AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE E CONSUMO DE ARGAMASSA DE DIFERENTES TIPOS DE FERRAMENTAS NO ASSENTAMENTO DE BLOCOS DE CONCRETO



Documentos relacionados
BRICKA ALVENARIA ESTRUTURAL

Execução de Alvenaria - Elevação

1. FERRAMENTAS. Elevação e Marcação. Trenas de 5m e 30m. Nível a laser ou Nível alemão. Pág.4 1. Ferramentas

ALVENARIA EXECUÇÃO. Prof. MSc. Eng. Eduardo Henrique da Cunha Engenharia Civil 7º Período Turma A01 Disc. Construção Civil I

METODOLOGIA DE EXECUÇÃO - PASSO A PASSO PARA CONSTRUIR ALVENARIAS DE BLOCOS VAZADOS DE CONCRETO

PROCEDIMENTOS PARA EXECUÇÃO DE REVESTIMENTO INTERNO COM PROGESSO PROJETÁVEL

Relatório de Estágio Curricular. Rafael Menezes Albuquerque

Proposta de melhoria de processo em uma fábrica de blocos de concreto

Os Dois Principais Sistemas Utilizados Atualmente:

Simples, resistente e fácil de montar.


DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 13. TELHADO

PAULUZZI BLOCOS CERÂMICOS

O custo da perda de blocos/tijolos e argamassa da alvenaria de vedação: estudo de caso na construção civil

A UTILIZAÇÃO ADEQUADA DO PLANEJAMENTO E CONTROLE DA PRODUÇÃO (PCP), EM UMA INDÚSTRIA.

RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA

bloco de vidro ficha técnica do produto

MEDIÇÃO DE INDICADORES PARA O SERVIÇO DE ALVENARIA

Sobreposição das telhas: Verifique se as sobreposições laterais e longitudinais estão seguindo as especificações do Manual de Instalação.

COLÉGIO ESTADUAL PAULO LEMINSKI APOSTILA SOBRE O BROFFICE IMPRESS

RELATÓRIO TÉCNICO N 04/2008 ANÁLISE DA AÇÃO DE ALTAS TEMPERATURAS EM PAINEL EM ALVENARIA DE BLOCOS CERÂMICOS VAZADOS

2 Sistema de Lajes com Forma de Aço Incorporado

ALVENARIA ESTRUTURAL DE CONCRETO COM BLOCOS CURSO DE FORMAÇÃO DE EQUIPES DE PRODUÇÃO PASSO A PASSO

RECEITA PRÁTICA PARA UMA BOA INSTALAÇÃO

ALVENARIA DE BLOCOS DE CONCRETO Recomendações gerais

Ficha Técnica de Produto Argamassa Biomassa Código: AB001

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Araçatuba / SP

Tuper LAJES MISTAS NERVURADAS Mais velocidade e economia em sua obra.

RECOMENDADA PRÁTICA PR - 4

SISTEMAS CONSTRUTIVOS Professor:Regialdo BLOCOS DE CONCRETO

Gestão do Conhecimento A Chave para o Sucesso Empresarial. José Renato Sátiro Santiago Jr.

PADRONIZAÇÃO DE PAINÉIS EM LIGHT STEEL FRAME

APLICABILIDADE DE ESTRUTURAS EM AÇO EM EDIFÍCIO RESIDENCIAL VERTICAL DE MÉDIO PADRÃO NO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTE-SP

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 14. MUROS

AULA 02 Normatização, Formatação, Caligrafia e Introdução ao Desenho técnico instrumentado. 2013/01. Prof. Esp. Arq. José Maria

SISTEMA DE VEDAÇÃO RACIONALIZADA

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO. Prof. LIA LORENA PIMENTEL LAJES

INSTRUÇÕES PARA INSTALAÇÃO DE FOSSA SÉPTICA E SUMIDOURO EM SUA CASA

VIABILIDADE TÉCNICA E ECONÔMICA DA ALVENARIA ESTRUTURAL COM BLOCOS DE CONCRETO

2. Sistema de fôrmas plásticas para lajes

Execuções de Obras e Segurança no Trabalho

Características do Sistema

Do Objeto: CARNEIRAS PRÉ-MOLDADAS DE CONCRETO e GAVETÁRIOS PARA CEMITÉRIOS

ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS BRITADOR DE MANDÍBULAS - ZL EQUIPAMENTOS.

Alvenaria de Blocos de Concreto

1 Introdução. 2 Material

O SISTEMA SF DE FÔRMAS

Alvenaria racionalizada

O SISTEMA SF DE FÔRMAS

ALVENARIA ESTRUTURAL: DISCIPLINA: MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO II PROF.: JAQUELINE PÉRTILE

1) MANUAL DO INTEGRADOR Este documento, destinado aos instaladores do sistema, com informações de configuração.

Na mentalidade da empresa, modernizar é elevar a qualidade dos processos e produtos, consequentemente, aumentar sua competitividade no mercado.

PROVA DE ENGENHARIA CIVIL. Para uma viga bi-apoiada, com carga concentrada, se desprezarmos o efeito do peso próprio, é CORRETO afirmar:

IFSC - Campus São José Área de Refrigeração e Ar Condicionado Prof. Gilson Desenvolvimento de Chapas

ED 2180/ maio 2014 Original: espanhol. Pesquisa sobre os custos de transação dos produtores de café

Banco de Interpretação ISO 9001:2008. Gestão de recursos seção 6

SISMO BUILDING TECHNOLOGY, TECNOLOGIA DE CONSTRUÇÃO ANTI-SISMICA: APLICAÇÕES EM PORTUGAL

Soluções para Alvenaria

Protocolo em Rampa Manual de Referência Rápida

TRAÇO Proporções e consumo de materiais

LINHA de Argamassas. Uma mistura de qualidade com alta produtividade.

Quais são os critérios adotados pelo programa para o cálculo dos blocos de fundação?

Estruturas Metálicas. Módulo V. Torres

ESTUDO PARA IMPERMEABILIZAÇÃO NA INTERFACE ESTRUTURA METÁLICA E ALVENARIA

DESENVOLVENDO HABILIDADES CIÊNCIAS DA NATUREZA I - EM

Técnicas das Construções I FUNDAÇÕES. Prof. Carlos Eduardo Troccoli Pastana pastana@projeta.com.br (14) AULA 3

Painéis de concreto pré-moldados e soluções complementares para o segmento econômico. Otávio Pedreira de Freitas Pedreira Engenharia Ltda

Dicas importantes para você construir ou reformar a sua casa.

Exemplos: Análise de Valor Agregado (Ex_vagregado.SPRJ)

Portaria nº. 220, de 29 de abril de 2013.

DCC - RESPONDENDO AS DÚVIDAS 06. LAJE

SISTEMA CONSTRUTIVO EM PAREDES DE CONCRETO:

Escola de Engenharia de São Carlos - Universidade de São Paulo Departamento de Engenharia de Estruturas. Alvenaria Estrutural.

Empresa jovem e 100 % nacional, a Bazze está sediada em PORTÃO RS e é referência na extrusão de perfis em PVC.

Você sabia. As garrafas de PET são 100% recicláveis. Associação Brasileira da Indústria do PET

Parede de Garrafa Pet

Os caracteres de escrita

A pista de fórmula 1 para recipientes

CALCULANDO O DESENVOLVIMENTO E A PRODUTIVIDADE DA MAO-DE-OBRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

RESISTÊNCIA E BELEZA A TODA PROVA

A Polar está localizada em Joinville, a maior cidade de Santa Catarina e um dos principais pólos industriais do país.

FAQ - Frequently Asked Questions (Perguntas Frequentes)

G P - AMPLITUDE DE CONTROLE E NÍVEIS HIERÁRQUICOS

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina Campus Sombrio Curso Técnico em Agropecuária Integrado ao Ensino Médio

CAPÍTULO IV - ALVENARIA

Misturadores de Argamassa ANVI. Maior Produtividade e Qualidade na sua Obra. Misturadores e Projetores de Argamassa FABRICADO NO BRASIL

10 anos de atuação para oferecer blocos de concreto de qualidade ao mercado.

Uso do Critério de NIOSH para determinação do Limite de Peso Recomendado em uma empresa de Pré-moldados

2 Materiais e Métodos

Informações para alunos, pais e responsáveis Avaliação de Aptitudes Básicas (FSA Foundation Skills Assessment): Perguntas e Respostas

MANUAL TÉCNICO PREALL

AVALIAÇÃO DE INTERFACES UTILIZANDO O MÉTODO DE AVALIAÇÃO HEURÍSTICA E SUA IMPORTÂNCIA PARA AUDITORIA DE SISTEMAS DE INFORMAÇÕES

ESTUDO DE CASO SOBRE A APLICAÇÃO DE ESTRUTURAS EM AÇO EM EDIFÍCIO RESIDENCIAL VERTICAL DE MÉDIO PADRÃO EM PRESIDENTE PRUDENTE

O QUE SIGNIFICA RACIONALIZAR?

5. Limitações: A argamassa Matrix Assentamento Estrutural não deve ser utilizada para assentamento de blocos silicocalcário;

Guia para fotografar com pouca luz. Versão 1. Texto e fotografias de Christian Camilo. 2 Christian Camilo Camiloart.com 2015

PROJETO BÁSICO DE ENGENHARIA

Muro de Arrimo por Gravidade

Contil Informática. Curso Técnico em Informática Processadores Core

Transcrição:

AVALIAÇÃO DA PRODUTIVIDADE E CONSUMO DE ARGAMASSA DE DIFERENTES TIPOS DE FERRAMENTAS NO ASSENTAMENTO DE BLOCOS DE CONCRETO Araújo, Fábio Elias (1); Prudêncio Jr, Luiz Roberto (2). (1) Mestrando, Departamento de Engenharia Civil, UFSC e-mail: ecv3fea@ecv.ufsc.br (4) Professor Doutor, Departamento da Engenharia Civil, UFSC e-mail: ecv1lrp@ecv.ufsc.br Endereço para correspondência: Rua Capitão Romualdo de Barros, 258, ap 208, bloco A, Carvoeira, Florianópolis, SC. CEP 88040-600 Palavras-chave: argamassa, alvenaria estrutural, produtividade, ferramentas, processo construtivo. Key-words: mortar, structural masonry, productivity, tools, constructive process. RESUMO A alta competitividade no mercado da construção civil tem provocado uma grande busca das construtoras por alta produtividade e racionalização dos processos construtivos. Particularmente, em obras de alvenaria estrutural, pode-se obter o aumento da produtividade e redução do consumo de argamassa no assentamento de blocos vazados de concreto em função do tipo de ferramenta empregada pelo pedreiro. Existe no mercado brasileiro uma diversa gama destes instrumentos, na sua maioria adaptadas em obra pelos próprios operários para lhes servirem melhor e sujeitas à criatividade e habilidade de cada um. No entanto, poucos trabalhos avaliam sua influência na produtividade, consumo de argamassa e se atende com êxito à função para a qual foi concebida. Nesta pesquisa, estudou-se o desempenho dos pedreiros com as principais ferramentas utilizadas em obra, o consumo de argamassa de assentamento para as mesmas e sua compatibilidade com os tipos de argamassas comumente usados nas construções. Estas ferramentas foram experimentadas por pedreiros profissionais para colocação de argamassas industrializadas e produzidas em obra. Desta forma, foi possível observar que não existe diferença significativa na produtividade atingida na utilização das ferramentas, pois estes fatores dependem fundamentalmente da adaptação do pedreiro com o equipamento. Porém uma grande diferença no consumo de argamassa e a avaliação das ferramentas mais adequadas para as argamassas utilizadas em obra. ABSTRACT To reach the productivity looked for in the structural masonry construction, the bricklayers may have a good performance in masonry, which is basically composed by two activities: placement of the concrete blocks and mortar. It is noticed, in the construction site, that several types of tools are used for the placement of the mortar. Although it doesn't exist concern to know if the tool assists exactly the function for which it was conceived. Therefore, the tools are adapted in the site by the own bricklayers to assist its needs, and so are subjected to the creativity and ability of each one. In this research, it was studied the performance of bricklayers' acting with the main tools used commonly in work and its compatibility with the types of mortars used in the constructions. These tools were experienced for professional bricklayers for placement of industrialized mortars and cement-lime mortars. Thus, it was possible to observe that significant difference doesn't exist in the mortar consumption and in

the productivity reached by the use of different tools, because these factors fundamentally depends on the bricklayer's adaptation with the equipment. 1. INTRODUÇÃO No intuito de aumentar a competitividade no mercado da construção civil, as construtoras têm investido cada vez mais na alvenaria estrutural de blocos vazados de concreto em busca de maior produtividade, qualidade e economia nas obras. Este sistema construtivo possibilita a racionalização da construção, otimização dos processos, redução de custos e exige uma mão-de-obra mais especializada, adequando as empresas do ramo a um mercado cada vez mais seletivo. A alvenaria estrutural é composta de duas atividades básicas: o assentamento de blocos e de argamassa para construção das paredes estruturais. A colocação dos blocos é feita com a mão e a da argamassa com ferramentas adequadas a esta função. Por isto, a alta produtividade dos pedreiros nas obras de alvenaria estrutural depende fundamentalmente do tipo de ferramenta que o mesmo emprega para assentamento dos blocos. Segundo KICKLIGHTER (1985), cada ferramenta é designada para um propósito específico e os pedreiros devem aprender como usa-las para que atinjam seu melhor desempenho no trabalho. As ferramentas devem ser leves e com peso balanceado para que seja fácil manuseálas. Além disto, devem estar limpas para que atinjam o desempenho desejado. Nos Estados Unidos existe uma grande variedade de ferramentas para colocação de argamassa, como a colher de pedreiro de vários tamanhos, figura 1a, e com formas diferenciadas para outras funções, figura 1b. (a) (b) Figura 1 - (a) diferentes tipos de colher de pedreiro e (b) colheres diferenciadas. No Brasil, existem poucas empresas que trabalham com desenvolvimento de ferramentas específicas para a alvenaria estrutural. Desta forma, fica a cargo dos profissionais de obra adaptarem as ferramentas já existentes para a alvenaria convencional. A disseminação destes instrumentos de trabalho adaptados no mercado ocorre, na maioria das vezes, apenas pelo contato entre os operários. 2. METODOLOGIA Para se estudar as ferramentas utilizadas na colocação da argamassa de assentamento, primeiramente definiu-se a argamassa quanto a sua posição sobre o bloco:

Argamassa Vertical (AV) Situada na lateral do bloco que não fica aparente na parede, compondo as juntas verticais da parede. Argamassa Horizontal (AH) Colocada sobre a fiada já assentada forma a junta horizontal da parede. É composta pela argamassa horizontal longitudinal e argamassa horizontal transversal. Argamassa Horizontal Longitudinal (AHL) Fica disposta na horizontal e no sentido da maior dimensão do bloco. Compõe as juntas horizontais da parede. Argamassa Horizontal Transversal (AHT) Colocada na horizontal, sobre as paredes que separam os furos nas fiadas. Para avaliação das ferramentas foram utilizados dois critérios: a medição de produtividade potencial e consumo de argamassa no assentamento de blocos vazados de concreto. 2.1. Medição de produtividade potencial no assentamento de blocos vazados de concreto Resumidamente, para assentar uma fiada de blocos, o operário realiza as seguintes atividades: Assenta os blocos de canto e confere o seu nível; estica uma linha de pedreiro para definir o alinhamento da fiada; coloca a argamassa sobre a fiada inferior; coloca argamassa na lateral do bloco ou encabeça o bloco; assenta o bloco e limpa as rebarbas. A produtividade potencial corresponde à produtividade média desenvolvida pelo operário nos momentos em que ele está assentando os blocos intermediários da fiada, ou seja, após o operário colocar dos blocos de canto e realizar as atividades auxiliares: colocação da linha de pedreiro, nivelamento, prumo e alinhamento dos blocos de canto. Para assentar os blocos intermediários é necessária a realização das seguintes atividades: Colocação da argamassa horizontal longitudinal (AHL). Colocação da argamassa horizontal transversal (AHT). Encabeçamento do bloco pela colocação da argamassa vertical (AV), a qual preenche a junta vertical da parede. Colocação do bloco sobre a argamassa horizontal. Manipulação do bloco sobre a fiada para sua acomodação sobre a argamassa horizontal, deixando-o na posição correta: alinhado, aprumado e nivelado. Limpeza das rebarbas das juntas. As duas primeiras atividades podem ser feitas pelo pedreiro ou pelo servente, sendo que, neste trabalho, foram medidas em obra e apenas nos casos em que a colocação de argamassa foi feita pelo pedreiro. Marcava-se com um cronômetro o tempo gasto nas atividades supra mencionadas, sem contar o tempo de suprimento de materiais nem o tempo de descanso. Durante estas atividades, geralmente, o pedreiro não para seu trabalho. Isto porque esta é a parte do serviço mais simples e produtiva no assentamento de blocos. Media-se a área produzida pela multiplicação do comprimento da fiada, produzido com blocos intermediários, pela altura da fiada e, considerando o tempo dispensado, calculava-se a produtividade. Acredita-se que durante a realização destas atividades pode-se obter um bom indicativo da influência da ferramenta, já que todos os materiais necessários estão disponíveis ao

profissional e é medido apenas o tempo de assentamento. Percebe-se que as duas principais variáveis neste caso são a capacidade do pedreiro e sua ferramenta. Como a amostragem dos pedreiros é grande, 31 profissionais em diferentes obras, diminuiu-se sua influência na produtividade. Foi considerado mais importante que cada um utilizasse a ferramenta que melhor lhe conviesse e calculou-se a produtividade média para cada tipo de ferramenta. Para realizar a medição de produtividade potencial foram definidos os seguintes critérios: Nesta medição de produtividade foi considerado apenas o assentamento dos blocos intermediários, com as demais atividades auxiliares prontas (nivelamento, alinhamento, prumo e colocação de linha de pedreiro nos blocos de canto). Esta produtividade foi anotada quando o pedreiro estiver assentando blocos em uma parede com comprimento entre 3m e 5m, que não contivesse aberturas, onde mais de 90% dos blocos fossem de 39cm e não houvessem blocos com menos de 19cm de comprimento. 2.2. MEDIÇÕES DE CONSUMO DE ARGAMASSA O controle do consumo de argamassa foi executado da seguinte forma: Pesava-se a masseira com argamassa antes do assentamento. Aguardava-se a utilização da argamassa pelo pedreiro. Pesava-se a masseira com o resto de argamassa após o assentamento. A diferença do peso da masseira corresponde à quantidade de argamassa utilizada no assentamento. Media-se, então, a produção do pedreiro com este material. Calculava-se a quantidade de argamassa por área produzida em Kg/m2. Para realizar este experimento, utilizava-se apenas uma balança. 3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 3.1. Tipos de ferramentas utilizadas nas obras para assentamento dos blocos Os operários de obra utilizam diversas ferramentas para colocar argamassa de assentamento sobre os blocos vazados de concreto. Algumas destas são iguais às utilizadas na alvenaria convencional, outras adaptadas em obra, de acordo com as necessidades do pedreiro. As ferramentas mais comuns pesquisadas em obras de Florianópolis, Porto Alegre e São Paulo são: Colher de pedreiro: é a mais empregada devido à experiência dos pedreiros com a alvenaria convencional, como mostra a figura 2c. ½ colher de pedreiro: é uma adaptação da primeira, pois como o bloco é vazado, a argamassa deve ser colocada em filetes sobre os blocos para que a mesma não caia nos furos - figura 2d. Por isto, é interessante que o pedreiro pegue a argamassa em uma forma que já esteja praticamente nos moldes do filete. Para isto, cortam-se as laterais ou abas da colher, afinando-a e tornando-a mais adequada para o assentamento de blocos vazados. Com esta forma, após a imersão da ferramenta na argamassa, quando a mesma é retirada, traz sobre si uma quantidade de massa adequada para se colocar sobre as bordas do bloco. ½ desempenadeira: a desempenadeira é uma ferramenta utilizada para tornar o revestimento argamassado mais plano, corrigindo suas imperfeições, ou ainda como recipiente para colocar a argamassa, evitando que o pedreiro precise ficar abaixando para pegar a massa com a colher

e depois arremessá-la na parede no enchimento do reboco. Assim, o mesmo coloca uma determinada quantidade de massa na desempenadeira e arremessa-a aos poucos com a colher. Contudo, a sensibilidade dos operários para a necessidade de uma ferramenta que permitisse a colocação de um grande filete de argamassa, proporcionando maior produtividade, fez com que fosse desenvolvido em obra a ½ desempenadeira, que nada mais é do que uma desempenadeira cortada nas laterais, tendo na base, largura variando de 5 a 10 cm e o comprimento em torno de 40 cm. Para sua utilização, os pedreiros passam-na na argamasseira até que a argamassa contida na ferramenta fique em forma um pouco mais volumosa que o necessário para o filete ocupar a base da parede do bloco vazado. A partir de então, raspa-se a face da ½ desempenadeira, figura 2b, que contém a argamassa no bloco, ao mesmo tempo, que a ferramenta é deslizada no sentido longitudinal do bloco, deixando assim um filete de argamassa 50 a 100% maior que o comprimento da ½ desempenadeira. Colher canaleta: apesar de a colher canaleta, figura 2a, ter a forma de meia cana, proporcionando maior agilidade para o pedreiro capturar a massa na masseira, seu emprego não é muito comum e, nem mesmo, recomendado, pois a sua forma côncava impede que a argamassa de assentamento, que possui grande coesão, se desprenda da ferramenta, exigindo um pouco mais de esforço e tempo do operário para que a argamassa se desprenda. Esta mesma ferramenta foi modificada com furos na sua base, como mostra a figura 2a, onde a argamassa fica armazenada. Desta forma, facilitou-se a entrada de ar e, conseqüentemente, o desprendimento da massa. No entanto, poucos pedreiros utilizam esta ferramenta por não se adaptarem a forma do instrumento. Bisnaga: a bisnaga não foi utilizada nas obras pesquisadas. Esta ferramenta não foi consumada no mercado, principalmente devido ao grande esforço que exige do operário em espremer a bisnaga com as mão, podendo provocar dores seu punho e ante-braço. (a) (b) (c) (d) (e) Figura 2 - (a) colher canaleta, (b) ½ desempenadeira, (c) colher de pedreiro convencional, (d) ½ colher de pedreiro e (e) bisnaga. Produtividade das ferramentas Como pode ser observado na figura 3, a produtividade potencial no assentamento de blocos para diferentes ferramentas não resultou em valores significativamente diferentes. Os valores variaram no intervalo de 4,45 a 4,6 m2/hh. Porém, esta produtividade possui efeito apenas para avaliação das ferramentas, pois foi medida em condições especiais, como descrito no item 2.

Produtividade em m²/hh 5,0 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 4,503 4,491 4,597 colher 1/2 colher 1/2 desemp. Figura 3 - Gráfico de produtividade das ferramentas de assentamento de blocos de concreto. Fonte: ARAÚJO (2001). 3.2. Consumo de argamassa de assentamento O consumo de argamassa de assentamento foi medido em diferentes obras na fase de assentamento de blocos vazados de concreto. Os principais aspectos que influenciaram neste consumo foram: Experiência e qualidade da mão-de-obra; ferramentas utilizadas; tipo de argamassa; quantidade de filetes de argamassa colocados sobre o bloco; nível da parede, pois muitas vezes o pedreiro aumenta a espessura da junta horizontal em determinado local para nivelar a parede. O consumo médio de argamassa por metro quadrado de parede medido nas obras foi de 19,92 Kg/m2, estando este valor abaixo de 22 Kg/m2 proposto por um dos fabricantes de argamassa industrializada. Observou-se que não houve diferença significativa no consumo de argamassa com a colher, a ½ colher e a ½ desempenadeira, conforme pode ser observado na figura 4. Isto ressalta a importância de deixar que o operário escolha sua ferramenta para colocação da argamassa, visto que, somente ele sabe qual é a de sua preferência e a que lhe serve melhor.

Consumo 24,00 21,00 18,00 15,00 12,00 9,00 6,00 3,00 0,00 21,53 18,28 19,81 colher 1/2 colher 1/2 desempenadeira Ferramentas Figura 4 - Gráfico de consumo de argamassa de assentamento para diferentes tipos de ferramentas. Fonte: ARAÚJO (2001). 4. CONSIDERAÇOES FINAIS Os resultados das medições de produtividade potencial das ferramentas utilizadas e do consumo de argamassa mostram que não há diferença significativa entre as três ferramentas pesquisadas na obra, mostrando que a ferramenta ideal para o pedreiro é aquela na qual ele melhor se adapta. Todavia, cabe ao construtor, mostrar as opções disponíveis no mercado para que o profissional faça sua escolha, já que o custo da ferramenta é pouco significativo em relação ao ganho de produtividade que esta pode representar e ao valor da alvenaria. Caso o profissional desenvolva sua própria ferramenta, a mesma pode ser aperfeiçoada em empresa especializada para atender o operário da melhor forma possível. Percebe-se uma tendência ao desenvolvimento de maior produtividade na utilização da ½ desempenadeira, apesar dos resultados medidos em obra não mostrarem isto. Observou-se que pedreiros com maior experiência com esta ferramenta são capazes de colocar a argamassa horizontal longitudinal com maior velocidade do que com outras ferramentas e podem utilizar a colher de pedreiro para colocarem argamassa horizontal transversal. Esta última pode também ser colocada pelo servente para agilizar ainda mais o serviço. O operário de obra pode ser induzido pelo engenheiro a utilizar uma ferramenta que lhe proporcione maior produtividade e, assim, aumente seu salário. Contudo, percebe-se que não se deve forçar sua adaptação, já que este objeto é entendido quase como uma extensão física de quem o manipula e, portanto, susceptível à suas exigências. 5. BIBLIOGRAFIA ARAÚJO, F. E. Técnicas construtivas de edifícios residenciais em alvenaria estrutural não armada de blocos vazados de concreto. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001. 173p.

KICKLIGHTER, Clois E. Modern Masonry: brick, block, stone. Ed. The Goodheart-Willcox Company, INC. Illinois, USA, 1985. NATIONAL CONCRETE MASONRY ASSOCIATION (NCMA). Building Block Walls: A Basic Guide. Herndon, 1988.