Com 102 anos de história, loja de restauração não suporta alta do aluguel e é despejada no centro do Rio Ao Faz Tudo deixou de pagar aluguel e Rioprevidência pede reintegração de posse. A loja de restauração está no mesmo imóvel há 86 anos, na rua Visconde do Rio Branco, no centro do Rio. Em outubro, terá de sair do prédio, que pertence à Rioprevidência. Clientes
ficaram apreensivos com a notícia. Carolina Farias/R7 Com 102 anos de história e três gerações de restauradores em seu comando, a loja Ao Faz Tudo, no centro do Rio de Janeiro, será despejada em outubro. O estabelecimento de restauração de objetos ocupa o imóvel na rua Visconde do Rio Branco, número 17, há ao menos 86 anos. Mas, sem pagar o aluguel desde 2004, terá de encontrar outro ponto para levar seus mais de 20 mil itens. O prédio, da década de 1920, é da Rioprevidência, órgão estadual que administra e paga os previdenciários do Estado, que entrou com ação de reintegração de posse que deve será realizada no próximo dia 10. Reprodução/Facebook Com a criação da Rioprevidência em 1999 e a incorporação de diversos imóveis do Estado para a sua administração, a loja viu o valor do aluguel, a partir de 2000, aumentar dez vezes, segundo seu responsável Álvaro Costa Júnior. Ele pediu uma perícia para avaliar o verdadeiro valor do aluguel, mas, segundo ele, a Procuradoria do Estado se recusou a fazer a análise. A loja recorreu à Justiça e, desde 2004, não paga os
aluguéis. O valor não era fixo, era por Ufir [unidade de referência fiscal que já foi extinta]. Era de mais ou menos R$ 4.000. Hoje seria de R$ 6.000. Fomos ingênuos [de parar de pagar]. Mas, nunca imaginei que aconteceria isso. Costa Júnior argumenta que o Estado reconhece que o imóvel ocupado pela loja é desvalorizado. O prédio está na lista de 103 imóveis de baixo potencial de geração de renda do decreto 42.751 de 17 de dezembro de 2010. Ele propôs ao governo, por meio da Secretaria de Estado de Cultura, que o ponto virasse de interesse para a atividade cultural, o que teria sido aceito pelo órgão, segundo o responsável pelo estabelecimento. Propus [à secretaria] que a dívida fosse abatida com serviços prestados. Faríamos uma escola para ensinar restauradores. Mas, de uma hora para a outra, um prédio que não valia nada, está supervalorizado. O Estado pensa em uma coisa e faz outra. Três gerações de restauradores Mantido por filhos e netos de ex-funcionários, o estabelecimento fez história na restauração de madeira, vidro e principalmente porcelana, sua especialidade. José Ramos, fundador e primeiro proprietário, começou no ofício consertando bonecas de porcelana. Atualmente, a loja restaura objetos e obras de arte de todos os tipos e o próprio governo do Estado é um de seus clientes.
Carolina Farias/R7 Recentemente, dois lustres de cristal do Palácio das Laranjeiras, residência oficial do governador, foram restaurados pela Ao Faz Tudo. Museus, como o da República, também estão em sua carteira de clientes. Responsável por criar um mercado de restauradores no Rio, a Ao Faz Tudo tem, além de museus, clientes comuns que lotam suas prateleiras com itens que vão de um simples prato até obras de arte sacra com valor incalculável. Durante uma hora e meia, período em que a reportagem do R7 permaneceu na loja, ao menos cinco clientes passaram pelo estabelecimento. Uma delas era a farmacêutica Célia Romão que, mesmo sob um sol de 41 C, saiu do Jardim Botânico, na zona sul da cidade, para apanhar um jarro de porcelana que estava no conserto. A peça foi pintada pela mãe, cliente da loja há muitos anos, segundo Célia. Minha mãe ficou apreensiva [com o despejo da loja]. Ela já trouxe várias coisas aqui, durante anos. Ela ficou cliente por causa da capacidade técnica deles. Quem também teme pelo futuro do estabelecimento é o restaurador Carlos José de Santana, de 52 anos, 35 deles trabalhando na Ao Faz Tudo. Seu pai trabalhou na loja e
atualmente seu restaurador. filho também trabalha no local como Meu pai me trouxe aqui quando eu tinha cinco anos. Eu fazia bagunça, atrapalhava o pessoal. Me entristece pensar em sair daqui. Aprendi tudo aqui e ensinei meu filho. Nunca me imaginei fazendo outra coisa. Por meio de nota, a Rioprevidência diz que uma lei de 1999 determina que os imóveis que pertencem à pasta têm de ter aproveitamento econômico. O órgão afirma que tentou todos os tipos de acordo com os responsáveis pela loja, sem sucesso, e que não houve alternativa senão entrar com a ação de reintegração de posse. O prédio será vendido, segundo o órgão. Fonte original da notícia