São Paulo,xxx xxx xxx Ao Exmo. Sr. Ministro de Estado da Saúde Dr. Arthur Chioro Assunto: POSIÇÃO DAS ENTIDADES DA SAÚDE A RESPEITO DAS FRAUDES EM ÓRTESES, PRÓTESES E MATERIAIS ESPECIAIS A Abramge Associação Brasileira de Medicina de Grupo, Anahp Associação Nacional de Hospitais Privados, AMB Associação Médica Brasileira, CMB Confederação das Santas Casas de Misericórdia, Hospitais e Entidades Filantrópicas, FenaSaúde Federação Nacional de Saúde Suplementar, Sinamge Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo, Sinog Sindicato Nacional das Empresas de Odontologia de Grupo, UNIDAS União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde, Unimed do Brasil, vêm, respeitosamente manifestar sua posição a respeito da situação de desequilíbrio e desvios na aquisição de órteses, próteses e materiais especiais nos sistemas público e privado de saúde, bem como elencar medidas que consideram necessárias para sua solução. A sociedade brasileira acompanhou as recentes reportagens apresentadas em diversos canais de imprensa escrita e televisiva acerca de um criminoso esquema envolvendo uma pequena parcela de médicos que, em conluio com alguns fabricantes e distribuidores de órteses, próteses e materiais especiais ( OPME ), prescrevem tratamentos e procedimentos cirúrgicos a seus pacientes visando, tão somente, a obtenção de benefícios pessoais, desrespeitando o juramento de Hipócrates, as normas de conduta ética da categoria médica e, principalmente, ignorando as vidas humanas envolvidas em tais procedimentos. Situações como a realização de cirurgias desnecessárias, a colocação de stents cujo prazo de validade já havia expirado foram, de forma clara e detalhada, apresentadas pela imprensa recentemente.
O Governo Federal, ao se manifestar a respeito, indicou a criação de um Grupo de Trabalho para, no prazo de 180 dias, apurar e investigar eventuais condutas criminosas apresentadas nas mencionadas reportagens. As entidades que assinam o presente ofício, contudo, entendem que o prazo em questão é por demais extenso, principalmente se considerarmos que vidas humanas estão sendo tratadas de forma inadequada e irresponsável nesse período por essa pequena parcela de médicos que, embora não representem a conduta da ampla maioria da categoria, inegavelmente geram um grave prejuízo à sociedade. Além disso, é importante mencionar que o próprio Governo Federal, através da Portaria MS/GM nº 455, de 25/3/2013, determinou a realização, pelo Sistema Nacional de Auditoria do SUS, de uma ampla Auditoria em 20 hospitais que prestam assistência hospitalar ao SUS nas especialidades/serviços de Alta Complexidade de Tráumato-Ortopedia e Cirurgia Cardiovascular. A mencionada Auditoria compreendeu o período de abrangência de janeiro a dezembro de 2012, tendo ocorrido no período de 15 a 19/04/2013. A conclusão da mencionada Auditoria é extremamente clara: Com base nos consolidados dos relatórios desta ação conclui-se que: Houve cobranças de Órteses, Próteses e Materiais Especiais - OPM não utilizadas, bem como cobranças de procedimentos cirúrgicos em alta complexidade de tráumato-ortopedia e cardiovascular não realizados. Também houve a utilização indevida dos procedimentos Tratamento Com Cirurgias Múltiplas código 04.15.01.001-2 e de Outros Procedimentos Com Cirurgias Sequenciais código 04.15.02.003-4, contrariando os conceitos estabelecidos na legislação vigente. Estas não conformidades demonstram a fragilidade dos gestores municipais e estaduais no exercício dos mecanismos de regulação, controle, avaliação e auditoria da assistência prestada pelas unidades, não coibindo as cobranças indevidas ao SUS. (grifos nossos)
Ou seja, o Governo Federal já dispõe de fortes evidências acerca da conduta criminosa existente nesse segmento. Além disso, as entidades signatárias desta proposta, por diversas vezes, colocaram-se à inteira disposição das autoridades competentes para colaborar, cada uma em sua área específica de atuação, fornecendo dados, estatísticas e o que mais estivesse ao nosso alcance visando extirpar, de vez, essa nefasta prática na realização de procedimentos envolvendo OPMEs. Há que se destacar que, de forma alguma, somos contrários à utilização de OPMEs, muito pelo contrário, somos favoráveis às salutares evoluções que a medicina, cada vez mais, oferece à toda sociedade. Contudo, não podemos concordar com práticas criminosas como sobrepreço, acordos entre fabricantes e distribuidores junto a determinados médicos para que, em troca de benefícios pessoais, indiquem a utilização de seus produtos e, obviamente, somos radicalmente contra a realização de procedimentos desnecessários e à utilização de material vencido que, indubitavelmente, coloca em risco o bem mais precioso do ser humano: a vida. A proliferação dessa prática, muitas vezes com a concessão de decisões judiciais que obrigam operadoras de planos de saúde a custearem tais procedimentos, mesmo após criteriosa análise dessas operadoras, inegavelmente impactam o equilíbrio econômico-financeiro dos contratos celebrados entre elas e seus beneficiários o que, infelizmente, gera reflexo no preço final cobrado a todos. Além disso, a ausência de uma divulgação de parâmetros dos custos das OPMEs, seja através da Agência Nacional de Vigilância Sanitária ANVISA que regulamenta a autorização para a utilização de tais equipamentos no Brasil seja pela Receita Federal do Brasil que disciplina o ingresso das OPMEs importadas em território nacional, impedem que os atores atuantes nesse setor possam, com base em dados oficiais, contrapor e identificar, de forma mais
clara, eventuais práticas irregulares por parte de médicos, fabricantes ou distribuidores. Assim, entendemos que, dada a gravidade dos fatos narrados, 180 dias é um prazo por demais longo sendo, imperioso e necessário, que ações imediatas sejam adotadas em prol das vidas humanas que estão sendo prejudicadas e, muitas vezes, perdidas. Registre-se que o Ministério da Saúde abriu um canal de interlocução com as entidades do setor, tendo a Abramge já sido recebida em duas oportunidades no mês de fevereiro/2015, bem como já há o agendamento de reuniões com algumas signatárias deste documento para expor sua visão e medidas pertinentes. Dessa forma, as entidades aqui listadas propõem que algumas medidas sejam tomadas imediatamente pelo Poder Público, na tentativa de combater as fraudes e o sobrepreço praticado na aquisição bem como a má utilização de órteses, próteses e materiais especiais, tanto na saúde pública como na saúde suplementar; quais sejam: 1) Elaboração de um Projeto de Lei tratando da criminalização das fraudes em OPME. 2) Ação para liberalizar a concorrência de mercado (CADE). 3) Formalização da prática de 2ª opinião para pacientes com indicação de OPME. 4) Ações indutoras para a aplicação de Diretrizes e Protocolos Clínicos nas indicações de OPME, com acompanhamento e responsabilização das diretorias clínicas dos hospitais, com base nas normas e regras que envolvem a governança clínica.
5) Divulgação pela Receita Federal do custo de OPME importados. 6) Desenvolvimento e divulgação de tabela referencial de preços das OPME(Anvisa). Mais uma vez reforça-se que as signatárias desta proposta estão, desde sempre, à inteira disposição das autoridades governamentais para colaborar e participar das discussões e encaminhamentos sobre o tema. São Paulo, de de 2015. ABRAMGE ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE MEDICINA DE AMB ASSOCIAÇÃO MÉDICA BRASILEIRA ANAHP ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE HOSPITAIS PRIVADOS CMB - CONFEDERAÇÃO DAS SANTAS CASAS DE MISERICÓRDIA, HOSPITAIS E ENTIDADES FILANTRÓPICAS. FENASAÚDE FEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR SINAMGE SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE MEDICINA DE SINOG SINDICATO NACIONAL DAS EMPRESAS DE ODONTOLOGIA DE UNIDAS UNIÃO NACIONAL DAS INSTITUIÇÕES DE AUTOGESTÃO EM SAÚDE UNIMED BRASIL