AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ERECHIM, RS. Nutritional Evaluation of Adolescents Schools of Public Erechim, RS

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Transcrição:

AVALIAÇÃO NUTRICIONAL DE ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ERECHIM, RS Nutritional Evaluation of Adolescents Schools of Public Erechim, RS Patrícia AVOZANI¹ Roseana Baggio SPINELLI² RESUMO A adolescência é uma fase caracterizada por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais. Neste estudo foram avaliados 53 adolescentes de uma Escola Estadual, com idades entre 14 e 18 anos. O objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação nutricional de adolescentes, de escolas públicas do município de Erechim, RS. Para avaliação do estado nutricional foi realizada avaliação antropométrica, utilizando valores de peso, altura, circunferência do braço, circunferência da cintura, pregas cutâneas tricipital e subescapular; avaliação dietética utilizando recordatório 24 horas; imagem corporal com auxílio de um questionário com escala de silhueta corporal atual e desejada; e avaliação de hábitos alimentares através de entrevista com anamnese. Relacionado aos dados antropométricos 77% dos adolescentes encontram-se no estado de eutrofia, e 17% em sobrepeso e obesidade. No diagnóstico do percentual de gordura 25% dos adolescentes avaliados apresentaram risco cardiovascular. Em relação aos hábitos alimentares observou-se que há um baixo consumo de frutas e verduras dentre os adolescentes, e omissão da primeira refeição do dia. O questionário de imagem corporal demonstrou que 74% dos adolescentes estão insatisfeitos com seu próprio corpo. A avaliação dietética demonstrou um consumo adequado dos macronutrientes, e insuficiente dos micronutrientes ferro e cálcio, nutrientes estes que são essenciais para o bom crescimento e desenvolvimento na fase da adolescência. As avaliações demonstraram que deve-se ter uma preocupação maior com tal faixa estaria, realizando intervenções eficazes para a melhora do estado nutricional dos adolescentes, garantindo assim um crescimento e desenvolvimento adequados, e reduzindo o risco de desenvolvimento de doenças na vida adulta. Palavras-chave: Adolescentes. Antropometria. Hábitos Alimentares. Imagem Corporal. ABSTRACT: Adolescence is a phase characterized by profound transformations somatic, psychological and social. This study evaluated 53 adolescents at a state school, aged between 14 and 18 years. The aim of this study was to evaluate nutritional teens, public schools Erechim, RS. 1 Acadêmica do Curso de Nutrição da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Erechim Departamento: Ciências da Saúde ²Mestre em Gerontologia Biomédica (PUCRS), Nutricionista, Docente do Curso de Nutrição, Fisioterapia e Pedagogia da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões URI Erechim Departamento: Ciências da Saúde. To assess the nutritional status was performed anthropometric measurements, using values of Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 67

weight, height, arm circumference, waist circumference, triceps and subscapular skinfolds; dietary assessment using 24-hour recall; body image with the aid of a questionnaire with a scale body silhouette current and desired; and evaluation of eating habits by interviewing interview. Related to anthropometric data 77% of teenagers are in the state of eutrophication, and 17% in overweight and obesity. Diagnosis of fat percentage 25% of adolescents showed high cardiovascular risk. Regarding eating habits observed that there is a low consumption of fruits and vegetables among adolescents, and skipping the first meal of the day. The body image survey showed that 74% of adolescents are dissatisfied with their own body. Dietary assessment showed an adequate intake of macronutrients, and insufficient micronutrients iron and calcium, nutrients these are essential for proper growth and development in adolescence. Evaluations have shown that one should be a major concern with such a range would be, conducting effective interventions to improve the nutritional status of adolescents, thus ensuring proper growth and development, and reducing the risk of developing diseases in adulthood. Keywords: Adolescents. Anthropometry. Dietary Habits. Body Image. INTRODUÇÃO A adolescência é uma fase caracterizada por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais. Cronologicamente a adolescência corresponde ao período de 10 a 19 anos, segundo critérios aceitos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 1995). As mudanças biológicas que acontecem durante a adolescência, decorrentes das ações hormonais, constituem a puberdade. A puberdade caracteriza-se pelas as mudanças morfológicas e fisiológicas que ocorrem no adolescente, marcando a fase de transição do estado infantil para o estado adulto (DUARTE, 2007). Os adolescentes são considerados vulneráveis em termos nutricionais. Primeiro porque sua demanda de nutrientes é maior devido ao aumento no crescimento e desenvolvimentos físicos. Segundo, as mudanças do estilo de vida afetam a ingestão e a necessidade de nutrientes. Terceiro, os adolescentes têm necessidades especiais de nutrientes, em decorrência à participação em esportes, gravidez, desenvolvimento de distúrbio de alimentação, realização de dietas restritas, uso de álcool e drogas e outras situações (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). Para entender melhor o comportamento alimentar, deve-se levar em consideração a interrelação de vários fatores que influenciam direta e/ou indiretamente essa faixa etária. Os fatores externos são constituídos pela família e suas características, pelas atitudes dos pais e amigos, pelas normas e valores sociais e culturais, pela mídia, fast foods, conhecimento de nutrição e por manias alimentares. Existem os fatores internos, que são constituídos pelas necessidades e características psicológicas, imagem corporal, valores e experiências pessoais, auto-estima, preferências alimentares, saúde e desenvolvimento psicológico. Esses fatores estão atrelados ao sistema sócioeconômico, à disponibilidade de alimentos, à produção e ao sistema de distribuição que levam a determinado estilo de vida, acarretando o hábito alimentar individual (VITOLO, 2008). Ainda conforme Vitolo (2008) as refeições irregulares, lanches, alimentar-se fora de casa e seguir padrões alternativos de dieta caracterizam os hábitos alimentares dos adolescentes. Muitas vezes, os adolescentes têm o conhecimento adequado sobre nutrição e sobre quais seriam as atitudes saudáveis nesse campo, mas tem dificuldades de se sobrepor às barreiras que os impedem de agir de acordo com o que deveriam. As necessidades de energia dos adolescentes são projetadas para manter a saúde, promover o Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 68

crescimento ótimo e a maturação e suportar um nível desejável de atividade física. É fundamental garantir energia adequada para o crescimento. Os adolescentes que limitam sua ingestão de energia podem limitar o seu crescimento adulto final (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). Em decorrência da não adequação alimentar nos últimos anos, entre os problemas nutricionais que acometem os adolescentes, pode-se destacar o aumento do sobrepeso e obesidade (BRASIL, 2006). Dentro deste contexto o objetivo deste trabalho foi realizar a avaliação nutricional de adolescentes, de 14 a 18 anos, de escolas públicas do município de Erechim, RS. Tendo como objetivos específicos a avaliação antropométrica, avaliação dietética, avaliação dos hábitos alimentares, avaliação da imagem corporal dos adolescentes, correlacionando com riscos de desenvolvimento de doenças e agravos não transmissíveis. MATERIAIS E MÉTODOS O estudo foi realizado em uma Escola Estadual do município de Erechim, RS. A população do estudo foi constituída por 53 adolescentes de ambos os sexos e com idades entre 14 a 18 anos. A coleta de dados foi realizada de agosto de 2012 à julho de 2013. As entrevistas individuais e os procedimentos antropométricos, foram conduzidos por pesquisadores treinados, ocorreram nas dependências da própria escola. A avaliação nutricional envolveu a avaliação antropométrica e dietética. Para a avaliação antropométrica foram aferidos peso, estatura, Circunferência do braço (CB), Circunferência da cintura (CC) e pregas cutâneas (triciptal e subescapular). A partir destes dados foram calculados o Índice de massa corporal (IMC), a Circunferência muscular do braço (CMB) e o % de gordura corporal. Foram utilizadas as metodologias propostas em Cuppari (2005). Para a avaliação dietética foi utilizado o recordatório alimentar de 24 horas. Os nutrientes ingeridos foram calculados com o auxílio do REINSTEIN (2008), e então foi feita uma média de consumo, diferenciando os sexos. Os nutrientes calculados foram comparados com as recomendações nutricionais para adolescentes de 14 à 18 anos, conforme RDA (RECOMMENDED DIETARY ALLOWANCES, 1989). Também foi aplicada uma anamnese nutricional com o objetivo de avaliar os hábitos alimentares e de vida. Para finalizar a avaliação nutricional, os adolescentes realizaram uma avaliação de imagem corporal, adaptada por Childress et al. (1993) e validada para adolescentes por Adami et al. (2008). RESULTADOS E DISCUSSÃO A população avaliada foi de 53 adolescentes com idades entre 14 à 18 anos, com média de idade de 14 anos, dos avaliados 30 eram adolescentes do sexo feminino sendo 57%, e 23 do sexo masculino compreendendo 43%. Na Tabela I, encontram-se os diagnósticos dos IMC (Índice de Massa Corporal) dos adolescentes avaliados. Tabela I: Classificação do estado nutricional, segundo IMC (Índice de Massa Corporal) dos adolescentes. Classificação N=53 % Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 69

Baixo IMC para a idade 03 6 IMC adequado ou Eutrófico 41 77 Sobrepeso 06 11 Obesidade 03 6 Fonte: Dados da pesquisa, 2012/2013. De acordo com o demonstrado na Tabela I, a maioria dos adolescentes está em estado de eutrofia (77%), três apresentaram baixo IMC para a idade (6%), e entre sobrepeso e obesidade estão nove adolescentes, correspondendo à 17%. Em um estudo realizado por Oliveira e Veiga (2005) verificou-se que 82,2% dos adolescentes eram eutróficos, 2,0% apresentavam baixo peso, 9,2% sobrepeso e 9,2% eram obesos, reforçando os achados da pesquisa. O sobrepeso e a obesidade na infância e adolescência relacionam-se com fatores de risco para doenças cardiovasculares, maiores prevalências de dislipidemias e hipertensão arterial sistêmica na vida adulta, ou seja, o estado nutricional dos adolescentes é um bom indicador das prioridades de atenção à saúde dos adultos, e as alterações metabólicas podem ser observadas, frequentemente, desde faixas etárias mais jovens (PRIORE et al., 2010). Em relação ao diagnóstico da Circunferência da Cintura (CC) apenas um dos adolescentes avaliados apresentou o valor acima do percentil 90, que indica associação a possíveis níveis alterados de TG, LDL, HDL e insulina, independente de sexo, idade, peso e altura, segundo Freedman et al. (1999). O maior desenvolvimento de alterações lipídicas ocorre nos adolescentes em que há depósito de gordura na região abdominal (VITOLO, 2008). Cada vez mais o papel da gordura abdominal no desenvolvimento de doenças tem sido reconhecido. Diversos estudos com crianças e adolescentes têm observado associação significante entre fatores de risco cardiovasculares e circunferência da cintura (PEREIRA, et al., 2010). Como demonstra a Tabela II, a maioria dos adolescentes apresentou diagnóstico de eutrofia (62%) segundo a adequação da Circunferência Muscular do Braço (CMB). A Circunferência Muscular do Braço avalia a reserva de tecido muscular e é um bom indicativo de desnutrição, sendo assim um indicativo de perda de massa muscular. Tabela II: Classificação do estado nutricional, segundo diagnóstico da Circunferência Muscular do Braço (CMB) dos adolescentes. Classificação N=53 % Desnutrição grave --- --- Desnutrição moderada 03 6 Desnutrição leve 17 32 Eutrofia 33 62 Fonte: Dados da pesquisa, 2012/2013. Para o diagnóstico do percentual de gordura (Tabela III) utilizou-se os valores das pregas cutâneas tricipital e subescapular, juntamente com a fórmula de Slaughter et al., 1988. O percentual de gordura foi associado aos fatores de risco para doença cardiovascular (DCV). Tabela III: Classificação do percentual de gordura, de acordo com os pontos de corte para excesso de gordura associado aos fatores de risco cardiovascular, segundo o sexo. Classificação Percentual de Gordura N=53 % Não possui risco de DCV 40 75 Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 70

Possui risco de DCV 13 25 Fonte: Dados da pesquisa, 2012/2013. Em relação ao percentual de gordura (Tabela III), 13 adolescentes entre ambos os sexos apresentaram risco para Doenças Cardiovasculares, correspondendo à 25%. Este valor é semelhante ao encontrado no estudo realizado por Arruda e Lopes (2007), onde dos adolescentes avaliados, 25,6% apresentaram excesso de gordura corporal. Alguns fatores estão associados ao excesso de adiposidade na adolescência, como hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas (VIEIRA, et al., 2011). Atualmente já se tem demonstrado que a distribuição da gordura corporal está associada a fatores de risco para doenças cardiovasculares na adolescência (PRIORE et al., 2010). Em relação às condições de saúde, 21 adolescentes (40%) disseram que não houve alteração do peso nos últimos seis meses, sete (13%) relataram ter diminuído peso sem intenção e 25 adolescentes (47%) aumentaram o peso sem intenção. Quanto às condições e hábitos de vida, 37 adolescentes (70%) relataram praticar atividade física na escola, pelo menos uma vez por semana. Em relação à prática de atividade física fora da escola, 29 adolescentes (55%) disseram praticar alguma modalidade. Na pesquisa realizada por Enes, Pegolo e Silva (2009), 18% dos adolescentes foram considerados insuficientemente ativos e 14,3% não praticavam nenhuma atividade. Relacionado aos hábitos alimentares, todos os adolescentes relataram realizar pelo menos três refeições diárias, sendo elas: almoço, lanche e jantar. Quanto ao desjejum, 27 adolescentes (51%) relataram realizar com frequência antes do horário de aula, e 49% dos adolescentes avaliados disseram não realizar o café da manhã. Há semelhanças com o estudo realizado por Rivera e Souza (2006), onde foi observado que a maioria dos escolares tinha como hábito a realização de pelo menos três refeições principais. Omitir as refeições é um comportamento comum entre os adolescentes. O ato de omitir as refeições aumenta durante a adolescência conforme os adolescentes tentam dormir mais em resposta ao horário matinal de início da escola. O café da manhã é a refeição mais comumente omitida (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). O desjejum é uma refeição importante para o desenvolvimento adequado do adolescente. Há evidências de que o hábito alimentar de não realizar essa refeição traga prejuízos acadêmicos. O hábito de não realizar a primeira refeição do dia é observado com frequência nas diversas pesquisas realizadas com adolescentes (MONTEIRO E CAMELO, 2007). A ausência do café da manhã pode se associar ao fato de estarem preocupados em serem mais magros e, portanto, omitirem mais refeições. No entanto, pular o café da manhã é uma maneira ineficaz de controlar o peso (ARAKI, et al., 2011). Quanto à realização de dietas, seis adolescentes relataram que já realizaram dietas, sendo que dois disseram ter realizado sem o auxílio de profissionais (sozinho), três relataram ajuda de nutricionista e um com auxílio de médico. Em relação à adição de sal às preparações prontas, 14 adolescentes (26%) referiram ter o hábito. Cinco adolescentes (9%) disseram utilizar produtos light/diet. Quanto à quantidade de líquidos (água) ingeridos durante o dia, 15 adolescentes (28%) relataram consumir menos de 1 litro diariamente, 29 adolescentes (55%) relataram consumir de 1 a 2 litros diariamente, e nove (17%) disseram consumir mais de 2 litros de água diariamente. Em relação ao consumo de grupos alimentares, nove adolescentes (17%) relataram não consumir laticínios, oito (15%) disseram não consumir frutas e sete (13%) relataram não consumir verduras. De acordo com a Tabela IV, nota-se que a maioria dos adolescentes (42%) relataram consumir apenas uma porção de laticínios diariamente. Segundo Vitolo (2008), observa-se diminuição do consumo de produtos lácteos em detrimento do aumento do consumo de Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 71

refrigerantes e bebidas açucaradas na adolescência. Tabela IV: Frequência de grupos de alimentos ingeridos diariamente pelos adolescentes. Frequência Alimentos 1 vez/dia 2 vezes/dia 3 ou mais vezes/dia N % N % N % Laticínios 22 42 17 32 05 9 Frutas 17 32 21 40 07 13 Verduras 34 64 12 23 --- --- Fonte: Dados da pesquisa, 2012/2013. A maioria dos adolescentes demonstrou consumir entre uma e duas porções de frutas diariamente. Quanto as verduras a maioria dos adolescentes (64%) relataram consumir apenas uma porção diariamente. Resultado semelhando é encontrado no estudo de Fiates et al., (2010), onde o consumo médio de frutas e verduras pelos adolescentes ficou aquém das recomendações do Guia Alimentar, o qual estabelece que o consumo diário deva ser de três porções de frutas, além de três porções de verduras e legumes distribuídos nas refeições. O resultado está de acordo come estudo internacionais, que verificam associação entre o hábito de assistir TV e a menor ingestão de frutas e vegetais. Sabe-se que a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para a mortalidade no mundo, aumentando o risco que contribuem para a mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis e alguns tipos de câncer. Além disso, a escassez desses alimentos pode provocar deficiências de vitaminas e minerais, constipação intestinal e, indiretamente, excesso de peso (MENDES e CATÃO, 2010). Quanto ao consumo semanal dos grupos alimentares, cinco adolescentes (10%) relataram não consumir feijão, quatro (8%) disseram não consumir frituras, um (2%) referiu não consumir doces e oito (15%) relataram não consumir refrigerantes. Na Tabela V estão demonstrados o consumo semanal de feijão, frituras, doces e refrigerantes pelos adolescentes. A maioria dos adolescentes (45%) relataram consumir feijão de uma à duas vezes por semana, em seguida 30% disseram consumir 5 ou mais vezes por semana. A redução do consumo de feijão por tal faixa etária está relacionada à maior ingestão de alimentos rápidos (fast foods) e de convivência. Os adolescentes citam o sabor, tempo e convivência como os fatores fundamentais que influenciam suas escolhas de alimentos (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). A maioria relatou consumir 1 à 2 vezes por semana alimentos preparados em fritura (66%). A maior parte do consumo de frituras pelos adolescentes vem dos fast foods que tendem a ser pobres em vitaminas, minerais e fibras, porém ricos em aditivos como gorduras (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). Tabela V: Frequência de grupos de alimentos ingeridos semanalmente pelos adolescentes. Frequência Alimentos 1 a 2 vezes/semana 3 a 4 vezes/semana 5 ou mais vezes/semana N % N % N % Feijão 24 45 08 15 16 30 Frituras 35 66 07 13 07 13 Doces 19 36 07 13 26 49 Refrigerantes 26 49 08 15 11 21 Fonte: Dados da pesquisa, 2012/2013. Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 72

Em relação ao consumo de doces, a maioria (49%) dos adolescentes disseram consumir 5 ou mais vezes na semana, 36% referiram consumir de 1 a 2 vezes semanalmente. Referente ao consumo de refrigerantes a maioria (49%) relatou consumir de 1 à 2 vezes por semana, sendo dias de final de semana. Segundo Vitolo (2008) a redução da ingestão de leite na adolescência tem como principal causa o aumento do consumo de refrigerantes pelos jovens. Os refrigerantes não só contribuem para o aumento do consumo energético total sem acrescentar nutrientes, como estão indiretamente relacionados a diminuição do consumo de nutrientes importantes para o crescimentos e desenvolvimento na adolescência. Nas Tabelas VI e VII, encontram-se os valores de macro e micronutrientes consumidos pelos adolescentes, obtidos através do recordatório 24 horas e o valor recomendado pela RDA (1989). Tabela VI: Valores médios de macronutrientes comparados com a RDA (Recommended Dietary Allowances, 1989), dos adolescentes avaliados, conforme sexo, por dia. Nutrientes Homens N=23 Mulheres N=30 *RDA **R 24h *RDA **R 24h Carboidrato (%) 55 51 55 54 Proteína (%) 20 18 20 18 Lipídeo (%) 30 31 30 28 Fonte: *RDA, 1989, adaptada. **Dados da pesquisa 2012/2013. Analisando-se o consumo de carboidratos, nota-se que as adolescentes do sexo feminino obtiveram uma média de consumo bem próximo ao percentual médio recomendado. O percentual médio de consumo para o sexo masculino ficou um pouco abaixo do médio esperado, porém permanece dentro da faixa recomendada para ambos os sexos, que é de 45 a 65%. Os adolescentes muito ativos ou que estão crescendo ativamente necessitarão de carboidratos adicionais para manter a ingestão adequada de energia, enquanto adolescentes inativos ou com condições crônica que limitam sua mobilidade pode necessitar de menos carboidratos. As fontes mais preferíveis de carboidratos são os grãos integrais, pois estes alimentos fornecem vitaminas, minerais e fibras (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). Quanto às proteínas os percentuais para ambos os sexos ficaram próximos ao valor médio esperado. A faixa recomendada para proteínas é de 10 a 30%. De acordo com Vitolo (2008) a necessidade protéica é determinada pela quantidade necessária para manter o crescimento de novos tecidos, que durante a adolescência podem representar uma porção substancial da necessidade total. Para os lipídeos, foi observado que o percentual médio consumido pelos adolescentes do sexo masculino excedeu o valor médio recomendado, quanto ao consumo do sexo feminino, o valor ficou abaixo do percentual médio esperado, porém ambos os valores permaneceram dentro da faixa recomendada, que seria de 25 a 35. Tal resultado merece atenção, em decorrência das evidências que revelam associação entre elevada participação de lipídeos na dieta e o favorecimento de doenças crônicas na vida adulta. A avaliação do consumo alimentar pode ser utilizada como indicador indireto do estado nutricional, capaz de detectar situações de risco na alimentação de indivíduos e de coletividades. O conhecimento da ingestão de nutrientes permite que se estabeleça o diagnóstico nutricional com o objetivo de formular medidas capazes de promover as mudanças desejáveis no comportamento alimentar. Mais que isso, auxilia no planejamento e definições de políticas de saúde pública e de ações de intervenção (SILVA, et al., 2010). A Tabela VII demonstra o valor médio de consumo encontrado de micronutrientes, sendo Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 73

eles, Vitamina A, Vitamina C, Ferro e Cálcio. Tabela VII: Valores médios de micronutrientes comparados com a RDA (Recommended Dietary Allowances, 1989), dos adolescentes avaliados, conforme sexo, por dia. Nutrientes Homens N=23 Mulheres N=30 *RDA **R 24h ± Desvio padrão *RDA **R 24h ± Desvio padrão Vitamina - A (mcg) 900 1351,74 ± 2424,35 700 718,58 ± 1233,67 Vitamina - C (mg) 75 165,13 ± 280,87 65 123,03 ± 189,32 Ferro (mg) 11 13,37 ± 7,23 15 9,65 ± 4,48 Cálcio (mg) 1300 612,66 ± 538,78 1300 513,10 ± 313,24 Fonte: *RDA, 1989, adaptada. **Dados da pesquisa 2012/2013. Referente ao consumo de retinol (vitamina A) (Tabela 07), os adolescentes de ambos os sexos demonstraram uma ingestão média acima do recomendado, porém não ultrapassou o valor máximo permitido (UL) pela RDA (1989) que seriam de 2800 mcg/dia. Resultado semelhante ao encontrado no estudo de Silva et al. (2010), com 272 indivíduos menores de 16 anos, onde a média de consumo de a vitamina A apresentou-se superior à recomendação em todas as faixas etárias em ambos os sexos. Quanto à ingestão de ácido ascórbico (vitamina C), os adolescentes de ambos os sexos consumiram acima do recomendado pela RDA, não ultrapassando do valor da UL (máximo) que é de 2000 mg. A vitamina C é essencial para a síntese de colágeno e o auxílio na absorção de ferro, portanto sua necessidade também acompanha paralelamente o crescimento puberal (PRIORE et al., 2010). Relacionado ao consumo de ferro, os adolescentes do sexo masculino demonstraram uma boa média de ingestão, ultrapassando o valor médio recomendado, já as adolescentes do sexo feminino apresentaram uma média abaixo do recomendado pela RDA, representando apenas 64% do valor adequado. Segundo Vitolo (2008), na adolescência, a necessidade de ferro aumenta para ambos os sexos, pelo rápido crescimento e pelo aumento da massa muscular, do volume sanguíneo e das enzimas respiratória. A alimentação suficiente e equilibrada é necessária para o jovem. Neste sentido, o ferro tem função importante na capacidade de trabalho, na resistência à fadiga e no rendimento escolar. Em relação à ingestão de cálcio, a média de ambos os sexos permaneceu abaixo do recomendado, sendo que a média de consumo atingido foi de 47% no sexo masculino e 39% no sexo feminino. É importante a ingestão adequada de cálcio em função dos desenvolvimentos muscular, esquelético e endócrino acelerados, as necessidades de cálcio são maiores durante a adolescência (MAHAN E ESCOTT-STUMP, 2008). A ingestão de cálcio é uma das preocupações de profissionais e estudiosos da saúde do adolescente, pois o período entre 9 e 17 anos de idade parece ser crucial para a realização do pico de massa óssea. Esta se faz importante porque, durante essa fase, ocorre o aumento da retenção de cálcio para formação óssea (VITOLO, 2008). Apesar de a maioria dos adolescentes avaliados demonstrarem estado nutricional adequado, 74% dos adolescentes demonstraram, no questionário de imagem corporal, estar insatisfeitos com a imagem corporal atual. Apenas 26% demonstraram estar satisfeitos com o seu corpo. A preocupação com a imagem corporal é comum durante a adolescência. Vários jovens descrevem a si mesmo como apresentando sobrepeso, apesar de estarem com peso adequado, significando um distúrbio na sua imagem corporal. Uma alteração da imagem corporal pode levar à aspectos de Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 74

controle de peso e dieta, podendo desencadear distúrbios alimentares (MAHAN E ESCOTT- STUMP, 2008). Estudos demonstram que há uma maior insatisfação dentre as adolescentes, possivelmente essa maior insatisfação com a imagem corporal decorre da pressão exercida pela mídia e pela sociedade, que impõe, cada vez mais, padrões de beleza caracterizados pela magreza excessiva. Enquanto os rapazes desejam aumentar, as moças desejam diminuir o tamanho da silhueta corporal (PETROSKI, PELEGRINI e GLANER, 2012). Ainda conforme Petroski, Pelegrini e Glaner (2012), a imagem corporal exerce influência na autoestima dos adolescentes, sendo que eles colocam mais importância em sua aparência que os adultos. Estas observações demonstram que a aparência é um aspecto altamente saliente na formação da identidade dos adolescentes. CONCLUSÃO A maioria dos adolescentes avaliados demonstrou um bom estado nutricional, segundo IMC. A anamnese alimentar demonstrou um baixo consumo de laticínios, frutas e vegetais, e um consumo elevado de doces. O questionário de imagem corporal demonstrou que apesar de a maioria dos adolescentes estarem em estado de eutrofia, 74% não estão satisfeitos com a imagem corporal atual, o que demonstra preocupação, pois a percepção de imagem corporal alterada auxilia no desenvolvimento de distúrbios alimentares. A análise do recordatório 24 horas demonstrou um percentual médio de macronutrientes dentro da faixa recomendada, e um consumo insuficiente de micronutrientes, sendo ferro e cálcio, e um consumo adequado de vitamina C e A. As avaliações demonstraram que deve-se ter uma preocupação maior com tal faixa etária, realizando intervenções eficazes para a melhora do estado nutricional dos adolescentes, garantindo assim um crescimento e desenvolvimento adequados, e reduzindo o risco de desenvolvimento de doenças na vida adulta. REFERÊNCIAS ADAMI, F.; FRAINER, D.E.S.; SANTOS, J.S.; FERNANDES, T.C.; DE-OLIVEIRA, F.R. Insatisfação Corporal e Atividade Física em Adolescentes da Região Continental de Florianópolis. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 24, 2, 143-149, 2008. ARAKI, E. L.; PHILIPPI, S. T.; MARTINEZ, M. F.; ESTIMA, C. C. P.; LEAL, G. V. S.; ALVARENGA, M. S. Padrão de refeições realizadas por adolescentes que frequentam Escolas Técnicas de São Paulo. Rev. Paul Pediatr. 29(2):164-70, 2011. ARRUDA E. L. M.; LOPES A. S. Gordura corporal, nível de atividade física e hábitos alimentares de adolescentes da região serrana de Santa Catarina, Brasil. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano. v. 9(1), p 05-11, 2007. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Coordenação Geral da Política de Alimentação e Nutrição. Guia Alimentar Para a População Brasileira Promovendo a Alimentação Saudável Brasília: Ministério da Saúde, 2006. CHILDRESS, A. C., BREWERTON, T. D., HODGES, E. L.; JARREL, M. P. The Kids Eating Disorders Survey (KEDS): A Study of Middle Scholl Students. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 32, 843-850, 1993. Vivências. Vol. 10, N.18: p. 67-76, Maio/2014 75

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