INTRODUÇÃO. 1 La traduction juridique: art ou technique d interpretation?, Meta, vol. 33, nº2, 1988, p.310



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Transcrição:

INTRODUÇÃO Os três anos da Licenciatura em Tradução e o primeiro ano do Mestrado em forneceram bases teórico-práticas sólidas para a realização de um trabalho de tradução sério e de qualidade. Durante a licenciatura pode-se desenvolver e aperfeiçoar os conhecimentos técnicos da língua francesa, levando assim a que se optasse por realizar um projecto de tradução de um domínio de especialidade. Optou-se pela realização de um projecto de tradução de um texto integrado na linguagem do Direito e dado que sempre houve um interesse especial pelo Direito da Família e após aceitação de acompanhamento pelo Professor Doutor Pierre Lejeune, escolheu-se o texto Droit de la Famille de Dominique Fenouillet. O ramo do Direito da Família é complexo e vasto passando pelo acto do matrimónio, pela filiação e deveres e direitos daí emergentes; património e sucessão; dissolução de matrimónio e partilhas. Os dois critérios principais que ditaram a escolha da obra Droit de la Famille de Dominique Fenouillet foram: a sua relevância para a área, em que medida esta obra pode ser considerada uma reflexão sobre o Direito e sobre a Família; e o potencial grau de dificuldade da sua tradução. Segundo Gémar 1, os textos de doutrina são os que maiores dificuldades de tradução colocam ao tradutor, porém considera-se que as dificuldades de tradução, quando superadas, são uma mais-valia porque enriquecem e solidificam o conhecimento. 1 La traduction juridique: art ou technique d interpretation?, Meta, vol. 33, nº2, 1988, p.310 1

A linguagem do Direito Antes de mais, é um dado adquirido que a linguagem do Direito (independentemente da língua de trabalho) não é de fácil compreensão para quem não está iniciado neste circuito linguístico. Esta impressão não se aplicará apenas ao público não instruído nas letras do Direito mas também aos profissionais desta área. A especificidade da linguagem do Direito refere-se à existência de um vocabulário jurídico e às particularidades do discurso jurídico. A linguagem do Direito é uma linguagem dita tradicional porque emerge da herança da tradição. Apesar das constantes alterações sociais e modos de ver o Mundo, o Direito é uma área que relega poucos termos ao desuso, pois para designar realidades novas continua a utilizar termos que não são mais de uso corrente. Mas isso não significa que a linguagem do Direito é fixa ou perene ou mesmo arcaica. O Direito acompanha os passos do Mundo, adaptando-se a ele e o fenómeno do neologismo é um bom exemplo desta qualidade. A linguagem do Direito ou linguagem jurídica é uma linguagem prática. A linguagem do Direito é técnica, sobretudo por aquilo que nomeia, o referente e pelo modo como enuncia, pelo vocabulário ou pelo discurso. Esta linguagem faz referência às realidades jurídicas, às instituições e operações jurídicas. O Direito faz referência às realidades sociais que apreende e modela em factos jurídicos, atribuindo-lhes efeitos de direito. A linguagem do Direito pode ser considerada uma linguagem restrita, marcada pelos profissionais que a falam. É uma linguagem moldada pelas várias profissões e actividades jurídicas. Não se pode falar de uma linguagem de Direito única, mas sim de diferentes manifestações da mesma. De modo mais generalista, a linguagem do Direito é linguagem dos juristas e legisladores que têm uma formação específica neste domínio e pode-se até afirmar que para eles a linguagem do Direito funciona como linguagem cultural. A linguagem do Direito pertence igualmente aos juízes, que a usam em actos declarativos e executivos; pertence aos advogados, sendo também usada pelos parlamentares e 2

membros das administrações. Porém, estes agentes não têm o monopólio pois a linguagem do Direito é a linguagem de todos, profissionais ou leigos. Sobre os níveis de linguagem do Direito Do mesmo modo que o Direito compreende vários níveis ou divisões (Direito da Família, Direito das Sucessões, Direito Tributário, etc;.) a linguagem pressupõe diferentes níveis com características próprias. Não existe uma linguagem do Direito, mas linguagens do Direito. Para estudar o discurso jurídico tem de se considerar este aspecto. De forma sucinta, pode-se classificar a linguagem jurídica por: a) Linguagem legislativa, é a linguagem dos códigos, das normas, tendo como finalidade a criação do direito. b) Linguagem de doutrina, é a linguagem dos académicos, juristas, mestres, professores, teóricos. Comentam, estudam, desenvolvem conceitos e teorias sobre a aplicação do Direito e dos princípios jurídicos. c) Linguagem judicial, é a linguagem dita processual que tem como objectivo a aplicação do Direito. d) Linguagem contratual, é a linguagem dos contratos que cria direitos, obrigações entre partes. e) Linguagem administrativa, é a linguagem de registo dos actos de Direito. Esta listagem não é de todo exaustiva, nem se deve cingir-se a esta classificação, servindo apenas para exemplificar a peculiaridade desta linguagem que coloca dificuldades específicas de compreensão e tem resoluções específicas para os problemas de tradução daí emergentes. Constatou-se, no texto traduzido, que há interferência e presença dos vários pontos acima referidos. O texto doutrinário em questão engloba características do texto legislativo, judicial, administrativo e contratual. 3

Documentação jurídica La première difficulté, sans doute une des plus grandes, que le traducteur et le terminologue doivent affronter, durant leurs années de formation comme dans l exercise de leur profession, leur est posée par la documentation. (Gémar, 1980:134) O suporte documental para a tradução, tanto para apreensão de noções ou conceitos como para a tradução propriamente dita reveste-se de uma importância quase vital para quem se depara com um texto de um domínio específico. A tradução jurídica, contrariamente a outros domínios de especialidade, coloca a dificuldade adicional dos denominadores serem potencialmente distintos nos dois sistemas. Parafraseando Gémar 2, linguagens de especialidade como a Medicina ou a Física podem ter variações de uma língua para outra mas descrevem os mesmos fenómenos. Já o objecto do Direito sofre alterações em concordância com a filosofia que o inspirou. Por documentação jurídica ou suportes à tradução entendem-se todos os meios disponíveis de assistência ao processo tradutório (dicionários, enciclopédias, glossários, textos ditos paralelos, bases de dados terminológicas, informantes, prontuários, internet, manuais teóricos de carácter didáctico ou crítico, etc;). Gémar classifica a documentação de apoio à tradução jurídica em fontes primárias e secundárias. A fonte de informação primária para o tradutor jurídico será a Lei e por lei entendem-se os Códigos, a legislação, a jurisprudência. As fontes secundárias, não menosprezadas, serão os textos de doutrina, dicionários unilingues, bilingues e multilingues, os formulários, os relatórios. Quando se faz uma pesquisa tenta-se não negligenciar nenhum aspecto, e recolher toda a informação possível. Constatou-se que restringir as fontes, sobretudo textuais como os manuais de doutrina, foi uma dificuldade adicional inesperada porque segundo Gémar: le droit est une des branches de l activité 2 Gémar, J-C. (1980). «Le traducteur et la documentation juridique», Meta, vol. 25, nº 1, 134-151. 4

humaine qui a produit le volume plus considérable d informations. Cette masse documentaire est aussi riche que complexe et variée. Para resolver este problema Gémar propõe fundamentar a pesquisa de informação jurídica em elementos de valor normativo, pois o Direito tem um carácter normativo resultante da legislação e da jurisprudência que lhe confere validade. Porém, considerou-se que a proposta de Gémar aplica-se mais para a tradução de textos legislativos e não textos de doutrina como o presente manual. Embora o texto original tenha características do texto legislativo, considera-se que estas são pontuais e não representam a totalidade do texto. A documentação jurídica desempenha um certo número de funções que guiam o tradutor na sua pesquisa de aprendizagem, exercendo funções informativas e normativas. Dado que o objecto da tradução é a comunicação, o tradutor deve basear a sua mensagem em fontes fiáveis, relativamente completas e pertinentes. Os progressos realizados na compilação de unidades documentais e na consulta destas resultam das técnicas e dos meios informáticos. As pesquisas por bases de dados são uma realidade e bases de dados terminológicas como o IATE (Interactive Terminology for Europe) constituem uma ajuda preciosa para os investigadores. Neste aspecto, a informática é um factor de aceleração do processo de tradução. Mas tal tratamento da informação integral ou resumida não significa obrigatoriamente que se faça uma tradução correcta ou adequada a partir dos resultados obtidos. O factor tempo desempenha um papel crucial na tradução, mas Gémar afirma em tom de conselho que: la qualité de l information n est pas proportionnelle à la vitesse de sa communication. Não se deve por de parte a reflexão e a desconfiança na pesquisa às bases de dados. O tradutor deve acompanhar a evolução dos métodos documentais mas não se perder neles. Tudo isto para indicar que apesar de todas as fontes de informação disponíveis, informáticas e não informáticas, não se deve basear todo o trabalho de tradução apenas numa fonte e, neste trabalho de tradução, as fontes de apoio à tradução foram usadas de modo complementar. 5

Sobre o Relatório Ao projecto de Mestrado, seguiu-se a redacção do presente relatório que tem como objectivo de fazer uma descrição do processo tradutório da obra Droit de la Famille da autora Dominique Fenouillet. O relatório desenvolve-se em duas partes às quais se seguem, como apêndice a tradução e o original. A primeira parte do presente relatório trata o Original, sintetizando essencialmente o estudo e análise preliminar à tradução. Fez-se um enquadramento da obra no domínio das produções da linguagem de Direito, uma análise às características textuais e uma breve introdução sobre a autora. A segunda parte do presente relatório trata a Tradução, compilando o processo de tradução. Fez-se uma divisão dos problemas e dificuldades de tradução, tratando-se sobretudo o aspecto lexical e em seguida o aspecto sintáctico. Apresentam-se igualmente as sugestões de traduções para os casos considerados mais problemáticos. 6

1.1 Sobre a autora Dominique Fenouillet é doutorada em Direito e tem como áreas de especialidade o Direito Público e as Ciências Políticas. As suas publicações mais recentes incluem obras como : Les personnes, la famille, les incapacités (2005); Le Droit de la Famille, Propositions de Réforme (2002); La filiation plénière, un modèle en quête d identité (1999) ; Les bonnes mœurs sont mortes! Vivre l ordre public philantropique (2001) e Le parrainage républicain, entre citoyenneté et état civil (2003). Os principais temas de investigação são do domínio do Direito da Família, Teoria geral das Obrigações e Direito do Consumo. Actualmente lecciona na Université Phantéon-Assas em Paris (Universidade de Direito e Ciências Políticas, Economia, Gestão e Informação) disciplinas sobre o Direito dos Contratos, Direito da Responsabilidade e Direito dos Bens. 7

1.2 Estrutura temática de Droit de la Famille O livro tem três partes: a primeira parte tem como tema o casal, a segunda a criança e a terceira a família para lá de. Apenas a primeira parte foi objecto de tradução e trata essencialmente o casal, estando dividida em três livros: couple marié (casal casado), couples demariés (casais descasados) e couple hors mariage (o casal fora do casamento). O Livro Primeiro Casal casado tem dois títulos, sendo o primeiro a formação do casamento com capítulos relativos às condições, restrições e sanções no casamento. O segundo título trata dos efeitos do casamento, com capítulos sobre a determinação dos efeitos; os efeitos pessoais, patrimoniais e paternais e abrangência dos mesmos. O Livro Segundo Casais descasados divide-se em dois títulos: o divórcio e a separação judicial de pessoas e bens. Por sua vez, o título do divórcio está compartimentado em dois capítulos. O primeiro capítulo do divórcio trata a sentença de divórcio, os tipos de divórcio e o papel da intervenção judicial, enquanto o capítulo segundo trata dos efeitos do divórcio, tanto a nível pessoal como a nível patrimonial. O título da separação judicial de pessoas e bens refere-se basicamente aos efeitos produzidos pela mesma. O Livro Terceiro Casal fora do casamento subdivide-se em dois títulos: o concubinato e o pacs [pacto civil de solidariedade]. O título do concubinato tem um capítulo dedicado ao estatuto deste regime, à solidariedade patrimonial e pessoal. O título do pacs ramifica-se em três capítulos, sendo que o primeiro refere-se à formação do pacto e condições de consentimento. O segundo capítulo do pacs trata dos seus efeitos a nível pessoal e patrimonial enquanto o terceiro trata da dissolução e respectivos efeitos. 8

1.3 Enquadramento da obra Droit de la Famille no universo do texto jurídico Pélage 3 defende que o tradutor não trabalha sobre a língua mas sobre o discurso e, no caso particular da tradução jurídica, deve-se ter em atenção as diferentes formas de discursos existentes. Segundo o autor, os textos que expressam a Lei são textos de discurso normativo ou de discursos sobre a norma e classifica como textos legislativos, os textos de lei, os regulamentos que emanam do poder executivo pertencentes à categoria dos discursos normativos. Os contratos, que serão a lei das partes, poderão também figurar nesta categoria. O autor argumenta que, num sentido lato, os textos que emanam da doutrina devem ser incluídos nesta primeira categoria. Gémar 4 alerta para a multiplicidade de elementos do discurso jurídico e, à semelhança de Pélage, afirma que a linguagem do Direito é uma expressão genérica que abrange na realidade várias linguagens particulares. Dentro do discurso jurídico pode-se diferenciar os textos de estilo legislativo, os textos da linguagem judicial, os textos ditos regulamentares, os textos da linguagem do direito comercial (contratos), os textos da linguagem essencialmente privado (estilo do notário, testamentos) e os textos da linguagem de doutrina (por exemplo, os manuais de Direito, artigos jurídicos). A leitura inicial da presente obra levou a que esta fosse classificada como um sendo um texto didáctico que apresenta características essencialmente dirigido aos estudantes de Direito mas, segundo a autora, a presente obra será também do interesse dos juristas ou leigos que desejam compreender uma matéria que, para lá das questões práticas, levanta múltiplas interrogações retóricas sobre o Direito Privado que é o Direito da Família. 3 Pélage J. (2004), «Les défis de la traduction juridique», Confluências, nº 1. 4 Gémar J.-C (1981), «Réflexions sur le langage du droit: problèmes de langue et de style», Meta, vol. 26, nº 4, 338-349 9

Uma das características dos textos de doutrina passa pelo recurso a excertos de textos legislativos, regulamentares e a citações de personalidades conhecidas no domínio do Direito como suporte de argumento ou de ponto de vista. A obra traduzida inclui trechos do Código Civil, citações de autores ou legisladores e excertos de textos legislativos ou regulamentares como se pode comprovar abaixo: Excertos de textos normativos: l article 16,3, de la Déclaration universelle des droits de l homme ( la famille est l élément naturel et fondamental de la société et de l État»), l article 23 du Pacte des droits civils et politiques («le droit de se marier et de fonder une famille est reconnu à l homme et à la femme à partir de l âge nubile»), les articles 8 et 12 de la Convention européenne des droits de l homme («toute personne a droit au respect de sa vie familiale» ; «à partir de l âge nubile, l homme et la femme ont le droit de se marier et de fonder une famille selon les lois nationales régissant l exercice de ce droit») [page 6]...o artigo 16º, par. º3, da Declaração Universal dos Direitos do Homem ( A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e tem direito à protecção desta e do Estado. ), o artigo 23º do Pacto dos Direitos Civis e Políticos ( O direito de se casar e de fundar uma família é reconhecido ao homem e à mulher a partir da idade núbil. ), os artigos 8º e 12º da Convenção Europeia dos Direitos do Homem ( qualquer pessoa tem direito ao respeito da sua vida familiar ; a partir da idade núbil, o homem e a mulher tem o direito de casar-se e de constituir família, segundo as Leis nacionais que regem o exercício deste direito ) [pág.5] Citações de Jean Carbonnier (1908-2003), jurista francês, Professor de Direito Privado e especialista no Direito Civil. L histoire du mariage est celle d une libération continue. [page 31] A história do casamento é a de uma liberalização contínua. [pág.28] clef de voûte de la civilisation européenne» [page 63] pedra angular da civilização europeia [pág.58] même lit, rêves séparés. [page 95] mesma cama, sonhos separados [pág.87] 10

Citações de Antoine Loysel (1536-1617), consultor jurídico, considerado o preconizador dos princípios gerais do Direito do Antigo Regime francês. en mariage, il trompe qui peut. [page 57] no casamento engana quem pode. [pág.53] Boire, manger, coucher ensemble, c est mariage ce me semble. [page89] Beber, comer, dormir juntos, isso parece-me casamento [pág.82] Excertos do Código Civil francês: Il n y a pas de mariage lorsqu il n y a point de consentement (artigo 146.º do Código Civil) [page 34] Não há casamento quando não há consentimento. [pág.29] Le mari doit protection à sa femme, la femme obéissance à son mari. (artigo 213.º do Código Civil de 1804) [page 85] O marido deve protecção à mulher, a mulher deve obediência ao marido [pág. 78] chaque époux peut librement exercer une profession (artigo 223.º do Código Civil) cada cônjuge pode exercer livremente uma profissão [pág. 88] Diálogo com o leitor mais ou menos explícito na forma de interrogações fechadas: Le divorce pour faute peut-il être rapproché de la résiliation pour inexécution?» [page 118] Será que o divórcio por culpa pode ser equiparado à rescisão por incumprimento? [pág.113] Presença da autora, na forma de comentários apreciativos ou expressividade marcada. On note encore, et là encore pour le regretter, que l exclusion des achats à tempérament et des emprunts ( ) par le droit du mariage n est pas reprise dans le pacte civil de solidarité. [page 257] Nota-se ainda, e uma vez mais para o lamentar, que a exclusão das compras a prestações e empréstimos ( ) pelo direito do casamento não é retomada no pacto civil de solidariedade. [pág.244] 11

La droit purement interne connaît une seconde forme, plus indirecte il est vrai, de polygamie [page 64] O direito puramente interno conhece uma segunda forma, mais indirecta é verdade, de poligamia [pág.62] On pouvait en revanche prôner une meilleure information du futur conjoint ( ). Làs! La loi de simplification du droit de 20 décembre 2007 a préféré l abroger purement et simplement, attestant une fois de plus le progrés de la liberte au détriment de la securité. [pages 62/63] Podia-se, em contrapartida, recomendar uma melhor informação do nubente ( ). Ai! A Lei da simplificação do direito de 20 de Dezembro de 2007 preferiu revogá-lo pura e simplesmente, atestando uma vez mais o progresso da liberdade em detrimento da segurança. [págs.60/61] La loi du 23 juin 2006 a supprimé cette bizarrerie. [page 256] A Lei de 23 de Junho de 2006 extinguiu esta anomalia. [pág.244] Presença de aforismos, latinismos ou máximas de Direito de autores indefinidos: Mais elle s obtient aisément en vertu du principe fondamental selon lequel «en mariage pas de nullité sans texte»» [page 72] Mas ela obtém-se facilmente em virtude do princípio fundamental segundo a qual en mariage, pas de nullité sans texte [pág.70] «Consensus non concubitus facit matrimonium.» [page 35] «Consensus non concubitus facit matrimonium.» [pág.32] en vertu du principe selon lequel l acessoire suit le principal [page 265] em virtude do princípio segundo o qual o acessório segue o principal [pág.246] Obs: Para além da finalidade didáctica, pode-se afirmar que o texto Droit de la Famille é um texto doutrinário com características de textualidade especiais, é um texto dirigido a estudantes mas pode também servir de dialógo entre 12

especialistas da área. O dialogismo 5 presente em toda a obra, na forma de recurso a outros textos, evidencia o carácter intertexual que a autora utiliza sobretudo para apoiar as suas teses. 1.4 Análise textual de Droit de la Famille A análise das características deste texto passou pelo recurso aos métodos propostos por Nord (2005). A autora defende a importância da análise ao texto de partida como base do processo de tradução. Conhecer a função comunicativa do texto de partida permite determinar as estratégias que o tradutor adoptará no processo de tradução. Um texto com uma função particular será caracterizado pela combinação ou configuração de traços que podem ser constituídos por elementos extratextuais (pragmática) e elementos intratextuais (semântica, sintaxe e estilística). Certos tipos de textos são usados em certas situações, adquirindo formas convencionais. As convenções e as normas desempenham um papel importante na produção textual, porque o autor irá obedecer às convenções para ser bem sucedido na intenção comunicativa, e na recepção do texto porque o receptor apreende as intenções do autor através da forma convencional do texto. Os factores extratextuais, enumerados por Nord, tidos em conta na análise do texto partida foram: o autor, a sua intenção comunicativa, o públicoalvo, o canal utilizado, o lugar, o tempo da produção e recepção do texto e o motivo da comunicação. Os factores intratextuais que se analisaram foram: o tema do texto; a informação ou o conteúdo presente no texto, os pressupostos feitos pela autora, a composição ou construção do texto, as características lexicais, a estrutura sintáctica e alguns traços suprasegmentais de entoação. Segundo Nord, a soma destas questões ajudará o tradutor a determinar a função do texto. 5 Tese defendida por Mikhail Bakhtine. Todo o texto é o resultado da interacção com outros textos, não vive isolado mas correlacionado com outros discursos similares ou próximos. 13

Os factores extratextuais e intratextuais foram incorporados na análise ao texto de partida. 1.5 Tipologia textual Nota-se que um mesmo texto pode ser constituído por sequências textuais de diferentes tipos. Com efeito, são mais frequentes os textos que apresentam uma natureza diversificada ou heterogénea do que aqueles que possuem uma estrutura homogénea. Verifica-se, seguindo a tipologia textual proposta por Werlich (1976), que a obra Droit de la Famille tem características predominantemente explicativas ou expositivas e argumentativas. A caracterização pode ser feita através da análise aos seguintes aspectos: função do texto, características da organização, características lexicais e características gramaticais. 1.5.1 Traços explicativos ou expositivos no texto O que caracteriza este texto como tendo traços explicativos ou expositivos é, no essencial, a intenção comunicativa, a relação emissor/receptor. Concluiu-se que a emissora do TP pretende modificar ou alargar os conhecimentos dos destinatários (estudantes de Direito). O pressuposto de um texto explicativo ou expositivo é que existe uma lacuna no conhecimento do receptor, que é necessário colmatar, fornecendo a informação em falta. Dado que o texto de partida enquadra-se no âmbito das obras científicas, doutrinais foi classificado como pertencendo a esta categoria e as seguintes características suportam esta conclusão. a) Alguns elementos lexicais Existência de vocabulário da especialidade. A presente obra contém termos relativos a um domínio de conhecimento específico (o Direito) e quanto mais especializado é o texto (Direito da Família) maior é a frequência dos termos científicos e técnicos. 14

l officier d état civil demande aux futurs époux s ils ont fait un contrat de mariage puis s ils veulent se prendre pour mari et femme...» [page 69] o conservador do registo civil pergunta aos nubentes se elaboraram uma convenção antenupcial e depois se se querem tomar por marido e mulher [pág. 64] b) Alguns elementos gramaticais Marcadores de tipo explicativo que relacionam a informação com a explicação. la famille est facteur de natalité parce qu une femme-célibataire conçoit moins d enfants qu une femme vivant «en couple», pour des raisons évidentes, matérielles et affectives.» [page 5] a família é factor de natalidade porque uma mulher solteira concebe menos crianças do que uma mulher que vive em casal, por razões óbvias, materiais e afectivas. [pág.4] Pour les enfants aussi, car elle offre un cadre de vie plus stable que le concubinage [page 30] Também para os filhos porque oferece um ambiente mais estável do que o concubinato [pág.28] c) Comparação com conceitos, realidades de áreas afins, mais familiares ao leitor. Les conditions de formation du pacte civil de solidarité sont à peu de choses près les mêmes que celles existant en mariage, tant pour ce qui a trait aux personnes que pour ce qui concerne l exigence d un consentement. [page 234] As condições de formação do pacto civil de solidariedade são mais coisa menos coisa as mesmas das existentes no casamento, tanto no que diz respeito às pessoas como no que se refere à exigência de um consentimento. [pág.216] 15

1.5.2 Traços argumentativos do texto Devido ao seu objectivo, conduzir forçosamente a uma determinada conclusão, as sequências argumentativas encontram-se frequentemente em textos publicitários ou de carácter político. A argumentação, como se constatou pela leitura do texto em questão, é a base de textos de carácter científico e de trabalhos académicos. Em termos gerais, um texto argumentativo obedece à seguinte estrutura: Introdução, onde se apresenta o problema. De quelle nature est le mariage? Est-ce une institution, une norme sociale régissant l union d un homme et d une femme? Ou est-ce un contrat, un accord de deux volontés? [page 30] Qual é a natureza do casamento? Será uma instituição, uma norma social que rege a união entre um homem e uma mulher? Ou será um contrato, um acordo de duas vontades individuais? [pág. 28] Desenvolvimento, apresentação dos argumentos «le mariage est une institution (le statut conjugal est déterminé par la société, le mariage constituant le fondement principal de la famille, cellule de base de la société) qui procède de la rencontre de deux volontés privés...»[page 30] o casamento é uma instituição (o estatuto conjugal é determinado pela sociedade, sendo que o casamento constitui o principal fundamento da família, célula base da sociedade) que nasce do encontro de duas vontades privadas [pág.29] Conclusão, reforço do ponto de vista Reste que l importance de l union matrimoniale dans la société justifie que le droit pose des conditions pour la formation du lien et lui attache certains effets intangibles.» [page 30] Em todo o caso, a importância da união matrimonial na sociedade justifica que o Direito apresente condições para a formação do vínculo e lhe associe alguns efeitos invioláveis. [pág. 29] 16

a) Alguns marcadores argumentativos (Exemplificação) ainsi en cas de défaut de publication des bans et d absence de remise des diverses pièces ( ) ainsi en cas de célébration malgré une opposition» [page 73] é o caso da ausência de publicação do edital de casamento e ausência de entrega de diversos documentos ( ) é o caso de celebração apesar de uma oposição [pág.71] (Estabelecimento de relações disjuntivas) La solution soit anecdotique, soit absurde, en toute hypothèse regrettable symboliquement.» [page 93] A solução, seja anedótica ou absurda, é de qualquer das formas simbolicamente lamentável. [pág. 89] (Constraste ou oposição) Ce regime preserve toutefois aussi l indépendance de chacun.» [page 104] Contudo, este regime conserva também a independência de cada um. [pág.100] (adição ou reforço de ideia) En outre, la jurisprudence, relayée par legislateur, a accentué la protection de la liberté du mariage en sanctionnant des pressions plus diffuses. [page 50] Para além disso, a jurisprudência, substituída pelo legislador, acentuou a protecção do casamento, sancionando coacções muito difusas. [pág. 45] b) Para além dos argumentos, é possível a utilização dos chamados pseudoargumentos e neste caso na forma de uma interrogação retórica: (Recurso ao absurdo ou ironia) Est-il convaincant de laisser chacun des partenaires libre de disposer du logement commun alors que, dans le même temps, la loi impose au bailleur la continuation du bail au profit du partenaire survivant? [page 266] Será que é convincente deixar cada um dos parceiros livre para dispor da habitação comum quando, ao mesmo tempo, a Lei impõe ao senhorio a continuação do contrato de arrendamento para benefício do parceiro sobrevivo? [pág.246] 17

c) Predominância de frases interrogativas la société peut-elle admettre qu un enfant ait deux personnes du même sexe pour parents? [page 60] será que a sociedade pode admitir que uma criança tenha duas pessoas do mesmo sexo como pais? [pág. 55] d) Recurso a elementos a marcadores de argumento D abord la solidarité n incluait pas explicitement les dettes contractées pour l éducation des enfants ( ). Ensuite, la solidarité n englobait pas les dettes contractées pour l entretien du ménage mais pour les besoins de la vie courante et les dépenses relatives au logement comum ( ). Enfin, la limite prévue à l article 220 ( ) n apparaissait pas dans le pacte civil de solidarité. Lé résultat était que, hormis les dettes engagés en pacte qu en mariage, ce qui était tout de même assez paradoxal. [page 256] Primeiro, a solidariedade não incluía explicitamente as dívidas contraídas para a educação dos filhos ( ). Em seguida, a solidariedade não englobava as dívidas contraídas para o sustento do lar mas para as necessidades da vida corrente e as despesas relativas à habitação comum ( ). Por fim, o limite previsto no artigo 220º ( ) não constava no pacto civil de solidariedade. [págs.236/237] 18

2.1 Metodologias e processo de tradução A metodologia do processo de tradução da obra Droit de la Famille pode ser divida em cinco fases: 1ª Fase: Leitura pré-tradução 2ª Fase: Análise ao Texto de Partida 3ª Fase: Tradução propriamente dita 4ª Fase: Correcções e discussões 5ª Fase: Revisão Final A primeira fase denominada leitura pré-tradução compreendeu a pesquisa de textos ditos paralelos sobre o tema do Direito da Família. Esta fase compreende de igual modo as leituras integrais da primeira parte da obra a ser traduzida, estas leituras serviram para dar uma primeira abordagem às potenciais dificuldades de tradução e planear possíveis estratégias de resolução das mesmas. Fez-se igualmente, em segundas leituras, um levantamento do vocabulário ou construções mais problemáticos. Nesta fase, houve reuniões iniciais com o orientador para seleccionar a bibliografia mais apropriada assim como verificar e analisar os recursos de apoio à tradução disponíveis. Tentou-se inicialmente digitalizar o texto em questão mas verificou-se que não estavam disponíveis os equipamentos de software com capacidade para tal. O objectivo da digitalização era permitir pesquisas rápidas ao texto, para efeitos de consulta e comparação. Nesta fase, decidiu-se também traduzir apenas a primeira parte da obra (276 páginas) pois uma tradução integral do texto (517 páginas) seria quase impossível atendendo ao factor tempo. O trabalho desta primeira fase, ou seja, essencialmente a recolha de informações sobre o texto e autora, permitiu contextualizar a obra e serviu de arranque inicial para a análise propriamente dita da obra. 19

A segunda fase do processo é basicamente caracterizada pela análise textual à obra Droit de la Famille. Pretendeu-se, nesta fase, apreender o sentido geral do texto bem como o sentido mais restrito. Seguiu-se o esquema de análise ao TP proposto por Christiane Nord, ou seja, análise dos factores extratextuais e intratextuais do texto. No seguimento desta análise classificou-se o presente texto, enquadrando-o no modelo dos textos de doutrina de Direito com aspectos argumentativos e explicativos, analisando simultaneamente o vocabulário e características estilísticas presentes. A compreensão dos elementos estilísticos, semânticos e gramaticais do texto garante que este é apreendido tanto no aspecto conotativo como no aspecto denotativo. A terceira fase, a tradução propriamente dita, foi a mais demorada. Em conjunto com o orientador decidiu-se fazer uma tradução inicial e a partir daí seleccionar os aspectos problemáticos da tradução, ou seja, dificuldades com a terminologia jurídica, como por exemplo, assinalar as dificuldades sentidas com o reconhecimento das expressões que valem como um todo e não podem ser decompostas. Esta estratégia deu um impulso ao processo de tradução, dado que os erros cometidos numa primeira tradução não seriam cometidos novamente. Esta fase foi também pautada pelo recurso às ferramentas de tradução de apoio à tradução, quer dicionários quer suportes informáticos. Como já foi referido, o processo de tradução foi a fase mais demorada, pelas dificuldades encontradas e pela necessidade de constante verificação de termos e suas diferentes acepções. Simultaneamente, realizavam-se encontros quinzenais com o Orientador para rever estratégias de tradução e discutir possíveis entradas para o Relatório. Estes encontros ocorriam no seguimento do envio dos textos traduzidos, via correio electrónico, que o Orientador rectificava e apontava erros ou lapsos. 20

A quarta fase, correcções e discussões, tratava essencialmente dos pontos mais relevantes seleccionados pelo Orientador. Nesta fase, o Orientador proponha algumas alternativas às traduções efectuadas bem como o levantamento dos erros e imprecisões que pudessem minar o sentido do texto. Recorreu-se bastante ao original nesta etapa tanto para analisar e medir a equivalência textual como para definir uma versão final do texto. A quinta fase, revisão final, assemelha-se bastante à fase anterior. No seguimento das últimas correcções houve um distanciamento do texto traduzido. Após este período de tempo, fez-se uma leitura integral ao texto traduzido, sem recurso ao texto original, para detectar e corrigir gralhas ou lapsos. 21

2.2 Ferramentas de apoio à tradução As ferramentas de apoio à tradução do texto jurídico usadas com maior regularidade encontram-se listadas na tabela abaixo. Indica-se nesta tabela a frequência de uso das fontes assim como uma avaliação pessoal da fiabilidade das mesmas. Veja-se a seguinte tabela: Leitura prétradução Análise TP Processo de tradução Correcção/Revisão TC Fiabilidade da fonte Dicionário bilingue FR- PT Dicionário unilingue FR Dic. Jurídico bilingue FR Dic. Jurídico PT (Prata) Manuais Direito da Família PT Código Civil FR Código Civil PT Artigos sobre trad. jurídica ** ** ** * ** * ** * * ** * ** *** *** ** ** ** *** *** *** *** ** ** *** *** * *** ** * *** ** *** *** *** *** *** ** * * *** Vocabulaire juridique Base de dados Eur-lex * *** *** *** *** * ** *** *** ** Base de dados IATE * ** *** *** ** Legendagem da frequência de consulta: *pouco frequente; **frequente; ***muito frequente. Legendagem da avaliação à fiablidade: *pouco fiável; **fiável; ***muito fiável. 22

2.3 O processo de tradução propriamente dito Após contextualização da obra e descrição das fases do processo de tradução, procede-se à análise pormenorizada de uma selecção de casos específicos que representam as várias categorias problemáticas encontradas no desenrolar da leitura e processo de tradução. As dificuldades foram categorizadas em duas secções: léxico e sintaxe. Para cada dificuldade ou problema de tradução apresenta-se uma descrição do processo tradutório, as soluções encontradas e justificação das propostas de tradução finais. Apresentase, para cada entrada, o excerto na língua francesa e respectiva página do original e a tradução desse excerto e respectiva página do texto traduzido. 2.3.1Dificuldades com o aspecto lexical Nesta secção apresentam-se as dificuldades sentidas com a terminologia jurídica. Sentiu-se uma dificuldade especial em reconhecer termos que não podem ser decompostos e que podem ser classificados como colocações na linguagem jurídica. As outras duas dificuldades mais proeminentes na tradução do léxico de Droit de la Famille deveram-se aos termos polissémicos e os ditos falsos amigos. a) Colocações J.R. Firth, fundador e membro da escola contextualista britânica, introduziu nos anos 30 o termo collocation para designar e caracterizar certos fenómenos linguísticos de co-ocorrência. Collocation (colocação) refere-se à combinação de pelo menos dois componentes, em que a base (lexema livre) determina o colocativo (lexema restrito). Assim classificaram-se as seguintes entradas como colocações na língua francesa que, em alguns casos, devidamente assinalados, foram entendidos como expressões livres ou passíveis de decomposição. 23

héritier réservataire «La loi consacre au profit des plus proches parents du défunt (appelés«héritiers réservataires») ce qu elle appelle la «réserve héréditaire» [page 108] A Lei consagra para beneficio dos parentes mais próximos do falecido (designados herdeiros legítimos ) o que se designa por reserva legítima... [pág.97] Obs: A tradução de héritier réservataire proposta pelo dicionário jurídico bilingue é «herdeiro legitimário», a base de dados terminológica IATE não oferece resultados de tradução para esta construção. O dicionário Prata define herdeiro como sendo aquele que sucede em parte ou na totalidade o património do falecido, à diferença do legatário que sucede em bens ou valores determinados. Este dicionário apresenta a definição para a proposta de tradução avançada pelo dicionário jurídico bilingue, ou seja, herdeiro legitimário. Prata define herdeiro legitimário como sendo aquele que, nos termos da Lei, beneficia obrigatoriamente de uma porção dos bens do de cuius a chamada legítima ou quota indisponível.» Inicialmente, optara-se pela proposta de tradução «herdeiro legitimário» mas após discussões com o Orientador concluiu-se que a tradução mais adequada seria «herdeiro legítimo» que, segundo definição do dicionário jurídico, é o sucessível chamado no caso de o falecido não ter disposto, de um modo válido e eficaz, os bens que integravam a sua quota disponível. Evento que vai ao encontro do contexto do texto de partida. légataire testamentaire «instituer un légataire testamentaire, se gratifier par donation» [page 222] «instituir um legatário testamentário, gratificar-se por doação... [pág.202] Obs: A pesquisa da tradução de legataire pelo dicionário jurídico remeteu para a forma literal legatário. Segundo o artigo 2030.º do C.C legatário será o indivíduo que recebe bens com valores determinados enquanto o herdeiro é a pessoa que sucede na totalidade ou numa quota do património. Relativamente à tradução da construção légataire testamentaire constatou-se que o adjectivo 24

testamentaire designa a modalidade de sucessão, ou seja, por testamento e por essa razão optou-se pela tradução literal legatário testamentário. acte authentique; acte sous seing privé «la convention passé entre elles par acte authentique ou par acte sous seing privé.» [page 240] «a convenção aceite entre si por documento autêntico ou documento particular. [pág. 217] Obs: As primeiras iniciativas de tradução para acte authentique e acte sous seing privé resultaram em traduções literais: actos autênticos e actos privados. Porém, constatou-se que o dicionário jurídico bilingue, bem como a base dados terminologia IATE, propõe as respectivas traduções documento autêntico e documento particular. acte notarié Il suffit que la reprise de la vie commune ait été constatée par acte de notarié [page 203] Basta que a retoma da vida em comum tenha sido constatada por escritura notarial [pág.184] Obs: Inicialmente traduzira-se acte notarié por acto notarial e segundo a base de dados terminológica IATE esta tradução tem uma fiabilidade elevada. Constatou-se que este termo jurídico-administrativo está igualmente traduzido por escritura notarial e classificada igualmente com nível máximo de fiabilidade. Dado que ambas as traduções são possíveis pois fazem referência a um documento lavrado pelo notário, optou-se por escritura notarial. Não se encontraram ocorrências de tradução no dicionário jurídico bilingue. 25

domicile conjugal lequel des époux reste au domicile conjugal» [page 116] qual dos cônjuges permanece na casa de morada da família [pág.105] Obs: Optou-se por traduzir as ocorrências de domicile conjugal, assim como résidence de famille e logement familial por casa de morada da família por se ter verificado que o dicionário jurídico bilingue à semelhança do artigo X do Código Civil emprega esta forma jurídica para designar a habitação familiar. mainlevée judiciaire «L opposition pourra faire l objet d une mainlevée judiciaire» [page 74] «A oposição poderá ser objecto de um suprimento judicial... [pág.70] Obs: As dificuldades de tradução para mainlevée judiciaire deveram-se ao facto de se terem encontrado várias possibilidades de tradução. Não se encontraram ocorrências da construção mainlevée judiciaire na base de dados terminológica IATE, mas uma pesquisa com os constituintes em separado devolveu resultados que se aproximam das possibilidades de tradução acima mencionadas. Segundo a base de dados terminológica IATE mainlevée poderá ser: embargo, levantamento de interdição, expurgação ou ainda autorização de saída. Ao fazer-se uma pesquisa com mainlevée pelo dicionário jurídico bilingue constatou-se que este termo poderá ser traduzido por: cancelamento ; dispensa ou levantamento (penhora). Verificou-se também que este dicionário propunha ainda uma tradução para a construção mainlevée judiciaire: suprimento judicial da autorização dos pais ou tutores para casamento de menores. Considerando os resultados de tradução obtidos entendeu-se que o significado desta expressão gira em torno de uma forma de dispensa de uma regra concedida mediante uma justificação excepcional. Fez-se também uma leitura pelo Código Civil, nomedamente o artigo 1649.º sobre casamento de menores e verificou-se a ocorrência da expressão suprimento judicial com contexto semelhante à mensagem do TP. Por todos esses factores, e atendendo à fiabilidade das fontes, traduziu-se mainlevée judiciaire por suprimento judicial. 26

conjoint survivant; partenaire survivant «la loi étend au partenaire survivant le bénéfice du droit créé au profit du conjoint survivant par la loi du 3 décembre 2001» [page 275] «a Lei alarga ao parceiro sobrevivo o benefício do direito criado para vantagem do cônjuge sobrevivo pela Lei de 3 de Dezembro de 2001 [pág.250] Obs: A designação que o Direito português dá ao cônjuge que sobrevive ao seu cônjuge, isto é, o que fica viúvo, é cônjuge sobrevivo e foi essa a tradução para conjoint survivant. Para se chegar à tradução de partenaire survivant fez-se uma pesquisa simples pela base de dados jurídica do EURLEX, e numa visualização bilingue encontrou-se a proposta de tradução parceiro sobrevivo, designando deste modo a pessoa que sobrevive ao seu companheiro numa união que não envolve casamento. époux survivant; concubin survivant «À la différence de l époux survivant, le concubin survivant ne peut pas non plus se prévaloir de l attribution préférentielle»[pág.215, nº3] Ao contrário do cônjuge sobrevivo, o concubino sobrevivo já não pode tirar partido da atribuição preferencial... [pág.196, nº3] Obs: Relativamente a époux survivant, entendeu-se que esta expressão designa o mesmo conceito de conjoint survivant e por isso optou-se por traduzir todas as ocorrências de époux survivant por cônjuge sobrevivo e não esposo sobrevivo, dado que a primeira construção consta em textos jurídicos e a segunda não. Já a tradução de concubin survivant foi pesquisada na base de dados terminológica IATE que não devolveu resultados assim como a base de dados jurídica EURLEX. Verificou-se que o dicionário jurídico não apresenta ocorrência de entradas para concubin survivant. Porém, noutras pesquisas em linha através do motor de busca GOOGLE encontrou-se um texto publicado no sítio da Comissão Europeia que empregava a construção concubino sobrevivo para se referir à pessoa não casada que sobrevive ao seu parceiro. 27

futur époux l officier d état civil demande aux futurs époux s ils ont fait un contrat de mariage puis s ils veulent se prendre pour mari et femme...» [page 69] primeiro o conservador do registo civil pergunta aos nubentes se elaboraram uma convenção antenupcial e depois se querem tomar-se por marido e mulher [pág.64] Obs: A primeira proposta de tradução foi uma tradução literal, incluindo adjectivo e substantivo futuro cônjuge, à semelhança da forma francesa. Porém, constatou-se que no Código Civil, por exemplo artigo 1597.º sobre processo preliminar, se emprega o termo nubente para se referir à pessoa que está para casar. Para além disso, verificou-se que o dicionário jurídico define nubente como sendo: aquele que vai contrair ou contrai casamento. Por estas razões, e pela fiabilidade das fontes decidiu-se traduzir as ocorrências de e futur époux, assim como futur conjoint por nubente. empêchement dirimant l empêchement soit dirimant ou simplement prohibitif, l officier d état civil qui constate qu un mariage ne remplit pas les conditions de formation posées par les textes doit refuser de le célébrer.» [page 73] seja o impedimento dirimente ou simplesmente impediente, o conservador do registo civil que constatar que um casamento não satisfaz as condições de formação estabelecidas pelos diplomas deve recusar celebrá-lo. [pág.65] Obs: A tradução proposta para empêchement dirimant no dicionário jurídico bilingue é impedimento dirimente. Dado que este excerto foi retirado do capítulo onde se tratam as formalidades para a celebração do matrimónio conclui-se que empêchement dirimant ou a tradução impedimento dirimente dizem respeito aos impedimentos matrimoniais. O dicionário jurídico refere que os impedimentos dirimentes estão classificados como sendo absolutos ou relativos. Segundo este dicionário, são impedimentos dirimentes absolutos aqueles que obstam, em qualquer caso à celebração do casamento: idade inferior a dezasseis anos, a demência notória, mesmo durante os intervalos lúcidos, e a interdição ou inabilitação por anomalia psíquica e ainda o 28

casamento, católico ou civil, anterior não dissolvido. Já os impedimentos dirimentes relativos são definidos como os que apenas obstam ao casamento com determinadas pessoas: o parentesco na linha recta e no segundo grau da linha colateral, a afinidade na linha recta e a condenação anterior de um dos nubentes, como autor ou cúmplice, por homicídio doloso, ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro. Esta construção ocorre, por exemplo, no artigo 1631.º do C.C relativo às causas de anulabilidade do casamento. empêchement seulement prohibitif Constituent ainsi des empêchements seulement prohibitifs: le défaut de publication des bans» [pág.72] Constituem por exemplo impedimentos impedientes: a falta de publicação do edital de casamento [pág.68] Obs: A primeira iniciativa de tradução da expressão empêchement seulement prohibitif resultou numa tradução à letra: «impedimento unicamente proibitivo». Pode-se concluir, por meio do contexto, de que se trata de um tipo de impedimento matrimonial. Verificou-se que o dicionário jurídico bilingue propõe a tradução «impedimento impediente» e quando se consultou o dicionário jurídico constatou-se refere que um impediemento impediente a um matrimónio só assim é «se apenas podem resultar sanções de ordem penal, civil ou disciplinar para os cônjuges ou para o funcionário celebrante, sendo o casamento válido.» Assim são considerados impedimentos impedientes : «a falta de autorização dos pais ou do tutor do nubente menor, quando não suprida judicialmente ; o prazo internupcial ; o parentesco no terceiro grau na linha colateral; o vínculo de tutela, curatela ou administração legal de bens ; o vínculo da adopção restrita ; a pronúncia do nubente pelo crime de homicídio doloso, ainda que não consumado, contra o cônjuge do outro, enquanto não houver despronúncia ou absolvição por decisão passada em julgado.» Este dicionário refere ainda que os «casamentos celebrados com impedimentos impedientes são válidos, estando, no entanto, os cônjuges sujeitos a determinadas sanções, geralmente de natureza patrimonial». Constatou-se que 29

esta construção surge no artigo 1650.º do C.C referente às sanções especiais ao casamento. majeur protégé «Mais ce principe cède en présence d un majeur protégé, c est-à-dire d un majeur ne pouvant veiller seul à ses intérêts en raison d une altération de ses facultés personnelles» [page 37] Mas este princípio cede na presença de um maior de idade inabilitado, isto é, um adulto incapaz de velar pelos seus interesses devido a uma alteração das suas faculdades pessoais [pág.33] Obs: Não se encontrou, nas pesquisas realizadas, um equivalente directo de majeur protégé pelo que se parafraseou esta colocação, inspirando-se nas definições dadas pelo dicionário jurídico de Prata e o Código Civil. O artigo 152.º do Código Civil refere o seguinte podem ser inabilitados os indivíduos cuja anomalia psíquica, surdez-mudez ou cegueira, embora de carácter permanente ( ) se mostrem incapazes de reger convenientemente o seu património. Dado que se emprega o adjectivo inabilitado para designar o indivíduo com as características acima descritas no texto original considerou-se que se deveria manter este adjectivo. O dicionário jurídico oferece a seguinte definição para inabilitado: Pessoa declarada incapaz de reger, total ou parcialmente, o seu património e sujeita a um regime de assistência por curador. Concluíu-se deste modo que o adjectivo inabilitado oferece informações ao leitor, que irá deduzir que se trata de pessoa interdita por limitações que não lhe permitem advogar por si e que por isso estará sujeito a regime de protecção da Lei. 30