Nova estratégia de distribuição da música através do videoclipe viral 1



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Transcrição:

1 Nova estratégia de distribuição da música através do videoclipe viral 1 Pedro de Almeida Canto 2 Polyana Amorim Chagas 3 Resumo Ao traçar a trajetória do videoclipe como estratégia de divulgação de música, o presente artigo se propõe a analisar a nova tendência de produção de videoclipes que tem sido praticada por artistas da música pop para divulgar sua música nos mais diversos meios com a finalidade de alcançar um público maior, são os chamados videoclipes virais. A partir destas analises o artigo aponta, ainda, algumas mudanças percebidas na influente estética do videoclipe. Palavras-chave: videoclipe, indústria fonográfica, consumo, novas tecnologias. Introdução A história da indústria musical nasce com o fonógrafo em 1877, um aparelho desenvolvido por Thomas Edison que gravava e reproduzia sons. O fonógrafo tinha um limite técnico por permitir um número limitado de gravações. Em 1888, surge o gramofone que trazia a novidade de duplicação dos sons em discos. Na época da Primeira Guerra Mundial, o rádio surge como um grande difusor de música. O rádio tornou-se principal concorrente do gramofone e levou o mercado fonográfico a trabalhar no desenvolvimento de mídias mais práticas para a reprodução sonora. Assim, foram surgindo tipos de LPs até chegar ao compact disc (CD). E, hoje, a música também tem sido distribuída na versão digital MP3 (Motion Picture Expert Group-Layer 3). Outro meio que também contribuiu para a divulgação da música foi a televisão. Mesmo tendo sido criada no final dos anos 20, a televisão só se torna um produto de massa após a segunda guerra mundial. Um produto que no início, era considerado um tipo de rádio com imagens pela pouca criatividade de seus programas que reproduziam exatamente o formato dos programas radiofônicos. Com o avanço tecnológico, mais precisamente com o 1 Trabalho apresentado no I Encontro de Pesquisadores em Comunicação e Música Popular MUSICOM, realizado de 21 a 23 de outubro de 2009, na UFMA, São Luis MA. 2 Estudante do 8 período do curso de Comunicação Social, habilitação Rádio e TV, na Universidade Federal do Maranhão. pedrodealmeidacanto@gmail.com. 3 Bacharel em Comunicação Social, habilitação em Rádio e TV, pela Universidade Federal do Maranhão. polyanamorim@hotmail.com.

2 advento do videotape (em meados da década de 50), a televisão foi desenvolvendo seu modo de produzir conteúdo, adquirindo uma identidade própria. Logo, a TV conquistou os lares em todo o mundo e a cultura imagética começa a ditar regras na sociedade. Para Talita Ferreira (2005), a indústria cultural passou a impor padrões visuais e de comportamento através da imagem, mais especificamente pela televisão. Lúcia Santaella (2003) acrescenta que a cultura das mídias (principalmente televisão e rádio) tornou-se responsável pela ampliação dos mercados culturais e pela expansão e criação de novo hábitos de consumir cultura. Além disso, a televisão passou a incorporar outros modos de produção à sua programação: teatro, dança, cinema e música. A música passa a ter uma relação estreita com a televisão através dos musicais, do show de calouros, dos programas de auditório com participação de cantores e bandas, das trilhas sonoras nas telenovelas e, mais recentemente, através do videoclipe. Podemos considerar o cinema musical como um dos precursores do videoclipe. Nascido na década de 30, o cinema musical teve como pioneiro o filme Broadway Melody de Harry Beaumont. O filme dá início a uma série de produções que se tornam populares nos Estados Unidos, ganhando notoriedade no mercado cinematográfico mundial. A partir dos anos 50, os musicais passam a ser influenciados pela própria linguagem televisiva que vai se estabelecendo no cenário de produção audiovisual. À propósito, falar de videoclipe, um gênero genuinamente televisivo, nos obriga a falar brevemente da trajetória das formas de produção estética na televisão, iniciada a partir dos anos 50. Os programas gravados e editados passam a fazer parte da realidade televisiva com o surgimento da fita magnética e do videotape que introduzem na televisão uma linguagem própria. A televisão quando surgiu exibia sua programação em tempo real, ou seja, ao vivo, cheia de improvisos e, por conseqüência, erros. Com o advento do videotape, ela pôde experimentar novas técnicas de exibição de seus conteúdos, sem recorrer às utilizadas pelo cinema que demandavam mais custos. Com o videotape os programas puderam ser gravados e editados. Foi com o videoteipe que a estética na televisão começou a ser pensada com mais afinco. O videotape também abriu portas para inúmeras produções alternativas e experimentais que eram televisivas por serem produzidas em estúdios e/ou laboratórios de TV. No entanto, questões políticas e econômicas impediram que tais produções tivessem espaço na TV tradicional. A maioria

3 dessas produções era chamada de videoarte, destacando-se por explorar o potencial artístico da televisão em detrimento do caráter comercial, estabelecendo-se como uma corrente estética anti-televisiva. Para Patrícia Silveirinha, A arte vídeo valoriza, e procura explorar, as características técnicas do meio electrónico. Assim, joga com uma autoreferencialidade a materialidade do meio fazendo uso daquilo que a televisão considera erros técnicos e ruído: granulosidade, hipercoloração, deformação da relação espacial entre as linhas, ausência de imagem, procedimentos de aceleração e desaceleração de imagens, sobreposição [...]. (SILVEIRINHA: 1999, p.4-5) Nam June Paik é o expoente de uma geração de produtores da videoarte que explorava o vídeo e todas as suas possibilidades estéticas. Além de Paik, o alemão Wolf Vostell também manifestou interesse pela nova tecnologia. Os dois artistas abriram caminho para uma geração que buscava no vídeo uma nova linguagem para expressar sua arte e seus anseios. 1. Videoclipe O videoclipe surge, então, para potencializar a relação de imagem e música já praticada de outras maneiras na televisão, no cinema e na videoarte. Tal relação, por sinal, já acontecia desde primórdios das manifestações culturais, mas foi se enraizando com os meios de comunicação e os avanços tecnológicos. O cinema nunca chegou a ser totalmente mudo. Pintores e músicos inspiravam-se nas obras uns dos outros. Canções determinam o ritmo e a atmosfera dos filmes, acrescentado algo à linguagem cinematográfica. (FERREIRA, 2005, p.58) A videoarte, em termos estéticos, tornou-se a principal referência à produção de videoclipe que começa a ser realizada na década de 70 com fins comerciais. Aliás, o caráter comercial do videoclipe não pode ser renegado. Segundo Laura Corrêa, Ele [o videoclipe] tem um formato televisual utilizado para promover a venda da música (CD, DVD). Portanto, ele não pode ser analisado somente por um aspecto, o artístico, por exemplo. Assim estaria excluída uma importante característica do videoclipe nas condições de circulação dos bens simbólicos no modo de produção capitalista que são o processo de venda e consumo. (CORREA, 2006, p. 04) Na concepção de Arlindo Machado (2000), o videoclipe é um formato enxuto e concentrado, de curta duração, de custos relativamente modestos se comparados com os de um filme ou de um programa de televisão, e com amplo potencial de distribuição (p. 173). Foi

4 pensando nessa possibilidade de aliar música a imagens que pudessem divulgar o trabalho dos artistas, principalmente da música do pop e do rock, que as gravadoras passaram a investir na produção de videoclipes. O pioneiro do gênero é Bohemian Rapsody da banda inglesa Queen. Lançado em 1975, o vídeo nasceu com o intuito de divulgar o CD da banda entre o público televisivo e obteve êxito. Segundo Laura Corrêa (2005), a constante exibição do videoclipe no programa da rede BBC, Top of the Pops, levou o disco ao topo de vendas. O sucesso do videoclipe se dá por ele utilizar iconografias armazenadas na memória popular, ou seja, imagens que fazem parte do cotidiano e que não são estranhas ao público, imagens com as quais o público se identifica. Goodwin enumera algumas dessas iconografias da seguinte maneira: a) imagens pessoais derivadas das histórias pessoais associadas com a música, b) imagens associadas a música em si, as quais podem operar através de metonímias ou metáforas, c) imagens dos músicos/ performances, d)visual significante derivado da iconografia popular nacional, e) signos da cultura popular associados com a musica rock (GOODWIN apud CARVALHO, 2006, p. 05). Para Talita Ferreira, o videoclipe tornou-se uma ferramenta eficaz de divulgação da música no âmbito global. Os Beatles, por exemplo, quando produziam os vídeos de suas músicas, o faziam com a finalidade de estar em vários programas de televisão ao mesmo tempo. Artistas consagrados e bandas novas utilizam com cada vez mais freqüência o videoclipe como meio de se manter ou de se introduzir na mídia. A indústria fonográfica encontra o representante comercial que mais se aproxima da estética e da linguagem de seu público consumidor (FERREIRA, 2005, p. 103). Com a sua popularidade, o videoclipe deixou de ser apenas uma peça de divulgação audiovisual e passou a apresentar narrativas elaboradas lineares, ou não. A popularidade do videoclipe, por sinal, aconteceu, de fato, nos anos 80 com a criação de uma emissora voltada exclusivamente para divulgação do clipe, a MTV (Music Television). 1.1 MTV A MTV foi criada, em 1981, como canal de TV a cabo e logo se tornou um canal aberto. A existência do canal, que tem como público-alvo o jovem, estimulou ainda mais a produção de videoclipes como forma de divulgação do trabalho de algum cantor e/ou banda. Segundo Talita Ferreira (2005),

5 A mecânica da ligação entre música e imagem, institucionalizada com o surgimento da MTV, Music Television, em 1981, fizeram com que músicas que não tinham nenhum destaque nas rádios alcançassem o primeiro lugar nas paradas rapidamente após terem seu videoclipe veiculado na TV. (FERREIRA, 2005, p.102 ) E assim muitos artistas aderiram ao apelo visual do videoclipe tanto para vender suas músicas, como para criar uma identidade, uma marca dentro da cultura pop. Artistas como Michael Jackson e Madonna, que surgiram ou alcançaram seu auge nos anos 80, e desenvolveram, ao longo de sua carreira, uma produção de videoclipes que são peças fundamentais de seus discos, pois englobam o conceito a ser trabalhado no disco e na turnê. Retomando a história da MTV, o primeiro videoclipe a ser exibido na emissora foi Killed in the Radio star da banda Buggles. O sucesso dos videoclipes e da emissora foi tão grande que filiais da MTV foram sendo criadas em inúmeros países. A MTV Europa, por exemplo, foi ao ar em 1987 com o clipe Money for nothing do Dire Straits. Estava estabelecida, assim, a cultura videoclíptica que expandiu as possibilidades da indústria fonográfica ao gerar toda uma indústria de programas e premiações voltados a destacar os videoclipes. No Brasil, antes mesmo do surgimento da MTV, o programa Fantástico, da Rede Globo, já trabalhava o conceito de videoclipe. No programa, eram produzidas peças musciais de artistas que estavam com música de trabalho no mercado. Foi produzida uma série de vídeos de artistas brasileiros com essa intenção. O primeiro videoclipe exibido no Fantástico foi da música América do Sul, interpretada por Ney Matogrosso, no ano de 1975. Nos anos 80, já havia toda uma estrutura televisiva voltada para a produção e disseminação de videoclipes em várias emissoras, como o FM-TV na TV Manchete; o Clip Trip na TV Gazeta; o Som Pop na TV Cultura; o Fantástico e o Clip Clip, ambos da Rede Globo, entre outros. Em 1990, foi inaugurada a MTV Brasil que teve como videoclipe de estréia, o clipe da música Garota de Ipanema interpretada pela cantora Marina Lima. A entrada da MTV no Brasil remodela a produção e o consumo de música na televisão. Se antes, na década de oitenta, só se consumia música por programas isolados, dentro da grade de programação das emissoras, e as músicas geralmente estavam de alguma forma vinculada à emissora, como no caso da Rede Globo que dava preferência àquelas que estavam nas trilhas das telenovelas. Em 1990, foi possível conhecer artistas novos que não tinham espaço nas outras televisões, a MTV surgiu como meio de divulgação da produção da música independente no Brasil.

6 Temos exemplos em bandas como Skank, Nação Zumbi, Planet Hemp, Pato Fu, CPM 22, Detonautas Roque Clube - grupos cujas histórias se confundem com a do videoclipe no Brasil e mais especificamente na MTV. (VERÍSSIMO, 2005) Assim, a MTV se tornou vitrine para os artistas, tanto os consagrados quanto os novatos. Estar na programação da MTV garante o sucesso artístico, com acesso maior ao público.(...) Com seu estilo visual moderno e programação inovadora, a MTV transformou-se na autoridade principal para o acesso à música no fenômeno mundial da cultura pop. (BRITTOS E OLIVERIA, 2005, p. 102) Existem hoje, 23 emissoras filiais da MTV em todo o mundo, alcançando cerca de 54 países e 384 milhões de casas. A MTV é um importante comércio global de música, mobilizador de US$ 40 bilhões por ano e detentor de um poder quase monopolizador no segmento em que atua. (BRITTOS E OLIVERIA, p. 103) A MTV gerou um mercado lucrativo de publicidade para as gravadoras não só com a exibição de videoclipes na programação diária da emissora. O investimento em premiações como o VMA (Video Music Awards da MTV EUA) e o VMB (Video Music Brasil) que se tornaram o principal termômetro das gravadoras para saber quais são os artistas preferidos do público da emissora também gerou resultados positivos por revelar, por exemplo, novos artistas que ainda estão no cenário de produção independente sem contrato com gravadoras. A gravadora ao perceber a aceitação daquele artista pelo público, através da premiação, procura incluí-lo em sua grade. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a cantora baiana Pitty que teve sua ascensão musical demarcada por sua aparição e popularidade na MTV. A MTV também gera produtos em parceria com as gravadoras como o Acústico MTV que serve tanto para consagrar um artista, quanto para trazer de volta ao mercado um artista já esquecido do público. A MTV Brasil, por sua vez, além do Acústico, trabalhou por uns anos com a produção do MTV apresenta, um programa onde um artista novo e/ou independente apresentava seu trabalho e dessa apresentação era produzido um CD e um DVD. 2. INVERSÃO DE PAPEIS Com o estabelecimento da MTV como um meio de divulgação da música, através do videoclipe, criou-se uma cultura imagética no mercado fonográfico. Hoje, é quase obrigatório produzir um videoclipe para que o artista obtenha êxito na divulgação do seu trabalho. A

7 cantora pop Madonna, por exemplo, explora muito bem a questão imagética nos clipes. São eles que revelam ao público que estilo ela vai adotar no novo trabalho, através do figurino, do cenário e até da cor e corte de cabelo. É uma cultura que ultrapassa a questão de divulgar música e toca no quesito de identificação do jovem com aquele artista que passa a se vestir igual ao ídolo. E é nessa tendência de se aproximar mais do artista ao reproduzir seu estilo que o público contribui, também, para a divulgação daquele artista através da associação imagética que terceiros fazem entre os dois. Um outro ponto marcante na cultura do videoclipe é a imitação do videoclipe feita pelo público que gera uma repercussão maior, atingindo outras esferas midiáticas, além da televisão. Quando o clipe Thriller do Michael Jackson foi lançado na década de 80, a música e a coreografia tornaram-se uma febre mundial, levando inúmeras pessoas a reproduzirem a coreografia seja no ambiente de suas casas, como em ambientes de interação social festas, danceterias etc. O disco Thriller vendeu 50 milhões de cópias no mundo todo, um recorde que até hoje não foi superado. Foi também o clipe Thriller que deu início a uma produção de videoclipes bem mais elaborados, com ares de produção cinematográfica, salvo alguns aspectos peculiares da estética do videoclipe. Nesse sentido, até mesmo pela indústria que se criou em torno do gênero, a estética do videoclipe passou a ser mais bem trabalhada. A narrativa empregada que, inicialmente servia como background para a música, cresceu dentro do clipe tornando-se um atrativo a mais e nem sempre está explicitamente relacionada com o tema da música. Como vimos anteriormente, o videoclipe é uma peça de curta duração, ele dura em torno de 3 a 5 minutos, o tempo de uma música. Nesse tempo, o produtor tem que passar um conceito ou uma idéia que interaja, de alguma forma, com a música. A estética videoclíptica é caracterizada pelo ritmo rápido, a edição de imagens diversas que resultam em uma narrativa fragmentada e não-linear, onde o único elo entre as diferentes imagens é a própria música que as embala. Neste contexto, onde as possibilidades narrativas do videoclipe são expandidas, principalmente a partir de meados dos anos 90 até a primeira metade dos anos 2000, vemos o videoclipe transcender a própria música, seu ponto de partida. Enquanto artistas pops como as bandas Bon Jovi, Aerosmith e as famosas boybands 4 como Backstreet Boys, Nsync etc. utilizam o videoclipe para se lançarem e, através da repetição deles na programação dos

8 canais especializados, se fazem lembrados pelo público, a música acaba sendo resvalada a segundo plano. Para citar um exemplo, a banda Bon Jovi lançou em 2000 o videoclipe da música It s My Life. Neste vídeo, um rapaz está em casa acessando informações no site da banda e recebe a ligação da sua namorada que estava em um show surpresa do Bon Jovi. A partir daí começa a jornada do rapaz para chegar ao local do show, enfrentando obstáculos como um caminhão pipa, perseguidores, saltando de prédios e evitando ser atropelado por vários carros. O clipe ainda segue uma estética majoritariamente cinematográfica que vai desde a grande quantidade de efeitos especiais até o formato da tela, que mesmo sendo exibido exclusivamente na televisão, que possui a proporção da tela em 4:3, foi captado em 16:9, formato das telas de cinema. Através desta música, a banda, que não emplacava um sucesso por alguns anos, atingiu o primeiro lugar nas principais listas e em diversos países. Casos como o do exemplo acima seguem por boa parte da primeira década do século XXI, e o videoclipe superou seus limites, tornando-se uma das principais peças a ser produzida quando se pensa em divulgar música e CD. Além disso, o clipe ultrapassou as barreiras da televisão e hoje é exibido em outras mídias, como celulares e pela internet. 2.1 Novas Mídias Atualmente, encontramos o contexto de expansão da internet em números impressionantes. Esse movimento de popularização se deu de forma abrupta e bastante acelerada, principalmente se compararmos com a popularização da TV após seu surgimento: Fruto do barateamento do computador (estimulado pela queda do dólar) e da expansão do acesso, o fenômeno [de expansão da internet] tem contornos sociais ainda não totalmente compreendidos. Trata-se de uma mudança veloz, radical. Cabe lembrar que a tevê levou cerca de 27 anos desde o início da operação comercial para atingir metade da população brasileira, entre 1950 e 1977. Se as previsões se confirmarem, o acesso à internet atingirá esse percentual 14 anos depois de sua introdução comercial no Brasil, em 1995. 5 4 Tipo de grupo musical formado por jovens rapazes que cantavam e dançavam em produções elaboradas, típicas do fim dos anos 90. 5 Dados do IBOPE, divulgados na revista Carta Capital em 14 de agosto de 2008, acessado em: http://www.ibope.com.br/calandraweb/servlet/calandraredirect?temp=5&proj=portalibope&pub=t&db=cald b&comp=ibope//netratings&docid=95de9809b12d739b832574a500581976 no dia 17 de setembro de 2009.

9 A internet, por sinal, reconfigurou o processo de produção e recepção de videoclipes. Ao perceber que os clipes tinham grande número de acesso nos canais de vídeo na internet, os produtores começaram a remodelar a estética dos vídeos e a estratégia de divulgação do disco através dos clipes. E as mudanças não são apenas mercadológicas, são também refletidas esteticamente nas produções relacionadas ao videoclipe: Como a tela do computador é menor, se comparado com a da televisão, e dependendo da conexão a qualidade na recepção e absorção da mensagem varia de computador para computador, os produtores passaram a produzir vídeos mais cleans sem muita informação visual, adequados tanto para a agora telona da TV quanto para a telinha do PC. Essa alterações e o apelo que a novidade têm junto ao publico alvo dos videoclipes, fez alguns especialistas e executivos afirmarem que seria o fim dos canais de TV especializados em música, da forma como são conhecidos. Em 5 de Dezembro de 2006, o, então, diretor da MTV Brasil, Zico Góes, afirmou em entrevista concedida ao site UOL Notícias que o videoclipe não pertence mais à televisão e após este pronunciamento seguiram-se uma série de mudanças na grade de programação do canal, que acompanhavam tendências já percebidas na matriz americana, para o novo formato que não priorizaria o videoclipe como matéria prima da TV. A partir daí, cabe a este artigo analisar os aspectos e a forma do videoclipe em suas novas formas de distribuição para, conseqüentemente, apresentá-lo, e suas modificações, enquanto ainda principal canal para divulgação das produções musicais. No novo, e atual, momento da história das transformações do videoclipe, podemos apontar o sucesso como medido através da capacidade reprodutibilidade do mesmo. Entra em cena o videoclipe viral. 3.0 VIDEOCLIPE VIRAL O marketing viral e a publicidade viral referem-se a técnicas de marketing que tentam explorar redes sociais preexistentes para produzir aumentos exponenciais em conhecimento de marca, com processos similares à extensão de uma epidemia, como define Andre Telles (2006). As produções virais tornaram-se a principal ferramenta de divulgação de um produto na internet. Nascida no meio publicitário, a peça viral tem por objetivo ser disseminada pelos internautas, seja através da paródia ou encaminhamento da peça. A peça viral deve transformar-se numa epidemia virtual, sendo multiplicada e passada adiante de

10 consumidores para consumidores. Como marco inicial desta estratégia viral, e participativa, assumida pela publicidade a partir da internet, podemos citar o caso do filme A Bruxa de Blair (Blair Witch Project, 1999), que mostra as ultimas horas de um grupo de estudantes que desapareceram misteriosamente enquanto filmavam um documentário sobre a bruxa que assombrava o bosque de Burkestiville, nos Estados Unidos. Para promover este filme, foi criado um website que contava a história por trás do filme, que seria lançado nos cinemas, e no próprio site, era possível enviar vídeos caseiros com depoimentos sobre contatos sobrenaturais com os mistérios que envolviam o desaparecimento dos estudantes. Esses vídeos enviados por internautas através do site do filme, por motivos óbvios, eram de baixa qualidade, o que não viria a ser problema algum para se manter uma identidade visual no produto como um todo, uma vez que o próprio filme, o produto principal que estrearia nos cinemas, estabelecia uma estética simplifica, como se o filme fosse feito por câmeras manuais, com poucos recursos e por cinegrafistas amadores. O sucesso era tanto que antes mesmo do lançamento do filme, muitos internautas já haviam contribuído com a divulgação do mesmo, pelo simples fato de querer contribuir com o material. Percebe-se com isso, o poder de disseminação da mensagem colaborativa possibilitada pela internet. Não demorou muito, e a indústria da música pop, diretamente relacionada com o caso citado através do seu publico alvo, começou a aplicar a técnica do produto viral nos videoclipes para atenuar o processo de divulgação das músicas na internet. Esses novos caminhos por onde trafegam a indústria que cerca o videoclipe e a música pop acarretam mudanças importantes na sua estética, que por sua vez, tem sua importância denotada quando observamos a influencia do formato em outras mídias como o cinema e a própria TV. O que observávamos nos anos 80 e 90 como produções elaboradas e de alto custo, hoje se resumem, em grande parte, à produções mais simplificadas que correspondam aos critérios de disseminação e absorção nas (e pelas) novas mídias. É a atual simplicidade do videoclipe, advinda das características aqui reconhecidas como limitações visuais de tela e streaming da internet e dos recursos limitados das produções caseiras, que rege o panorama do videoclipe e, como falaremos mais adiante, fazem o videoclipe ressuscitar características observadas na sua origem, quando ainda não possuía sequer a denominação enquanto tal. 3.1 A nova estética e a sinestesia

11 Para fins de explicação dos pontos percebidos na estética do videoclipe em seu atual panorama, citaremos dois importantes exemplos. O Clipe Single Ladies (Put a Ring On It) da cantora Beyoncé e o vídeo Boom Boom Pow do grupo Blackeyed Peas para tratarmos da reprodutibilidade e da sinestesia, respectivamente, no videoclipe contemporâneo. Em agosto de 2008, a cantora americana Beyoncé lançou o single Single Ladies (put a ring on it) no canal de vídeo on demand Youtube. Contrariando a videografia da própria artista, este vídeo possuía a simplicidade que em outras épocas seria o decreto de morte da própria música, por não apresentar em seu clipe grandes atrativos. O vídeo consistia apenas na cantora, acompanhada de outras duas dançarinas, em frente a um fundo branco, trajando maiô preto e dançando ao ritmo da música a coreografia elaborada da canção. Os únicos recursos visuais perceptíveis são a iluminação, que faz o fundo do cenário variar entre cinza e branco, e os movimentos de câmera que dão movimento à imagem. Mas apesar da simplicidade, dias depois do lançamento do clipe na rede, a música e seu vídeo eram sucesso absoluto em número de acessos do canal. Prontamente, inúmeros fãs se aproveitaram da simplicidade do clipe e reproduziram a coreografia, criando o seu próprio vídeo de Single Ladies (put a ring on it) e cada um com sua particularidade. Era comum à época encontrar versões do vídeo filmadas em escolas, no quarto dos usuários, em espaços públicos, em monumentos históricos etc. Para citar um caso peculiar, apenas 3 dias após o lançamento, o usuário da rede Shane Mercado, declaradamente fã da cantora, disponibilizou no seu perfil do canal Youtube a versão que havia feito do clipe da cantora Beyoncé. Pela precisão na reprodução da coreografia do vídeo, Shane ficou mundialmente conhecido e foi convidado a participar de diversos programas de entrevistas logo em seguida, onde um deles inclusive promoveu o encontro de Beyoncé e Shane. Os números de acesso do vídeo oficial e a quantidade de citações do nome da musica no campo de pesquisa do Youtube também afirmam a popularidade do vídeo: ao procurar as palavras single ladies no campo de pesquisa do site, o resultado chega a 102.000 opções, cujo vídeo principal, disponibilizado pela própria gravadora, possui 68.059.695 exibições contando a partir de agosto de 2008. O caso deste vídeo especifico, é um entre muitos vídeos que, pela sua simplicidade, permitem a reprodução pelo usuário e conseqüente popularização da musica. O outro caso que ilustra a sinestesia retomada pelas novas diretrizes do videoclipe na atualidade é o vídeo Boom Boom Pow do grupo Blackeyed Peas. Este vídeo segue uma

12 estrutura muito simples onde os quatro vocalistas do grupo aparecem durante o vídeo, de aspectos futurísticos, em planos simples, que muito pouco variam. Há uma simples sucessão de imagens dos vocalistas em plano fechado, onde vemos apenas seus rostos, intercaladas com imagens de dançarinos cujas roupas e movimentação muda de acordo à base percussiva da canção. Os 3 minutos e 30 segundos do vídeo são preenchido com estas imagens simples, mas que muito remetem ao ritmo em si. Os rostos dos vocalistas e a roupa dos dançarinos são sobrepostas com linhas, cubos, círculos e outras imagens geométricas que, aparentemente, não possuem sentido nenhum que não seja acompanhar a batida evolutiva e percussiva da música. É esse aspecto sinestésico da imagem com o som, percebido neste vídeo que vai de encontro aos populares videoclipes dos anos anteriores com suas imagens elaboradas e forte teor narrativo, que podemos atribuir à intenção de se identificar com os visualizadores dos populares programas de execução de mp3. Estes visualizadores nada mais são do que imagens aleatórias que são geradas pelo programa de acordo a captação do som da música. Ao gerar essa identificação com os visualizadores, o grupo Blackeyed Peas acabou por ressuscitar as características sinestésicas do videoclipe percebidas em seu surgimento e potencializadas pelos aspectos de videoarte, mas que ficaram esquecidos pela evolução do gênero e sua popularização, nas décadas em que este produto se encontrava fortemente disseminado através da TV.

13 - Conclusão Vimos como a entrada do videoclipe alterou o processo de produção simbólica na indústria fonográfica. Foi pelo videoclipe e a inauguração da MTV que a música conseguiu espaço reservado na televisão. As gravadoras passaram a explorar a imagem dos artistas para vender discos. Com a popularização do videoclipe, criou-se uma cultura imagética que ultrapassou os interesses mercadológicos, influenciando o costume do público consumidor, acredita-se que inicialmente, a intenção não era fazer com que o público imitasse o videoclipe ou a coreografia pelos espaços onde transita, mas a introdução dessa tendência, preconizada pelo clipe Thriller do Michael Jackson, surtiu um efeito muito mais lucrativo em termos de divulgação de imagem e música. Assim como todo meio de comunicação e todo gênero televisivo, o videoclipe foi se configurando à medida que novas tecnologias de produção e reprodução foram surgindo. O advento da internet, em meados dos anos 90, embora venha por um lado, mostrando-se como bicho-papão na venda de discos, por outro lado, ajuda a disseminar ainda mais a imagem do artista pelos clipes que agora são vistos na internet. Concomitante ao surgimento da internet, tivemos o barateamento dos aparelhos de gravação de vídeo portátil e com a aparição de sites de vídeo caseiros como o youtube, surgiu na internet uma corrente viral de videoclipes, onde o espectador refaz o videoclipe, imitando o original e posta no canal. A trajetória de evolução deste produto pode ser percebida através da migração entre mídias diversas, que vão desde o cinema até os vídeos streaming na internet, e, por transitar em diferentes mídias que imprimiam as suas necessidades no formato, o videoclipe pode mostrar sua capacidade de adequação aos meios sem nunca, desde sua consolidação ao fim dos anos 70, ter perdido o importante posto de principal meio de divulgação da música pop.

14 Referência BRITTOS, Valério Cruz; OLIVEIRA, Ana Paola de. MTV, o sucesso musical e cena alternativa. In: Revista Musica Hodies, vol. 06, n 01, p. 97-126, 01. CARVALHO, Claudiane de Oliveira. A narratividade em videoclipe: a articulação entre música e imagem. XXXVIII Intercom Nacional. 2006. Disponível em: <http://marciopizarro.files.wordpress.com/2008/09/r0856-1.pdf>. Acesso em: 12.07.09.. Sinestesia, ritmo e narratividade: interação entre música e imagem no videoclipe. In: Revista Ícone, Universidade Federal de Pernambuco, Vol.10, n.1, p.100-114, julho de 2008. CORREA, Laura. Breve história do videoclipe. Apresentado ao VIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação Intercom região Centro-oeste. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/centrooeste2007/resumos/r0058-1.pdf. Acesso em: 12.07.09. FERREIRA, Tatiana Toledo. Música para se ver. Juiz de Fora: UFJF; FACOM, 1.sem.2005, 105 fl. Mimeo. Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social. Disponível em: http://www.facom.ufjf.br/projetos/1sem_2005/pdf/tferreira.pdf. Acesso em: 01.08.09. MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. 4ª ed. São Paulo, SP: Editora Senac São Paulo, 2005. SILVEIRINHA, Patrícia. A arte vídeo: processos de abstracção e domínio da sensorialidade nas novas linguagens visuais tecnológicas. Universidade de Nova Lisboa, 1999. Disponível em: <http://bocc.ubi.pt/pag/silveirinha-patricia-arte-video.html> Acesso: 28.08.08 TELLES, André. Orkut.com. São Paulo, Ed. Landscape, 2006. VERÍSSIMO, Rafael. Videoclipes e MTV ajudam a compreender a geração jovem dos anos 90 e a atual. Agência USP de Notícias. Disponível em: <http://www.usp.br/agen/bols/2005/rede1740.htm#primdestaq>. Publicado em 03/11/2005 - Boletim nº1740. Acesso em: 10.08.09. O Brasil Cai na Rede (14 de Agosto de 2008). Almanque IBOPE. Disponível em: http://www.ibope.com.br/calandraweb/servlet/calandraredirect?temp=5&proj=portalibope &pub=t&db=caldb&comp=ibope//netratings&docid=95de9809b12d739b832574a5005 81976 Acesso em: 17.09.09. MELO, Marina Campo. "O videoclipe não pertence mais à televisão", diz diretor da MTV (5 de Dezembro de 2008). UOL Notícias. Disponível em: http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2006/12/05/ult698u11811.jhtm Acesso em 19.09.09