Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2206



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Transcrição:

Incidência de tip burn em cultivares de alface americana sob cultivo protegido Mônica Bartira da Silva 1 ; Élcio Silvério Klosowski 1 ; Marla Silvia Diamante 1 ; Adriano Mitio Inagaki 1 ; Luan Fernando Ormond Sobreira Rodrigues 1 ; Vanessa Daniele Mattiello 1 1 UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Rua Pernambuco, 1777, Centro, 85960-000 Marechal Cândido Rondon PR, monica.bartira@hotmail.com, elciosk1@yahoo.com.br, marlasdiamante@gmail.com, mitioinagaki@gmail.com, luanf_rodrigues@hotmail.com, vdmattiello@yahoo.com.br. RESUMO O tip burn é um distúrbio fisiológico que ocorre nas hortaliças devido a temperaturas elevadas e deficiência na translocação de cálcio, perceptível na alface devido a queima de bordas das folhas externas e má formação de cabeça. Com o objetivo de avaliar a incidência deste distúrbio em quatro cultivares de alface americana, sob ambiente protegido nas condições de verão, realizou-se este experimento no Setor de Horticultura Orgânico da Estação Experimental pertencente Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), no município de Marechal Cândido Rondon-PR, no período de dezembro de 2011 a março de 2012. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, em esquema fatorial 2 X 4 com três repetições, sendo dois ambientes de cultivo (com tela termorrefletora e sem tela termorefletora) e quatro cultivares de alface americana (Angelina, Kaiser, Lucy Brown e Raider Plus), desta forma, foram avaliadas 26 planta por parcela, obtendo-se a percentagem de plantas que apresentavam sintomas de Tip Burn. O ambiente protegido com a utilização de tela termorefletora proporcionou as menores medias para incidência de Tip Burn, e a cultivar Radier plus apresentou menor suscetibilidade a queima-das-bordas. PALAVRAS-CHAVE: Lactuca sativa L., distúrbios fisiológicos, temperaturas elevadas. ABSTRACT Incidence of tip burn in crisphead lettuce cultivars under protected cultivation The tip burn is a physiological disorder that occurs in vegetables due to high temperatures and impaired translocation of calcium in lettuce noticeable due to burning of the edges of the outer leaves and bad formation of the head. With the aim to assess the incidence of this disorder in four cultivars of lettuce under protected environment under summer conditions, this experiment was conducted at the Division of Organic Farming Experimental Station belonging to the State University of West Paraná (UNIOESTE) in the municipality of Marechal Cândido Rondon-PR, in the period from December to March 2012. The experimental design was randomized blocks in factorial scheme 2 x 4 with three replications, and two environmental conditions (with and without shade cloth) and four cultivars of lettuce (Angelina, Kaiser, Lucy Brown and Raider Plus ), thus, were evaluated 26 plants per plot, yielding the percentage of plants exhibiting symptoms of Tip Burn. The protected environment with the use of thermo reflective screen was lower to medium for the incidence of Tip Burn and cultivar Raider plus showed less susceptibility to burn-the-edges. Keywords: Lactuca sativa L., physiological disorders, elevated temperatures. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2206

A alface (Lactuca sativa) é considerada a hortaliça folhosa mais consumida no mundo, e tem papel importante na alimentação do brasileiro. Dentre os grupos de alface, a americana tem se destacado graças ao seu sabor suave, folhas com capacidade de se manterem crocantes mesmo em contato com altas temperaturas, maior resistência ao transporte e potencial de armazenamento por maior tempo (Decoteau et al., 1995). Por ser uma hortaliça de inverno, o seu cultivo em outras épocas do ano é dificultado, possibilitando um aumento na incidência de doenças e desequilíbrios nutricionais, principalmente no verão onde as temperaturas são elevadas e as chuvas são frequentes durante o desenvolvimento da cultura. Segundo Jackson et al. (1996), a temperatura ideal para o desenvolvimento da alface americana é de 23ºC durante o dia e 7ºC à noite. Temperaturas muito elevadas podem ocasionar uma desordem fisiológica conhecida como tip burn, perceptível na alface devido a queima de bordas das folhas externas, formação de cabeças pouco compactas e também contribui para deficiência de cálcio na planta. O cálcio é um dos constituintes do pectato de cálcio, elemento cimentante da parede celular, a deficiência desse nutriente na planta, promove o enfraquecimento da estrutura rompendo os vasos lactíferos, liberando desta forma o látex, levando a um colapso celular e necrose do tecido, que pode evoluir de simples pontos escurecidos à necrose total dos tecidos meristemáticos (Fernandes & Martins, 1999). Para contornar eventos climáticos adversos que possam contribuir no surgimento de doenças e distúrbios fisiológicos na cultura da alface, várias técnicas de cultivo são adotadas, bem como o uso de ambiente protegido. O cultivo da alface sob ambiente de cultivo, permite sua produção de maneira controlada, melhor aproveitamento dos insumos, dentre outros fatores (Rodrigues et al., 1997). As telas termorefletoras ou malhas termorefletoras, por serem revestidas de alumínio e terem fios retorcidos, tendem a reduzir a temperatura do ambiente, contribuindo para um bom desenvolvimento das hortaliças, viabilizando seu cultivo ao longo do ano. Sendo assim este estudo teve como objetivo avaliar a incidência de tip burn em diferentes cultivares de alface americana sob ambiente protegido, no verão em Marechal Cândido Rondon-PR. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2207

MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em ambiente protegido, no Setor de Horticultura Orgânico da Estação Experimental pertencente Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), no município de Marechal Cândido Rondon-PR, de 26/12/2011 a 06/03/2012. O município esta localizado a uma latitude de 24º33 S, longitude de 54º31 O e altitude media de 420 m. O clima é classificado segundo Koppen como tipo Cfa, subtropical, com chuvas bem distribuídas durante o ano e verões quentes. As temperaturas medias do ar do trimestre mais frio variam entre 17 e 18 ºC, do trimestre mais quente entre 28 e 29ºC e a anual entre 22 e 23ºC (Caviglione et al., 2000). O solo da área e classificado como Latossolo Vermelho eutroférrico de textura argilosa (EMBRAPA, 2006), e apresentou mediante a analise química: M.O. = 24.26 g dm -3, ph = 5.33, P = 156,8 mg dm -3 ; K = 1,33 cmol c dm -3 ; Ca = 7,81 cmol c dm -3 ; Mg = 2,84 cmol c dm -3 ; Al = 0,0 cmol c dm -3 ; CTC = 15,73 cmol c dm -3 ; V = 76,21%, sendo a adubação realizada de forma orgânica, utilizando as recomendações de Trani et al. (1996), para a cultura. O ambiente protegido utilizado possui estrutura de ferro galvanizado com cobertura em forma de arco e filme plástico de polietileno de baixa densidade (PEBD), difusor de luz e anti-uv de 150 µ de espessura com dimensões de 7 x 48 m e pé direito de 3,5 m, com as laterais fechadas com telas de 40% de sombreamento de coloração branca. Para a condução do experimento esta estrutura foi divida em dois ambientes, sendo 24 m (168m 2 ) recobertos com tela termorefletora 50% (ambiente I-CT) e 24 m (168m 2 ) sem sombreamento adicional (ambiente II-ST). O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, no esquema fatorial 2 X 4 com três repetições, sendo dois ambientes de cultivo (com tela termorefletora CT e Sem tela termorefletora ST) e quatro cultivares de alface americana (Angelina, Kaiser, Lucy Brown e Raider Plus). As mudas foram produzidas em bandejas de polietileno expandido de 200 células, utilizando para preenchimento substrato comercial e o transplantio foi realizado quando as plantas apresentavam de 3 a 4 folhas definitivas. A irrigação utilizada foi por gotejamento duas vezes ao dia, conforme a necessidade da cultura e o controle de plantas daninhas foi realizado manualmente e através de capinas. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2208

As temperaturas (máximas, medias e mínimas) do ar, durante o período de cultivo foram obtidas por meio sensores automáticos, instalados a 1,5 m do solo em abrigos meteorológicos posicionados ao centro de cada ambiente e programados para coletar e registrar os dados a cada hora cheia do dia (Figura 01). Para a avaliação do Tip Burn, utilizou-se 26 plantas por parcela, obtendo assim a percentagem de plantas que apresentavam sintomas da doença. Após tabulados os dados de porcentagem foram transformados em Y= Arcsen [ (x+0,5)/100], em seguida submetidos a analise de variância e as medias comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade utilizado o software Sisvar (5.1) (Ferreira, 2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise dos dados foi verificado interação significativa pelo teste F em nível de 5% de probabilidade para os fatores ambiente versus cultivar (Tabela 1). No desdobramento dos ambientes dentro de cultivares, o ambiente com tela (CT) termorefletora 50% e o ambiente sem tela (ST) não se diferenciaram estatisticamente para as cultivares Kaiser, Lucy Brown e Angelina, porém o primeiro ambiente (CT) foi o que proporcionou menor incidência de plantas com queima das bordas para a cultivar Raider Plus que se diferenciou estatisticamente das outras apresentando menor média com 0,57 plantas com sintomas (32,05%) (Tabela 1). A mesma cultivar não apresentou diferença estatística entre as cv. Kaiser, Lucy Brown e Angelina para o ambiente sem tela (ST). O uso de tela termorefletora promoveu redução da temperatura no ambiente quando comparado ao ambiente sem tela, onde as médias máximas e mínimas variaram de 16,4 e 44,55 ºC, a 17,9 e 54,5 ºC (Figura 1), mesmo assim esta redução foi pequena ao observar as médias de plantas com incidência nos ambientes, 0,83 (53,53%) para o ambiente CT e 0,92 (60,9%) para o ambiente ST, diferença de apenas 7,37%. Sabe-se que uma das causas do tip burn esta ligada a temperaturas elevadas, todavia os dois ambientes apresentaram plantas com danos por este distúrbio, isto pode ser explicado partindo do pressuposto de que o distúrbio fisiológico estudado neste experimento depende ainda de outros fatores como o manejo da água e deficiência de cálcio na planta, e ainda deve se relevar a influencia dos genótipos cultivados. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2209

Na avaliação do desdobramento das cultivares dentro dos ambientes de cultivo, a cultivar com menor média foi a Raider Plus com 0,57 (32,05%) plantas com sintomas, seguida pela cv. Angelina com 0,67 (38,46%), Kaiser 0,99 (67,95%) e Lucy Brown que obteve a maior média de plantas com distúrbio, 1,07 (75,54%) no ambiente coberto por tela termorefletora (CT) (Tabela 1). Entretanto, quando comparadas no ambiente sem tela (ST) Angelina se sobressaiu, com menor média de plantas com incidência de tip burn de 0,66 (39,74%), porém esta não diferiu significativamente da cultivar Lucy Brown com 0,81 (51,28%). A cultivare Kaiser obteve média de 1,04 (71,79%), não diferindo significativamente da Raider Plus com 1,17 (80,77) que obteve maior média. Segundo Yuri et al. (2004), a cultivar Raider, devido a sua grande aceitação no mercado, além de ser uma planta rústica, com bom rendimento no processamento, pode ser cultivada o ano todo, possui cabeça uniforme, tolerância à queimadura de borda das folhas externas, ao pendoamento e ao tip-burn. Ainda os mesmos autores no estudo com comportamento de cultivares de alface americana em Santana da Vargem, MG, no período de inverno, avaliaram a sanidade das cultivares de alface baseada em uma escala visual de notas, variando de 1 a 5 (1= plantas com as folhas externas altamente atacadas por doenças foliares e 5= plantas com as folhas externas sadias), relatam uma grande variação entre as cultivares testadas, em que se destacou a cultivar Raider, com a nota 5, superando todas as demais. O mesmo pode ser observado neste estudo, em que a cultivar Raider Plus obteve a menor média de incidência de tip burn, ou seja, maior porcentagem de plantas sadias, para o ambiente protegido com tela de sombreamento em condições de verão. Porém quando se observa os resultados da mesma cultivar no ambiente sem tela, a média de plantas com sintomas é alta sendo 1,17 (80,77%). Desta forma, neste estudo é possível dizer que a cv. Raider Plus pode ter sido influenciada quanto ao sombreamento, e consequentemente a redução de temperatura nos ambientes. Mota et al. (2002), ao estudarem o comportamento de cultivares de alface americana quanto à queima dos bordos ( tip-burn ) na região Sul de Minas Gerais, no verão, em ambiente com túnel alto, verificaram diferenças significativas entre as cultivares avaliadas, onde a cultivar Lucy Brown foi a que apresentou maior incidência dessa desordem fisiológica com nota 1,6, que equivale a plantas com folhas altamente atacadas, apresentando o pior resultado. As demais cultivares dentre elas a cv. Raider com nota 5,6 (plantas com folhas sadias), foram bem superiores, apresentando boa Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2210

tolerância ao tipburn. Ao contrário do trabalho referido, a cultivar Lucy Brown conduzida no ambiente sem tela (ST) obteve média baixa de plantas com sintomas (0,81 ou 51,28%) não diferenciando da cultivar Angelina que obteve a menor média, com 0,66 (39,74%) de plantas com distúrbio, e a Raider Plus ficou entre as menores médias (Tabela 1). Porém quando comparados ao ambiente com tela termorefletora (CT) os resultados condizem aos deste trabalho quando comparados com as cultivares conduzidas no ambiente com tela tremorefletora (CT) onde a cultivar Raider obteve menor média de incidência de queima dos bordos, 0,57 (32,05%) e Lucy Brown a maior média 1,07 (75,95%). Diante dos dados obtidos pode-se concluir que as cultivares de alface americana foram influenciadas pelo sombreamento no ambiente de cultivo quanto a incidência de tip burn. Podendo-se destacar que cultivar Raider plus apresentou-se a mais indicada para o cultivo de verão em ambiente protegido quando o intuito é obter menor incidência de tip burn. AGRADECIMENTOS Agradecemos ao apoio da CAPES pela bolsa de estudos (Mestrado) concedida à primeira e a segunda autora. REFERÊNCIAS CAVIGLIONE JH; CARAMORI PH; KIIHL LB; OLIVEIRA D. 2000. Cartas climáticas do Paraná. Londrina: Iapar. 1 CD-ROM. DECOTEAU DR; RANWALA D.; McMAHON MJ; WILSON SB. 1995. The lettuce growing handbook: botany, field procedures, growing problems, and postharvest handling. Illinois: Oak Brook. 60 p. EMBRAPA. 2006. Centro Nacional e Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2 ed. Rio de janeiro. 306p. FERNANDES HS; MARTINS SR. 1999. Cultivo de alface em solo em ambiente protegido. Informe Agropecuário 20: 56-63. FERREIRA DF. 2008. SISVAR: um programa para análises e ensino de estatística. Revista Symposium 6: 36-41. JACKSON L; MAYBERRY K; LAEMMLEN F; KOIKE S; SCHLUBACK K; CHANEY W. 1996. Iceberg lettuce production in California. Oakland: Univ. Calif. Coop. Ext. Bul. ANR Pub 7215, p.4. MOTA JH; YURI JE; FREITAS SACde; RODRIGUES JC; RESENDE GMde; SOUZA RJde. 2002. Comportamento de cultivares de alface americana quanto à queima dos bordos ( tip-burn ) na região Sul de Minas Gerais. In: CONGRESSO Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2211

BRASILEIRO DE OLERICULTURA, 42.; CONGRESSO LATINO AMERICANO DE HORTICULTURA, 11. Anais... Uberlândia: ABH (CD-ROM). RODRIGUES AB; MARTINS MIEG; ARAÚJO JCC. 1997. Avaliação econômica da produção de alface em estufa. Informações Econômicas 27: 27-33. TRANI PE; RAIJ BVan. 1996. Hortaliças. In: RAIJ BVan et al. Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. 2 ed. Campinas: IAC, p.157-186. (Boletim técnico 100). YURI JE; RESENDE GM; MOTA JH; SOUZA RJ; FREITAS SAC; RODRIGUES JUNIOR JC. 2004. Comportamento de cultivares de alface americana em Santana da Vargem. Horticultura Brasileira 22: 249-252. Tabela 1. Incidência de tip burn em cultivares de alface americana, sob cultivo protegido em ambiente com e sem tela termorefletora. [Incidence of "tipburn" in crisphead lettuce cultivars under protected cultivation in environment with and without screen termorefletora]. Marechal Cândido Rondon, UNIOESTE, 2012. Incidência de "tip burn" Ambientes CT ST Média Cultivares Kaiser 0,99 ABa (67,95%) 1,04 Aa (71,79%) 1,02 (69,87%) Raider Plus 0,57 Cb (32,05%) 1,17 Aa (80,77%) 0,87 (56,41%) Lucy Brown 1,07 Aa (75,64%) 0,81 ABa (51,28%) 0,94 (63,46%) Angelina 0,67 BCa (38,46%) 0,66 Ba (39,74%) 0,67 (39,10%) Média 0,83 (53,53%) 0,92 (60,9%) CV% 17,99 Médias seguidas pelas mesmas letras Maiúsculas na Horizontal e Minúsculas na Vertical, não diferem estatisticamente entre si Tukey (p<0,05). [Means followed by same capital letter in Horizontal and lowercase in the Vertical do not differ significantly, according to Tukey s test (p<0.05)]. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2212

Figura 1. Médias de temperatura máxima, média e mínima do ar nos ambientes de cultivo (a) com tela termorefletora a 50% e (b) sem tela, aferidas no período de 24/01/2012 a 06/03/2012 [Mean maximum temperature, average and minimum, in culture environments (a) mesh termorefletora 30% and (b) without the screen, measured in the period from 24/01/2012 to 06/03/2012]. Marechal Cândido Rondon, UNIOESTE, 2012. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 2213