Violações das regras do ordenamento do território Habitação não licenciada num parque natural. 11-07-2011 EFA S13 Pedro Pires



Documentos relacionados
Nuno Rodolfo da Nova Oliveira da Silva, Economista com escritório na. Quinta do Agrelo, Rua do Agrelo, nº 236, Castelões, em Vila Nova de Famalicão,

8 de Março E urgente acabar com as discriminações que a mulher continua sujeita em Portugal Pág. 2

Aspectos Sócio-Profissionais da Informática

NOTA INFORMATIVA. 3. Como se constata, as modificações introduzidas reconduzem-se aos seguintes aspectos:

E Entrevistador E18 Entrevistado 18 Sexo Masculino Idade 29anos Área de Formação Técnico Superior de Serviço Social

Desenvolvimento Sustentável de São Jorge

O Princípio da hierarquia dos planos e efeitos da aprovação de um Plano Regional Num Plano Municipal (1)

P.º R. P. 301/04 DSJ-CT

As decisões intermédias na jurisprudência constitucional portuguesa

Análise spot publicitário

Problema de Mistura de Produtos

MANIFESTO VERDE. Açores Sustentáveis. Uma Voz Ecologista na Assembleia Legislativa dos Açores. Eleições para a Assembleia Legislativa

JOSÉ DE ALENCAR: ENTRE O CAMPO E A CIDADE

Interpretação do art. 966 do novo Código Civil

PROPOSTA DE LEI N.º 60/IX

MENSAGEM DE NATAL PM

O novo regime jurídico de habilitação para a docência: Uma crítica

GOVERNO UTILIZA EMPRESAS PUBLICAS PARA REDUZIR O DÉFICE ORÇAMENTAL, ENDIVIDANDO-AS E ARRASTANDO-AS PARA A SITUAÇÃO DE FALENCIA TÉCNICA

AUDIÇÃO NA COMISSÃO PARLAMENTAR DO AMBIENTE, ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO E PODER LOCAL. Projeto de Lei Nº 368/XII

Organização. Trabalho realizado por: André Palma nº Daniel Jesus nº Fábio Bota nº Stephane Fernandes nº 28591

81AB2F7556 DISCURSO PROFERIDO PELO SENHOR DEPUTADO LUIZ CARLOS HAULY NA SESSÃO DE 05 DE JUNHO DE Senhor Presidente, Senhoras Deputadas,

A PARTICIPAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NA GESTÃO AMBIENTAL MUNICIPAL NA AMAZÔNIA: O CASO DO MUNICÍPIO DE COTRIGUAÇU-MT

GRUPO PARLAMENTAR ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL DOS AÇORES VII Legislatura

A importância da certificação para os laboratórios de meio ambiente A importância da certificação para os laboratórios de meio ambiente

INFORMATIVO. Novas Regras de limites. A Datusprev sempre pensando em você... Classificados Datusprev: Anuncie aqui!

ASSEMBLEIA DE FREGUESIA DE LOUSA ACTA N.º 01/2007

Educação Patrimonial Centro de Memória

Após 41 anos de descontos e 65 de idade reformei-me. Fiquei com UMA SÓ reforma calculada a partir dos descontos que fiz nesses 41 anos.

Recenseamento Geral da População e Habitação 2014

REGULAMENTO PARA ATRIBUIÇÃO DE BOLSAS DE ESTUDO AOS ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR. CAPITULO I (Objecto e âmbito)

ENTREVISTA Questões para Adauto José Gonçalves de Araújo, FIOCRUZ, em 12/11/2009

RELATÓRIO DA ADMINISTRADORA DE INSOLVÊNCIA. (elaborado nos termos do art.155º do C.I.R.E.)

PROPOSTA DE REVISÃO CURRICULAR APRESENTADA PELO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CIÊNCIA POSIÇÃO DA AMNISTIA INTERNACIONAL PORTUGAL

CAPÍTULO 15 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

PARECER N.º 93/CITE/2009

Oportunidades e desafios para a Administração Pública Local no contexto da Sociedade da Informação

Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna.

CURSO DE APERFEIÇOAMENTO, ACTUALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO ÁRBITROS ASSISTENTES DE 2.ª CATEGORIA Futebol de 11 TESTE ESCRITO PERGUNTAS

Julho 2009 IRECTIVA 2008/48/CE? QUEM GANHA COM A TRANSPOSIÇÃO DA DIRECTIVA

" A história URCA MARCA DA NOSSA TERRA

ACÓRDÃO Nº 22 / JUN/1ª S/SS

ESTATÍSTICAS, O ABECEDÁRIO DO FUTURO

Processos apensos T-6/92 e T-52/92. Andreas Hans Reinarz contra Comissão das Comunidades Europeias

um novo foco para as mudanças

A Conferência ouviu a exposição dos principios gerais e doutrinas relativas à protecção de monumentos.

Reaproveitamento de Máquinas Caça-Níqueis

Eng.ª Ana Paula Vitorino. por ocasião da

Mercados. informação regulamentar. República Dominicana Condições Legais de Acesso ao Mercado

Conservação e Extinção das Espécies

EIXO TEMÁTICO I: HISTÓRIAS DE VIDA, DIVERSIDADE POPULACIONAL E MIGRAÇÕES.

O homem transforma o ambiente

A Alienação (Karl Marx)

A Guarda Compartilhada

Regulamento do Centro de Investigação em Educação e Psicologia da Universidade de Évora (CIEP-UE)

A última relação sexual

Floresta pode ajudar a tirar o Brasil da crise financeira

Há cabo-verdianos a participar na vida política portuguesa - Nuno Sarmento Morais, ex-ministro da Presidência de Portugal

CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE RIO MAIOR

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº, DE 2006

PORTFÓLIO INTRODUÇÃO. A União Zoófila é uma Associação de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos, regendo-se pelos seus estatutos.

GOVERNO. Orçamento Cidadão 2015

Estratégias adotadas pelas empresas para motivar seus funcionários e suas conseqüências no ambiente produtivo

Exmo. Senhor Presidente da Assembleia Legislativa Regional dos Açores, Exmas. e Exmos. Deputados, Exma. e Exmos. Membros do Governo Regional,

Avaliação de projetos de investimento

PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL

Objetivos das Famílias e os Fundos de Investimento

CAPÍTULO I INTRODUÇÃO

Centro Nacional de Apoio ao Imigrante

ASSENTO DE REUNIÃO. 5ª Reunião do Observatório Nacional dos CIRVER PRESENÇAS. 21 de Julho de 2009

I ENCONTRO NACIONAL DAS EMPRESAS DO SECTOR DA CONSTRUÇÃO E IMOBILIÁRIO Lisboa, 5 de Junho de 2012

A origem dos filósofos e suas filosofias

CONFERÊNCIA DOS MINISTROS DO TRABALHO E SEGURANÇA SOCIAL E DOS ASSUNTOS SOCIAIS DA CPLP

Desenvolvimento Sustentável para controlo da população humana.

REGIME EXTRAORDINÁRIO DE PROTECÇÃO DE DEVEDORES DE CRÉDITO À HABITAÇÃO EM SITUAÇÃO ECONÓMICA MUITO DIFÍCIL

CONGRESSO INTERNACIONAL INTERDISCIPLINAR EM SOCIAIS E HUMANIDADES Niterói RJ: ANINTER-SH/ PPGSD-UFF, 03 a 06 de Setembro de 2012, ISSN X

Gabinete do Presidente. Reunião de Câmara extraordinária 09 de setembro de 2015

Não. A Sabesprev tem dinheiro em caixa suficiente para garantir o pagamento aos beneficiários pelos próximos anos. O que existe é um déficit atuarial.

PARECER N.º 1/CITE/2003

Só em circunstâncias muito excepcionais pode o advogado ser autorizado a revelar factos sujeitos a sigilo profissional.

Festas em honra da Nossa Senhora da Piedade Póvoa de Sta. Iria. Procissão fluvial nocturna - Barcos Avieiros benzidos no Tejo

Desvios de redações efetuadas por alunos do Ensino Médio

Casa do Direito, Abre essa porta!

INOVAÇÃO PORTUGAL PROPOSTA DE PROGRAMA

REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE S. JOÃO DA MADEIRA

Partido Popular CDS-PP. Grupo Parlamentar. Projecto de Lei nº 575/X

MUNICIPIO DE REDONDO NORMAS DE ALIENAÇÃO DE LOTES DA ZONA INDUSTRIAL DE REDONDO - 2ª FASE CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

MUNICÍPIO DE CONDEIXA-A-NOVA REGULAMENTO MUNICIPAL DE ATRIBUIÇÃO DE LOTES DA ZONA INDUSTRIAL LIGEIRA

A introdução da moeda nas transações comerciais foi uma inovação que revolucionou as relações econômicas.

Estratégias a utilizar

Planejamento Financeiro e Você. Ferramentas para a Conquista de Sonhos! Semana da Estratégia Nacional de Educação Financeira

O PIPE I LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

estética carlos joão correia ºSemestre

Proposta de ACORDO DE GOVERNO E DE COLABORAÇÃO POLÍTICA ENTRE O PSD E O CDS/PP

CONTRATO. a) Nos termos do nº 1 do artigo 4º, os operadores económicos são coresponsáveis pela gestão das pilhas e acumuladores usados;

6. Participação da comunidade

Exercícios Práticos para as Dificuldades de Aprendizagem

REGULAMENTO E TABELA GERAL DE TAXAS DA FREGUESIA DE NEIVA

Motivação: Empresarial e Escolar

Transcrição:

Violações das regras do ordenamento do território Habitação não licenciada num parque natural 11-07-2011 EFA S13 Pedro Pires

CLC UFCD6 Pedro Pires Processo nº21359 EFA S13 Violações das regras do ordenamento do território No Parque Natural da Arrábida existe um conflito entre a natureza, as leis de ordenamento do território e o direito humano a uma habitação. Desde muito cedo qualquer estado procura ordenar o seu território. Em Portugal uma das primeiras razões para o ordenamento do território foi a sua defesa, com os governantes a procurarem entregar grandes parcelas de território a quem o podia colonizar e acima de tudo defender de invasores. Com o aumento da população portuguesa, o aumento do poder económico, o êxodo das zonas rurais para as zonas urbanas e o seu crescimento desordenado, e a alteração de mentalidades no século XX, são feitas as primeiras tentativas de regular a ordenação do território português, de um modo muito rudimentar. Mas foi só com a adesão de Portugal à CEE, com a transposição de directivas comunitárias e uma maior consciência na sociedade portuguesa da necessidade de preservar paisagens, flora e fauna, assim como terrenos para agricultura, que se acelerou a publicação de leis e a sua implementação. No parque natural da Arrábida existem dois problemas que constituem graves violações do ordenamento do território, um de natureza industrial, outro de proliferação de construções ilegais de que foi vítima o parque, muitas das quais para segunda habitação.

Fundado em 1976, o Parque tinha no seu interior uma grande população humana e uma grande actividade industrial com a presença de explorações de extracção de pedra. Dessa maneira o Parque foi criado com o objectivo de não só salvaguardar a natureza, mas também conciliá-la com a presença humana no território. Mas ao longo dos anos foram-se sucedendo os atentados ambientais na área protegida, problemas que ainda hoje subsistem. Foi publicado, com grandes atrasos, em 2005, o Plano de Ordenamento do Parque Natural da Arrábida, o qual se esperava vir a resolver parte destes problemas e a garantir a sua gestão de maneira sustentável. Mas o plano mantém a actividade da cimenteira Secil, permite o aumento das pedreiras, indústrias cujos impactes no ambiente e paisagem são significativos, pois têm transformado largas áreas do Parque em paisagens lunares. Este mesmo plano também viabiliza a construção, abrindo a porta à especulação imobiliária ao permitir a edificação sobre ruínas, estabelecendo critérios de área mínima edificável que penalizam os pequenos residentes locais, mas abre a porta às segundas e terceiras residências e aos grandes empreendimentos turísticos. Apesar de ter muitas dezenas de processos a decorrer nos tribunais, o parque tem adiado a demolição de muitas casas ilegais, mas nos últimos anos procedeu à demolição de três casas no parque e tem tentado demolir uma quarta. Uma destas casas demolidas pertencia à mulher de um antigo secretário de Estado, homem que apesar de alegar que a casa não lhe pertencia, deve como político primar pelo exemplo. Na altura da construção, saberia certamente, apesar de não ser um membro do governo, que a sua construção era claramente ilegal, e como político saberia que mais tarde tal facto poderia

vir a prejudicá-lo. Mas certamente o casal tem rendimentos suficientes para adquirir outra casa de férias em local mais recatado e menos polémico. Ao contrário do antigo secretário de Estado, na quarta casa vive o sr. Florentino, na Aldeia da Piedade, mesmo perto dos limites do parque Natural. É um ex-emigrante, actualmente um modesto agricultor, que vive muito perto de muitas mansões e residências de luxo. Assim o agricultor Florentino, proprietário de uma casa clandestina, construída há cerca de 28 anos na Aldeia da Piedade, tinha até ao dia 19 Junho de 2011, um domingo para demolir a sua casa voluntariamente, sem ter qualquer perspectiva de ter uma habitação depois de demolida a sua casa. Com o apoio jurídico da Câmara, ele conseguiu há cerca de um ano o adiamento da demolição da sua casa, mas o tempo passa e o sr. Florentino começou a tirar os seus haveres de casa com medo de uma manhã ter as máquinas à porta para destruir o trabalho de uma vida. Na época em que o sr. Florentino construiu a sua casa, era por todo o país uma prática corrente construir primeiro e legalizar depois, facto que tinha uma grande aceitação social em muitas áreas do país. Desde essa altura muitas foram legalizadas, de uma maneira mais ou menos transparente, mas o sr. Florentino, apesar de o ter tentado várias vezes, nunca conseguiu tal objectivo. Apesar de estar claramente ilegal, o Estado nunca deixou de cobrar as contribuições de um imóvel que, segundo as regras que esse mesmo Estado cria, não deveria estar na área do parque, sendo assim cúmplice com a situação, em uma prática que se repete pelo país inteiro. Mas não deixaria de ser curioso saber o que o mesmo Estado faria se esses impostos não fossem pagos. Penhorava a casa do sr. Florentino, e teria de demolir a casa às suas próprias custas? As regras do bom senso provavelmente não se aplicam, com as pequenas excepções que todas as leis parecem ter. O sr. Florentino já chegou a ser aconselhado por pessoas ligadas ao parque a vender o seu terreno para ter dinheiro para poder demolir a sua casa. Mas que interesse teria alguém em comprar um terreno por muitos milhares de euros em que não pode haver construção? Seria

para a agricultura, apesar de muitas previsões económicas apontarem para um aumento dos preços dos produtos agrícolas nos próximos anos? Na minha opinião esta é claramente uma violação do ordenamento do território, mas assim como é defendido, até pelos próprios governantes, que as indústrias que estão a laborar no parque têm direitos adquiridos, claramente o sr. Florentino também os teria se fosse mais poderoso ou houvesse maiores interesses económicos ligados a ele. Não defendo que umas casas têm um maior impacto do que outras, mas parece-me que se deve distinguir o que pode ser desnecessário do que é essencial. Não digo que a casa do sr. secretário de Estado, por ser uma segunda habitação, é menos do que a do sr. Florentino, mas deveria ser averiguado porque houve casas aprovadas no parque mesmo ao lado da do sr. Florentino e a dele não foi. Em muitas áreas imperam os chamados direitos adquiridos, assim como a necessidade de receitas de muitos municípios, que levam à aprovação e inclusive à alteração de muitas obras em áreas que são protegidas. Outro problema é a falta de comunicação dos políticos com as populações, com diferentes partidos apoiando um projecto ou repudiando-o conforme se está no governo ou na oposição, e saliento que este problema se estende a todos as assembleias municipais e regionais. Essa falta de comunicação pode pôr em causa muitos projectos pela incompreensão das populações com o que muitas vezes é considerado como intromissão das instituições na propriedade privada das pessoas, que muitas vezes pode estar há gerações na família. Essas instituições são muitas vezes lideradas por pessoas com boas intenções, mas com teorias inviáveis na prática. A protecção da natureza é essencial, mas sem populações a viver e a proteger o parque, ele corre o risco de ser destruído como aconteceu em 2004, em que grandes incêndios varreram uma grande área dele. Bibliografia Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/serra_da_arr%c3%a1bida Correio da Manhã, 15 de Junho de 2011. Jornal Público 16 de Junho de 2011