O necrochorume e a gestão ambiental dos cemitérios

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Resolução CONAMA nº 07, de 31 de agosto de (Publicação - Diário Oficial da União 31/12/1993)

Transcrição:

1 O necrochorume e a gestão ambiental dos cemitérios Tochime Miguel Hino tochime_hino@hotmail.com MBA Gerenciamento de obras, tecnologia e qualidade da construção Instituto de Pós-Graduação - IPOG Joinville, SC, 27/01/2015 Resumo Este artigo tem como objetivo abordar as questões relativas à gestão ambiental dos cemitérios e o grave problema de contaminação por necrochorume. O questionamento que deu origem à pesquisa é o fato de que se debate o assunto, porém não se sabe exatamente qual é a situação real dos cemitérios no Brasil. Como os órgãos ambientais fiscalizam os cemitérios existentes? Pretende-se verificar os bons exemplos de prevenção e de medidas mitigadoras. Conhecer quais são as outras alternativas de sepultamentos, além do tradicional, menos agressivo ao meio ambiente. Muitos cemitérios brasileiros foram implantados, quando não existiam leis ambientais específicas e, terão que se adaptar as novas normas. Este artigo foi desenvolvido a partir de revisões bibliográficas, com base em artigos científicos publicados sobre cemitérios e seus resíduos nocivos ao meio ambiente e a saúde pública. Para isso, foi feita uma revisão da literatura disponível na internet. Concluiuse que existem algumas boas práticas e ações implementadas, por outro lado, ainda existe muito trabalho a ser efetuado, tendo em vista a falta de seriedade das autoridades e, o abandono em que se encontram os cemitérios existentes pelo país. Palavras-chave: Necrochorume. Gestão ambiental. Cemitérios. Contaminação. 1. Introdução Este artigo pretende apresentar alguns estudos efetuados por pesquisadores, professores, gestores e peritos ambientais, técnicos e profissionais de engenharia, geologia, química e demais áreas, tendo como foco principal o grave problema dos cemitérios horizontais, com sepultamentos convencionais em túmulos, com a discussão em torno do necrochorume, desde a sua origem iniciando-se pelas inumações, o estudo do tipo de solo existente, das águas superficiais e do lençol freático, a localização dos cemitérios e do seu entorno. O artigo estrutura-se em várias partes, divididas da seguinte forma: inicia-se com esta introdução, seguida da gestão ambiental dos cemitérios, a questão da contaminação por necrochorume, o estudo da vulnerabilidade do meio físico de subsuperfície à contaminação, seguida dos riscos de contaminação da água subterrânea e da água superficial, a situação atual dos cemitérios brasileiros, o monitoramento e medidas mitigadoras, discussões e resultados, a conclusão do artigo e finalmente a apresentação das referências bibliográficas. O estudo sobre este tema se insere na área de conhecimento, práticas de Gestão Ambiental de Resíduos, cujo interesse da pesquisa se iniciou, pela leitura de várias pesquisas e estudos encontrados, com as discussões em torno do necrochorume, cuja relevância de estudos é muito grande, devido à contaminação dos solos e das águas subterrâneas. A seleção dos artigos se justifica pela disponibilidade on line e pela facilidade dos mecanismos de busca. O recorte temporal que se utilizou para a pesquisa bibliográfica inicia-se em 1980 e finaliza-se em 2012. As localidades consideradas ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

2 neste artigo são cemitérios de alguns municípios brasileiros, que foram palco de estudos geológicos, hidrogeológicos, ensaios de campo e de laboratório, monitorados por um tempo determinado e, desta forma tornaram-se objeto e referência de algumas dissertações, artigos e trabalhos acadêmicos. Os artigos e demais publicações são assinados pelos autores ou citados por outros, de modo que serão consideradas as discussões e os resultados obtidos, bem como responder as questões levantadas neste artigo. Desta forma, este trabalho foi desenvolvido a partir de revisões bibliográficas, com base em artigos e estudos científicos publicados sobre cemitérios, tendo como ênfase os males que os mesmos podem ocasionar ao meio ambiente. Esta pesquisa sugere uma possibilidade de outros estudos de aprofundamento sobre o tema do necrochorume e, os seus efeitos poluidores e nocivos à saúde da população, bem como da gestão ambiental dos cemitérios, como empreendimento viável para acesso à população. O presente artigo tem como objetivo geral: Pesquisar como o problema do necrochorume é gerenciado em alguns cemitérios brasileiros; como objetivos específicos: entender a ação dos órgãos ambientais na fiscalização e monitoramento das atividades em alguns municípios. Conhecer os estudos científicos publicados, os principais problemas ambientais, as medidas preventivas e mitigadoras, elucidar a questão da contaminação das águas subterrâneas e a gestão ambiental dos cemitérios como um todo. 2. Gestão ambiental em cemitérios A população cresce sem parar e o número de óbitos também. As inumações são feitas em cemitérios, que podem provocar grandes impactos ambientais na região em que estão instalados. A Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº335 de 3 de abril de 2003 e a 402/08, regulamentam e estabelecem critérios mínimos que devem ser integralmente cumpridos na elaboração dos projetos de sua implantação dos cemitérios, como forma de garantir a decomposição normal do corpo e proteger as águas subterrâneas da infiltração do necrochorume e a contaminação do solo. Constata-se o grave problema de descaso em muitos aspectos, principalmente aos terrenos destinados para a ocupação de cemitérios, geralmente serem aqueles que possuem baixa valorização econômica, sendo que, muitas vezes, as características geológicas, geotécnicas e hidrogeológicas, não são avaliadas de maneira adequada, levando a sérios problemas sanitários e ambientais. Em muitos municípios brasileiros praticamente são nulos, os estudos e providências neste sentido, sejam pela falta de recursos financeiros ou técnicos existentes para a implantação destes empreendimentos. Segundo a EMBRAPA (2006), 72,9% dos municípios brasileiros têm uma população de até 20000 habitantes. E é bem provável que poucas destas localidades possuam uma política de meio ambiente atuante, voltada para a gestão ambiental dos cemitérios. Ou seja, grande parte dos municípios brasileiros enterra os seus mortos, sem maiores cuidados com a contaminação por necrochorume. Silva L., (2011), em sua pesquisa realizada em 600 cemitérios no Brasil, constatou-se que 75% dos casos de problemas de contaminação e de poluição verificados, eram originados por cemitérios municipais e 25% por cemitérios particulares, com sérios problemas de locação, aspectos construtivos e da falta de uma gestão ambiental. Verificou-se que os impactos ambientais são mais freqüentes em cemitérios municipais, os quais em geral, são implantados ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

3 e operados de forma negligente e, sem adoção de medidas mitigadoras por parte dos municípios. Com o crescimento populacional, os cemitérios hoje estão localizados em regiões centrais, que sofrem desvalorização imobiliária no seu entorno. O que se constata na realidade é a total falta de gestão ambiental dos cemitérios. Entre os cemitérios pesquisados encontramse os cemitérios municipais de São José do Rio Preto (SP), Catanduva (SP) e de Votuporanga (SP), onde apontaram irregularidades no processo de sepultamento e a maneira de se lidar com os resíduos, provenientes da decomposição dos corpos. Segundo a pesquisa, passaram-se 20 anos e a situação permanece a mesma, ninguém cobra o cumprimento das resoluções ou fiscaliza a situação. Por outro lado, a CETESB, instituição paulista responsável por fiscalizar os cemitérios particulares ou municipais, somente entra com pedido de vistoria em um cemitério, se houver uma denúncia com o caso comprovado de contaminação. Portanto, não há uma ação sistematizada ou mesmo esporádica; para fiscalizar seria preciso perfurar o solo e isso seria inviável, visto que seria necessário manter trabalhadores especializados em seu quadro funcional. O órgão ambiental fiscaliza o processo de implantação dos cemitérios, porém após esse período não há mais atuações. Fiscaliza-se o processo, mas não há monitoramento do solo, das águas superficiais e subterrâneas após a implantação, na fase de operação dos empreendimentos. Existem alguns cemitérios construídos dentro das leis ambientais, obedecendo-se toda a legislação vigente, porém ainda a maioria dos casos estudados e referenciados nos trabalhos encontrados, registra-se muitos casos de total abandono, sem nenhuma preocupação com o meio ambiente muito menos com a população e as condições do entorno. É fato de que com a implantação de um cemitério em uma localidade, os impactos ambientais e sanitários tendem a se manifestar, pois altera significativamente o meio em que se está inserido. Com certeza, estes locais não voltarão mais a serem os mesmos, salvo a implantação de sérias medidas de prevenção e de mitigação. 2.1. Contaminação por necrochorume De acordo com Pacheco et. al., (1997), cada corpo decomposto libera até 40 litros de chorume. O processo de putrefação é composto por duas fases principais: gasosa e a coliqüativa. Os gases internos, como o metano provoca o dilaceramento do corpo inumado. Como não há controle, estes gases são lançados ao ar livre, provocando odores que, conforme a velocidade dos ventos pode abranger grandes regiões. Em seguida, inicia-se a produção e a liberação de necrochorume, que pode atingir até 12 litros, durante o período de 1 a 4 semanas. O segundo período do processo possui duração mais longa, de 2 a 8 anos, ocorrendo dissolução pútrida (PACHECO, 1986:25). Desta forma, um determinado local recebendo esta quantidade de líquido infiltrando no solo e, sem nenhuma medida mitigadora ou de prevenção desta contaminação, com certeza se terá sérios problemas. A questão resume-se em não deixar que sejam contaminados o solo, a água e ar. Observam-se pelos estudos dos cientistas e pesquisadores, várias situações problemáticas encontradas pelo Brasil. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

4 Segundo estudos de Matos apud Pacheco (2011), os cemitérios podem atuar como fontes geradoras de impactos ambientais quando sua localização e manejo são inadequados. A decomposição dos corpos depende das características físicas do solo, onde o cemitério está implantado. Podem contaminar os solos e mananciais existentes por microorganismos, que proliferam no processo de decomposição dos corpos. Em virtude do aumento de volume das águas pluviais, quase sempre o processo de transporte do necrochorume é acelerado, ocasionando maior contaminação. Assim surge a necessidade de se construir uma drenagem superficial eficiente de águas pluviais, em toda a área do cemitério, interligando-se com a rede pública na área externa. Devem-se instalar calhas e tubulações, dispostas adequadamente nas áreas internas, coletando as águas superficiais de chuva para fora do perímetro dos cemitérios. A contaminação pode atingir os lençóis freáticos através de necrochorume, líquido liberado pelos cadáveres em putrefação, que também pode conter microorganismos patogênicos. Tratase de uma solução aquosa rica em sais minerais e substâncias orgânicas desagradáveis, viscosa, de cheiro forte e grau variado de patogenicidade. O necrochorume é constituído de 60% de água, 30% de minerais e 10% de substâncias orgânicas, duas delas altamente tóxicas, como a putrescina e a cadaverina. Desde o final da década de 1980, a Universidade de São Paulo, realiza estudos sobre a contaminação nos cemitérios paulistas de Vila Nova Cachoeirinha e Vila Formosa. Detectaram-se principalmente bactérias heterotróficas, proteolíticas e clostrídios sulfitoredutores. Também foram encontrados enterovírus e adenovírus nas amostras. Verificou-se que as principais fontes de contaminação das águas subterrâneas no cemitério são as sepulturas com menos de um ano, localizadas nas cotas mais baixas, próximas ao nível freático. Nestes locais é maior a ocorrência de bactérias em geral. Os vírus podem ter a mobilidade maior que as bactérias. Os vírus foram transportados no mínimo até 3,20 metros da zona não saturada até atingir o aqüífero. A figura 1 ilustra exemplo de vazamento de necrochorume em sepultura de cemitério. Figura 1 Vazamento de necrochorume no cemitério Nova Cachoeirinha em São Paulo (SP) Fonte: Matos & Pacheco, 2000 ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

5 Os corpos podem sofrer dependendo das condições ambientais locais, fenômenos como autólise, putrefação e saponificação. A autólise é iniciada logo após a morte, onde as células deixam de receber oxigênio e de trocar nutrientes e, passam a ser dissolvidas por enzimas do próprio corpo. Em seguida vem a putrefação que é a decomposição dos tecidos e órgãos por bactérias e outros microorganismos. Em locais de solos muito úmidos, ocorre a saponificação, processo em que a quebra das gorduras corporais libera ácidos graxos, que inibe a ação das bactérias putrefativas, atrasando a decomposição dos corpos. O fenômeno ocorre em ambientes quentes e úmidos; é comum nos cemitérios brasileiros, onde há alagamento de sepulturas por águas superficiais e subterrâneas. Constata-se a sua ocorrência no cemitério Tapanã em Belém (PA), onde os prazos para as exumações podem chegar a 8 anos, bem além dos 5 anos, constante na legislação. A saponificação dos corpos pode lotar os cemitérios, cuja rotatividade de vagas fica bastante prejudicada, devido à demora exatamente na exumação dos corpos. Uma das primeiras providências nos cemitérios será a instalação, dos sistemas de poços de monitoramento que deverão ser instalados, conforme norma vigente da ABNT NBR 15495, Poços de Monitoramento de Águas Subterrâneas em Aqüíferos Granulares, estrategicamente localizados a montante e a jusante da área do cemitério, com relação ao sentido de escoamento freático. Os poços deverão ser monitorados e as águas subterrâneas analisadas antes do início da operação do cemitério, para o estabelecimento da qualidade em branco, do aqüífero freático, de acordo com os padrões de potabilidade do Ministério da Saúde, Portaria nº 2914/2011. A figura 2 apresenta um poço de monitoramento de águas subterrâneas. Figura 2 Poço de monitoramento no cemitério São Pedro Curitiba PR Foto: Aniela Almeida do Jornal Gazeta do Povo 11/2010 - Curitiba PR 2.2. Estudo da vulnerabilidade do meio físico de subsuperfície à contaminação ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

6 Como ocorre a contaminação do subsolo? Conforme Silva L., (1995), a contaminação do subsolo inicia-se no processo de deterioração, se houver condições de vulnerabilidade no meio físico. Decorre das características geológica, geotécnica e hidro-geológicas. A filtração mecânica e absorção são os processos mais importantes na retenção de organismos (PACHECO, 1986:28). A eficácia na retenção das bactérias e vírus depende da litologia, da aeração, da redução de umidade, da presença de nutrientes, etc. Esse mecanismo de filtração tem sua maior importância para organismos maiores como as bactérias. Pacheco (1986), em estudo feito em um cemitério da Alemanha, localizado em terrenos de aluvião não-consolidado, observou-se pelas análises químico-bacterológicas realizadas a cada 0,5 m, que a diminuição no número de bactérias somente se inicia a partir de 3,00 m da base do túmulo, havendo uma redução de 97% do número de bactérias a 5,50 m, sendo praticamente nulo destas a 6,00 m. Trata-se de uma constatação muito significativa, pois este estudo comprova que a existência do meio físico favorável, facilita a filtração de bactérias presentes e que, zeram a possibilidade de contaminação das águas subterrâneas. Confrontando-se os estudos destes pesquisadores, verifica-se que independentemente da região onde se encontram os cemitérios, o meio físico geológico existente tem sido o fator determinante para a filtragem dos líquidos da decomposição dos cadáveres. A porcentagem de ideal de argila no solo é na faixa de 20 a 40%, para que os processos de decomposição aeróbica e condições do necrochorume sejam favorecidos. A figura 3 apresenta os níveis de vulnerabilidade do meio físico de subsuperfície em cemitérios. Figura 3 Modelo de níveis de vulnerabilidade do meio físico de subsuperfície em cemitérios (adaptado de PACHECO, 1986) A figura acima apresenta um modelo de níveis de vulnerabilidade do meio físico de subsuperfície, conforme o local de sepultamento e sua relação com a litologia e o nível freático. Pode-se verificar que na situação A, em que o material geológico apresenta média condutividade hidráulica e profundidade do lençol freático acima do recomendado, é considerada de baixa vulnerabilidade de contaminação, favorecendo os fenômenos transformativos destrutivos, sendo assim indicado o processo de sepultamento. Já a situação ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

7 B, em que o material geológico apresenta baixa condutividade hidráulica e o nível freático quase aflorante, é considerada como de extrema vulnerabilidade à contaminação e favorecendo fenômenos transformativos como da saponificação, sendo desfavorável o processo de sepultamento. Na situação C, o processo de sepultamento é desfavorável, devido ao material geológico que apresenta alta condutividade hidráulica e profundidade do nível freático abaixo do recomendado, sendo considerada como situação de alta vulnerabilidade. Segundo a resolução CONAMA nº 335, a condutividade hidráulica do material geológico de cemitérios deve ser entre 10-5 e 10-7 cm/s. Nos terrenos destinados à implantação de cemitérios, a espessura da zona não saturada e o tipo de material geológico são fatores determinantes para a filtragem dos líquidos resultantes da decomposição de cadáveres. Solos com baixa condutividade hidráulica são bons retentores de contaminantes, mas isso faz com que o lençol freático se aproxime da superfície rapidamente, entrando diretamente em contato com as sepulturas ou camadas contaminadas do solo. Resta analisar os diversos fatores e propor soluções e medidas de monitoramento e de mitigação, para a administração dos cemitérios existentes em solos desta natureza. 2.3. Risco de contaminação da água subterrânea A ocorrência da contaminação das águas subterrâneas está interligada à eficiência de filtragem físico-química do solo, atividades resultantes da ação do homem passíveis de contaminação, medições no controle ambiental das áreas cemiteriais. A seguir se apresenta um modelo de quatro situações de sepultamento e seus respectivos riscos à contaminação da água subterrânea, pela pluma de contaminante, conforme o local de sepultamento e a relação dos materiais geológicos, profundidade do nível freático e os aspectos ambientais externos ao meio físico, como rachaduras em jazigos, que são comuns em cemitérios. Na situação A observa-se uma lenta condução do contaminante devido à média condutividade hidráulica do material geológico, das características geossanitárias do material argiloso, aliado à profundidade do nível do lenço freático favorável, onde o contaminante é interceptado na zona não saturada, sendo assim classificada como situação de médio risco à contaminação da água subterrânea. Já na situação B, o túmulo está situado sob o nível freático podendo ser inundado; como os túmulos não são impermeáveis, considera-se essa situação de extremo risco. Na situação D há um risco grave de condução do contaminante a profundidade maior, devida a sua alta condutividade hidráulica, aliada à baixa profundidade do lençol freático, considerando-se, portanto de situação de alto risco; para resolver esse tipo de situação objetivando a diminuição do risco à contaminação da água subterrânea, a resolução CONAMA nº 355 exige o sepultamento acima do nível natural do terreno, conforme apresenta a situação C. Com a apresentação deste perfil geológico, torna-se fácil o entendimento das situações, que se pode encontrar nos cemitérios das diversas regiões do país. A figura 4 apresenta este modelo de perfil de solo, quanto aos riscos e a condutividade hidráulica. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

8 Figura 4 Modelo de risco à contaminação da água subterrânea (adaptado de PACHECO 1986) 2.4. Risco de contaminação da água superficial Em cemitérios em que o terreno está repleto de túmulos e onde o sistema de drenagem das águas pluviais é deficiente, estas podem escoar superficialmente e inundar os túmulos existentes. As águas pluviais têm destinação na rede pública sob o pavimento das ruas e canalizadas para os corpos de água mais próximos, contaminando-os com substâncias trazidas do interior dos cemitérios. Para minimizar este problema a Resolução nº 355 do CONAMA, estabelece que a área de sepultamento deve-se ter um recuo mínimo de 5 m em relação ao perímetro do cemitério. Entende-se que esse recuo deve ser ampliado se as características do solo da área forem desfavoráveis, como permeabilidade reduzida, distância inadequada em relação ao nível do lençol freático e outras. Constata-se que a resolução CONAMA nº 368/2006, não contempla recuos em construções fora do perímetro dos cemitérios, em relação a estes. A maioria dos cemitérios estudados está bem aquém do estabelecido pela Resolução, não obedecendo aos parâmetros preconizados. 2.5. Situação atual dos cemitérios brasileiros Segundo identificou Silva L., (2011), cerca de 70% dos cemitérios públicos brasileiros têm problemas de ordem ambiental e sanitária. Chegou-se a esta conclusão, após levantamento onde se reuniu dados de mais de mil cemitérios do país, entre públicos e privados. O pesquisador, que é professor da Universidade de São Judas, explica que os problemas começam na superfície, com a proliferação de animais vetores de doenças e, continuam no subsolo, com a contaminação do lençol freático. Se o necrochorume escapa do túmulo, ele pode entrar em contato com o lençol freático, criando-se uma mancha de poluição que atinge quilômetros de distância podendo contaminar poços e mananciais, como ocorre em alguns ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

9 municípios da região norte do país. Em décadas anteriores não havia a preocupação de se observar os critérios geológicos para construção de cemitérios. A escolha dos terrenos para a implantação de cemitérios deveria considerar os mesmos critérios dos aterros sanitários, com o lençol freático profundo, distantes de centros urbanos e de corpos de água, como rios, córregos e lagos. Os aterros sanitários quando saturados são desativados, porém com os cemitérios o tratamento é outro, depois de algum tempo os ossos são removidos e outro corpo é inumado no mesmo local. Os cemitérios constituem-se portanto de fonte renovável de contaminação, pois estes não costumam ser desativados. Um diagnóstico ambiental dos locais de enterro já existentes e, a observação de critérios geológicos para a implantação de novos cemitérios são algumas medidas para amenizar a situação das contaminações. A pesquisa desenvolvida por Silva L., (2011) resultou no desenvolvimento de substâncias capazes de neutralizar o necrochorume, reduzindo o nível de contaminação. A grande meta é não permitir que o líquido extravase. Para tanto, foi criada uma espécie de colchão a ser colocado na sepultura, o qual possui um líquido que elimina os efeitos dos poluentes. Existe também uma substância que lava o subsolo retirando o necrochorume. O geólogo destaca ainda a necessidade de uma legislação mais específica, que oriente a construção de lajes e paredes de contenção e obrigue uso de substâncias neutralizadoras do necrochorume. Segundo estudos de Braz et. al., (2000) no cemitério São José em Belém (PA), mais conhecido como Benguí, em 1995, pessoas da comunidade denunciaram ao Ministério Público, de que existia contaminação de águas subterrâneas e superficiais, na área periférica ao cemitério. Após vários ensaios e estudos executados comprovou-se que realmente havia contaminação e, em 1997 este cemitério foi desativado e lacrado para novos sepultamentos. Verificou-se também que o cemitério fora implantado em local de antiga extração de minério classe II, resultando, portanto, em presença de lençol freático bem próximo à superfície. Em 2000 ainda foram encontrados níveis elevados de contaminação, permanecendo o risco de ocorrência de doenças à população local, que utilizam água captada de poços rasos, nas proximidades do cemitério. O fato comprova a importância de monitoramento das águas subterrâneas e superficiais, nas áreas de implantação de cemitérios mesmo após a sua desativação. Conforme relata Martins, C., (2004) nenhum dos 8 cemitérios de Cuiabá (MT) possui licença ambiental de acordo com a Resolução nº 335; apenas 2 cemitérios são efetivamente monitorados através de poços. A situação dos 25 cemitérios situados em zona rural são as mais críticas, que estão situados próximos aos mananciais existentes e, que já deveriam estar interditados há muito tempo. Comparando-se o trabalho de vários pesquisadores, os problemas existentes nos cemitérios são análogos e de difícil resolução, pois observa-se que os mesmos estão abandonados há muito tempo e, a intervenção dos especialistas quase sempre acontece, quando estes locais já estão em colapso e apresentando grave problema para a população do seu entorno. As figuras 5 e 6 mostram a situação caótica de alguns cemitérios pesquisados neste artigo. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

10 Figura 5 Cemitério Tapanã Belém (PA) Foto: Portal ORM 11/2012 - http://noticias.orm.com.br/noticia Figura 6 Descaso no cemitério Nossa Senhora da Piedade em Cuiabá (MT) Foto: Telma Couto da Silva g1.globo.com/mt - 02/2013 TV Centro América Uma constatação interessante, segundo Lastoria (2002) na cidade São Paulo existe uma condição hidrogeológica diferente de Campo Grande (MS), porque se localiza em uma bacia sedimentar em que o embasamento está mais próximo à superfície e, por isso mais desfavorável, aumentando a preocupação quando se refere aos solos. Nestas situações, a geologia, o tipo de solo e a topografia são agravantes. O mesmo acontece devido às condições naturais em Bonito (MS), tornando-a adversa, pois há o relevo cárstico, ou seja, formado por rochas calcárias o que a torna desfavorável, onde a espessura do solo é muito pequena. Assim, se as sepulturas são executadas diretamente no solo, sem nenhuma camada de proteção, o problema pode se agravar. Um fator que é muito preocupante é o nível do lençol freático em Bonito que, está há apenas 1,86 m de profundidade da superfície do terreno, no período final da época das chuvas. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

11 No estado de São Paulo, a USP, investigou a influência dos cemitérios na contaminação dos aqüíferos livres no Cemitério Vila Formosa (segundo maior do mundo) e Vila Nova Cachoeirinha, na cidade de São Paulo e o Cemitério de Areia Branca, na cidade litorânea de Santos. Concluiu-se que há um comprometimento sério, relativo à contaminação do subsolo, nas cercanias daquelas necrópoles. Observou-se também a presença de radioatividade num raio de duzentos metros das sepulturas, provenientes da radioterapia ou dos que receberam marca-passos cardiológicos em vida. Na avaliação da ocorrência e do transporte de microorganismos no aqüífero freático do Cemitério Vila Nova Cachoeirinha, no município de São Paulo, a pesquisa de indicadores demonstrou a presença, de várias bactérias e também enterovírus e adenovírus, que são vírus potentes que causam doenças graves, como a meningite e a poliomielite paralítica, sendo que as crianças são as mais susceptíveis às infecções. Já Terra et. al., (2008) avaliaram o impacto do necrochorume nas águas subterrâneas do cemitério de Santa Inês, na cidade de Vila Velha (ES). Das análises físico-químicas realizadas constatou-se a presença de compostos nitrogenados em índices elevados. No caso da amônia, que indica poluição recente, refere-se ao primeiro estágio da matéria orgânica. Os riscos dessas contaminações para a saúde pública implicam em problemas como a metahemoglobinemia, malformações congênitas e cânceres gastrointestinais. Já para análises bacteriológicas, há indícios de alto grau de contaminação por microorganismos, visto que foram encontrados concentrações acima do estabelecido pela legislação brasileira. Segundo Lussi et. al., (2011), o cemitério municipal de Sinop (MT) encontra-se em uma região de condutividade hidráulica classificada como de moderadamente rápida a muito rápida. Este fator é preocupante, pois se constata valores de condutividade hidráulica de até 45,05 cm/h, em desconformidade com a legislação pertinente. Uma proposta de solução seria a verticalização do cemitério, devido ao lençol freático ser próximo da superfície do terreno, ou a escolha de uma nova área para o cemitério que se enquadre conforme a legislação. Verifica-se dessa forma que, conforme constatado por Lastoria (2002) em Sinop (MT) apresenta o mesmo problema da cidade de Bonito (MS), onde o lençol freático se situa bem próximo da superfície do terreno do cemitério. Conforme estudos de Reis et. al., (2012), o não atendimento aos quesitos legais de licenciamento ambiental de cemitérios é uma realidade em todos os municípios do Norte Pioneiro do Estado do Paraná, inclusive quanto ao cemitério municipal de Bandeirantes (PR); segundo estudos, o relevo planialtimétrico deste cemitério sugere que um grande número de sepultamentos, nos últimos 60 anos, ocorreu em área de alta e extrema vulnerabilidade ambiental. Pelos estudos realizados em vários municípios do Brasil, constatou-se que na maioria dos casos estudados, os problemas apontados são bem semelhantes, ou seja, os cemitérios estão localizados em áreas impróprias, em condições geológicas desfavoráveis e, os ensaios físico-químicos apresentaram algum grau de contaminação e, portanto fora dos padrões da legislação vigente. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

12 Alguns trabalhos reportam os resultados do monitoramento de cemitérios no Brasil: Pacheco et. al., (1999) cidades de Santos e São Paulo (SP); Matos (2011) São Paulo (SP); Pequeno Marinho (1998) Fortaleza (CE), além de outros autores citados neste artigo. A análise crítica destes resultados em conjunto com os parâmetros recomendados para controle pelas legislações da CETESB (1999), e da Agência Britânica (2002) e mencionada pela Organização Mundial de Saúde (1998), permite identificar como indicadores químicos e biológicos mais importantes para o monitoramento de cemitérios, as seguintes análises de amostras de água: ph (em geral observa-se uma tendência de aumento); Condutividade elétrica específica CEE (aumento devido à presença de sais na solução); Íons: Cl-, carbonatos (HCO3-; CO3=); Ca2+; Nitrogênio e Fósforo (os monitoramentos não detectaram aumento nestes parâmetros); Dureza (ou Alcalinidade) (observado aumento); Alguns metais pesados, em particular ferro, Cromo total (não analisados); DQO (Demanda Química de Oxigênio), DBO5 (Demanda Bioquímica de Oxigênio); Carbono Orgânico Total (COT) (como parâmetro indicador de compostos orgânicos); Bactérias heterotróficas (todos observaram aumento); Bactérias proteolíticas (todos que analisaram encontraram presença significativa); Bactérias lipolíticas (idem); Clostrídios sulfito-redutores (idem); Coliformes Totais (presentes em todos, porém maiores valores em locais sem saneamento); Coliformes Fecais (presentes em parte das amostras, também maiores valores em locais sem saneamento). 3. Monitoramento e medidas mitigadoras Comparando-se os trabalhos de vários autores, há um consenso de que existe a necessidade de monitoramento contínuo de solos, das águas de superfície e de subsuperfície dos cemitérios, pois os mesmos configuram fontes potenciais de contaminação. Verifica-se a necessidade urgente em se implantar poços de monitoramento do nível hidrostático, de acordo com norma vigente ABNT NBR 15495 Poços de Monitoramente de Águas Subterrâneas em Aqüiferos Granulares, estrategicamente localizados a montante e a jusante da área do cemitério, com relação ao sentido de escoamento freático; com análise físico-química da águas efetuadas, com os padrões estabelecidos de potabilidade, de acordo com a Portaria 2914/2011 do Ministério da Saúde. Muito se discute sobre a conservação do meio ambiente, dos mares, dos rios, lagos e nascentes, porém verifica-se que pouco se discute sobre as águas subterrâneas, que são consumidas no mundo através de poços tubulares, poços rasos e nascentes. Na prática verifica-se facilmente esta realidade, onde no caso de ocorrência de acidentes em rodovias, por exemplo, o órgão ambiental local trabalha rapidamente para a contenção de combustíveis e outros produtos químicos, evitando-se o seu espalhamento e contaminação de córregos e nascentes próximos. Por que as águas subterrâneas para o consumo humano, não recebem o mesmo tratamento? O desastre ambiental no caso de contaminação não é o mesmo? Acredita- ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

13 se que se trata de negligência por parte dos municípios e da população em geral, na falta de cobrança aos órgãos competentes do meio ambiente, para o monitoramento regular e a fiscalização sistêmica dos poços subterrâneos, situados no entorno dos cemitérios e outros locais, como aterros sanitários, lixões, etc. Além da implantação de poços de monitoramento, os jazigos para inumação de cadáveres deverão ser construídos de forma que o efluente líquido ou gasoso, não infiltrem para a área externa. A escolha do local a ser implantado em caso de ampliação e de novos cemitérios é muito importante, devendo ser o mais distante do lençol freático, com solo favorável e, se possível em área que não seja urbana, ser longe de captação de água para consumo humano e local de dessendentação de animais. Executar a impermeabilização de solo com coleta de necrochorume para tratamento em lagoas apropriadas; canalização de enxurradas na área do cemitério através de tubulações e calhas apropriadas; incineração de todo material utilizado no interior dos cemitérios. A informação mais importante a ser considerada é a profundidade do topo do aqüífero, ou seja, o nível hidrostático, onde é exigida uma distância mínima do nível inferior das sepulturas ao topo do lençol freático, de pelo menos 1,50 m acima do mais alto nível freático, medido no final da estação das cheias. Esta medição somente será possível se houver poços de monitoramento nos cemitérios. As providências citadas são de suma importância e, que não ofereceria maiores ônus aos cemitérios municipais, uma vez que, normalmente as prefeituras já mantem pessoal lotado para a lida diária nestes locais. Seria necessário somente treinar adequadamente estes funcionários, através de convênios com órgãos estaduais de meio ambiente e, eventualmente com técnicos contratados para ministrar as formações e elaborar um cronograma, com os procedimentros necessários para o monitoramento dos poços. Segundo Silva L., (2010) sem mecanismos e monitoramento de proteção ao lençol freático, 115 cemitérios da região de São José do Rio Preto (SP), ameaçam a água do subsolo. Seria necessário descontaminar a área, por meio de produtos oxidantes aplicados em perfurações de até 5 metros e, construir pequenas bacias no fundo das covas, para o necrochorume não escorrer para a terra. Conforme dados da prefeitura de Votuporanga (SP), o investimento para se adequar cada túmulo às normas, custa de R$1000,00 a R$2500,00, dependendo do tamanho do jazigo. Existem 7000 sepulturas construídas antes de 2003 e, pelo ritmo do trabalho empregado neste cemitério, levaria 58 anos para a sua conclusão, ao custo de mais de 12 milhões de reais. São números assombrosos e totalmente inviáveis, para a execução efetiva dos trabalhos de adequação naquele município. Os dados descritos são de abril de 2010. A adequação dos cemitérios à Resolução nº 355, entre outras coisas deve observar a distância do lençol freático, conforme já citados neste artigo, a instalação de filtros biológicos, através de microorganismos capazes de tratar o necrochorume e, outras formas de cumprir as exigências ambientais; a utilização de pastilhas contendo uma imensa quantidade de bactérias selecionadas, que possuem alta capacidade de digerir matéria orgânica. Essas bactérias vêm em forma de esporos e são ativadas gradativamente na medida em que entram em contato com líquido contendo o necrochorume. Estas pastilhas são colocadas dentro da urna funerária, ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

14 na região lombar e, na medida em que o corpo vai liberando o necrochorume, elas são ativadas e vão digerindo essas substâncias. Outro produto eficiente utilizado é a manta absorvente de necrochorume. É fabricada com um plástico resistente e possui uma camada de celulose e um pó que em contato com líquido se transforma num gel. Nas bordas possue um fio de náilon que na ocasião da exumação ele é puxado e transformado a manta num saco de ossos. É colocada dentro de uma urna revestindo todo o seu interior e na medida que, o corpo vai liberando líquidos, a celulose vai absorvendo impedindo que o mesmo extravase e fazendo com que ele permaneça na urna pelo tempo necessário à decomposição sem contaminar a urna, a sepultura e o meio ambiente como um todo. No município de Conchal (SP), a prefeitura somente autoriza os sepultamentos, se os corpos estiverem acondicionados em invólucros protetores, que evita o vazamento do chorume. No caso de famílias carentes e indigentes, pode-se requerer gratuitamente, através de pedido ao departamento de promoção social. O mesmo acontece em Rio Branco do Sul (PR), sendo que neste município, a prefeitura disponibiliza gratuitamente a toda a população, os invólucros para o sepultamento. Constata-se outros municípios que se utilizam de invólucros semelhantes para sepultamentos: Laguna (SC), Barra do Bugre (MT), Fortaleza (CE) e São Lourenço do Oeste (SC). O custo unitário médio de um invólucro para adulto é de R$50,00, conforme consulta efetuada à empresa Invol (preço base: outubro/2014). A figura 7 apresenta este modelo de invólucro retentor e absorvedor para sepultamentos, testado e aprovado pelo Instituto de Tecnologia do Paraná. 4. Discussões e resultados Figura 7 Exemplo de invólucro absorvedor e retentor de necrochorume Foto: Invol Ambiental - Campo do Tenente PR Uma alternativa encontrada em algumas cidades do Brasil são os cemitérios verticais. São prédios de dois ou mais pavimentos que oferecem lóculos ou gavetas, para o sepultamento e que devem dispor de sistema de inativação dos gases do necrochorume e sistema de vedação para que estes gases não cheguem às áreas comuns de visitantes e funcionários. Os cemitérios verticais possuem, além de lóculos, crematório, ossário e cinerário. A maioria utiliza o ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

15 sistema de tratamento do necrochorume, com a decomposição que acontece na presença de ar, evitando-se a produção de líquidos; os gases seguem para um inativador de gases contaminantes, conforme apresenta a figura nº 8. Figura 8 Modelo de inativador de gases em cemitério vertical Foto: Valfer Tecnologia - Cemitérios ecológicos Jundiaí SP Segundo o fabricante, a utilização deste inativador permite a construção de cemitérios verticais, com baixo custo e ecologicamente corretos. A manutenção e o cuidado destes sistemas devem ser constantes, pois qualquer vazamento gera transtornos sociais e ambientais. O maior cemitério vertical do mundo está na cidade de Santos (SP); trata-se do Memorial Necrópole Ecumênica, que foi criado em 1983 e possui mais de catorze mil lóculos, distribuídos em catorze andares. A figura 9 apresenta este cemitério vertical de Santos (SP). As figuras 10 e 11 apresentam respectivamente, exemplo de lóculos em andares e o cemitério vertical de Curitiba (PR). Figura 9 Cemitério vertical de Santos (SP) Foto: Memorial Necrópole Ecumênica ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

16 Figura 10 Lóculos do cemitério São Miguel e Almas em Porto Alegre RS Foto: http://interfacepinduca.wordpress.com/2013/06/27/lugar-para-morrer-2-porto-alegre/ Figura 11 Cemitério vertical de Curitiba PR Foto: Universal Necrópole Ecumênica de Curitiba A grande vantagem dos cemitérios verticais é o fato de ser uma alternativa para a necessidade das cidades, em virtude do crescimento populacional, além de ser uma opção ecologicamente correta, por não poluírem o meio ambiente, o solo e o lençol freático. Também em cemitérios implantados em parques, o controle pode ser eficiente e ecologicamente correto, como no caso do cemitério Parque São Pedro de Curitiba (PR), onde o grande diferencial é uma estrutura composta por poços de monitoramento e uma malha de drenagem profunda que abrange os seus 120000 m 2 de área. Através do sistema, o necrochorume é drenado para um filtro biológico. A cada seis meses, as águas subterrâneas são analisadas em atendimento às normas vigentes. Outro bom exemplo vem do cemitério metropolitano Parque das Allamandas de Londrina (PR), inaugurado em 2011, onde o jazigo na área mais baixa do cemitério está a 7,50 metros distantes do lençol freático, cinco vezes maior do que a exigida em lei. Além disso, todo o terreno é revestido por uma manta com lastro de brita, que serve como filtro natural; contém ainda seis poços de monitoramento distribuídos nos seus 72000 m 2. É o único cemitério completamente adequado às normas, dos sete existentes na área urbana do município. ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

17 Outra possível solução discutida e aceita por estudiosos poderia ser a cremação. A cremação é um processo eficaz na destruição de micróbios. Segundo Mariath (1995, p.15) a cremação apresenta a grande vantagem de destruir os microorganismos patogênicos e seus esporos, agentes das moléstias infecciosas, concorrendo para o desaparecimento das epidemias. Um dos inconvenientes pode-se citar que no caso de necessidade de posterior exumação, por exemplo, num processo de investigação ou identificação, já não é possível. Outra grande polêmica é a questão religiosa, onde algumas denominações, não aprovam a cremação de corpos. Um crematório é um forno que reduz cadáveres a cinzas, submetendo os corpos a temperaturas altíssimas de até 1000 C. Em alguns países a cremação chega a superar os enterros, enquanto que no Brasil apenas cerca de 5% dos cadáveres são cremados. Os pesquisadores concordam que a cremação seria a solução mais adequada, para a preservação do meio físico. Eles avaliam, no entanto, que a questão cultural é o principal empecilho, para o uso desta técnica. Pode-se citar como desvantagens da utilização dos crematórios, a queima de árvores; somente na Índia, 50 milhões de árvores são cortadas anualmente, lançando na atmosfera 8 milhões de toneladas de dióxido de carbono. Estima-se que no Reino Unido, 25% das emissões de mercúrio, são provenientes da queima de obturações dentárias em crematórios. Entretanto, se os crematórios forem providos de filtros para a coleta de resíduos de gases exalados, constituem-se em uma boa alternativa para a destinação final de corpos. A figura 12 apresenta um modelo de forno de cremação de corpos. Figura 12 Modelo de forno para cremação de corpos Foto: Memorial Guararapes Jaboatão dos Guararapes PE O setor funerário tem investido em novas tecnologias para reduzir cada vez mais os impactos da despedida. Um exemplo é cremação criada pela empresa escocesa Resomation Ltd, que oferece uma mistura de água em alta temperatura e hidróxido de potássio. O corpo é colocado em uma cápsula que, em seguida, é preenchida com o líquido alcalino. De duas a três horas depois, restam apenas os ossos, transformando em pó e entregue à família. A vantagem fica na ausência de emissões de gases do efeito estufa e do mercúrio emitido pela queima de próteses dentárias. Também utiliza 80% menos de energia que a cremação regular. A água restante do processo segue para estações municipais de tratamento e retorna ao ciclo hidrológico. Até agora, o processo foi aprovado para ser utilizado em alguns estados ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

18 americanos e países europeus. A figura 13 apresenta um modelo de equipamento de ressomação. Figura 13 Modelo de equipamento utilizado na ressomação de corpos Fonte/foto: Mother Nature Network www.mdig.com.br/index.php?itemid=9088#ixzznhlqhqp1 5. Conclusão Como resposta para os questionamentos conclui-se que no Brasil não há controle na construção de cemitérios, pois os governantes empurram o problema, o Estado aos órgãos ambientais e estes ao municípios, que não possuem recursos humanos e financeiros para fiscalizar e monitorar. Desta forma, respondendo ao questionamento da situação atual dos cemitérios no Brasil, constatou-se que se apresenta bastante precária, com problemas graves de localização dos cemitérios existentes e, que poucas medidas de prevenção e de monitoramento estão sendo executadas. Após a resolução CONAMA de 2003 foi estipulado um prazo de 180 dias para adaptação dos cemitérios existentes, porém não ocorreu quase nenhuma ação significativa nos cemitérios pesquisados. Constata-se também que os órgãos ambientais, segundo vários autores pesquisados, atuam na fase de processo de licenciamento e implantação dos cemitérios, porém não fiscaliza os empreendimentos em operação. Cita-se o exemplo absurdo do município de Joaçaba (SC), onde o Ministério Público colocou o órgão estadual de meio ambiente (FATMA) como ré, em ações movidas contra o município, pela ausência de fiscalização deste órgão. O caso mais grave ocorre no cemitério frei Edgar, devido o mesmo se localizar muito próximo do rio do Peixe, naquele município. Será que os cemitérios não merecem uma política pública específica, uma equipe multidisciplinar que pudesse levantar, avaliar, diagnosticar, planejar e propor alternativas, para o enfrentamento destes diversos impactos e para a busca de uma sustentabilidade ambiental? Na busca incessante de respostas às situações degradantes que se encontram as necrópoles, foram nulos autores que descrevem uma boa atuação destes órgãos. Pelo ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015

19 contrário, a atuação dos órgãos ambientais são omissas em alguns estados, na questão dos cemitérios. É notório que as resoluções não são obedecidas em sua totalidade, além do que as medidas mitigadoras e o controle do necrochorume são tímidas e pontuais, não representando portanto, nem de longe, o universo dos cemitérios pesquisados. Acredita-se que não existam soluções a médio e a longo prazos, seja, pela falta de ação e fiscalização dos órgãos ambientais, pelo elevado custo em projetos e adequações. O cenário vislumbrado pelo trabalho de pesquisa, mostrou-se bastante sombrio na solução da gestão ambiental dos cemitérios. Nota-se que deve haver uma intervenção maciça do poder público federal, realizar um verdadeiro mutirão nacional de estudos e adequações, juntamente com os órgãos estaduais de meio ambiente e das prefeituras. Deverá disponibilizar recursos técnicos e financeiros, além de investir e incentivar pesquisas e novas tecnologias, para recuperação de áreas já degradadas e colapsadas, que são os cemitérios contruídos antes de 2003. A exemplo das verbas destinadas às áreas da educação e da saúde, o governo federal deverá repassar uma percentagem dos recursos, para a gestão ambiental dos cemitérios municipais de todo o país. Chega-se à conclusão de que algumas alternativas como já debatido anteriormente, seriam a implantação de cemitérios verticais e crematórios, pela iniciativa privada ou sob concessão, devido ao seu alto investimento. São estruturas dotadas de mecanismos que impedem que o necrochorume entre em contato diretamente com o solo e, assim evitando-se a poluição dos lençois freáticos, não comprometendo a qualidade das águas. Para os cemitérios convencionais, comparando-se os estudos de diversos autores pesquisados, a questão de contaminação por necrochorume e, as tratativas para a solução são muito parecidas, especificamente no trinômio inseparável: cemitério-meio físico-necrochorume. Pode-se resumir como boas práticas também, por escolha correta do local do cemitério, solo geologicamente favorável e o tratamento adequado dos resíduos gerados. Surpreendentemente verificou-se que não existe uma norma internacional específica de meio ambiente que versa sobre cemitérios, pelo baixo interesse das autoridades ambientais dos países. No Brasil verifica-se que existe maior acompanhamento por contaminação de postos de combustíveis, indústrias em geral e dos aterros sanitários, em detrimento dos problemas de contaminação nos cemitérios, mais especificamente de solos e aqüiferos. Entende-se que a fiscalização dos locais citados também são necessárias, porém espera-se uma atenção maior na fiscalização dos cemitérios, pelos efeitos altamente nocivos detectados. Nota-se que, em muitos casos pesquisados não existe monitoramento pelos órgãos municipais e, as pesquisas de contaminação contratadas muitas vezes não são conclusivas, além de não sofrerem uma fiscalização sistêmica. Muitos cemitérios estão em completo abandono com superlotação e a falta de vagas para novos sepultamentos, notadamente em alguns municípios pesquisados na região norte do país, ao ponto do agendamento para sepultamento ser de até 48 horas em algumas localidades. Embora a resolução do CONAMA preveja o licenciamento dos cemitérios desde 2003, a regularização pouco avançou no país, mesmo com a resolução de 2008, poucas providências ISSN 2179-5568 Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Edição nº 10 Vol. 01/ 2015