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Transcrição:

Presidência da República Casa Civil Secretaria de Administração Diretoria de Gestão de Pessoas Coordenação Geral de Documentação e Informação Coordenação de Biblioteca

56 Discurso na cerimónia de inauguração do Espaço Itaú Cultural SÃO PAULO, SP, 11 DE MAIO DE 2002 Estimado amigo, Presidente do Itaú Cultural, Doutor Olavo Setúbal; Nosso Governador Geraldo Alckmin; Diretora Executiva Milu Villela; Dona Deise; Dona Lourdes, Paulo, Roberto; Deputados, Senadores; Amigos todos, Primeiro, quero lhes pedir desculpas. Fiquei pensando: tenho um texto. Mas fiquei pensando o que fazer. Eu não sou capaz de ler no TelePromp- Ter. Sou igual a você Olavo. A Milu, mais moderna, como o Geraldo já disse, leu com perfeição. A Regina dá um baile. Custou-me ver que havia TelePrompTer quando ela estava falando. E fiquei com medo, porque estou com dificuldade até de ler mesmo uma paginazinha. Vou ao oculista hoje. Então, me desculpem, em vez de ler um discurso, quero apenas expressar minha satisfação, minha emoção de estar, aqui, mais uma vez, nessa instituição tão extraordinária que é o Itaú Cultural. Enquanto o Governador Geraldo Alckmin falava com tanta precisão, tanta generosidade com que se refere a mim, tanta veracidade no que se refere à Milu, eu estava pensando, um pouco, aqui, sobre São Paulo e sobre a vida cultural.

466 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Sou de uma época em que a vida cultural em São Paulo ficava mais ou menos ilhada entre a Praça da República e a Praça Patriarca. Um pouquinho ali. Havia a biblioteca, na rua São Luiz, a Escola da Praça, a Faculdade de Filosofia, o Clube dos Artistas, que ficavam ali também. Tudo era ali, naquele centro de São Paulo. Era intensa a vida cultural, mas era outro mundo. Era um mundo em que se esperava, com ansiedade, na Livraria Francesa, a chegada de algum livro da Europa, para que aqueles que pudessem ler uma língua estrangeira fossem à frente dos demais e, depois, escrevessem os seus artigos com alguma novidade. Era um mundo denso - não participei do período anterior, me refiro, aqui, à segunda parte, ao finalzinho dos anos 40 e aos anos 50. Mas, naquele momento, havia muita densidade cultural. A Bienal começou em 54. E São Paulo voltava a pensar o que tinha sido a famosa Semana de 22, à sombra permanente de Mário de Andrade, como ainda hoje, e dos grandes intelectuais de São Paulo. Tudo aquilo era muito vibrante, mas era muito pequenininho. O acesso era muito limitado. Era para muito pouca gente. Nas faculdades, pelo menos na Faculdade de Filosofia, onde estudei mais tarde, as classes tinham dez, doze alunos e traziam da Europa professores para ensinar a esse pinguinho de gente. Então, eram contribuições importantes, mas restritas. Nunca me esqueço, repito sempre, do livro famoso de Lévi-Strauss que se chama Tristes trópicos. Ele fala sobre São Paulo. Fala com uma certa maldade, até. Mas, enfim, ele fala sobre São Paulo e diz mais ou menos o seguinte: "Olha, aqui é muito interessante porque são poucas as pessoas. Mas parece que as famílias tradicionais escolhem cada um dos seus descendentes ou dos seus amigos para uma especialidade e para uma variedade de filosofia política. Por isso o Caio Prado é comunista, mas é Prado". Bom, isso era a São Paulo que ainda existia. Hoje, quando entrei aqui, fui sendo levado para ver essas maravilhas da tecnologia e na possibilidade de que, sem que um perturbe o outro, se ouçanl, ao mesmo tempo, músicas diferentes, noticiários diferentes. Cada um vai lá e escolhe o que quer, quarenta mil imagens estão aqui. Qualquer pessoa

PALAVRA DO PRESIDENTE i 9 SEMESTRE 2002 467 pode ter acesso a isso. Enfim, é a popularização, o acesso à cultura. É outro mundo. É outro mundo que nos deixa muito satisfeitos de ver, porque, como disse o Governador, não é simplesmente a Avenida Paulista que simboliza isso, e simboliza mesmo, essa nova etapa de São Paulo. Simboliza nos seus prédios, na sua atividade económica, mas é mais do que isso; é que, de alguma maneira, ela também se abre a todos. E isso é o que nós queremos. E quando se vê, aqui, a apresentação institucional do que é o Itaú Cultural, se vê a variabilidade imensa de forma de realização cultural que aí está presente. E como, de alguma maneira, estando-se aqui, na Avenida Paulista, a gente se sente ao lado da periferia. Essa distância está acabando. Culturalmente, ela está acabando. Pode ser que ainda não - e vai levar tempo para que acabe -, em termos de renda, mas de acesso começa a acabar. E é essa a função do Itaú Cultural. Essa, realmente, que a Milu marcou, com muita coragem: a arte tem que ter sempre esse embasamento na sociedade. Tem que haver sempre uma relação social. Este monumento a São Paulo, que é o Itaú Cultural, cravado no coração de São Paulo, que é a Avenida Paulista, é, realmente, de todos os paulistanos e de todos os brasileiros. O acesso é livre. E aqui se vê não a cultura paulistana, que tanto me entusiasma e a todos nós que vivemos a vida inteira aqui, mas se vê a cultura do Brasil todo e do mundo todo. Esse é um novo momento do Brasil. Vivo-o com muita alegria, embora seja difícil ser Presidente por tantos anos, e já disse muito bem o Geraldo: "Chega." Embora seja difícil e até mesmo, sob certo ponto de vista, árduo, cansativo, eu vivo com alegria esses anos. Alegria interior. Não pelo fato de ser Presidente - também é bom -, mas não é por isso, não. É porque o Brasil é outro país, é um Brasil que está mudando mesmo, para valer. Isso se vê em tudo. No texto que está aqui, há dados que não vou repetir porque são exaustivos. Mas eu mesmo me impressiono, às vezes. Nesses últimos anos, distribuímos 500 milhões de livros didáticos. Agora fui, outro dia, à televisão para dizer que vamos distribuir 6o milhões de novelas, romances. Ou seja, a leitura passa a ser alguma coisa que se generaliza, ou

468 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO se pretende generalizar no Brasil. Dá mais alegria quando se vê que, realmente, tem quem saiba ler, porque 97% das crianças estão nas escolas. O IBGE publicou um dado, agora, nesta semana, que surpreendeu a todos, a mim também. Não me refiro só à mortalidade infantil - uma boa surpresa, ela caiu muito, não? É que todo mundo falava que nós não tínhamos nenhuma informação sobre a pré-escola. Agora, vimos que temos 70% das crianças de 5 e 6 anos na pré-escola. E temos 90 e tantos por cento no ensino fundamental. E os que estão aí, 80% de todos estão em escolas públicas. Então, os que estão nas escolas públicas têm merenda escolar, comem. Pode haver desnutrição, mas a fome, para a maioria dos brasileiros, não existe, não, isso é conversa fiada. Os mais pobres estão nas escolas públicas. E, nas escolas públicas, há um prato de comida. Isso vem junto com essa maravilha a que estamos assistindo aqui, essa transformação tecnológica, a maravilha que a Itautec produz, é tudo junto, a fusão desse novo Brasil. Isso vem junto com aquilo que é muito importante tambéni: a valorização da nossa memória. O que tem sido feito no Brasil, nos últimos tempos, para recuperar os monumentos é uma coisa impressionante. Quem for ao Pará, a Belém, vai ficar, realmente - creio que a Milu conhece - muito impressionado com aquele paredão de casarões antigos à margem do rio que lá está, que têm uma vitalidade eflorme. Há uma igreja belíssima, a de Santo Alexandre, renovada. Quem for a Olinda, vai ver que está se renovando. Quem for a Ouro Preto, Vai ver que está se renovando. Quem sair daqui e for até ali, à Estação da Luz, vai ver que está sendo renovada. Quem passar pela Júlio Prestes, vai ver que São Paulo tem hoje uma grande sala de música e de concertbs. Enfim, isso é em toda parte. E a tal ponto que aumentam as demandas para que haja pontos, no Brasil, que sejam considerados Património da Humanidade. Goiás, cidade dos meus bisavós, está lá, hoje, Património da Humanidade. Não falamos mais de Ouro Preto só, que é coisa já conhecida. Por todo lado há uma valorização da história cultural do Brasil. No cinema, que talvez seja a expressão mais dinâmica de tudo isso, houve, de novo, uma explosão, como no tempo do Cinema NOVO. Nós, hoje, temos, de novo, uma explosão de produção cultural. Nps últimos

PALAVRA DO PRESIDENTE i 9 SEMESTRE 2002 469 anos, foram produzidos mais de 130 filmes no Brasil, que começam, de novo, a ganhar prémios, aqui, ali e acolá. Mas - reitero - o importante é que isso, hoje, se faz com uma outra visão, não é mais a visão de uma elite culta - esta existe, tomara que exista e continue existindo para sempre. Mas não é isso, não, é uma cultura que seja, realmente, fruída pelo conjunto da população e que seja útil, não no mau sentido de cultura utilitária, mas no sentido da formação espiritual, da cidadania, da participação, da inclusão social para a massa da população brasileira. E isso o Estado não pode fazer, não pode fazer sozinho. O Estado pode dar a base, a educação, distribuir livro, informação, mas a complementaridade depende do voluntariado, das organizações não-governamentais, da ação das empresas, dessa visão de parceria que é a palavra que hoje está difundida, porque é verdadeira, porque mostra uma outra mentalidade. Talvez seja esse o desafio maior do século que começa, que é um século que começou mal - vamos ser francos. Começou com marcas de intolerância, de fundamentalismo, de crenças cegas e com a marcha da insensatez. Isso foi tão importante que ouvi o Doutor Olavo Setúbal dizer aqui, repetir aqui, aquilo que é a nossa crença comum de uma sociedade plural, de uma sociedade que aceita o outro, que discute, que dialoga, que não tem medo da discórdia porque sabe que essa discórdia não se faz para, no fim, chegar à eliminação do outro, senão que se faz para que se possa manter cada qual sua opinião e, se possível, convergir ou superar as opiniões apresentadas, criando-se uma nova opinião, ou seja, democrática. E não pode mais ser democrática apenas porque as instituições funcionam bem, porque temos Deputados e Senadores, alguns dos quais, brilhantes, estão aqui, não só porque temos pessoas eleitas como o Governador e eu próprio, mas funcionam bem porque levam à participação crescente e ativa da sociedade. Isso não são mais palavras. Quem anda pelo Brasil ando bastante, apesar de que ando muito cercado, não posso ver tudo que quero, mas de qualquer maneira as informações chegam - sabe que hoje, lá, no interior da Paraíba, do Ceará, do Rio Grande, do Amazonas, em toda

470 PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO parte, há uma movimentação nova, há um movimento de um certo voluntariado, há o Comunidade Solidária, há mil outras formas de organização. E as pessoas utilizam o quê? Rede de computador, Internet, falam uns com os outros pela Internet. Um dos dados mais impressionantes que tenho visto aqui, no Brasil, é a difusão rápida da Internet. Há um dado de que nem todos gostam, mas eu gosto: Imposto de Renda. Neste ano, foram 15 milhões de pessoas que declararam renda. Em 95 eram 3 ou 4 milhões. Quinze milhões declararam. Deve haver mais pessoas que não declaram, mas 15 milhões declaram renda. Pois bem, desses 15 milhões que declaram renda, 90 e tantos por cento fazem-no pela Internet. É uma coisa extraordinária, porque isso é muita gente que usa a Internet. E quando se vai ver o dado que o IBGE publicou, nós temos 10% dos domicílios - não são pessoas, não -, das casas, fora o que existe nas empresas, nos setores públicos, 10% das casas têm um PC, um computador pessoal. É possível isso? Não é fantástico isso? Em quanto tempo? Poucos anos, em poucos anos. Então, essa cultura nova passa pela mediação dessas novas formas de tecnologia. E ela produz arte cinética, essas complicações todas que eu, que sou daquele tempo em que se andava da Praça do Patriarca para a Praça da República, não entendo. Não entendo, mas gosto. Gosto, e quando ponho no meu ouvido, igual agora, de manhã, aqui, puseram aquilo que aperta um botãozinho e de repente muda a cena, eu fico deliciado. Fico só pensando: será que quando eu estiver sozinho, sem alguém a meu lado, vou ser capaz de fazer isso, ou vou ter que pedir à Ruth para me ajudar? Porque as mulheres aprendem muito mais depressa que os homens as novas tecnologias. Enfim, me perdoem o modo informal de conversar com vocês, mas é que numa casa de cultura a gente tem que se sentir à vontade. Eu confesso, Olavo, que me sinto aqui à vontade porque vi o ambiente, que é convidativo, que é um ambiente apto de participação. Tenho certeza de que, se tivermos 250 mil pessoas visitando aqui, isso vai crescer mais e mais e mais, e, junto com o Itaú crescendo, o Itaú Cultural crescendo, está crescendo o Brasil. Fico gratíssimo a vocês todos. Parabéns, Milu!