MEMORIAL MÃE MENININHA DE GANTOIS: SELETA DO ACERVO COMO GUARDIÃ DA MEMÓRIA Danilo Nascimento de Jesus Graduando em Museologia - UFS danilodnj9@gmail.com Roberto Fernandes dos Santos Júnior Graduando em Museologia- UFS Orientador: Prof. Dr. Clovis Carvalho Britto Núcleo de Museologia - UFS Olorum quem mandou essa filha de Oxum Tomar conta da gente e de tudo cuidar Dorival Caymmi, Oração de Mãe Menininha Nos últimos anos, os terreiros de candomblé começaram a se organizar e a criar espaços de memória com o intuito de narrar a história da casa e promover suas tradições apresentando,assim, aos seus iniciados e a toda comunidade, a carga simbólica que cada objeto pode acionar através da fabricação de uma narrativa. Desse modo, o intuito é criar uma conexão do público com algumas experiências de vida no sagrado e no cotidianoa exemplo das trajetórias dos ialorixás e babalorixás da casa.questões que atravessam da construção do terreiroaté a criação de um sentimento de identificação com seus adeptos e, assim, as exposiçõesse tornam, também, um mecanismo de fabricação e transmissão de determinadas crenças. As exposições criadas nos (terreiros) espaços de candomblé geralmente são uma seleção de objetos pertencentes ao chefe da casa, como a mãe de santo ou o pai de santo. Esses espaços são organizados geralmente pelos próprios membros e a partir de uma seleção de quais memórias e como tais memórias deverão ser apresentadas apresentam as narrativas que querem promover para os membros do grupo e para a coletividade. Tais procedimentos se tornam jogos de poder na batalha das memórias (Cf. GOMES, 1996) e mecanismo de fabricação da imortalidade (Cf. ABREU, 1996). 1
Nesse sentido, este artigo pretende visualizar as tensões e os bastidores e cenários dessa fabricação tendo como estudo de caso o Memorial Mãe Menininha de Gantois, em Salvador- BA, problematizando o modo como as instituições museais também apresentam e reinventam as memórias e os patrimônios afro-brasileiros a partir dos trajetos de personagens considerados exemplares. 1. Museus, Memoriais e Patrimônio Afro-Brasileiro: intersecções Na atualidade, mesmo com projetos e políticas de afirmação do negro e de outros grupos étnicos no Brasil, ainda nos deparamos com altos índices de racismo e intolerância religiosa, mesmo com o crescimento dos grupos identificados ou que se autodeclaram negros ou afrodescendentes. Tais práticas se apresentam como violência física e/ou simbólica e nos museus, por exemplo, podem comparecer nos silêncios, nos discursos e nas visões estereotipadas. Os museus enquanto espaços privilegiados de memória podem desenvolver um papel fundamental no combate as práticas racistas e outras que promovam qualquer forma de exclusão devido à cor da pele, crença religiosa ou orientação sexual, por exemplo. Esses locais devem ser transformados em importantes instrumentos de combate as disparidades sociais e raciais. Nesse entendimento, a criação de museus voltados para a temática afrobrasileira tem o intuito de celebrar o patrimônio afro-brasileiro e promover a identidade dos povos das matrizes africanas. Além disso, ampliam os discursos patrimoniais, problematizando as memórias ditas oficiais ou historicamente reproduzidas: As criações dos museus afro-brasileiros em Salvador e São Paulo são pequenos sinais de grandes mudanças. O objetivo destes museus é divulgar uma nova imagem do negro para o grande público. Neles encontramos obras importantes de artistas negros e objetos considerados de origem ou inspiração africana. Podemos compreender estes dois museus como parte de um processo crescente de racialização da cultura brasileira, que ocorre concomitantemente ao fortalecimento de uma agenda pública que se volta para o combate de desigualdades raciais a partir de politicas afirmativas. Podemos dizer que aqueles que hoje procuram ver-se como negros ou afrodescentesestão conseguindo, afinal, apoio público para não apenas 2
fortalecerem suas imagens na esfera pública, mas também para reescrever e preservar uma outra história de imagem e nação.(santos,2007, p. 1-2) Para discutimos sobre a representatividade (Visibilidade) queé dada ao negro nos museus brasileiros, partimos da premissa que cada instituição museal tem uma realidade e particularidade. Com relação aos museus (e ao memorial enquanto tipologia) e o patrimônio afro-brasileiro reconhecemos que muitos vezes o público não se sente representado na expografia dessas instituições e quando são, na maioria das vezes, as memórias selecionadas remetem à escravidão e ao sofrimento o que não gera um sentimento de pertença. Um exemplo dessas tensões a partir dapatrimonialização dos bens culturais consistenos museus afro-brasileiros e os memoriais com inspirações na temática do negro,como podemos observar no Museu Afro-Brasileiro de LaranjeirasSE. A exposição museológica aciona diversas memórias, a partir de um discurso fruto da manipulação de lembranças e esquecimentos a partir dos objetos e coleções. Neste caso, a lógica da organização dos objetos é construída partir dapromoção do sofrimento escravo,destacando objetos de tortura e de trabalho nos canaviais. Para além desse discurso, no pavimento superior se destaca o que podemos considerar como um museu sacro, com destaque para a apresentação de algumas religiões afro-brasileiras, com destaque para a roda dos orixás. Segundo Raul Lody (2005) assim, o museu concentra seu acervo nas questões religiosas do xangô em Sergipe e também do candomblé baiano migrado e incorporando ás características religiosas do estado (p. 196). Observamos nos museus e memoriais uma batalha entre diversas versões, oficiais e alternativas, memórias que se pendulam entre a exaltação da religiosidade e a apresentação do sofrimento. Todavia, existem algumas instituições que optam por reconstruir a trajetória da diáspora negra a partir das contribuições de alguns personagens considerados representativos, o que também é uma prática seletiva. Exaltando a trajetória de vida de um determinado personagem e através do patrimônio material (objeto) pode-se construir uma rede de informações que propõe determinados discursos manipulados pelos agentes que integram o espaço ou que estão autorizados a dizer sobre ele: 3
Vê-se hoje como se ampliou o conceito espacial de museu e mesmo seu histórico papel legitimador de povos, culturas e civilizações. Com isso também, em contextos globalizados, a compreensão patrimonial fundamentalmente unida á função preservacionista do museu é trazida para discussões mais democráticas, e, hoje, o patrimônio cultural assume o mesmo sentido de testemunho de um grupo social, de um Estado, de um segmento étnico, de um indivíduo (LODY 2005, p. 18). Além disso, é importante reconhecer que muitos objetos selecionados para integrar o patrimônio representativo da cultura negra que encontram-se hoje nos museus e memoriais são peças provenientes de saquesem diversos terreiros e centros de candomblé pelo Brasil, a exemplo do que ocorreu em Salvador, no Rio de Janeiro, no Recife e em Alagoas. Movimento esse conhecido como quebra-quebra que era a destruição dos terreiros e apreensão de seus objetos litúrgicos, sendo encaminhados para delegacias de polícia e hospitais psiquiátricos (Cf. LODY, 2005). Nesse aspecto, o museu enquanto guardião de determinados enquadramentos de memória, manipula suas narrativas, tendo a faculdade de legitimar discursos na medida em que promove leituras sobre a cultura e a memória nacional: O sentimento de autenticidade que acompanha a memória não é suficiente para atribuir veracidade a sua narrativa e talvez, por isso, seja bastante frequente o entrelaçamento entre história e memória nos museus nacionais. Sabemos que se a memória caracteriza-se por sua seletividade e descontinuidade, a história, ao contrário, procura legitimidade através de discursos lógicos, da ordem cronológica dos fatos, de métodos que privilegiam precisão. E da comprovação da veracidade das fontes utilizadas.(santos, 2007, p. 7) Os museus são lugares de memórias e, uma de suas tipologias (os memoriais), evidenciam esse fato em sua própria nomenclatura. Para melhor compreender o que são os memoriais, Raul Lody (2005) os reconhece como espaços construídos para a guarda, manutenção e expressão de um fato, uma pessoa, uma comunidade ou um segmento étnico. Esses espaços estabelecem vigilâncias comemorativas, reafirmando discursos e combatendo versões consideradas negativas de acordo com os seus interesses. Nesse aspecto, os memoriais seriam museus destinados a monumentalização de um agente ou um grupo específico, a exemplo do Memorial Mãe Menininha de Gantois, em Salvador/BA que, através da seleção de versões a respeito da ialorixá, pode ser considerado metáfora e metonímia de determinadas memórias e contribuições dos negros no Brasil. 4
2. Mãe Menininha do Gantois: a Guardiã da Memória Assim como os museus e memoriais, os indivíduos também podem ser visualizados como guardiões de memórias, reconhecidos como agentes que fabricam e consolidam determinadas versões e registros da história. De acordo com Ãngela de Castro Gomes (1996), o guardião é um mediador, um narrador privilegiado da história do grupo a que está autorizado a falar: ele guarda/possui as marcas do passado sobre o qual se remete, tanto porque se torna um ponto de convergência de histórias vividas por muitos outros do grupo (vivos e mortos), quanto porque é o colecionador dos objetos materiais que encerram aquela memória (GOMES, 1996, p. 7). Todavia, durante muitos séculos as mulheres ocuparam posições desprivilegiadas no espaço público. Mesmo com as restrições impostas, algumas mulheres se tornaram importantes guardiãs, exercendo um papel fundamental na cena pública e cultural de suas comunidades. Exemplo oportuno consiste na trajetória de Mãe Menininha, como era conhecida, a Ialorixá do Terreiro do Gantois (Ilê Axé IyáOmimIyamassé), cuja atuação em prol da difusão e preservação do candomblé extrapolou os limites da Bahia e do Brasil. O Terreiro do Gantois foi fundado por Maria Júlia da Conceição Nazaré, Filha de Santo de Marcelina da Silva, proveniente do Terreiro Casa Branca do Engenho Velho (Ilê Axé IyáNassôOká). Após a sua morte, assume sua filha Pulchéria, que fica a frente do terreiro por dois anos, deixando a liderança em virtude da sua morte. A partir dai assume Maria dos Prazeres Nazaré e, em 18 de fevereiro de 1922, Mãe Menininha do Gantois assume o maior posto hierárquico do terreiro. Mãe Menininha do Gantois (Escolástica Maria da Conceição Nazaré), nasceu no dia 10 de fevereiro de 1894, filha de Maria dos Prazeres Nazaré. Assumiu o Gantois com 26 anos de idade. A partir dai começa-se um trabalho de preservação da memória do Terreiro de Gantois. Mãe Menininha se esbarra em diversos problemas ligados a repressão aos cultos e celebrações afro-brasileiras, mas reconhece a importância de trabalhar em prol da manutenção e fabricação de determinados aspectos eleitos como representativos de sua comunidade e ancestralidade: 5
A memória é um trabalho. Como atividade, ela refaz o passado segundo os imperativos do presente de quem rememora,ressignificando as noções de tempo e espaço e selecionando o que vai e o que não vai ser dito, bem longe, naturalmente, de um cálculo apenas consciente e utilitário. Quem aceita fazer o trabalho da memória, o faz por alguma ordem de razões importantes, dentre as quais estão a busca de novos conhecimentos, a realização de encontros com outros e consigo mesmo, de forma a que os resultados sejam enriquecedores sob o ponto de vista individual e coletivo (GOMES, 1996, p.6). Uma das primeiras estratégias dos terreiros de candomblé para a proteção de suas memórias foi a preservação linguística e dos rituais utilizados em suas celebrações. Para tanto, foram realizadas alianças interétnicas que possibilitaram a (re) organização do culto, pautadas nas alianças com os santos católicos (e a criação de irmandades católicas negras onde discretamente dissimulavam práticas e preservação suas memórias) e com personalidades consideradas influentes na sociedade, que poderiam proteger os terreiros (Cf. SANT ANNA, 2014). Além das irmandades e confrarias negras, muitas personalidades políticas e expoentes na ciência e nas artes contribuíram para dar visibilidade e proteção, tornando-se também guardiões dessa memória. No do candomblé, essas figuras recebem um cargo na hierarquia do terreiro, passando a serem denominados como ogãs ou ogans: O ogan é um tipo especial de sacerdote do culto nagô, do sexo masculino, que não incorpora divindades, mas realiza tarefas especificas como a música e os sacrifícios, além de outras, administrativas e de representação. Nos cultos africanos reestruturados na Bahia, essa figura foi mantida, criando-se ainda uma modalidade especial de ogan, correspondente a um cargo honorífico destinado a personalidades importantes da sociedade, tanto brancos como mestiços em ascensão. Esses personagens foram fundamentais para a consolidação dos centros de culto afro-brasileiro, promovendo sua aceitação social e contribuindo para sua notável expansão numérica nos dias de hoje. (SANT ANNA, 2014, p. 8) Atualmente essa modalidade especial de ogan em alguns terreiros foi extinta, mas em muitos ainda permanece viva essa prática e a memória de pessoas que contribuíram para o fortalecimento e crescimento dos terreiros. No caso do Gantois, Menininha estabeleceu determinadas alianças no intuito de estabelecer uma política da memória para o terreiro, a 6
exemplo da existência de ogãs como Antônio Carlos Magalhães, Dorival Caymmi, Carybé e Jorge Amado. Durante o arrastar de longos anos este anseio de se preservar a cultura e os ritos afrobrasileiros foi aumentando a ponto de ser colocado em evidência pelo Estado Nacional, através do SPHAN, hoje Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-IPHAN. Exemplo significativo foi o tombamento em virtude da necessidade de preservação do Terreiro Casa Branca do Engenho Velho, como ícone de tradicionalidade no tangente aos cultos e ritos africanos na Bahia. O problema em questão era o tombamento do terreiro, em uma sociedade que só reconhecia o patrimônio edificado de memórias européias como relevante a ser preservado: Não há dúvida de que tal medida de reconhecimento do Estado representava também uma reparação às perseguições e à intolerância manifestadas durante séculos pelas elites e pelas autoridades brasileiras contra as crenças e os rituais afrobrasileiros. (VELHO, 2006, p. 240). Em outras palavras, uma conquista importante na batalha das memórias que dilatou as representações e seleções de quais memórias nacionais são importantes preservar e promover. Ampliação graças à luta de pessoas como Mãe Menininha de Gantois, importante guardiã dessa memória. Hoje além do Terreiro Casa Branca, também são reconhecidos como patrimônio nacionais, por exemplo, terreiros Axé Opô Afonjá, o Bate Folha (Manso Banduquenqué), a Casa de Oxumaré em Salvador e o terreiro da Casa das Minas em São Luis do Maranhão, além do próprio Gantois (Ilê Axé IyáNassôOká). 3. Os guardiões da guardiã A publicação Memorial Mãe Meninhade Gantois: seleta do acervofoi idealizada por Carmem Oliveira da Silva (atual ialorixá da casa) com curadoria e organização do antropólogo e museólogo Raul Lody. A obra traz em sua composiçãoaproximadamente 170 fotografias deobjetos comoferramentas, indumentárias, adjás, abebés, fios de conta, leques, além de peças do uso pessoal de Mãe Menininha que compõem o memorial. O projeto e produção gráfica é assinado porclaudiomar Gonçalves, uma publicação com 256 paginas, editado em 2010 pela Omar G. Editora, sendo todos os textos bilíngues, facilitando assim a 7
disseminação da informação acerca desta narrativa. Essa publicação tem por objetivo promover a vida e o legado de MãeMenininha a partir da monumentalização/imortalização de sua memória \(Cf. ABREU, 1996): O livro seleta do acervo feito para o Memorial Mãe Menininha do Gantois, localizado no espaço sagrado do Ilê IyáOmi Axé Iyamasé, no Alto do Gantois, Salvador, Bahia, traduz aspectos da história, da cultura e dos patrimônios que dão a essa comunidade de candomblé a sua devida importância (SILVA, 2010, p.13). Uma dasprincipais estratégias de marketing para dar visibilidade ao Memorial do Gantoisfoi a publicação de um livro com diversas fotografias do acervo pessoal da Ialorixá Escolástica, cuja a divulgação dessa publicação foi matéria em diversos sites, ajudando a propagar a história do memorial, atraindo cada vez mais visitantes, e, principalmente, consolidando determinado repertório narrativo. Não é por acaso que o próprio título da obra já destaca a idéia de um ato classificatório e objeto de seleção: seleta do acervo. O livro divide-se em dezessete tópicos, sendo o primeiro intitulado Memória e Patrimônio.Nessa parte, a autora comenta sobre o candomblébaiano, as contribuições e o papel na difusão e preservação da memória afro-brasileira, ressaltando o papel do memorial em salvaguardar a cultura e história do candomblé do Gantois e os 160 anos de fundação do terreiro.nesse sentido, o texto assinado por Mãe Carmem, herdeira simbólica de Menininha, torna-se fundamental na batalha das memórias e produção da crença. Para além da assinatura de sua herdeira sagrada, tanto a energia social em torno dos nomes de ClaudiomarGonçalves, quanto a de Raul Lody, contribuiu para o respaldo necessário da publicação para além do espaço do religioso, espécie de fiadores simbólicos que, por sua vez, também recebem os lucros da publicação. Ambos consistem em herdeiros e guardiões da memória de Mãe Menininha que, por sua vez, é guardiã de outras memórias. Em seguida o livro traz outros tópicos: Quando a Museologia cumpre suas finalidades sociais, assinado por Raul Lody que também contribui para que a energia social do nome da Mãe de Santo e dos projetos também envolvam a Museologia que, por sua vez, se torna uma guardiã da memória. Também apresenta uma discussão sobre o significado do sagrado e o entendimento do objeto no candomblé; materiais e técnicas; adjás; o jogo de búzios; as 8
ferramentas; abebés; indumentárias; pano da costa; fios de contas e jóias; objetos pessoais; leques; quartinha; iconografia católica; relação das imagens e relação das peças. Tais classificações e a tradução dos usos e significados dos objetos feitas por especialistas os colocam também como autoridades legítimas no assunto, eles próprios guardiões do saber no quais fabricaram sua especialidade. Torna-se, assim, um exercício de poder, por isso, ao monumentalizar Mãe Menininha os agentes envoltos nessa batalha também se monumentalizam: O monumento, no sentido tradicional, é uma obra erigida para ultrapassar o presente e transmitir á posteridade a memória de uma pessoa ou fato. Na sociedade contemporânea a construção de indivíduos-monumentos com o poder de representar, evocar e perpetuar o passado representa objeto privilegiado no estudo da constituição e da imposição da memória coletiva (DELGADO, 2008, p. 388). A publicação possibilita ao leitor visualizar a seleção de peças expostas no acervo do memorial e assim, consegue propagar a mensagem do espaço museológico mesmo o visitante não estando presencialmente naquele local. Essa se torna mais uma ferramenta de divulgação da memória do terreiro a partir dos discursos e das fotografias dos objetos musealizados. Outra estratégia utilizada é a montagem de exposições extra-muros, exposições com uma pequena seleção de objetos com a finalidade de aproximar do público em potencial para a sua exposição fixa, questões que têm sido constantemente realizadas no caso de Mãe Menininha, trazendo vigilâncias comemorativas e explosões discursivas em torno da guardiã. Com relação ao memorial, Mãe Carmen Oliveira da Silva(2010) analisa que o lugar da memória na comunidade-terreiroegbé, está envolvido em um complexo e dinâmico sistema de símbolos, todos integrados e funcionais, nas mais diversas linguagens. A palavra, o canto, o gesto, a coreografia, os sons dos instrumentos musicais, as comidas, as tecnologias artesanais, entre tantas outras, têm profunda correlação com os objetos (p.17) Deste modo, trabalhar a percepção do visitante na contemporaneidade esta sendo o desafio dos dois guardiões da memória de Mãe Menininha. Mãe Carmen e Raul Lody hoje são alguns dos responsáveis pela perpetuação memorialística do legado dessaialorixá. Com a criação do memorial tornou-se possível a guarda e disseminação da história da casa-terreiro e as várias possibilidades de se difundir a cultural afro-brasileira ali exposta. \Um espaço 9
também de fabricação da personagem Maria Escolástica da Conceição Nazaré. Nesse sentido, indagamos o motivo que a levou a ser a selecionada como a representação de uma religião, as estratégias memoriais que propiciaram o seu conhecimento a nível nacional e porque ela e não outra mãe de santo foi escolhida para ser símbolo da mulher negra, com as adjetivações de guerreira, lutadora, bondosa, carismática e conciliadora ao atrair diferentes públicos para sua casa como artistas, políticos, pesquisadores. As novas roupagens que são atribuídas ao patrimônio cultural afro-brasileiro como espaçosmemorialistas dão inicio a um melhor aproveitamento de seu acervo e melhor comunicabilidade de seus diálogos com o publico visitante e, além disso, visualizar como as narrativas museaisintegram um jogo de repertórios que fabricam imortalidades na batalha das memórias. Referências ABREU, Regina. A fabricação do imortal: memória, história e estratégias de consagração no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. DELGADO, Andrea Ferreira. Cora Coralina: a construção da Mulher-Monumento. Caderno Espaço Feminino, Universidade Federal de Uberlândia, v. 19, n. 1, jan/jul. 2008. GOMES, Ângela de Castro. A guardiã da memória. Acervo - Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9, nº 1/2, p.17-30, jan./dez. 1996. LODY, Raul. O negro no museu brasileiro: construindo identidades. Rio de Janeiro: Ed. Bertrand Brasil,2005. SANT ANNA, Márcia. Escravidão no Brasil: Os terreiros de candomblé e a resistência Cultural dos Povos Negros. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Disponível em: <http://www.dominiopublico.com.br/download/>. Acesso em: 5 maio 2014. 10
SANTOS, Miriam Sepúlveda dos. Entre tronco e o os atabaques: a representação do negro nos museus brasileiros.o projeto unesco no Brasil: uma volta críticaao campo 50 anos depois, 2007. SILVA, Carmem Oliveira da.memorial Mãe Menininha do Gantois: Seleta do acervo. Salvador:Ed. Omar G, 2010. VELHO, Gilberto. Patrimônio, negociação e conflito. Mana, Rio de Janeiro, v.12, n. 1, jan/abr, 2006. 11