HISTÓRIA DO PS O Partido Socialista nasceu oficialmente a 19 de abril de 1973, na Alemanha, mas o percurso dos ideais socialistas em Portugal são muito mais antigos, remontando ao último quartel do século XIX. A 10 de janeiro de 1875, em consequência das decisões tomadas na Associação Internacional dos Trabalhadores para que se constituíssem partidos operários, foi fundado o Partido Socialista Português (PSP). Da sua 1ª comissão diretiva faziam parte José Fontana, Azedo Gneco, José Correia Nobre França e José Tedeschi. A comissão encarregada de redigir o programa era composta por José Fontana, Azedo Gneco, Antero de Quental, Nobre França e Felizardo de Lima. Depois do suicídio de José Fontana, Azedo Gneco tornou-se o líder incontestado do PSP. O recém-fundado Partido Socialista Português estreia-se nas eleições a 15 de novembro de 1875 para a Câmara Municipal de Lisboa, numa lista neutra, com quatro militantes socialistas. Durante os primeiros 5 anos, as relações do PS com as associações e os sindicatos evoluíram sem grandes problemas. O novo partido tinha como órgãos de imprensa os periódicos O Protesto, em Lisboa, e O Operário, no Porto, que se fundiram para dar origem a O Protesto Operário. A partir de 1880, as divergências internas no PSP começaram a ganhar força, com os republicanos a conseguirem arrastar para o seu partido as classes médias e as trabalhadoras. Mesmo assim, o 1º programa do PSP foi aprovado em 1895. Os anos seguintes foram marcados pelo confronto entre os defensores de que a mudança deveria ser feita por reformas, liderados por Luís Figueiredo e os marxistas ou revolucionários, chefiados por Azedo Gneco. A divisão marcou os anos seguintes, mesmo com o advento da I República, a instabilidade dentro do PS era forte. O Partido Socialista Português sobreviveu a toda a I República, que terminou com o golpe de 28 de maio de 1826 e o surgimento da Ditadura Militar. O PSP continuou no ativo até 1933, quando o Estado Novo realizou uma Conferência Nacional, em Coimbra, nas vésperas da entrada em vigor da nova Constituição Portuguesa, de 1933, que ilegalizou os partidos políticos. Assim, o PSP deixava oficialmente de existir, como alternativa foram criadas efemeramente a Aliança Republicano-Socialista, em Lisboa, em 1931, e a União Socialista, em 1942. 1
No contexto da II Guerra Mundial, logo depois da reviravolta da guerra a favor dos Aliados, o movimento socialista português ganhou novo ânimo. Em dezembro de 1943 era criado o Movimento de Unidade Nacional Antifascista (MUNAF), com o claro objetivo de fazer oposição a Salazar e ao seu regime. No MUNAF reuniram-se antigos membros do Partido Republicano Português, da União Socialista, do Partido Comunista Português (PCP), da Maçonaria, do grupo da Seara Nova, assim como católicos, monárquicos e anarquistas. Já no final da II Guerra, num ambiente marcado pela queda dos regimes fascista na Europa, e depois de Salazar ter prometido eleições e Portugal tão livres, como na livre Inglaterra, foi criado o Movimento de Unidade Democrático (MUD). Este movimento conseguiu catalisar apoios e tornou-se uma ameaça para o Estado Novo. Quando Salazar percebeu que a Europa mudou, que o Contexto da Guerra Fria aproximou os EUA de Portugal, em oposição ao comunismo da URSS, o Presidente do Conselho de Ministros ilegaliza o MUD, que depois de 1949 desapareceu oficialmente. Um novo fôlego ao movimento socialista português foi dado em 1964, com a fundação da Ação Socialista Portuguesa (ASP), na Suíça, por Francisco Ramos da Costa, Manuel Tito de Morais e Mário Soares. A ASP alargou-se 3 anos depois com o seu movimento juvenil. A ASP nasceu e cresceu na luta contra o fascismo e pela instauração da democracia, com uma forte resistência à ditadura. Assim, o objetivo essencial era a democratização do regime, mas a maior força da ASP encontrava-se nos núcleos de exilados na Europa. Com o apoio de outros partidos socialistas, fundou-se o Portugal Socialista. Nas suas linhas gerais, a ASP condenava o regime, o colonialismo e a repressão. Foram então criados vários núcleos. O primeiro núcleo de Londres da Ação Socialista foi lançado por Rui Mateus, nos inícios de 1970. Em Roma, liderando o núcleo estavam Tito de Morais e Gil Martins. Em França temos, entre outos, Mário Soares, na Bélgica, Bernardino Gomes, Fernando Loureiro liderava na Suíça e na Alemanha encontramos também Carlos Novo. Estes e mais ou menos meia centena de pessoas residentes em Portugal constituíam então a totalidade do movimento socialista português. Nas campanhas eleitorais de 1969 e 1973, os socialistas mais conservadores concorreram através da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD), enquanto outros mais à esquerda se juntaram à Comissão Democrática Eleitoral (CDE). Contudo, o movimento continuava com fraquezas, levando Mário Soares a afirmar, em Paris, a 13 de janeiro de 1971, num momento de invulgar pessimismo, pouco característico em 2
Mário Soares, que infelizmente à desagregação do ambiente situacionista não tem correspondido um reforço do trabalho da Oposição. Após o entusiasmo eleitoral, a Oposição, tanto CEUD como CDE, entrou numa espécie de hibernação. As pessoas têm medo e não querem fazer nada, pelo menos no plano propriamente político. Mário Soares queria mais empenho dos socialistas e do movimento. Na fase final do marcelismo, a ASP transformou-se no PS, oficialmente criado a 19 de abril de 1973, num congresso realizado na Alemanha. Retomou os princípios programáticos das suas origens de inspiração marxista moderada, com vista à obtenção de uma sociedade sem classes, defendendo a democracia representativa. De seguida, os socialistas portugueses aderiram à Internacional Socialista. Este momento representou o ponto mais alto do movimento no período que antecedeu o 25 de Abril de 1974. Ainda em 1973, os dirigentes trabalhistas britânicos receberam uma delegação do PS, chefiada por Mário Soares, o que provocaria o descontentamento do governo de Marcello Caetano. Soares participaria num importante evento, no qual teve apoio da liderança da esquerda britânica. Pela primeira vez, aparecia o nome de Mário Soares na imprensa mundial, Marcello Caetano era apresentado e descrito como um ditador. O ano de 1973 seria o annus horribilis de Caetano. O aumento dos custos materiais e humanos das operações militares em África, a publicação do Portugal e o Futuro do General António Spínola, a revelação dos sucessos da luta armada dos Movimentos de Libertação e a declaração unilateral de independência da Guiné por parte do PAIGC eram indícios do fim do regime. Mesmo assim, Marcello Caetano queria aceitar que a vida ditatorial não era o caminho a seguir para Portugal, a mudança estava iminente. O Partido Socialista com os seus cinquenta militantes iria beneficiar da atitude de Caetano e saber catalisar apoios após a Revolução dos Cravos. Assim, com o 25 de abril, o PS que se resumia a um pequeno grupo, sem implantação fora dos grandes centros urbanos, iria crescer. Nos meses seguintes, Mário Soares, já como ministro dos Negócios Estrangeiros, ia angariando apoios para o Partido Socialista. O I Congresso do Partido Socialista na legalidade teve lugar de 13 a 15 de Dezembro de 1974, logo após o 28 de Setembro de 1974, quando Spínola tentara através da alegada maioria silenciosa, tomar o poder autoritariamente. Neste momento, o PCP que tinha muita força nas ruas e nas manifestações, não conseguiu transpor esta realidade para a plano político. Assim as eleições para as constituintes de 1975 vieram a colocar o PS 3
como primeiro partido a nível nacional, integrando vários governos provisórios. O PCP perdeu a força de rua que tinha. Gradualmente, passada a fase do Processo Revolucionário em Curso (PREC), os princípios programáticos do PS foram sendo revistos, transformando-se o Partido Socialista num partido despido da sua linguagem revolucionária e de influências marxistas. O PS prosseguiu uma linha de reformas que implementavam direitos sociais bem como estabeleceram marcos importantes. O partido afirmava-se como um das principais forças políticas do país. Em 30 de Outubro de 1976, o Partido Socialista iniciou o seu II Congresso Nacional, marcado pelo apoio que lhe foi manifestado pelos partidos socialistas europeus. O II Congresso foi marcado pela recusa de uma política de alianças. Neste sentido apareceu a moção apresentada por António Reis e Manuel Alegre. A aparente unidade em torno deste texto foi quebrada quando Carmelinda Pereira, Aires Rodrigues, José Luís Mendes e José Luís Gaspar se opuseram à direção do partido, apresentando uma lista candidata à Comissão Nacional, que obtém 25% dos votos. Confirmada a sua qualidade de membros de uma organização trotskista, seriam, pouco tempo depois, expulsos do Partido Socialista. Em 1979, Mário Soares apresentou o documento Dez anos para mudar Portugal, proposta PS para os anos 80, elaborado por António Guterres. Tratava-se de um texto programático, que defendia "o modelo do socialismo democrático ou da socialdemocracia europeia". Do IV Congresso Nacional do Partido Socialista, decorrido em maio de 1981, destacava-se o confronto entre os partidários da moção de Mário Soares designada Novo Rumo para o PS, e os defensores da que tinha como primeiros subscritores António Arnaut e Francisco Salgado Zenha, designada Um partido forte, um partido claro, sendo esta última considerada afeta ao Secretariado Nacional. Deste confronto iria resultar uma alteração estatutária profunda. Era abolido o Secretariado Nacional (eleito pela Comissão Nacional), sendo criada, em sua substituição, a Comissão Permanente da Comissão Política. O país era governado por uma coligação PSD/CDS, chamada de AD (Aliança Democrática). Em fevereiro de 1983, o V Congresso do Partido Socialista viria a aprovar a moção de Mário Soares na qual se assumia que a coligação PS/PSD era o instrumento de um "grande projeto nacional interpartidário". Assim, a 27 de maio de 1983, Mário Soares aceitou formar o IX Governo Constitucional e Manuel Tito de 4
Morais, do PS, foi eleito Presidente da Assembleia da República era a formação de um governo de Bloco Central (PS/PSD). Apenas 2 anos depois, Cavaco Silva era eleito Presidente do PSD e os membros do seu partido no Bloco Central demitiram-se. O governo de partidos de centro terminava. O PS perdeu as eleições para Cavaco, que vence com 29,8% dos votos, seguido do PS com 20,8%. O PSD formou governo minoritário. Mário Soares demitiu-se então do secretariado-geral, sendo substituindo interinamente por António Macedo. Mário Soares candidatou-se à Presidência da República, tendo vencido e iniciou um período de autêntico boicote a Cavaco que depois de novas eleições, conseguiu a maioria absoluta estável para governar. Em junho de 1986, Jaime Gama e Vítor Constâncio concorreram ao cargo de Secretário- Geral. Vítor Constâncio venceu o Congresso. Em fevereiro de 1988, Vítor Constâncio foi reeleito sem oposição Secretário-Geral do partido, pedindo a sua demissão uns meses depois, a 22 de outubro de 1988. Em janeiro de 1989, Jorge Sampaio seria então eleito secretário-geral, derrotando a candidatura de Jaime Gama. O PS mesmo na oposição continuava a sua função política de oposição e de empenho pela defesa dos sues princípios. No X Congresso Nacional do Partido Socialista realizado em fevereiro de 1992, o engenheiro António Guterres foi eleito Secretário-Geral do PS, derrotando a candidatura de Jorge de Sampaio. A Presidência do Partido foi entregue a Almeida Santos, um dos fundadores do PS. Foram ainda aprovados os Estatutos que eliminavam o Congresso do conjunto dos órgãos nacionais do PS, e criavam as Convenções Nacionais com poderes reduzidos. Estas foram organizadas entre 1994 e 1996, mas não conseguiram despertar o entusiasmo dos militantes, por isso, em 1998, os Estatutos faziam renascer os congressos. Em 1995, o PS, então liderado por António Guterres formou governo. Almeida Santos assumiu a Presidência da Assembleia da República. Em 1999 conseguiu-se uma maioria relativa. Jorge Sampaio foi eleito Presidente da República, sendo reeleito em 2001. Assim entre 1996 e finais de 2001, o país passou a ter um Governo e um Presidente socialistas, além que nos Açores o PS de Carlos César venceu. Só a Madeira continuava laranja. Em finais de 2001, depois do PS ter uma derrota nas autárquicas, António Guterres encarou os resultados como um sinal de descontentamento do povo e demitiu-se. Em 5
2002, o PS perdeu as eleições, formou-se então um Governo PSD/CDS liderado por Durão Barroso. Era a 2ª AD. O novo secretário-geral do PS eleito em 2002 foi Ferro Rodrigues. No Verão de 2004 Durão Barroso foi convidado a presidir à Comissão Europeia e Jorge Sampaio nomeou um novo governo PSD/CDS liderado por Santana Lopes. Assim Ferro Rodrigues demitiu-se do seu cargo em protesto. José Sócrates passou a comandar o PS. O novo Governo PSD/CDS gozou de pouca popularidade e acusações de censura e assim Jorge Sampaio dissolveu a Assembleia e convocou eleições para fevereiro de 2005. Nestas eleições, o PS conseguiu uma maioria absoluta pela 1ª vez na sua História. Jaime Gama era nomeado Presidente da Assembleia da República. Em 2009, o PS de Sócrates voltou a reeleger-se mas sem maioria. Em 2011, quando o PEC (Programa de Estabilidade e Crescimento) IV foi chumbado na Assembleia da República, o Governo demitia-se. Com as eleições de julho de 2011, o PSD venceu as eleições e sem maioria, voltou a fazer uma coligação PSD/CDS, uma 3ª AD. Depois das eleições, António José Seguro foi eleito Secretário-geral do PS, tendo Maria de Belém assumido a Presidência do Partido Ao olhar a História do PS, percebemos que para o PS, a liberdade foi sempre o elemento essencial do combate por uma sociedade mais solidária, justa e fraterna, mais igualitária e coesa, assim como o pluralismo das ideias e das opiniões foi sempre a marca característica, não só do seu funcionamento, como da sua ação partidária. Francisco Miguel Nogueira, Mestre em História Moderna e Contemporânea, Especialidade em Relações Internacionais Historiador/Investigador 6