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Transcrição:

CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA EMENTA: ATO PERICIAL É ATO MÉDICO. O PERITO- MÉDICO-LEGISTA SUBJUGA-SE AOS PRECEITOS LEGAIS QUE REGEM A MATÉRIA A SER EXAMINADA. O PERITO-MÉDICO-LEGISTA DEVE OBEDIÊNCIA AOS PRECEITOS ÉTICOS DA MEDICINA. O TRABALHO DESEMPENHADO PELO MÉDICO LEGISTA É DE NATUREZA MÉDICO-PERICIAL E NÃO POLICIAL. ORIGEM: SOCIEDADE BRASILIENSE DE MEDICINA LEGAL Referência: Protocolo CFM Nº 5983/96 INTERESSADO: J. R. S. M. F. - PRESIDENTE PARECER Nº 163/97 do Setor Jurídico Aprovado em Reunião de Diretoria do dia 16/7/1997. PARECER A Sociedade Brasiliense de Medicina Legal encaminha expediente a este Conselho Federal de Medicina, solicitando informações acerca do trabalho do médico legista. O quesito ora formulado cinge-se em questionar se o trabalho do médico legista é de natureza médica ou policial. suscitado. Este Setor Jurídico foi instado a pronunciar-se sobre o assunto Objetivando melhor fundamentar o questionamento ora ventilado, resolvemos por bem discorrer sobre o assunto, albergando aspectos relativos ao médico-perito. I - Perícia Médica A finalidade da perícia médica adveio da necessidade de orientar e esclarecer dúvidas eventuais que necessitem de conhecimentos técnicos ou científicos, para que os resultados venham a ser justos. Os ensinamentos de Gagli merecem difusão, quando define perito: Perito, de fato, é aquele que, por capacidade técnica especial, é chamado a dar o seu parecer sobre a avaliação de uma prova. Tratando-se de um juízo científico, não pode ele variar conforme a finalidade ou o interesse da parte que oferece a perícia. (La Perizia Civile, pág. 10, nota 2) Certo é que o seu saber científico, a sua proficiência ou os seus conhecimentos técnicos especializados, bem como a condição de ser médico, são obrigatórios ao perito, como bem determinam o artigo 145, caput e parágrafos primeiro e segundo, do Código de Processo Civil, verbis:

Art. 145 - Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico o juiz será assistido por perito, segundo disposto no art. 421. Parágrafo Primeiro - Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capitulo VI, seção VII, deste Código. Parágrafo Segundo - Os peritos comprovarão sua especialidade na matérias sobre que deverão opinar, mediante certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos. (grifo nosso) II - Requisitos básicos que devem possuir os perito-médico-legistas para executarem uma perícia médica O perito-médico-legista, de antemão, deverá ter habilitação legal, ou seja, ser devidamente inscrito no seu órgão fiscalizador e possuir vasta formação clínica como bem determina o supratranscrito artigo 145 do Código de Processo Civil. Além dos conhecimentos específicos do profissional, junge-se a necessidade de o perito deter domínio técnico, bem como possuir noções da legislação pertinente à matéria examinada. Em suma, os requisitos básicos que deve possuir o peritomédico-legista são a habilitação legal (diploma do curso e registro no CRM); a formação clínica (curso superior de medicina); e o domínio técnico (especialização). III - Ato pericial é ato médico O ato do perito-médico-legista é um procedimento médico, que objetiva esclarecer os fatos duvidosos ou controvertidos sub judice, utilizando-se o médico, para tanto, de seu vasto conhecimento científico e sua capacidade técnica, respeitando, contudo, a disciplina legal e administrativa. Os peritos, com supedâneo em seus conhecimentos técnicos específicos, avaliam e emitem conclusões sobre o que examinam. A perícia é composta de duas partes: uma elucidativa ou descritiva, e outra conclusiva. Ela não se atém apenas à descrição da inspeção técnica, consiste num raciocínio do perito em função daquilo que está em análise, quando emitirá um verdadeiro juízo do fato - a conclusão, agindo quase que nas vestes do Pretor, pois, é o mesmo, compromissado no juízo da causa que atua, para esclarecer a verdade. Dentre as obrigações e deveres do médico-perito, estão manter a boa técnica e respeitar a disciplina legal e administrativa, bem como ser justo para não negar o que é legítimo. Deve rejeitar pressões de qualquer natureza ou origem, fontes estas que procuram interferir em seu ofício. 2

Respeitadas a lei e a técnica, o médico-perito deve responder conforme a sua consciência, mantendo-se independente para evitar ingerências que possam ocasionar ou induzir ao erro. Assim, como o perito-médico-legista é primordialmente um médico, deverá, em princípio, atentar para as disposições do Código de Ética Médica, às Resoluções dos Conselhos Federal e Regional, bem como para a lei que regula o exercício da medicina, consubstanciando-se, aqui, a natureza médica do ato pericial. médico. Ex positis, resta demonstrado que o ato pericial é um ato Ademais, a ilação acima esposada fortifica-se quando a legislação vigente requer o seu registro junto ao Conselho Regional de Medicina. Assim, resulta inconteste a subordinação deste profissional à corporação competente para fiscalizar o exercício da profissão médica. Portanto, quando o perito-médico-legista pratica um ato pericial, está praticando um ato médico. IV - O Médico-Perito sujeita-se aos princípios éticos da medicina Como o ato pericial é um ato médico, o perito-médico-legista está sujeito ao poder disciplinar dos Conselhos de Medicina. Quando a Administração tem notícia da prática de delito administrativo, o administrador público procederá obrigatoriamente à apuração dos fatos e à promoção da respectiva responsabilidade, aplicando ou propondo a aplicação das penalidades cabíveis, obedecidos ainda todos os requisitos formais-legais no seu processamento, especialmente o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ele inerentes. Assim, compete aos Conselhos de Medicina a fiscalização do exercício profissional dos médicos, conforme preceitua a Lei 3.268/57, em seu artigo 2º, verbis: O Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são órgãos supervisores da ética profissional em toda a República e, ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo prefeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente. Dessa feita, deverão os Conselhos de Medicina promover a sindicância para que sejam averiguados os fatos que levaram o profissional a se abster de cumprir aquilo que lhe foi designado como dever. Comprovada a ausência de motivo legítimo (como determina o inciso II do artigo 424 do Código de Processo Civil), deverá ser instaurado o respectivo Processo Ético-Profissional, com capitulação nos artigos 4º, 45 e 142 do Código de Ética- 3

Ética-Médica, bem como por desobediência à Resolução CFM nº 672/75. Ademais, a legislação vigente preconiza que o médico-perito deverá ser julgado pela corporação profissional competente, o que corrobora a nossa ilação de que o ato pericial é um ato médico, tendo em conta que os conselhos de fiscalização profissional podem julgar os médicos tão somente quando no exercício da profissão. Assim dispõe o artigo 424 do Código de Processo Civil, em sua nova redação dada pela Lei 8.455/92, in verbis: Art. 424 - O perito pode ser substituído quando: I - carecer de conhecimento técnico ou científico; II - sem motivo, deixar de cumprir o encargo no prazo que lhe foi assinado. Parágrafo único - No caso previsto no inciso II, o juiz comunicará a ocorrência à corporação profissional respectiva, podendo, ainda, impor multa ao perito, fixada tendo em vista o valor da causa e o possível prejuízo decorrente do atraso no processo. (negritamos). É cediço que o preceito legal acima transcrito traduz a intenção do legislador em delegar aos Conselhos de Profissionais Liberais poderes para apuração dos fatos, através do devido processo legal e a respectiva aplicação da pena. V - O médico perito sujeita-se aos princípios legais que regem a matéria a ser examinada Este item merece ser analisado com uma certa cautela, pois o médico, além de dever se submeter aos princípios éticos da medicina e à lei que regulamenta a profissão, estará também sujeito aos dispositivos legais de que tratam a matéria a ser examinada, bem como à lei processual. O médico-perito ao ser nomeado pelo Juiz e aceitando o encargo, investe-se automaticamente em função pública, subordinando-se às obrigações e aos preceitos que norteiam a administração pública, como bem elucida Humberto Theodoro Júnior, em sua obra Curso de Direito Processual Civil 1, in litteris: Uma vez nomeado pelo Juiz, o perito, aceitando o encargo, investe-se, independentemente de compromisso, em função pública e assume o dever de cumprir o ofício, no prazo que lhe assina a lei, empregando toda a sua diligência (art. 146). Permite o Código, todavia, que o perito se escuse do encargo desde que alegue motivo legítimo (art. 146, caput, in fine). A escusa deverá ser apresentada dentro de cinco dias contados da intimação, ou do impedimento superveniente ao compromisso, sob pena de se reputar renunciado o direito de alegá-la (art. 146, parágrafo único, e art. 423) 1 in Curso de Direito Processual Civil - Vol I, Humberto Theodoro Júnior, ed. Forense, 15ª edição, pág.208. 4

Aqueles que desempenham funções administrativas e públicas são denominados agentes públicos. Segundo Edmir Netto Araújo 2 são todos aqueles que desempenham atividades que o Estado considera como a si pertinente, com prerrogativas de Poder Público, seja em virtude de relação de trabalho, seja em razão de encargo ou contrato. Enquanto as desempenharem, esses indivíduos terão a mencionada qualificação de agentes públicos. O desempenho de funções administrativas exporá o agente público a três tipos genéricos de responsabilidade, conforme a natureza da falta por ele praticada, quais sejam, a penal, a civil e a administrativa. A responsabilidade é penal quando o comportamento do agente se enquadra no tipo descrito pela lei penal, no exercício de suas funções, a ser processada tanto pela Administração como pelo Poder Judiciário 3. Assim, o Código Penal prevê em seu artigo 330 pena de detenção de quinze dias a seis meses e multa de quatrocentos a quatro mil cruzeiros para quem desobedecer a ordem legal de funcionário público, in casu, o Juiz. A responsabilidade é civil quando o ato lesivo vem qualificado pelo elemento subjetivo (dolo ou culpa) do agente público, propiciando ao Estado o poder-dever de contra ele agir regressivamente ou diretamente para o ressarcimento da liquidação do dano causado 4. Nesta seara, consagra o Código Civil em seu artigo 159 que todo aquele que causar dano a outrem é obrigado a repará-lo. Finalmente, a responsabilidade administrativa em sentido amplo é aquela à qual está sujeito o agente público por qualquer ato praticado no exercício de suas atribuições legais, infringente das normas administrativas, podendo ocorrer ou não a qualificação penal adicional, e, não raro, a responsabilidade patrimonial (civil) decorrente 5. Já em sentido estrito, significa a obrigação de responder perante a Administração (no caso o CFM) pela prática de ilícito administrativo na infração de regras de conduta relacionadas com a função pública, desdobrando-se em ilícito disciplinar e funcional 6. A responsabilidade administrativa do médico-perito está configurada nos preceitos emanados do Código de Ética Médica. Portanto, o médico que exercita a medicina como perito deverá, obrigatoriamente, obedecer os ditames legais que regem a matéria a ser examinada, estando sujeito às penalidades cabíveis na esfera penal, civil e administrativa. 2 in O Ilícito Administrativo, Edmir Netto de Araújo, ed. Revista dos Tribunais, 1994, pág. 44 3 in Ob. citada, pág. 54 4 in Ob. citada, pág. 54 5 in Ob. citada, pág. 55 6 in Ob. citada, pág. 55 5

VI - Ato Policial Consoante o grandioso dicionarista Leib Soibelman 7, ato policial é senão ato de competência das autoridades policiais: inquéritos, capturas, flagrantes. Assim, podemos desde logo afirmar que o ato do médico legista não se configura como um ato de natureza policial, posto que tais atos devem ser praticados por autoridades policiais, onde não está enquadrada, de toda sorte, a categoria médica. O perito-médico-legista é um auxiliar da justiça nos casos policiais e sub judice, quando empresta seus conhecimentos técnicos e científicos para o deslinde da questão controvertida. Entretanto, jamais poderá atuar nas vestes de uma autoridade policial, a quem compete, exclusivamente, praticar atos de natureza policial. CONCLUSÃO Em primeiro, como já demonstrado, o ato do perito-médicolegista é um procedimento médico, que objetiva esclarecer os fatos duvidosos ou controvertidos. Ao emitir o laudo pericial, utiliza-se o perito-médico-legista de seu vasto conhecimento científico e sua capacidade técnica, respeitando, contudo, a disciplina legal e administrativa. Possui o perito como requisitos básicos, a qualidade de ser médico; a habilitação legal devida; a formação clínica e o domínio técnico. A legislação vigente requer o registro do profissional junto ao Conselho Regional de Medicina, restando, assim, patenteada a sua subordinação à corporação de fiscalização profissional, sujeitando o médico aos preceitos éticos da medicina. Pelo acima esposado, e como o perito-médico-legista é primordialmente um médico, conclui este Setor Jurídico que o ato pericial é um ato médico. Por outro lado, o médico-perito quando é nomeado pelo Juiz investe-se automaticamente em função pública, sendo denominado de agente público, o que o expõe às responsabilidades penal, civil e administrativa, subordinando-se, dessa forma, aos ditames legais que regem a matéria examinada, regulamentada pelo Poder Judiciário e Legislativo. Entretanto, este fato não caracteriza o ato pericial como um ato policial, mesmo que realizado no campo do direito penal, posto que compete tão somente às autoridades policiais, a prática de tal ato, onde não se enquadra a categoria médica. 7 in Enciclopédia do Advogado, Leib Soibelman, 5ª edição, Thex Editora, 1995, pág. 42. 6

Ante ao exposto, temos por intelecção que o ato de um peritomédico-legista é um ato de natureza médico-pericial e não policial. É o que nos parece s.m.j. Brasília, 14 de julho de 1997. l:prot5983.sj Claudia G. Pena Nogueira de Queiroz Assessora Jurídica 7