RELAÇÕES RACIAIS, MULHER NEGRA E VIOLÊNCIA: TECENDO FIOS E COSTURANDO NOVOS SENTIDOS, PERSPECTIVANDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA RESUMO



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Transcrição:

RELAÇÕES RACIAIS, MULHER NEGRA E VIOLÊNCIA: TECENDO FIOS E COSTURANDO NOVOS SENTIDOS, PERSPECTIVANDO UMA EDUCAÇÃO ANTIRRACISTA RESUMO Maria Aparecida Batista de Oliveira 1 A presente comunicação tem como proposta apresentar para debate uma experiência pedagógica, vivenciada no Curso de aperfeiçoamento, sobre Gênero e diversidade na escola, oferecido pela Universidade Federal de Alagoas, através do Núcleo Temático Mulher & Cidadania, para professores/as do ensino fundamental e médio, das escolas estaduais e municipais localizadas em Alagoas. O diálogo estabelecido se deu a partir da disciplina Gênero e relações étnica-raciais, trabalhada no terceiro módulo. No percurso da história brasileira, a questão da submissão da mulher ao gênero masculino, da discriminação racial, étnica e da violência racial perpetrada contra o povo negro; se põe em nossa sociedade como o resultado de um processo social, cultural e histórico. Na avalição da disciplina o resultado conclusivo foi de que a reflexão sobre a categoria racismo, gênero, e violência, pensada à luz do viés teórico da educação, da história e da ciência política, é relevante por se constituir como uma questão ética, de cidadania e de direitos humanos. Essa atitude pedagógica, dialógica dialética estabelecida entre educadores/as e educandos, é de fundamental importância para se pensar em possibilidades de construção de uma nova sociedade parametrada nos ideais de equidade, de respeito às diferenças e de justiça social. Palavras chave: Gênero. Racismo. Discriminação. Violência e Educação. 1 INTRODUÇÃO E se aqui estamos, cantando essa canção. Viemos defender a nossa tradição. E dizer bem alto que a injustiça dói. Nós somos madeira de lei que cupim não rói. Capiba A sociedade brasileira em seu percurso tem em seu cotidiano vivenciado, o racismo, o machismo e os preconceitos expressados no âmbito da sexualidade e da diversidade religiosa. O movimento negro, o de mulheres o das lésbicas, homossexuais, bissexuais, transexuais e religiosos, vêm lutando historicamente para que seja 1 Mestre em História Social, professora da Universidade Federal de Alagoas UFAL, Coordenadora do Núcleo Temática Mulher & Cidadania. E-mail: mcyda@folha.com.br 401

reconhecida a presença forte e sutil do preconceito racial, de gênero, sexual e religiosos. A atitude preconceituosa expressada no viver social tem gerado sentimentos de: aversão, homofobia, lesbofobia, transfobia, intolerância religiosa, violência de gênero e intolerância para com o povo negro. No que diz respeito ao gênero Benevides (2004, p.93), considera gênero como uma questão a ser situada no contexto histórico da vida em sociedade, isto é, relacionada às variáveis culturais em geral, sociais, econômicas, raciais etc. Desse ponto de vista Isso significa que as categorias gênero, patriarcalismo, raça, sexo, estão entrelaçadas e, portanto, ligadas ao sistema econômico vigente, o racismo aparece e é considerado como fator estruturante das relações sociais. Da mesma forma, Querino et al aponta que: O racismo é uma ideologia que se realiza nas relações entre pessoas e grupos, no desenho e desenvolvimento das políticas públicas, nas estruturas de governo e nas formas de organização dos Estados. Ou seja, trata-se de um fenômeno de abrangência ampla e complexa que penetra e participa da cultura, da política e da ética. Para isso requisita uma série de instrumentos capazes de mover os processos em favor de seus interesses e necessidades de continuidade, mantendo e perpetuando privilégios e hegemonias. Por sua ampla e complexa atuação, o racismo deve ser reconhecido também como um sistema, uma vez que se organiza e se desenvolve através de estruturas, políticas, práticas e normas capazes de definir oportunidades e valores para pessoas e populações a partir de sua aparência atuando em diferentes níveis: pessoal, interpessoal e institucional. Com base nessa premissa a autora demonstra o quanto à população negra é excluída do processo produtivo além de vivenciar em sua cotidianidade a violência simbólica, e as varias facetas do racismo: individual, institucional e cultural. O cenário da sociedade brasileira é tecido como um processo excludente, antagônico e racista, por isso que de forma subliminar ela define qual é o lugar social destinado ao branco e ao negro. Para o branco o lugar do poder politico e jurídico, das ocupações mais relevantes no mercado de trabalho e com salários elevados; para o negro, ocupações consideradas de menor prestigio social, e, sobretudo menos qualificadas e com uma remuneração de menor valor, como explicita Oliveira& Brito (2012, p. 86), construção 402

civil, emprego doméstico, e prestação de serviços pessoais tipo faxineiro, varredor de rua, lixeiro catador de papel, vigilante, dentre outros Percebe-se, portanto, que a sociedade brasileira historicamente desenvolve uma ideologia de ocultamento do preconceito e ainda desenvolve o complexo fenômeno da ideologia do embranquecimento à medida que torna invisível a presença marcante das desigualdades sociais econômicas e a intolerância nos mais variados níveis. Um acentuado contingente da população negra é marginalizada e excluída dos diversos segmentos sociais, mercado de trabalho, educação, saúde, vivenciando em seu dia- a dia, situação de extrema pobreza, e extermínio da sua juventude negra. Nesse sentido, observa-se a perpetuação das desigualdades, mediante a ausência efetiva de oportunidades igualitárias para brancos/as e negros/as, construídas e justificadas no ideário da sociedade brasileira. Essa situação nos leva a concordar com Santos (2001) quando considera que: O mito da democracia racial que afirma que todos são iguais perante a lei, mas trata desigualmente quando faz com que as desigualdades socioeconômicas sofridas pela população negra sejam vistas como de sua inteira responsabilidade, bastando se esforçar para chegar lá. No bojo dessas questões ressalta-se a luta travada pelo movimento negro no Brasil no combate ao racismo, e no trabalho e nas resoluções tiradas nas Conferências Regionais, Estadual e Nacional sobre igualdade racial, que culmina com as cobrança feita ao Estado para o desenvolvimento efetivo e eficaz de políticas públicas que seja capazes de corrigir as distorções geradas pela sociedade. A Universidade Federal de Alagoas UFAL - enquanto espaço de reflexão crítica produtora de saber, e ocupando um lugar de grande importância para a educação, na medida em que contribui par a possibilidade de construção da cidadania, e ainda, por estar situada e datada no solo alagoano da liberdade Palmarina 2 onde se deu a 2 Liberdade Palmarina: movimento realizado pelos escravos, organizados no Quilombo dos Palmares situado localizado na Serra da Barriga no município de União dos Palmares Alagoas. 403

experiência do Quilombo dos Palmares. Através do Núcleo Temático Mulher & Cidadania ofereceu para os/as docentes do Ensino médio e Fundamental o Curso de Aperfeiçoamento em Gênero Diversidade e Educação, objetivando o exercício do debate critico sobre as questões de Gênero diversidade étnico racial, sexual e religiosa, no sentido de desmitificar os estereótipos bem como, a invisibilidade dos preconceitos e violência exercidos contra os/as diferentes, com vistas a criação de novos paradigmas antirracistas de educação pautada no respeito as diversidades, e na perspectiva de uma nova sociedade. 2 DIALOGANDO SOBRE O RACISMO E DIVESRSIDADE SEXUAL E RELIGIOSA: DESVELANDO O REAL NA EDUCAÇÃO. No cotidiano da práxis pedagógica nas diversas situações de ensino, o educador/a e o educando/a negro/a vivenciam no interior do espaço escolar situações que se caracterizam como injuria racial tais como: chacota, ridicularização, brincadeiras, atitudes essas que ao serem expressadas por conta de seu pertencimento racial, causam ao ser negro um profundo sofrimento como, vergonha, humilhação, constrangimento, baixa estima, Essas ações demonstram a ausência na escola de uma reflexão crítica sobre a questão racial no e sobretudo, sobre o processo da diáspora negra. No percurso dessa experiência pedagógica o Módulo 3, foi trabalhado em situação de partilha de troca e de intenso debate, a partir da disciplina Relações Étnico Racial, que teve como eixo norteador os seguintes conteúdos: 1 - Racismo, estereótipos, preconceito e discriminação, democracia racial; 2 - Racismo, Preconceito e suas formas sutis apresentadas na sociedade; 3 - Os/as educadores/as e a responsabilidade ética na práxis da construção de uma educação antirracista, Os PCNs e a equidade na educação; 4 - Mulher negra e violência, a lei Maria da Penha; - papel 404

do/a educador/a na Mulher negra e violência, a lei Maria da Penha; e os paradigmas da não violência. Os debates em torno dessas questões apontaram que a escola engendra no imaginário da população de professores/as e a estudantil, a segregação, a intolerância, a injustiça, o não pertencimento como algo natural, e não produto de uma ideologia parametrada em uma lógica social das relações de poder, patriarcal, branco, colonialista e machista. Foi ainda verificado nas discussões que além do ambiente escolar o preconceito racial é reforçado, no cotidiano vivencial da sociedade de forma sutil e de brincadeira como, por exemplo, na mídia, no campo de futebol, nos vários segmentos da sociedade, e, em diversos momentos colocando o/a aluno/a em situações de constrangimentos, sofrimento, nos instantes em que se refere a eles com denominações do tipo: negrinha da senzala, moreninha, tintura de pinche, marrom bombom, aquela estudante de cor negra de alma branca, lugar de negra é na cozinha, entre outras. Essa prática discriminatória e preconceituosa é extremamente perversa e conduz a baixa autoestima do/a educando/a negro/a. Tais situações indicam que no contexto da sociedade brasileira, os papéis sociais são demarcados: aqueles considerados privilegiados geralmente são brancos/as e os considerando inferiores são negros/as. Nesse patamar de ideais Cavalleiro considera: Já, o preconceito caracteriza-se como um subproduto do racismo, é uma atitude de hostilidade nas relações interpessoais. O preconceito racial no Brasil envolve atitudes e comportamentos negativos e, em algumas situações, atitudes supostamente positivas contra negros, apoiadas em conceitos ou opiniões não fundamentadas no conhecimento, e sim na sua ausência. O que dificulta que o indivíduo negro seja reconhecido pelo que é, mas sim falsamente reconhecido. Esse preconceito está presente na sociedade brasileira, no cotidiano dos indivíduos, e é altamente prejudicial para a população negra, tanto nas relações sociais (família, escola, bairro, trabalho etc.) quanto nos meios de comunicação. No desenrolar dos debates ficou constatado que as estruturas organizacionais de nossa sociedade são marcadas por profundas desigualdades sociais, fortalecidas e 405

justificadas pela construção de um ideário social que marca a presença de argumentos naturalizadores da vida social. As diversas formas de violência a que está submetida à população negra especificadamente a mulher negra que padece de uma tripla discriminação: a de gênero, de classe e de cor. A partir dessas considerações verificamos que a escola enquanto espaço social é um lugar de confronto que leva a conflitos psicológicos, cognitivos, raciais, econômicos, e de diversidade sexual e religiosa. Para superar essas contradições engendradas no interior da escola, o debate deverá fazer parte das ações da escola com educadores/as educandos/as e tosos os segmentos que compõem a escola, visando superar concepções racistas e excludentes, adotando outras, que tenha como principio a ética do cuidado, a humanização das relações sociais, raciais e de gênero no contexto escolar. Isso implica em reconhecer para a população negra a justiça, a plena igualdade de direitos sociais, culturais e econômicos. No que diz respeito à violência perpetrada contra a mulher, foi registrado que esta se constitui um profundo atentado e violação aos direitos humanos, e a dignidade do Ser Mulher. Foi discutido as diversas formas de violência, a física, a sexual, a psicológica, a patrimonial e ainda a institucional vivida pela mulher no seu dia a dia. A situação do estado de Alagoas em ocupar o segundo lugar em índice de violência e com alto índice feminicidio praticado contra a mulher. No bojo dessas questões a mulher negra é mais violentada, pois padece de uma tripla discriminação no tocante a categoria gênero, raça e a classe social. Nesse sentido, Oliveira & Brito (2012, p. 87), atestam que: O modelo de mulher negra apontada de forma estereotipada é extremamente perverso, desumizador e, sobretudo, carregados de atos de crueldade autenticados pelo racismo difuso. É óbvio que as condições matérias e ideológicas disseminados pela colonização, pela escravidão, pelo patriarcado e pela exclusão social permitiram que o branco dominador difundisse e legitimasse para u m determinado estrato da sociedade brasileira uma burca ideologizada nos moldes de sujeição ara o outro. 406

Com essa marca fica demonstrado que a violência racial está fundamentalmente imbricada na violência de gênero elas se integram construindo atitudes de desumanização do ser mulher negra. Os/as professores/as enfatizaram a necessidade de trabalhar com o viés da educação de gênero e antirracista como eixo fundante para contribuir com a transformação social. O racismo, a intolerância religiosa, a violência de gênero e sexual podem a partir da luta pedagógica e politica serem erradicados. A esse respeito, Dayriell (2001, p. 87), propala: Esse diálogo, perfeitamente possível, nos permitirá dar visibilidade às diferentes referências de identidade construídas pelos sujeitos negros, brancos e de outros segmentos étnicos no cotidiano escolar, e nos ajudará na compreensão do papel preponderante que a cultura produzida por esses grupos assume na escola. Uma educação pautada em uma postura dialógica, e de reflexão crítica em relação a solidariedade, respeito e a atitude amorosa e solidaria com o/a outro/a, com suas diferenças, deverá ser tarefa de todos/as que se propõem a essa tarefa de educar, pois como afirma Munanga (2005, p. 33) A desconstrução da ideologia abre a possibilidade do reconhecimento e aceitação dos valores culturais próprios, bem como a sua aceitação por indivíduos e grupos sociais pertencentes a outras raças/ etnias, facilitando as trocas interculturais na escola e na sociedade. Corrigir o estigma da desigualdade atribuído às diferenças constitui-se em tarefa de todos e já são numerosos os que contribuem para atingir esse objetivo. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O debate em torno da temática Relações Étnico Raciais, com docentes do ensino fundamental e médio, em situação de partilha do ensino-aprendizagem, nos mostrou a imperiosa necessidade do estabelecimento do diálogo sobre essas questões da diversidade racial, gênero sexual e religiosa. 407

Durante as rodas de conversas os/as educadoras socializaram para o grupo a complexidade de lidar com a questão de racismo, intolerância religiosa, mulher negra e violência, a partir do registro de sua própria vivencia cotidiana. As categorias estabelecidas, para serem trabalhadas durante o percurso da disciplina os/as professores em suas falas nos momentos presenciais e no Fórum de discussão, demonstraram abertura para novas formas de ser e se perceber com educador/a, mostraram também compreensão do instrumental teórico - metodológico necessário para o desenvolvimento de formas inovadoras de ensinar e aprender. Nesse sentido, verifica-se a existência de possibilidade de ruptura com as postulações de Arroyo (2013, p. 122) quando afirma [...] as vivencias de tanta resistência há tantos desenraizamentos históricos e de lutas por conquistar e produzir espaços coletivos de um digno e justo viver. Notadamente, a partir dessa experiência vivencial verifica-se que as oficinas pedagógicas realizadas atingiram os objetivos propostos. Os resultados obtidos contribuíram para melhor compreensão das temáticas abordadas, desnudando conceitos subjacentes às questões relativas à raça negra, gênero, violência, discriminação e preconceito racial. A experiência realizada com os/as professores/as foi por eles avaliada como relevante à medida que possibilitou o diálogo critico sobre o racismo com ele/a mesmo/a com o outro/a e com o mundo, bem como a produção de conhecimentos. O debate estabelecido sobre a condição humana dos/as diferentes, e da avaliação cotidianamente da práxis profissional, remete o professor/a para uma nova atitude pautada nos paradigmas de uma educação antirracista, fundamentada sob a égide da ética e da politica, pontilhada de caminhos de liberdade e de respeito ao/a cidadão e a cidadã como sujeitos de direitos. Pois como afirma Paulo Freire Aos professores, fica o convite para que não se descuidem de sua missão de educar, nem desaminem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem águias e não apenas galinhas. Pois se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. 408

REFERÊNCIAS ANDRADE, I. P. A. A mulher negra na MPB, um abalo à identidade racial. In: Quintas Fátima (org.) Mulher Negra: preconceito, sexualidade e imaginários. Anais do IV Congresso Afro-Brasileiro. Recife, abril de 2004, Fundação Joaquim Nabuco. ARROYO, Miguel G. Currículo, território em disputa. 5. Ed. Petropoles Rio de Janeiro. Vozes, 2013. AZEVEDO, S. Preconceito contra a mulher: diferenças, poemas e corpo. São Paulo: Cortez 2007. CHAUÍ, M. Convite a Filosofia. Rio de Janeiro. Ática, 1994. DAYRELL, Juarez. Múltiplos olhares sobre Educação e Cultura. Ed. UFMG. Belo Horizonte, 1996. GOMES, N. L. A mulher negra que vi de perto. Belo Horizonte, Mazza Edições 1995. MUNANGA, Kabengele. Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada organizador. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. QUINTAS. F.(org) Mulher Negra: Preconceito, Sexualidade e Imaginário. Anais do IV Congresso Afro-Brasileiro. Recife, abril, 1984 V. I. Fundação Joaquim Nabuco. Recife. Massananga, 1985. OLIVEIRA, Maria Aparecida de, BRITO, Angela Maria Benedita Bahia de. A trajetória do racismo e a violência sofrida pela mulher negra: uma questão de saúde pública. IN: Quilombolas, Guerreiros Alagoanos: Aids, prevenção e vulnerabilidade. Edufal, Maceió, 2012. 409