014 2 BIBLIOTECA VIRTUAL DE DIREITOS HUMANOS. Disponível em: <http://www.direitoshumanos.usp.br/index.php/corte-internacional-de-justi%c3%a7a/o-que-e.html >Acesso em: 17 nov. 2014 6

temáticas legais quando suscitado) 3. Logo, o presente comitê pretende utilizar ambas as competências, para tanto, abordando dois casos durante a simulação. 4 2 CASO A: PARECER CONSULTIVO ACERCA DO STATUS DO SUDOESTE AFRICANO 2.1 Contexto Histórico O Sudoeste Africano, hoje região conhecida por Namíbia, foi um território africano colonizado, em meados do século XIX, pelo antigo Império Alemão que obteve a tutela dessa região até o final da primeira guerra mundial sendo um dos frutos de um processo de partilha e exploração africana por parte das potências imperialistas da época 5. Todavia, como a história mostra, esse processo de ocupação da região nem sempre foi assim. Antes da chegada de potências europeias na Partilha da África, o espaço era território dos San 6, grupo étnico natural da região Sul da África, além de diversos povos falantes das línguas banto 7. Ao final da Idade Média, com o início da expansão marítima, grandes impérios se fizeram presentes na região, como Portugal, Países Baixos e Reino Unido, presença esta que durou até meados do século XIX. Como dito acima, por volta de 1884 o Império Alemão instaurou o protetorado do Sudoeste Africano na região, dando início a um período de quase 30 anos chamado de Sudoeste Africano Alemão, momento este em que diversas revoltas se manifestaram, inclusive com o genocídio dos hererós e namaquas, conhecido como o primeiro genocídio do 3 MARTINS, Hugo Lázaro Marques. A Corte Internacional de Justiça e a sua contribuição para manutenção da segurança internacional. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/23162/a-corteinternacional-de-justica-e-a-sua-contribuicao-para-manutencao-da-seguranca-internacional>. Acesso em: 17 nov. 2014. 4 MARTINS, Hugo Lázaro Marques. A Corte Internacional de Justiça e a sua contribuição para manutenção da segurança internacional. 2012. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/23162/a-corteinternacional-de-justica-e-a-sua-contribuicao-para-manutencao-da-seguranca-internacional>. Acesso em: 17 nov. 2014. 5 THORNBERRY, Cedric. A Nation Is Born: The Inside Story of Namibia's Independence. [S.l.]: Gamsberg Macmillan Publishers Ltd., 2004. 9 11 p. 6 SAPO. KHOISAN: Os caminhos da integração social. Disponível em: <http://viajar.sapo.ao/curiosidades/khoisan>. Acesso em 06 de maio de 2015. 7 SCHAPIRA, I. The Khoisan Peoples of South Africa: Bushmen and Hottentots. Londres: Routledge, 1963. 7

século XX. Apesar da repressão alemã na região, inúmeras influências do povo germânico até hoje são notadas na Namíbia, como é visto na cidade de Swakopmund 8, que possui ruas com os nomes em alemão, além de fábricas e museus também de origem bávara, como a prisão de Altes Gafaengnis e o museu militar de Woermannhaus. Hoje em dia, acredita-se que a população da Namíbia, antigo Sudoeste Africano, possua diversos grupos étnicos ocupando a região, como os Owambos, Hereros, Namas, Caprivians e brancos descendentes de europeus. 9 Durante a Primeira Guerra Mundial, com a tentativa de expansão alemã e a vigorosa resposta da Entente, a União Sul-Africana 10, com o apoio militar do Império Britânico, se interpôs no domínio alemão na região do Sudoeste Africano, e tomou o controle não oficial do território em pouco tempo 11. Com a criação da Liga das Nações, em 1919, foi instituído o dever de tutela 12 sul-africano na antiga colônia germânica 13. Em 1945, como é de conhecimento geral, ao final da Segunda Guerra Mundial, e em resposta ao fracasso e extinção da Liga das Nações, foi criada a Organização das Nações Unidas, e com ela, a Corte Internacional de Justiça (CIJ). Paralelo a todos esses acontecimentos - fim do controle germânico na região, instauração do controle sul-africano sob autorização expressa da Liga das Nações, o fim da Liga das Nações e o entendimento de que todas as obrigações dessa organização teoricamente passariam a vigorar dentro da ONU - foi levantada algumas vezes a obrigatoriedade da responsabilidade de tutela da União Sul Africana sob essa região amplamente heterogênea, 8 NAMIBIA. Swakopmund Municipality. Disponível em: <http://www.swkmun.com.na/index.htm>. Acesso em: 06 de maio de 2015. 9 NAMIBIA. The People of Namibia. Disponível em: <http://www.namibian.org/travel/namibia/population/>. Acesso em: 01 de abril de 2015. 10 A União Sul-Africana hoje África do Sul foi colônia do antigo Império Britânico desde meados de 1910 até o começo da década de 60. É interessante observar que as posições políticas e militares adotadas pela União, durante este período colonial, representavam diretamente o interesse de Londres, sendo a União um forte instrumento de influência britânico no continente africano. 11 Namíbia: Geografia, História e Cultura. Disponível em: <http://emdiv.com.br/en/world/77- asmaravilhasdomundo/2220-namibia-geografia-historia-e-cultura.html>. Acesso em: 01 de abril de 2015. 12 É importante entender que o dever de tutela não corresponde ao direito à anexação imprescritível de uma região por um Estado. A tutela consiste na responsabilidade de administrar, representar e assistir uma região, ao que for necessário, por um período de tempo definido, ou até que essa região sob tutela atinja um patamar notório de autotutela. 13 BRITANNICA. German South West Africa. Disponível em: <http://www.britannica.com/ebchecked/topic/230970/german-south-west-africa>. Acesso em: 01 de abril de 2015. 8

conforme pode se observar em documento expresso emitido pela CIJ, em resposta ao pedido de parecer da corte quando ao real status da região. 14 Sendo assim, no ano de 1949, o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) deu entrada junto à Corte Internacional de Justiça (CIJ) no supracitado pedido de emissão de Parecer Jurídico acerca do real status ostentado por toda a região compreendida no sudoeste da África. Trata-se da formalização da nova condição que, gradativamente, se instalou naquele território, a saber, a segregação demográfica em razão da cor da pele dos habitantes, bem como em uma espécie de aviso prévio de toda a comunidade internacional sobre aquilo que poderia vir a acometer o país quando da perpetuação dessa ideologia em suas políticas internas e externas. O caso exigiu o estudo da construção histórico-social do continente africano, trazendo à tona questões culturais de extrema relevância e recorrentes em provas a nível nacional, como a multietnia de um povo, o regime da escravidão como instrumento de controle e pacificação de um povo e, sobretudo, a submissão africana em face do imperialismo europeu. Por derradeiro, a Corte foi instada a se pronunciar acerca do véu de faticidade e legitimidade que se deita sobre o separatismo sul-africano, esclarecendo, inclusive, as nuanças jurídicas que, por ventura, pudessem se configurar em um contexto futuro presumível. 2.2 Surgimento do Apartheid As teorias raciais ganharam destaque no final do século XIX, principalmente, conforme comentou Alessandra Rosa Santos 15, em referência à estudiosa Vera Beltrão Marques 16, devido à tese segundo a qual o comportamento dos indivíduos seria uma decorrência natural do resultado de determinações biológicas, isto é, os fatores físicos seriam os responsáveis tanto por tendências à 14 CIJ. Internacional Status of South-West Africa. Disponível em: <http://www.icjcij.org/docket/files/10/1891.pdf>. Acesso em: 06 de maio de 2015. 15 SANTOS, Alessandra Rosa. Quando a Eugenia se distancia do Saneamento: as idéias de Renato Kehl e Octávio Domingues no Boletim de Eugenia (1929-1933). Dissertação (Mestrado) - Curso de Pósgraduação em História das Ciências da Saúde, Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz, Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: <http://www.arca.fiocruz.br/bitstream/icict/6133/2/14.pdf>. Acesso em: 31 mar. 2015. 16 MARQUES, Vera Regina Beltrão. A medicalização da raça: médicos, educadores e discurso eugênico. Campinas: UNICAMP, 1994, p. 33. 9

criminalidade, como defendia Cesare Lombroso 17, como também por propensões à genialidade ou à loucura. Por conseguinte, conforme constatou Vera Beltrão Marques, a existência da crença de que as heranças físicas e permanentes caracterizavam e hierarquizavam os indivíduos com fundamento, inclusive, na teoria da evolução de Darwin, de que sobrevivem os indivíduos mais aptos. Demais disso, segundo relatou Aldina da Silva Melo 18, também os discursos religiosos à época contribuíam para essa segregação social, ao pregarem que a divisão dos seres humanos em grupos raciais decorria da vontade divina. Sendo assim, as relações políticas e sociais do Ocidente foram adequadas segundo esses argumentos científicos. Nesse sentido, infere-se que a eugenia 19, ou seja, a ideia da superioridade da etnia branca europeia sobre as demais foi disseminada mundialmente, sofrendo pouca oposição dos ideais liberais e democráticos, em razão dessas justificativas científicas e religiosas. Nessa linha de raciocínio, segundo a reportagem da edição especial da Veja de 1960 20 acerca do Apartheid, essa separação das etnias na África do Sul teve origem com a colonização europeia desse território, que se utilizou dessa cisão para manter o domínio sobre a população nativa. Posto que, desde quando a possessão holandesa passou aos ingleses em 1815, por determinação do Congresso de Viena, sobrevieram decretos dispondo acerca desse tema, a exemplo da Lei Agrária de 1913, a qual contribuiu para a definição do regime de segregação racial, conhecido como Apartheid. 17 Médico nascido na Itália e criador da teoria do homem delinqüente. Defendia o caráter hereditário do crime fundamentado em dados antropométricos, isto é, em medidas de partes do corpo humano. Com base nessa sua tese, então, propunha tratamentos diferenciados em função da raça, tendo vista que as características antropométricas eram distintas, devendo, por conseguinte cada indivíduo receber o tratamento adequado com base na sua composição física e consequentes características. Ver mais em: GOULD, Stephen Jay. A falsa medida do homem. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p. 122-123. 18 MELO, Aldina da Silva. Em Tempos de Segregação na África do Sul. XXVII Simpósio Nacional de História, Natal, 26 jul. 2013. Disponível em: <http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364745976_arquivo_artigoanpuh2013.pdf>. Acesso em: 01 abr. 2015. 19 O termo eugenia foi criado em 1883 por Francis Galton, conforme disposto em seu livro Inquiries into human faculty and its development e significa "bem nascido". Assim, Galton definiu eugenia como sendo o estudo feito pelos agentes, capaz de melhorar ou empobrecer, física e mentalmente, as qualidades raciais das futuras gerações, visando o controle social. Logo, eugenia diz respeito à ideologia criada de que certas raças, por características que lhes são próprias, são melhores que as demais, no caso do Apartheid, era disseminada a ideia de que a raça branca era superior. 20 Quando o racismo é a lei. Veja, 21 mar. 1960. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/historia/apartheid-africa-sul/apartheid-quando-racismo-lei.shtml>. Acesso em: 28 mar. 2015. 10

Conforme destacado no artigo, intitulado O regime do Apartheid 21, o "Ato de Terras Nativas", ou melhor a Lei Agrária, contribuiu para esse domínio, pois determinava uma divisão de terras desproporcional em prol dos brancos na África do Sul, ao, forçar os negros, que correspondiam a 23 milhões de pessoas, a ocupar somente 13% do território sulafricano, enquanto os outros 87% das terras eram ocupados pela minoria de 4,5 milhões de brancos. Demais disso, asseverou-se no artigo supracitado que, como essa lei proibia os negros de comprarem terras além da área delimitada para eles, logo, contribuiu para a dominação branca, ao passo que, impediu a ascensão econômica dos negros, garantindo mão de obra barata aos latifundiários brancos. De forma semelhante, foi ressaltado que, apesar de ter sido permitida a execução de trabalhos essenciais nas cidades pelos negros, essas pessoas continuaram a ser marginalizadas, posto serem obrigadas a viver em áreas isoladas, conhecidas como guetos, intensificando, portanto, essa desigualdade racial. Seguindo essa ideia da discriminação, o texto supramencionado também tratou acerca das "Leis do Passe", definindo-as como aquelas disposições normativas as quais obrigavam os negros a apresentarem o passaporte, toda vez que intentassem se locomover dentro do território e mesmo obter emprego. Também essa lei contribuiu para essa supremacia branca, pois tratava os negros de forma desigual, constrangendo a locomoção deles. Por conseguinte, o Apartheid, uma política de segregação racial que perdurou desde 1948 até 1995 22, sendo adotada pela República Sul-Africana, entre seus habitantes, visando a dominação dos brancos sobre os negros, mestiços e minorias de origem asiática, foi consequência da teoria racial que impulsionava movimentos discriminatórios. Ademais, entende-se que a consolidação desse regime separatista só se deu, segundo o artigo da Educação Globo 23, com a vitória do Partido Nacional em 1948, formado pelos Afrikaaners, isto é, brancos de origem holandesa, nas eleições sul-africanas, nas quais só os brancos puderam votar. Porquanto, foi a partir desse momento que começou o Estado Sulafricano a verdadeiramente criar leis para regularizar e legitimar o sistema discriminatório entre raças desenvolvido desde a sua colonização, chamado de Apartheid. 21 HISTORIANET. O regime do Apartheid. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=50>. Acesso em: 01 abr. 2015. 22 Michaelis: dicionário de português online. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=apartheid>. Acesso em: 31 mar. 2015. 23 Apartheid na África do Sul. Educação Globo. Disponível em: <http://educacao.globo.com/artigo/apartheid-naafrica-do-sul-segregacao-racial.html>. Acesso em: 01 abr. 2015. 11

Dessa forma, dentre os dispositivos normativos criados, relacionados a essa política discriminatória com intento de separar e sobrepor as pessoas de etnia branca sobre as negras e qualquer outra a ela distinta como a asiática, pode-se citar: Lei da proibição de casamentos mistos de 1949, Lei da imoralidade de 1950, Lei de registro populacional de 1950, Lei de agrupamentos urbanos de 1950, Lei dos nativos de 1952, Lei de reserva de benefícios sociais separados (1953) e a Lei de educação Bantu de 1953 24. Nesse diapasão, cumpre brevemente resumir do que cada uma dessas leis tratava com base na reportagem da revista Veja, a fim de constatar a índole discriminatória delas. Sendo assim, a Lei da proibição de casamentos mistos proibia o casamento entre brancos e pessoas de outras etnias, já a Lei da imoralidade, ainda mais restritiva, proibia e criminalizava qualquer relação sexual entre brancos e pessoas de etnias distintas. Para exemplificar essa situação, então, a escritora Judith Stone relatou um caso no qual, em 1984, [...] em Potchefstroom, um homem branco foi acusado de dormir com uma mestiça mas ela é que foi condenada a seis meses de trabalhos forçados por dormir com ele. 25. Esse caso concreto, portanto, claramente demonstra a perversidade desse sistema, visando a separação da raça branca das demais na África do Sul. Com esse mesmo objetivo, as demais leis se dotaram. Assim, a lei de registro populacional determinava o cadastramento em um registro nacional para a separação da população por raças. A lei de agrupamentos urbanos, por sua vez, forçava a separação física em pessoas de diferentes raças, estabelecendo, para tanto, a criação de áreas residenciais separadas, o que permitiu a remoção forçada dos negros de suas regiões de origem. Já a lei dos nativos, mais conhecida como Lei do passe, obrigava os negros a carregarem consigo uma caderneta de identificação a qual lhes permitia se locomover pelo território e cuja não apresentação à polícia, quando solicitado, constituía crime. A lei de reserva de benefícios sociais separados, porém, instituía a segregação em todos os locais e com relação a todos os equipamentos públicos a fim de eliminar por completo qualquer contato entre brancos e pessoas de outras raças. Com esse intento, logo, determinava a afixação de sinais indicando se o espaço ou objeto estava reservado a europeus (brancos) ou a não-europeus (demais raças). 24 Quando o racismo é a lei. Veja, 21 mar. 1960. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/historia/apartheid-africa-sul/apartheid-quando-racismo-lei.shtml>. Acesso em: 28 mar. 2015. 25 STONE, Judith. Retrato em preto e branco: a história verídica de uma família dividida por problemas raciais. São Paulo: Landscape, 2008. p. 73. 12

Por fim, a lei de Educação Bantu determinava o ensino segundo as raças, criando medidas para reduzir o nível da educação dirigida à população negra. Claramente, então, essa norma buscou intensificar ainda mais a desigualdade entre as raças, ao promover a raça branca em detrimento da negra e dificultando ainda mais a ascensão social desta última. Nesse contexto de forte discriminação racial e exploração econômica, ocorrida na região desde os momentos iniciais do domínio das nações europeias, conforme aduzido no sítio Educacional 26, aflorou no território sul-africano o sentimento revolucionário entre a população sobrepujada pelos brancos, culminando na fundação do Congresso Nacional Africano (CNA), em 1912, pelo líder zulu Pixley Ka Izaka Seme. Posteriormente, tal agremiação passou a receber financiamento da URSS, tendo em vista a sua aproximação com o Partido Comunista local e por ter sido o movimento melhor organizado na luta contra o Apartheid. Portanto, conclui-se que esse sistema foi arraigado pelo ódio racial o qual buscou a separação da raça branca das demais na África do Sul, com origens desde a colonização desse país pelos europeus, ganhando força com a vitória do Partido Nacional nas eleições de 1948, a qual permitiu a institucionalização desse sistema discriminatório. Enquanto isso restou legalizado e legitimado por uma série de leis que garantiram tanto essa separação como a dominação dos brancos no território Sul-africano. Contudo, cumpre salientar que todos os seres humanos têm o direito de serem tratados com dignidade e de forma igualitária, em virtude dos direitos humanos, os quais dizem respeito a um conjunto de valores éticos, independentes de previsão legal e que objetivam promover a dignidade humana, devendo, ademais, devido o seu caráter erga omnes, expressão em latim usada para denominar aquelas regras que devem ser prioridade e respeitadas por todos, segundo concluiu o respeitado doutrinador Carvalho Ramos 27. Com o intuito de normatizar esses direitos que naturalmente já eram conhecidos conforme os valores éticos humanos, pois imprescindíveis, sua proteção para uma convivência pacífica entre os povos, e em consequência das atrocidades decorrentes da Segunda Guerra mundial, como o genocídio de grupos étnicos, a comunidade internacional 26 EDUCACIONAL. 1948: a implantação do Apartheid. Disponível em:<http://www.educacional.com.br/reportagens/apartheid/parte-03.asp>. Acesso em: 01 abr. 2015. 27 CARVALHO RAMOS, André de. Teoria Geral dos Direitos Humanos na Ordem Internacional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, pg. 189. 13

elaborou a Carta das Nações Unidas, em 1945, bem como promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), em 1948. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, por conseguinte, de acordo com o previsto no parágrafo primeiro do seu preâmbulo 28, explicitamente instituiu como valor ético a fundamentar todos os demais, a dignidade humana. A DUDH, porém, por ser uma declaração e não uma convenção na qual os Estados assinam consentindo e se comprometendo a cumprir suas disposições, tem valor apenas declaratório, isto é, apenas sugere e não tem força vinculante, ou melhor, não tem o poder de impor a proteção a tais direitos. Além disso, o conceito do princípio da dignidade da pessoa humana, segundo os autores Benedetto Croce 29 e Pérez-Luño 30, varia conforme o momento histórico e as necessidades humanas provenientes dos valores morais específicos de cada sociedade. Esse entendimento acerca do significado desse princípio, então, pode ser variável conforme os valores de cada povo. O Apartheid, portanto, se justificou, pois a sociedade sul-africana, sobretudo, a parte desta composta pelos brancos, se firmava em valores próprios, justificando a suposta superioridade deles sob aspectos científicos e religioso, para fundamentar os tratamentos discriminatórios infligidos àqueles que não fossem brancos de origem europeia na África do Sul. 2.3 O Requerimento de parecer jurídico à CIJ Em 19 de Dezembro de 1949, o Secretário Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) acionou a consultoria da Corte Internacional de Justiça (CIJ), e deu entrada no pedido de emissão de Parecer Jurídico acerca do status internacional ostentado pelo Território do Sudoeste Africano. O Território de Sudoeste Africano foi uma das possessões ultramarinas alemãs. Entretanto, com o final da Segunda Guerra Mundial, por força do artigo 119 do Tratado de 28 ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos, 1948. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm >. Acesso em: 07 set. 2014. 29 CROCE, Benedetto. Declarações de Direitos Benedetto Croce, E. H. Carr, Raymond Aron. 2. ed. Brasília: Senado Federal, Centro de Estudos Estratégicos, Ministério da Ciência e Tecnologia, 2002, p. 17-19. 30 PÉREZ-LUÑO, A. Enrique. Derechos humanos em la sociedade democratica. Madrid: Tecnos, 1984, p. 48. 14

Versalhes 31, o governo germânico renunciou a todos os seus direitos e títulos em favor dos principais países que integravam o então grupo da Entente, principalmente Reino Unido e França. Conforme explicado acima, a região do sudoeste africano ficou sobre o domínio especificamente do Reino Unido, responsável pela colonização de boa parte do continente africano. Ocorre que, desde o início do século XX, ainda por consequência do final da Primeira Guerra Mundial, essa região, a exemplo de muitas outras, encontrava-se submetida ao regime de tutela. Isto é, considerava-se que os povos que nela habitavam não eram capazes de se autogovernarem, devendo tal atividade ser desenvolvida por outra nação, durante o período de capacitação, por meio de uma espécie de contrato internacional. No ano de 1919, a Liga das Nações instituiu o Sistema de Mandatos por meio do artigo 22 do Pacto da Sociedade das Nações 32, a fim de viabilizar a concretização do Sistema 31 Artigo 119: A Alemanha renuncia dos Aliados Principais e Poderes Associados todos os direitos e títulos sobre suas possessões além-mar. Disponível em língua inglesa em: < http://en.wikisource.org/wiki/treaty_of_versailles/part_iv#article_119>. Acesso em: 05 de abril de 2015. 32 Artigo 22: Para essas colônias e territórios que, como consequência da guerra tarde deixaram de estar sob a soberania dos Estados que anteriormente regia eles e que são habitados por povos ainda não são capazes de cuidar de si mesmas nas condições árduas do mundo moderno, há deve ser aplicado o princípio de que o bemestar e o desenvolvimento desses povos formam uma missão sagrada de civilização e que os títulos para o desempenho dessa confiança deve ser incorporada no presente Pacto. O melhor método de dar efeito prático a este princípio é que a tutela desses povos deve ser confiada a nações avançadas que, em virtude dos seus recursos, sua experiência ou da sua posição geográfica melhor pode assumir essa responsabilidade, e que estão dispostos a aceitá-la, e que esta tutela deve ser exercido por eles como mandatários em nome da Liga. O caráter do mandato deve variar de acordo com o estágio de desenvolvimento das pessoas, a situação geográfica do território, as suas condições económicas, e outras circunstâncias semelhantes. Certas comunidades que anteriormente pertencia ao Império Turco chegaram a um estágio de desenvolvimento em que a sua existência como nações independentes podem ser reconhecidos provisório, sujeitos à prestação de assessoria administrativa e de assistência por um obrigatória até ao momento em que eles são capazes de ficar sozinho. Os desejos dessas comunidades deve ser uma consideração principal na escolha do mandatário. Outros povos, especialmente os da África Central, estão em tal estágio que a Obrigatório deve ser responsável pela administração do território em condições que garantam a liberdade de consciência e de religião, sujeito apenas à manutenção da ordem pública e da moral, a proibição de abusos, como o tráfico de escravos, o tráfico de armas, eo comércio de bebidas, bem como a prevenção do estabelecimento de fortificações ou militares e bases navais e de treinamento militar dos nativos, exceto para fins de polícia e defesa do território, e vontade também garantir a igualdade de oportunidades para o comércio e comércio de outros membros da Liga. Existem territórios, como a Sul-Oeste da África e algumas das ilhas do Pacífico Sul, que, devido à escassez de sua população, ou seu tamanho pequeno, ou seu distanciamento dos centros da civilização, ou a sua contiguidade geográfica no território da as circunstâncias obrigatórias, e outros, pode ser melhor administrado sob as leis das obrigatórios porções como integrante de seu território, sem prejuízo das garantias acima mencionadas, no interesse da população indígena. Em todos os casos de mandato, a Mandatária rendem ao Conselho um relatório anual, em referência ao território comprometida com sua carga. O grau de autoridade, controle ou administração a ser exercido pela Mandatária, se não for previamente acordado entre os membros da Liga, ser explicitamente definido em cada caso pelo Conselho. A Comissão Permanente será constituído para receber e examinar os relatórios anuais dos mandatários e para informar o Conselho sobre todas as questões relacionadas com a observância dos mandatos. (destaques nossos). Disponível, em língua inglesa, em: < http://en.wikisource.org/wiki/covenant_of_the_league_of_nations#article_22>. Acesso em: 05 de abril de 2015. 15

de Tutela Internacional. Neste contexto, dois princípios reportaram-se de suma importância: o da não-anexação de territórios e o do dever sagrado de civilização. Em 17 de dezembro, 1920, o Primeiro Ministro do Reino Unido concordou em ceder o Poder Mandatário sobre o Sudoeste Africano em favor da União da África do Sul, definindo os termos do respectivo mandato. De acordo com a natureza deste documento, qual seja um mandato do Tipo C, conforme o supramencionado artigo 22 do Pacto das Nações, a União da África do Sul (Mandatário) teria plenos poderes de administração e legislação sobre o território, o qual deveria ser entendido como uma parte integrante da União e submisso às leis e necessidades circunstanciais desta 33. Por outro lado, o Mandatário também deveria observar inúmeras obrigações a nível internacional. Ao Conselho da Liga das Nações, enfim, cabia a supervisão de toda a atividade administrativa, bem como o poder de exigir o cumprimento das obrigações na íntegra. Ainda, as obrigações internacionais assumidas pela União da África do Sul poderiam ser subdivididas em duas espécies: a primeira encontrava-se diretamente relacionada à Administração do Território e correspondia à "sagrada confiança de civilização", a que se refere o artigo 22 do Pacto. O outro grupo delas compreendia todos os mecanismos de implementação, ou seja, os títulos - pactos, acordos e tratados - alcançados pelo então Poder Mandatário para a consecução e o desempenho da confiança. Sob o argumento de que assumira a obrigação geral de promover ao máximo o bemestar moral e material daquela sociedade, e o respectivo progresso social dos habitantes, a União da África do Sul passou a exercer diretamente o controle e até instituir as mais diversas atividades, como o trabalho forçado e o tráfico de armas, munições e bebidas intoxicantes, bem como atividades relativas à liberdade de consciência e ao livre exercício da adoração, o que representava a essência da "sagrada confiança da civilização". Nesse sentido, em que pese não houvesse qualquer implicação acerca da cessão de territórios ou a transferência de soberania para a União da África do Sul, no plano dos fatos, o Governo da União abusou de sua autoridade e excedeu a sua função internacional de 33 Histórico: A tentativa frustrada de anexação da África do Sul. Disponível em: <http://elmaxilab.com/definicao-abc/letra-n/nacoes-unidas-grupo-de-assistencia-de-transicao.php>. Acesso em: 13 de Maio e 2015. 16

administração, revelando-se um governo autoritário racista e com todas as intenções de se fazer definitivo 34. A exemplo disso, no ano de 1948, o governo do chamado Partido Nacional (na África do Sul), procedeu com a ilegal incorporação do território Sudoeste Africano, como uma espécie de 5ª Província da União, ignorando o status de Mandatário. A integração, porém, não foi meramente formal, assumiu também contornos econômicos - exploração dos recursos naturais e do contingente humano como força de trabalho; políticos e sociais. Assim, a política de Apartheid, que foi desenvolvida e implementada na África do Sul, foi estendido também para o Sudoeste Africano. O efeito disso foi a consolidação do sistema de contrato de trabalho migrante, com o sudoeste africano, o qual foi transformado em um verdadeiro reservatório de força de trabalho. Por outro lado, o poder e a capacidade de governo remanescia nas mãos da África do Sul, representada pela formação de uma nova classe privilegiada de funcionários e chefes tribais que atuavam como agentes do governo do Estado. A consequência, pois, desta política foi a imposição, por parte dos sul-africanos, de um imensurável óbice ao desenvolvimento e autogoverno do território do sudoeste africano por sua população nativa. Para tal, a África do Sul exercia um apertado controle de trânsito dos habitantes no perímetro urbano daquele território; estabelecia um regime de habitação segregada; submetia a população a inúmeras restrições ao direito de propriedade, bem como à prestação de serviços abaixo do padrão mínimo. Sobretudo, a intensificação do sistema de contrato de trabalho foi o resultado de uma busca por mão de obra barata, gerenciável e dócil ao serviço da economia florescente na África do Sul, especialmente para a indústria de mineração de crescimento rápido 35. Naquele mesmo ano, emergiu a resistência ao sistema de contrato de trabalho, quando mais de 2000 trabalhadores contratados de Ovambo, em Tsumeb 36, entraram em greve após o 34 Abaixo o imperialismo Alemão!. Os crimes coloniais no Sudoeste Africano Alemão: Qualquer Herero será baleado. Nove anos de luta de libertação do povo da Namíbia; Sobre o sucesso dos patriotas da Namíbia. Dsiponíveis em: <http://ciml.250x.com/africa/portuguese/namibia_portuguese.html>. Acesso em: 05 de abril de 2015. 35 CLARENCE-SMITH, W. G.; MOORSOM, R. Subdesenvolvimento e formação de classes em Ovamboland: 1845-1915. Jornal da História Africana. Grã Bretanha, 1975. nº. 16. p. 365-381. Disponível em: <http://www.jstor.org/stable/180472>. Acesso em: 11 mar. 2015. INNES, D. Capital Sulafricana e Namíbia. In: KILJUNEN, M. L.; KILJUNEN, K. Namíbia: a última colônia. Essex: Longman, 1981. p.59-86. 36 Esta cidade está localizada na região nordeste da atual Namíbia. 17

assassinato de um trabalhador por um capataz branco 37. Em 1949, uma espécie de revolta teve como palco o porto de Lüderitz, instaurando uma onda de greves e hostilidade em todo o território nos anos seguintes. O governo Sul-Africano, então, vigorosamente, apertou o cerco contra o movimento sindical incipiente, utilizando a legislação de segurança, especialmente o Ato de 1950 de Supressão do Comunismo, para prender os sindicalistas, e proibir reuniões e sindicatos. O reinado de terror desencadeado foi suficiente para acabar com o movimento sindical, mas ataques esporádicos continuaram a ocorrer, apesar da repressão autoritária com que eles foram recebidos. A resistência política ao Apartheid até a década de 1950 foi de base étnica e organizada pelas autoridades tradicionais, mas o surgimento do sindicalismo, organizações estudantis e grupos políticos locais lançaram as bases para uma resistência mais sofisticada que estava a se aglutinar em um movimento nacional 38. Para o povo do planalto e do sul da África do Sudoeste, isso representou o aperto de um sistema que tinha se esforçado muito, mas para as pessoas do norte, especialmente de Ovamboland, isso significava que a extensão do controle administrativo de uma nova maneira 39. Assim, as pressões do crescimento da população, a deterioração dos meios tradicionais de produção e da estagnação da economia angolana fazia os nortistas cada vez mais dependente de emprego na economia do sul 40. Verdade é que a África do Sul não entende que o Poder Mandatório foi, primeiramente, concedido à União da África do Sul, enquanto região sob Domínio do Império Britânico, e, depois, que seu exercício é necessariamente temporário e limita-se expressamente ao campo administrativo. Prova disso foi o pedido realizado pela África do Sul em 1946 junto à Organização das Nações Unidas para anexar Sudoeste Africano ao seu 37 KILJUNEN, K. Resistência Nacional e a Luta pela Libertação. In: KILJUNEN, M. L.; KILJUNEN, K.. Namíbia: a última colônia. Essex: Longman. p. 145-171. 38 Cf. op., cit. KILJUNEN, K. Resistência Nacional e a Luta pela Libertação. In: KILJUNEN, M. L.; KILJUNEN, K.. Namíbia: a última colônia. Essex: Longman. p. 148.UNESCO. Racismo e apartheid no Sudoeste da África: África do Sul e Namíbia. Paris: Unesco, 1974. 39 Cf. op., cit. CLARENCE-SMITH, W. G.; MOORSOM, R. Subdesenvolvimento e formação de classes em Ovamboland: 1845-1915. Jornal da História Africana. nº. 16. p. 381. 40 Cf. op., cit. CLARENCE-SMITH, W. G.; MOORSOM, R. Subdesenvolvimento e formação de classes em Ovamboland: 1845-1915. Jornal da História Africana. nº. 16. p. 381. 18

território, entendendo que o fim da Liga das Nações conferia-lhe o domínio irrestrito sobre o referido território 41. Diante disso, em 19 de Dezembro de 1949, a Organização das Nações Unidas (ONU) requereu, perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ), a emissão de Parecer Jurídico acerca do ostentado pelo Território do Sudoeste Africano (Anexo I). 42 A carta do Secretário Geral da ONU tinha redação simples e objetiva. Questionava a referida Corte: (i) se a União da África do Sul deveria permanecer respondendo como Mandante do Sudoeste Africano e, em caso afirmativo, quais obrigações internacionais lhe seriam decorrentes dessa condição; (ii) se poderia submeter o Sudoeste Africano ao regime de tutela internacional previsto no capítulo XII da Declaração sobre os Territórios Não- Autogovernáveis e de que forma, se sim; e, (iii) se a União da África do Sul teria competência para modifica o status internacional do território do Sudoeste Africano, se não, qual órgão da comunidade internacional poderia fazê-lo. 3 CASO B: RESPONSABILIZAÇÃO DO ESTADO POR AÇÕES GENOCIDAS: O MASSACRE ÉTNICO DE RUANDA 3.1 O caso Em 2010, a Corte Internacional de Justiça recebeu pedido, por parte da República da África do Sul, de revisão do julgamento do Caso Ruanda, com o objetivo de responsabilizar o Estado de Ruanda pelas práticas genocidas ocorridas em seu território no ano de 1994 43. Nesse caso, foi estimada a morte de aproximadamente 800 mil pessoas. Contudo, apenas poucos generais envolvidos nos atos genocidas foram levados a julgamento, sendo bem menor o número de condenados e culpados. O restrito alcance dessa responsabilização deve-se, dentre outros fatores, ao fato de 41 Namíbia: apartheid, resistência e repressão (1945-1966). Disponível em língua inglesa em: < http://www.content.eisa.org.za/old-page/namibia-apartheid-resistance-and-repression-1945-1966>. Acesso em: 05 de abril de 2015. 42 Carta do Secretário Geral das Nações Unidas ao Presidente da Corte Internacional de Justiça, Haia. Disponível em: <http://www.icj-cij.org/docket/files/10/8931.pdf>. Acesso em: 30 de Março de 2015. 43 RWANDA'S Untold Story Documentary. S.l.: Bbc, 2014. Color. Disponível em: <http://vimeo.com/107867605>. Acesso em: 22 jan. 2015 19