ASSESSORAMENTO TÉCNICO-PEDAGÓGICO AOS MUNICÍPIOS QUE ADERIRAM AO PROINFÂNCIA: DEMANDAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL



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Transcrição:

01097 ASSESSORAMENTO TÉCNICO-PEDAGÓGICO AOS MUNICÍPIOS QUE ADERIRAM AO PROINFÂNCIA: DEMANDAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL Maria Luiza Rodrigues Flores (UFRGS) Simone Albuquerque (UFRGS) O artigo apresenta alguns dados referentes ao processo de Assessoramento Técnicopedagógico realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a partir de um convênio entre esta Universidade e o Ministério da Educação, visando fortalecer as políticas municipais voltadas para esta primeira etapa da Educação Básica. O projeto foi desenvolvido em três movimentos: uma assessoria organizada a partir de 10 polos, reunindo em média 18 municípios em cada um, totalizando 157 municípios; uma assessoria diferenciada para os municípios-sede dos polos e uma proposta de pesquisaintervenção em três municípios, de regiões, população e características diferentes, buscando avaliar o impacto do Proinfância na organização e funcionamento da oferta de educação e cuidado para as crianças de até seis anos de idade no sistema de ensino destes municípios. Após um ano de assessoria, com encontros por município, no caso daqueles municípios-sede, por polo e encontros estaduais, os dados evidenciaram algumas demandas por parte destes municípios de maneira a que essa expansão da rede física possa se transformar em ampliação da oferta de educação com qualidade. Dentre eles, destacamos: pouca capacidade de alguns municípios para o gerenciamento das obras, em função de problemas diversos nas licitações; inadequação de alguns aspectos da planta arquitetônica determinada nacionalmente, especialmente no que se refere ao clima gaúcho; inexistência de diretrizes municipais em alguns municípios, de forma a orientar a elaboração das propostas pedagógicas das escolas de cada rede municipal; pouco conhecimento em relação as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais. A estes aspectos, somam-se demandas emergentes para a formação de professoras para a atuação nas novas escolas municipais de educação infantil, tais como: ação pedagógica em turmas de crianças com até 2 anos, múltiplas linguagens e letramento, organização dos espaços, tempos e materiais e avaliação na educação infantil. Palavras- chave: Educação Infantil, Proinfância, Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil Este artigo apresenta uma análise de algumas ações desenvolvidas ao longo do ano de 2013 pela equipe da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS no âmbito de um Projeto de Assessoramento técnico-pedagógico na implementação do PROINFÂNCIA a um grupo de 157 municípios do Estado do Rio Grande do Sul. Este

01098 Projeto, desenvolvido a partir de um convênio com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC) visou ao fortalecimento de políticas municipais para a Educação Infantil no Estado do Rio Grande do Sul. A Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9394/96 são reconhecidas como legislações que foram um divisor de águas no que se refere ao reconhecimento do direito à educação para as crianças de 0 até 6 anos e ao reconhecimento desta oferta como primeira etapa da Educação Básica. Nas últimas décadas, o MEC elaborou e/ou publicou um conjunto de materiais que buscam orientar à elaboração e implementação das políticas municipais, assim como induzir avanços nas práticas cotidianas realizadas nas instituições. Atualmente, vivemos um período de empenho pela consolidação do paradigma da criança pequena como sujeito de direito à educação, existindo embasamento legal em diversas normatizações, mas ainda faltando uma consciência social da importância desta etapa, bem como políticas públicas que efetivem esse direito. Nesta perspectiva, a recente alteração da Constituição Federal de 1988, produzida pela Emenda Constitucional 59/09, a qual estabeleceu a obrigatoriedade da matrícula escolar para todos que estiverem dentro da faixa etária de 4 a 17 anos, tem uma repercussão importante para a Educação Infantil, já que todas as crianças de 4 e 5 anos deverão ser matriculadas na pré-escola até 2016. Considerando-se os dados estatísticos sobre o atendimento à demanda préescolar no Brasil, estes apontam que o país ainda não garantiu oferta suficiente de vagas públicas para suprir a demanda de atendimento para esta faixa etária, conforme previsto no Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2010) Lei 10.172/2001, que seria de atendimento a 80% da demanda, bem como a oferta de creche ainda não chegou à meta estabelecida por aquele PNE, que era de 50% de atendimento. Em relação à creche, o País atingiu em 2010, o percentual de 18,39% de atendimento e o Rio Grande do Sul 21,39%. Já em relação à pré-escola, o Brasil atingiu 81,30% de atendimento e o nosso estado 61,64%. Sendo assim, torna-se relevante a proposta do Governo Federal implementada através do Programa PROINFÂNCIA, que desde 2007, vem materializando uma política de colaboração prevista constitucionalmente com aporte de recursos federais para que os municípios administrem a obra e se responsabilizem pela organização e funcionamento dos novos espaços construídos. De acordo com os dados do Governo Federal/FNDE (2012), no Rio Grande do Sul, 305 municípios estariam executando o PROINFÂNCIA, com 420 obras em

01099 construção. O déficit de vagas na Educação Infantil no Estado é de 206.837, com maior defasagem junto à faixa etária de 0 a 3 anos de idade (TCE/RS, 2012). De acordo com os dados do Tribunal de Contas do Estado TCE/RS, há, inclusive, municípios nos quais, até o ano de 2010, não havia oferta pública de vagas para a etapa de creche. Para que tivesse atendido às metas estipuladas pelo Plano Nacional de Educação 2001-2010, o estado deveria ter criado 151.706 vagas na creche e 55.131 vagas na pré-escola (TCE, 2012). Os dados do TCE/RS referentes ao monitoramento entre 2007 e 2012 expressam que 90,5% dos 449 municípios não atingiram a meta de atender 50% das crianças de 0 a 3 anos, sendo que apenas 9,5%,ou seja, 47 municípios atenderam a meta, e 19,3% não possuem crianças matriculadas em creche, ou seja, a oferta é inexistente. Em função desta demanda, que é significativamente maior nos grandes centros urbanos, torna-se significativa a iniciativa do Governo Federal em apoiar a construção de novas unidades através do Programa PROINFÂNCIA. Na seção seguinte, iremos abordar a metodologia utilizada para o desenvolvimento deste Projeto, de maneira a evidenciar os diversos movimentos realizados. Construindo uma Rede Formativa no Rio Grande do Sul A Rede Formativa implementada pelo Projeto de Assessoramento da UFRGS aos municípios que aderiram ao Proinfância incluiu gestores municipais de educação, equipe técnica das secretarias de educação, representantes de equipes diretivas de unidades de educação infantil, bem como docentes atuando com crianças de até seis anos nas escolas das redes educacionais de municípios gaúchos. Estes foram organizados em 10 polos agrupando as 24 associações regionais nas quais a Federação das Associações dos Municípios do Rio Grande do Sul (FAMURS), divide o estado, levando em consideração a proximidade geográfica. Esta Rede Formativa também contemplou a equipe da UFRGS com formação quinzenal focada nos referenciais teóricos e metodológicos que o Projeto privilegiou. Algumas assessoras tinham perfil vinculado ao cotidiano da educação infantil, enquanto outras traziam uma experiência anterior como membros de conselhos municipais e estaduais de educação ou, ainda, de assessoras de secretarias de educação, o que

010100 contribuiu sobremaneira nos aspectos referentes ao estudo das legislações pertinentes à educação infantil. As temáticas da formação visaram preparar o grupo de assessoras, oportunizando espaço para o diálogo com docentes formadores, a seleção de materiais e o planejamento coletivo. Desta forma, o Projeto fomentou diferentes níveis formativos, desde a Universidade, até as escolas dos diferentes municípios. É importante considerar que a base teórica para esta Rede Formativa foi as Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (2009b), colaborando para isso a formação coletiva da equipe, como objetivo de ampliar as discussões em relação as DCNEI, bem como estabelecer uma atitude formativa com os municípios assessorados, visão que permeou o Projeto do início ao fim em todos os seus âmbitos. Nesta perspectiva consideramos que as Diretrizes apresentam atualmente, no contexto brasileiro, conceitos fundamentais e norteadores para o trabalho com as crianças pequenas, e que são fruto de pesquisas e de um intenso processo de discussão e produção coletiva. O delineamento metodológico do Projeto, circunscrito a um ano civil, direcionou para que o mesmos se organizasse a partir da escolha de quatro eixos temáticos: práticas pedagógicas com bebês; avaliação na/da Educação Infantil e articulação com o Ensino Fundamental; leitura e interpretação de mundo expressa nas diferentes linguagens; espaços, tempos e materiais. Estas temáticas permanecem articuladas quando pensadas a partir do cotidiano da escola de educação infantil, e consideramos que a coluna vertebral que direciona estas práticas é o projeto político-pedagógico de cada escola. No âmbito deste Projeto, esta divisão foi apenas didática, visando melhor organizar o tema-chave de cada encontro formativo. Neste sentido, foram realizados 6 encontros formativos e os municípios participantes tiveram como meta a revisão e/ou construção da Proposta Político Pedagógicas (PPP), da escola do Proinfância ou da rede de ensino como um todo. Para isso, cada município foi direcionado a escolher uma das temáticas para desenvolverem um Plano de Ação. A elaboração deste Plano de Ação foi orientada pelas assessoras do Projeto, a partir de materiais e instrumentos próprios, incluindo dinâmica coletiva, na qual os municípios puderam construir esse plano em conjunto, a partir da identificação de temas e focos comuns. Este Plano deveria prever um tema central a ser trabalhado ao longo do ano, em movimentos próprios de cada rede municipal, envolvendo apenas a equipe da

010101 nova unidade do Proinfància, ou, caso possível, toda a rede municipal de educação infantil. A assessoria técnico-pedagógica apoiou os municípios na construção de um Plano de Ação que pudesse orientar as ações necessárias para a elaboração, revisão e/ou implementação dos PPPs, em consonância com as ações formativas voltadas ao estudo das DCNEI (2009). Este Plano no âmbito do Projeto se consolidou como um compromisso dos representantes municipais indicados para participação nos encontros coletivos, exigindo ações por parte dos gestores para a qualificação do cotidiano das instituições e da oferta de Educação Infantil no município. O quadro em anexo expressa as escolhas dos municípios em relação à temática prioritária dos Planos de Ação. A oferta da Educação Infantil para as crianças de 0 a 3 anos: aspectos políticos e pedagógicos. O Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul tem realizado um trabalho intensivo de monitoramento da oferta de vagas de Educação Infantil pelos municípios gaúchos, acompanhando desde 2007, o número de vagas a serem criadas tendo como meta o Plano Nacional de Educação. Mais recentemente, este Tribunal, em parceria com o Ministério Público gaúcho, incluiu o monitoramento quanto ao cumprimento da determinação da Emenda Constitucional 59/09 (EC 59/09) que estipula o prazo de 2016 para a matrícula universal das crianças de quatro e cinco anos na pré-escola. Esta determinação tem levado alguns municípios gaúchos a reduzirem a oferta de educação em tempo integral, ou, ainda, reduzirem a oferta de vagas para as crianças bem pequenas, ocupando todas as salas para a oferta educacional para crianças de pré-escola. Esse movimento torna-se negativo, uma vez que o direito/dever de matrícula das crianças um pouco mais velhas acaba por reduzir o direito daquelas que ainda tem até três anos. Defendendo que a obrigatoriedade da pré-escola não deve aproximá-la de modelos escolarizantes e tradicionais, o Comitê Diretivo do Movimento Interfóruns de Educação Infantil (Mieib), em publicação da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (FLORES, KLEMANN e SANTOS, 2010) também chamou a atenção para o risco da interrupção da trajetória de expansão com qualidade das matrículas na sub-etapa creche, no contexto da EC 59/09, destacando, dentre outros aspectos, que:

010102 - O acesso à creche é um direito da criança e de sua família e um dever do Estado, conforme previsto na legislação brasileira; - A obrigatoriedade da matrícula das crianças de quatro e cinco anos na pré-escola não pode ser implementada à custa do atendimento daquelas de zero a três anos, pois são demandas específicas e complementares, e a unidade pedagógica da educação infantil como um todo, como primeira etapa da Educação Básica, deve ser preservada; - Os profissionais responsáveis pela educação e pelo cuidado das crianças de zero a três anos nos estabelecimentos de educação coletiva devem ser professores habilitados para o exercício da docência na educação infantil. (FLORES, KLEMANN e SANTOS, 2010, p. 54). Este panorama apresenta a importância da implementação do Proinfância no Rio Grande do Sul, já que tem sido promotor da ampliação, ainda que restrita, para a oferta de Educação Infantil para as crianças de 0 a 3 anos. Este Projeto permitiu o acompanhamento de alguns municípios nos quais a unidade do Proinfância será a primeira a realizar oferta educacional para bebês. Outro fator que corrobora para a necessidade apresentada pelos municípios em relação ao estudo sobre os contextos das ações pedagógicas com bebês foi a escolha de 52,2% dos municípios do total de 157 escolherem como eixo ação pedagógica com bebês para o desenvolvimento do plano de ação referente ao projeto. É interessante observar que muitos municípios assessorados expressam claramente o desejo de construir uma proposta pedagógica que contemple as especificidades da Educação dos Bebês, e que esta foi uma busca constante durante o Projeto, tendo muitos deles admitido que não sabiam como elaborar uma proposta pedagógica para essa faixa etária. Barbosa e Richter (2009) reconhecem. que [...] pensar e propor um currículo para e com as crianças pequenas é favorecer um percurso de ingresso e pertencimento na cultura onde bebês e crianças pequenas, ao ingressarem na escola como um contexto de vida coletiva, também interagem, brincam, aprendem e produzem cultura. (BARBOSA; RICHTER, 2009, p.27), Nesta perspectiva, a escola para os bem pequenos é um espaço fundamental de muitas experiências, sendo que o ambiente, os materiais e propostas precisam articular uma pedagogia específica. Também, a formação do professor é fundamental para a organização e planejamento deste espaço de relações. O documento do ministério da educação sobre a Organização do Espaço Físico, dos Brinquedos e Materiais para Bebês e Crianças Pequenas (Brasil, 2012), destaca que :

010103 Um ambiente educativo para crianças de creche deve respeitar a pedagogia das relações, de bebês e crianças pequenas que adquirem experiências ricas em um mundo de afetos, de relações positivas e desafiadoras, de fantasias e encantamentos. Contatos entre crianças da mesma idade, de idades diferentes, de crianças e adultos, da creche com as famílias e membros da comunidade, fazem parte desse mundo de relações. (BRASIL, 2012, p.11) Considerações Finais O processo de Assessoramento realizado pela UFRGS nos permitiu uma aproximação à realidade da oferta municipal de atendimento à faixa etária de até seis anos, bem como às demandas municipais referentes à formação de professores. Destacamos que a obra física das unidades do Proinfância, sem dúvida, a partir dos relatos das assistentes de pesquisa e das próprias representantes municipais, tornaramse espaços de referência nas cidades e trouxeram a público o tema educação infantil. A área física destinada as novas escolas, o tamanho da planta, a infra-estrutura do entorno, são elementos que impactam visualmente nas cidades e transfiguram as relações das escolas com as comunidades onde as mesmas estão inseridas. As novas escolas estão realizando impacto sobre a demanda por vagas, especialmente nos municípios pequenos, nos quais uma ou duas unidades permitem o atendimento pleno da demanda reprimida. Já no caso das redes maiores, em cidades de grandes aglomerados urbanos, são necessárias muitas unidades para o alcance das metas de oferta do PNE. Contudo, entendemos que, ainda que de extrema relevância e necessidade, não é suficiente que o Governo Federal apoie financeiramente aos municípios para a construção de obras. No contexto atual, de consolidação do ordenamento legal da área, é indispensável garantir assessoramento técnico-pedagógico aos municípios que aderem ao Programa, com vista a que os mesmos efetivem o disposto nas atuais Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) tanto nos processos de gestão destas novas unidades, quanto nos processos cotidianos de educação coletiva. Os dados do Projeto permitiram antever temas necessários à formação docente, seja ela inicial ou continuada que vem gradativamente sendo reconhecidos no campo acadêmico e nas redes educacionais. Destacou-se, dentre todos os temas trabalhados nos encontros formativos, a necessidade de um trabalho mais consistente em relação à atuação docente e ao currículo voltados às turmas da faixa etária de até dois

010104 anos. Trata-se, sem dúvida, de um tema ainda novo na área da Pedagogia, para o qual precisamos aprofundar e construir referenciais que garantam uma ação pedagógica intencionalmente planejada voltada à criança bem pequena, sujeito de direitos e cidadão, desde o seu nascimento. REFERÊNCIAS BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Especificidades da ação pedagógica com bebês. In: I SEMINÁRIO NACIONAL: CURRÍCULO EM MOVIMENTO Perspectivas Atuais. Belo Horizonte, 2010. e Richter. Os bebês integrrogam o currículo: as múltiplas linguagens na creche. Revista Educaçao. Santa Maria. v.35, n.1, p.85-96, jan/abr, 2010. BARBOSA, Maria Carmen. Práticas Cotidianas na Educação Infantil Base para a reflexão sobre as orientações curriculares. Brasília, 2009. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394, 20 de Dezembro de 1996. Senado Federal. Brasília,1996. BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Resolução n. 1, de 07/04/99 Institui as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil. Brasília, 1999. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica. Brinquedos e Brincadeiras nas Creches: A Organização do Espaço Físico, dos brinquedos e Materiais para Bebês e Crianças Pequenas. Brasília, 2012. FLORES, KLEMANN e SANTOS. Estratégias de incidência para ampliação do acesso à educação infantil. Insumos para o Debate 2 Emenda Constitucional 59/09. São Paulo: Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2010. RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Contas do Estado. Radiografia da Educação Infantil. Porto Alegre, 2012. Disponível em < http://www1.tce.rs.gov.br/portal/page/portal/noticias_internet/relatorios/radiografia_e ducacao_infantil2013.pdf> Acesso em 30/05/2014.