A Gestão do Ensino da Contabilidade Trajetória



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Transcrição:

A Gestão do Ensino da Contabilidade Trajetória Profª Drª Elizabeth Castro Maurenza de Oliveira 1 elizabeth.oliveira@metodista.br Resumo Pretende-se nesse artigo apresentar diversos enfoques sobre o ensino da Contabilidade em nível superior, aspectos relacionados à formação do profissional e assuntos publicados em revistas específicas dos Conselhos Federal e Regionais de Contabilidade em 2009. Essas publicações têm como missão a divulgação de artigos, resenhas de livros e resumo de palestras ocorridas em Encontros de Profissionais, Professores e Coordenadores de curso de Ciências Contábeis. Palavras-chave: Contabilidade; Ensino da Contabilidade; Contador; Profissão: contador História O ensino da Contabilidade no Brasil ocorre a partir de chegada da Família Real em 1808, no Rio de Janeiro. A partir deste marco da história vários fatos em torno da Contabilidade acontecem: em 1846 foi criada a Escola Central de Comércio; em 1856 foi criado o Instituto Comercial do Rio de Janeiro e em 1902 foi fundada a Escola Prática de Comércio, 2 com o objetivo de preparar os profissionais da época para o crescimento industrial que estava ocorrendo no país. Com a instituição do decreto federal nº 1.339 de 1905 foram reconhecidos os diplomas expedidos pela Escola Prática do Comercio, considerada a primeira Escola de Contabilidade no Brasil 3 e que passa a ser chamada de Escola de Comércio de São Paulo, quando o conde Antonio de Álvares Leite Penteado, que considerando a importância dessa instituição, fez a doação do terreno para a construção de um prédio para a Escola de Comércio. Em 1907 passou a ser denominada Escola de Comercio Álvares Penteado, tornando-se a primeira escola especializada em contabilidade no Brasil. Contudo, apenas em 1931 instituiu-se o Curso Geral de Contabilidade, com duração de três anos e formava o perito-contador e o guarda-livros trabalhadores na Fazenda. Para quem completasse o Curso Superior de Contabilidade, com mais dois anos de estudos, teria direito ao exercício das 1 Coordenadora do Curso de Ciências Contábeis na Universidade Metodista de São Paulo 2 GONÇALVES e CARVALHO, 1976; RODRIGUES, 1986; SCHMIDT,2000. 3 MARION e ROBLES JR., 2003

22 funções de agentes consulares, funcionários do Ministério das Relações Exteriores, atuários de companhias de seguros, chefes de Contabilidade de estabelecimentos bancários e de grandes empresas comerciais. No ano de 1939 o Decreto Lei nº 1535 altera a denominação do Curso de Perito-Contador para Curso de Contador. Em 22 de setembro de 1945, por meio do decreto lei nº 7.988, é criado o Curso de Ciências Contábeis e Atuariais e, em 20 de dezembro desse mesmo ano, pelo decreto lei nº 8.191, fica estabelecido que as categorias de guarda-livros, atuários, contadores, perito-contadores e bacharéis seriam agrupados em apenas duas, ou seja: Técnico de Contabilidade para os profissionais de nível médio e Bacharel para os de nível superior. Com o advento da Lei nº 1.401 de 31 de julho de 1951, houve a separação entre o Curso de Ciências Contábeis e o Curso de Atuariais 4. Trajetória A democratização fez com que na década de 1960 surgissem no Brasil o curso noturno 5, visto que a realidade impõe ao estudante a necessidade de trabalhar durante o dia e, ao mesmo tempo, dedicar-se aos estudos a noite com a intenção de obter ascensão profissional. No final da década de 1990, o Exame de Suficiência foi instituído por meio de uma Resolução do Conselho Federal de Contabilidade - CFC nº 853/99, como requisito para a obtenção de registro profissional, em Conselhos Regionais de Contabilidade, atuando também como um instrumento de estímulo à modernização das IESs (Instituições de Ensino Superior) e respectivos currículos dos Cursos de Ciências Contábeis. Esse exame ocorreu partir de 2000 e até 2004, em suas nove edições, mais de 150 mil profissionais (contadores e técnicos em contabilidade) foram avaliados. O projeto de lei, que alterava o art.12 do decreto lei nº 9295/46 e instituía o Exame de Suficiência, antes de ser encaminhado a Casa Civil para sanção presidencial foi submetido ao parecer do Ministério do Trabalho e Emprego que, fazendo uma avaliação equivocada do texto, sugeriu o veto presidencial. Em 15 de dezembro de 2005 houve o veto integral do Presidente da República à versão final do projeto de lei. Considerando que a íntegra do decreto lei nº 9295/46, no qual se encontra albergado o Exame de Suficiência, ainda tramita no Congresso Nacional, após sua 4 PASSOS, 2004. 5 PELEIAS, 2006 22

23 aprovação, o Conselho Federal de Contabilidade poderá implementar novamente o Exame de Suficiência. Em 1993 instalava-se o Curso de Ciências Contábeis na Metodista, com duração de 10 semestres, reformulado em 2000 para 8 semestres, formando bacharéis em Ciências Contábeis que poderão exercer a profissão de Contador em todo território nacional, a partir do seu registro no Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo. Dados do Ministério da Educação/ Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - MEC/INEP (2008) registram a existência de 1.110 cursos de Ciências Contábeis em todo o Brasil, sendo 73 na Região Norte, 202 no Nordeste, 478 no Sudeste, 134 no Centro-Oeste e 223 no Sul. Visão Geral da Profissão Contábil O mercado de trabalho do contador é muito amplo e versátil, visto que os serviços prestados por essa categoria de profissionais são indispensáveis para o bom funcionamento de qualquer organização, seja ela do setor publico ou privado. Recentemente a Revista Brasileira de Contabilidade - RBC (nº 176/2009) publicou as diversas competências e possibilidades de empregos aplicáveis ao Bacharel em Contabilidade nos diversos segmentos, tais como: Área privada: nas organizações industriais, comerciais, serviços, cooperativas, Organizações Não Governamentais - ONGs., exercendo as funções de: Auditor Interno; Contador Fiscal; Contador Geral e de Custos; Controller; SubContador e cargos administrativos nas áreas afins (financeira, planejamento tributário, orçamentos, administração industrial,etc...). Como autônomo, o Contador Independente exerce funções de: Auditor, Consultor, Perito Contábil, Investigador de Fraude e ainda pode ser proprietário/sócio em Escritório Contábil, Na área acadêmica pode atuar como: Professor, Pesquisador, Escritor, Parecerista e Conferencista. Na área pública são requeridos, após concursos públicos, para exercer as funções de: Contador Público, Agente Fiscal de Renda, Tribunal de Contas, Oficial Contador, etc. 23

24 Atualidade A partir da vigência da Lei nº 11638 publicada no último dia útil de dezembro de 2007 e agora, um ano após a migração das normas contábeis brasileiras para o padrão contábil internacional (International Financial Reporting Standards IFRS) pelas companhias abertas brasileiras Sociedade Anônimas (S/As), a Contabilidade passa a ter extrema importância em quaisquer assuntos ligados à gestão patrimonial, controladoria, finanças, sistemas de informações e orçamento organizacional. Para garantir a convergência das normas brasileiras ao padrão IFRS emitido pelo International Accounting Standards Boards IASB, já adotado por mais de 100 países, a nova lei possibilitou à Comissão de Valores Imobiliários (CVM), ao Banco Central do Brasil e aos demais órgãos e agentes reguladores, celebrarem convênios com a entidade que tenha por objeto o estudo e a divulgação de princípios, normas e padrões de contabilidade e de auditoria, podendo, no exercício de suas atribuições regulamentares, adotar, no todo ou em parte, os pronunciamentos e demais orientações técnicas emitidas 6. Essa entidade é o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), que em 2008 emitiu 15 pronunciamentos e interpretação técnica sobre os temas contábeis que foram objeto das leis 11.638/07 e 11.941/09 (abril de 2009 que fez alguns ajustes necessários para deixar a lei 11638 mais precisa). Em entrevista a Revista Brasileira de Contabilidade, o prof. Dr. Nelson Carvalho, que assumiu este ano a coordenadoria de Relações Internacionais do CPC, após encerrar seu mandato de chairman no IASB, afirmou que tivemos três dias para fazer o que a Europa fez em cinco anos. Por meio da Comissão Européia e do Parlamento Europeu, sediados em Bruxelas, deliberou-se em 2000 que as cerca de sete mil companhias abertas da União Européia passariam a adotar as normais internacionais IFRS a partir de 2005. No Brasil, a lei 11638/07 foi publicada determinando imediata vigência a partir de exercícios sociais iniciados em 1º de janeiro de 2008. O prof. Dr. Nelson Carvalho atualmente é o representante do Brasil no Grupo Consultivo da Crise Financeira, de âmbito internacional e se dedica a estudar questões de como oferecer sugestões aos normatizadores contábeis que lhes permitam traçar ou revisar normas que, por sua vez, permitam que crises sejam evitadas ou precocemente detectadas. 6 Revista Brasileira de Contabilidade - RBC nº 175/2009 24

25 Para Tadeu Cendón Ferreira, diretor de Desenvolvimento Profissional do Instituto dos Auditores Independentes do Brasil - IBRACON/Regional São Paulo, esse é um momento de grande desafio para a profissão contábil e, como não deixaria de ser, de muitas oportunidades de crescimento e elevação de nossa profissão. 7 Até o início de agosto, já foram emitidos 34 CPC, sendo que 17 em forma final, 15 com audiência pública já encerradas e 2 pronunciamentos estão em audiência publica. O Ensino Podemos afirmar que a partir da publicação das leis: 11638/07 e 11.941/09, tudo mudou no mundo contábil das corporações e que no ensino da contabilidade velhos paradigmas precisam ser quebrados dando lugar a idéias inovadoras, ou seja, a questão do ensino versus aprendizagem deve se fundir na mesma sintonia, verificando as carências do sistema globalizado como um todo e encontrando soluções eficientes e eficazes. 8 De acordo com a Resolução do Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior, CNE/CES nº 10 em seu artigo 5º, os cursos deveriam ter as seguintes temáticas: 9 1) conteúdos de Formação Básica: estudos relacionados com outras áreas do conhecimento, sobretudo Administração, Economia, Direito, Métodos Quantitativos, Matemática e Estatística; 2) conteúdos de Formação Profissional: estudos específicos atinentes às Teorias da Contabilidade, incluindo as noções das atividades atuariais e de quantificações de informações financeiras, patrimoniais, governamentais e não-governamentais, de auditorias, perícias, arbitragens e controladoria, com suas aplicações peculiares ao setor público e privado; 3) conteúdos de Formação Teórico-Prática: Estágio Curricular Supervisionado, Atividades Complementares, Estudos Independentes, Conteúdos optativos, Prática em Laboratórios de Informática utilizando softwares atualizados para Contabilidade. 7 Revista Brasileira de Contabilidade - RBC nº 175/2009 8 CASTRO, 2009 Contabilidade - revista mineira 9 MEC, 2007 25

26 Desde o início do século, o Prof. Dr. José Carlos Marion 10 corrobora dizendo que o ensino da Contabilidade deveria combinar a teoria com a prática, com o tempo dedicado a ambas, variando de acordo com a necessidade dos alunos. Hoje, o estudante precisa acompanhar as mudanças que surgiram com o advento da globalização, necessitando capacitar e aprimorar seus conhecimentos para enfrentar o novo mercado de trabalho. Nesse sentido, as instituições precisam evoluir no ensino da Ciência Contábil,deixando para trás aquele período de 1950 a 1985 quando o aluno não participava das aulas, tornando-se passivo, ou seja, era conduzido à compreensão da regra, mas com um padrão de ação em que o professor detinha o poder 11 Na educação corporativa prevalecem as metodologias por meio de atividades práticas, exercícios, estudos de casos, jogos de empresas, recursos didáticos baseados em multimídias e demais recursos tecnológicos. A idéia não é suprimirmos a teoria, até porque ela é de suma importância para a formação educacional e profissional, constituindo a essência da Contabilidade. O objetivo é fazer com que prática e teoria caminhem juntas de modo que cada conceito possa ser levado para a prática. O/A Profissional Na confrontação da profissão contábil brasileira com a de outros países, observamos que a imagem dessa atividade está muito aquém da encontrada nos países desenvolvidos. Na Inglaterra, por exemplo, a certificação do contador é dada pela rainha, contudo ela mesma não pode tirá-lo da função. Nos Estados Unidos, a Contabilidade figura entre profissões como médico, advogado e engenheiro. Em alguns estados americanos, o contador é o mais bem pago entre os profissionais liberais; os auditores formam uma classe privilegiada, ganham uma fortuna e possuem imenso respeito da sociedade e do mercado 12 A Contabilidade está entre as maiores e mais promissoras profissões do século; todavia, apesar das inúmeras vantagens é fundamental o equilíbrio entre a ética e a competência. O profissional 10 MARION, 2003 11 KRASILCHIK et al, apud AMARAL, 2006 12 MARION, 1997 apud CASTRO, 2009 Contabilidade - revista mineira 26

27 da Contabilidade é um agente de mudanças e como tal, esse profissional deve mostrar suas diversas habilidades para o grupo de acionistas, administradores ou o governo e demais usuários das informações financeiras e patrimoniais de uma organização. Nesse sentido, cabe ao contador conquistar seu espaço no mercado de trabalho de forma eficiente e eficaz, introduzindo de forma clara e ética profissional, devendo apresentar-se como um tradutor e não simplesmente como um apurador de dados. Suas informações devem prover os usuários de bases sólidas para tomada de decisão. As instituições de ensino devem buscar parcerias com instituições particulares, empresas, associações, conselhos e demais órgãos com o propósito de trabalhar em sinergia contínua de melhoria da capacitação de nossos estudantes, os quais serão os futuros profissionais que trabalharão arduamente na busca da qualidade dos resultados éticos, econômicos, sociais e políticos das organizações. Finalmente, um recado aos estudantes, professores e profissionais desta área: intensifiquem seus conhecimentos e estudos por meio das pesquisas científicas e trabalhos acadêmicos, com o propósito de agregar novos valores e conhecimentos à atuação do contador, pois a Contabilidade merece destaque entre as grandes profissões e depende da garra daqueles que abraçam o objetivo e o significado contábil. 27

28 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: AMARAL, Patrícia Ferreira do et.al. Ensino aprendizado na área de educação contábil: Uma investigação teórico-empírica. In 6º Congresso USP. São Paulo, 2006. GONÇALVES, Emilio: CARVALHO, Gabriel Marques de. O contabilista e a regulamentação especial da profissão. São Paulo: LTR, 1976 MARION, José Carlos. Contabilidade empresarial. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2003.. Preparando-se para a profissão do futuro. Congresso USP. São Paulo, 1992 MARION, José Carlos, ROBLES JR, Antonio. A busca da qualidade no ensino superior de contabilidade no Brasil. Disponível em: www.clasecontabil.com.br. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO MEC. Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação de Ciências Contábeis. Disponível em: www.mec.gov.br PASSOS, Ivan Carlin. A interdisciplinaridade no ensino e na pesquisa contábil: um estudo no município de São Paulo. Dissertação Mestrado em Contabilidade FEA-USP, São Paulo, 2004. PELEIAS, Ivam Ricardo. Didática dp ensino superior da contabilidade: aplicável a outros cursos superiores. São Paulo: Saraiva, 2006 REVISTA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE Conselho Federal de Contabilidade nºs: 175, 176. 2009. RODRIGUES, Alberto Almada. Da aula de comércio da corte as escolas de comércio dos primórdios da república de 1808 a 1943: subsídios a história da profissão contábil e das instituições de ensino, profissionais e culturais da ciência contábil no Brasil. Revista do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.17, n.46. 1986. SCHMIDT, Paulo. História do pensamento contábil. Porto Alegre: Bookman, 2000. 28