ANÁLISE DA DINÂMICA COSTEIRA EM PRAIAS DO MUNICÍPIO DE CABEDELO-PB NEVES, Marianna Moreira Universidade Federal da Paraíba mariannamn@gmail.com BELTRÃO, Joyce de Araújo Universidade Federal da Paraíba jo_belt@hotmail.com NEVES, Silvana Moreira Universidade Federal de Pernambuco smoneves@gmail.com Resumo O litoral brasileiro atualmente passa por um acelerado e expansivo processo de ocupação urbana. O caráter exploratório do atual sistema econômico virou-se para o litoral, e foram desenvolvidas diversas atividades que visam a extração dos recursos naturais destes ambientes. Especulação imobiliária, atividades industriais e o turismo são os principais vetores de desenvolvimento da zona costeira brasileira. Entretanto, tais atividades comumente se estabelecem de modo desordenado, sem que haja uma preocupação com a sustentabilidade do meio ambiente. As zonas costeiras são áreas ambientalmente frágeis e que não suportam grande pressão antrópica. Neste contexto, insere-se o município de Cabedelo, situado na porção sul do litoral da Paraíba. A orla cabedelense é um dos principais pontos de atração para as atividades turísticas do Estado. Entretanto, a costa deste município vem passando por diversos conflitos socioambientais, entre a ocupação desordenada e os processos costeiros atuantes no local. Um dos principais problemas hoje enfrentados pela população residente nesta área é a erosão marinha, já bastante acentuada em alguns trechos do litoral. Objetivando caracterizar os principais processos marinhos e de cunho antrópico atuantes no ambiente em apreço, a presente pesquisa realiza um monitoramento sistemático em duas praias do município, distintas em seus aspectos urbanos e naturais (Intermares e Poço). A metodologia utilizada nesta pesquisa baseou-se na proposta sugerida por Muehe (1996), com auxílio de um nível topográfico e uma régua graduada (mira). Foram realizados, até o momento, o levantamento de perfis praiais e dados hidrodinâmicos distribuídos em dois pontos distintos, durante um período de 6 meses, entre agosto de 2009 e janeiro de 2010, sempre nas marés de sizígia. O monitoramento é parte integrante do trabalho de conclusão de curso e ainda encontra-se em andamento, restando um período de 4 meses para sua finalização. Os resultados obtidos até o momento apontam dados diferenciados para as duas praias, variando de acordo com a época do ano. Entretanto, devido à intervenção humana em maior proporção na praia do Poço, esta se apresentou com maior vulnerabilidade a erosão costeira. Já a praia de Intermares é a que mais se aproxima do estágio de equilíbrio entre os 1
aspectos naturais e humanos, pois a ocupação urbana ocorreu de modo a respeitar os limites dos processos costeiros atuantes, preservando o pós-praia e a vegetação nativa. Palavras-chave: Praia, dinâmica costeira, erosão. Abstract The Brazilian coast is currently going through a rapid and expansive process of urban occupation. The exploratory nature of the current system Economic turned to the coast, and were developed several activities aimed at the extraction of natural resources in these environments. Speculation, industrial activities and tourism are the main development of the Brazilian coastal zone. However, such activities often are established so cluttered, without a concern about the sustainability of the environment. The Coastal areas are environmentally fragile areas that do not support high anthropogenic pressure. In this context, is part of the municipality of Cabedelo, situated on the southern coast of Paraiba. The border cabedelense is a major point of attraction for tourist activities of State. However, the coast of this city has experienced several environmental conflicts between the disorderly and processes operating in the coastal site. A major problem faced today the resident population in this area is the sea erosion, already severe in some stretches of coastline. Aiming to characterize main marine processes of nature and man-made working in the environment under consideration, the present study conducts a systematic monitoring in two beaches in the municipality, other than in their urban and natural aspects (Intermares and Well). The methodology used in this study was based on proposal suggested by Muehe (1996), with the aid of a topographical level and a graduated scale (sight). Been performed so far, the survey of local beach profile measurements and hydrodynamic data distributed in two separate points during a period of six months between August 2009 and January 2010, when the spring tides. Monitoring is part of the work of completion and still is in progress, leaving a period of four months for completion. The results obtained so far show detailed data for the two beaches, varying according to season. However, due to human intervention in a greater proportion of the beach well, this is presented with greater vulnerability to coastal erosion. Already the beach Intermares that is closest to the stage of equilibrium between the natural and human aspects, as urban growth has occurred so respect the limits of active coastal processes, preserving the post-beach and native vegetation. Key-words: Beach, coastal dynamics, erosion. 1. INTRODUÇÃO Esta pesquisa buscou entender os processos dinâmicos atuantes em praias do município de Cabedelo, situado no estado da Paraíba, a fim de entender os processos costeiros atuantes na região e fornecer subsídios às futuras medidas de proteção ambiental e monitoramento costeiro. 2
A área escolhida para a realização desta pesquisa vem passando por um processo de descaracterização do seu ambiente praial, devido principalmente, ao intenso processo de urbanização que vem aumentando nos últimos anos, por causa da procura da população com maior poder aquisitivo por esse espaço, para fins de veraneio e investimentos no turismo. Esse processo de desenvolvimento, quando feito de forma desordenada e sem respeitar minimamente os ecossistemas naturais, pode provocar um desequilíbrio ambiental, como no caso em estudo. Por isso, faz-se necessário realizar um monitoramento contínuo da área para uma melhor constatação. As zonas costeiras representam as áreas de interação entre o mar e o continente. São áreas intensamente dinâmicas, que sofrem transformações constantes, em escalas temporais e espaciais distintas, respondendo à forças humanas e naturais. Essas dinâmicas as tornam áreas de extrema sensibilidade ambiental (NEVES, 2008). Segundo Neves (2008), no Brasil, grande parte da população reside atualmente em áreas costeiras, e o número de habitantes nessa região aumenta gradativamente. A partir da década de 70 do século passado, houve um crescimento da urbanização nas áreas costeiras, através de investimentos governamentais e/ou privados, sejam em infra-estrutura viária, em comércio e serviços diversos. Como conseqüência a esse crescimento, constata-se uma intensificação do fluxo migratório populacional e a transformação do ambiente costeiro, através da exploração dos recursos naturais, levando, assim, ao desequilíbrio do mesmo. O Estado da Paraíba encontra-se inserido neste contexto, pois a maior parte da população do Estado reside nas áreas costeiras compreendidas pelas regiões dos tabuleiros ou baixos planaltos costeiros, bem como também na baixada litorânea chegando até a praia (NEVES, 2003). A área de estudo passou por intenso processo de ocupação e especulação imobiliária a partir das décadas de 1980/1990, devido ao processo de descentralização do centro de João Pessoa e pela prática de veraneio crescente entre a população dessa época. As praias em destaque apresentam forte atrativo turístico, atraindo um grande contingente populacional em épocas de alta estação, como por exemplo, no verão. Para atender a demanda, vários quiosques, bares, restaurantes e residências foram construídas em quase toda extensão da orla. Entretanto, tais construções não respeitaram o sistema praial físico, o que ocasionou sérios problemas ambientais e econômicos. 3
Apesar dos conflitos entre o uso do solo e a dinâmica natural das praias, poucos estudos foram realizados na tentativa de melhorar a qualidade ambiental nesta área e a qualidade de vida dos moradores que nela residem. 2. LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO O município de Cabedelo constitui-se de uma península arenosa, entendendo-se no sentido sul-norte entre o rio e o mar, compreendendo uma superfície de aproximadamente 32km², com uma variação de 1000 a 3000 metros de largura. Limita-se com o Oceano Atlântico ao norte e leste; com o Rio Paraíba a oeste, e com o município de João Pessoa, capital do Estado, ao sul, cuja divisa municipal se faz através do Rio Jaguaribe. A área em estudo compreende um pequeno trecho da orla na porção sul do município. Esse trecho foi selecionado devido as diferenças de uso e ocupação, apesar da proximidade entre ambas as praias. 4
5
3. MATERIAIS E MÉTODOS Primeiramente, foi realizado um levantamento bibliográfico a respeito da temática proposta. Posteriormente, foram esquematizadas as atividades de campo, que envolveram monitoramento do nivelamento topográfico, caracterização do ambiente em análise w coleta de dados hidrodinâmicos, cujo período se estendeu de agosto de 2009 a janeiro de 2010, sempre na maré de sizígia de lua cheia, de acordo com as tábuas de maré do Porto de Cabedelo/PB. Os dados dos perfis praias foram analisados e desenhados com o auxílio do programa GRAPHER. 6
3.1 Levantamento e Coleta de Dados - Nivelamento Topográfico O nivelamento topográfico foi realizado sempre na maré baixa de sizígia de lua cheia, durante os meses compreendidos para a realização da pesquisa. Para efetuar os perfis de praia foi utilizado um nível, uma mira, trena de 50 metros, piquetes e uma planilha de nivelamento topográfico. Cada perfil foi desenvolvido a partir do pós-praia, até 25 metros após a linha d água, sempre a partir de um marco fixo, o qual foi adotado um nível de referência (RN). Adicionalmente a estas informações, foram realizadas observações visuais, utilizando-se ficha de caracterização do ambiente praial, onde foram preenchidas informações a respeito de interferência antrópica, presença de estruturas sedimentares, berma, entre outros. - Hidrodinâmica Costeira Foram coletados valores da altura significativa das ondas, medidas com o auxilio de uma régua graduada de 5 metros, a qual era posicionada na zona de arrebentação e medidas dez ondas consecutivas; o período das ondas, que foi obtido através da utilização de um cronômetro, o qual era marcado o tempo em que onze ondas quebravam em um ponto fixo (procedimento executado durante dez vezes seguidas); e a determinação da velocidade e direção da corrente litorânea, para a qual era lançado um flutuador, após a zona de arrebentação, e marcado o tempo em que este objeto lançado levava para percorrer a distância de dez metros. Em seguida dividia-se o espaço, neste caso 10 metros, pelo tempo obtido, encontrando assim a velocidade da corrente litorânea. 3.2. Trabalhos de Gabinete Esta etapa constou da análise e interpretação dos dados levantados em campo (perfis topográficos, dados hidrodinâmicos e caracterização das praias). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1. Caracterização do Ambiente Praial 7
As unidades geomórficas mais utilizadas e distinguíveis nos ambientes de praias arenosas são divididas em: a) antepraia; b) estirâncio; c) pós-praia. As informações das características do ambiente praial do trecho em estudo foram levantadas simultaneamente à realização dos perfis de praia. A pós-praia da praia de Intermares, mais especificamente na área de levantamento do perfil, apresenta largura aproximada de 60m. Neste compartimento não foi constatado indícios de erosão. No ponto onde foi instalado o ponto referencial especificamente, encontra-se o Bar do surfista, única construção permitida nessa área, pois o mesmo encontrava-se instalado antes mesmo da localidade torna-se bairro. Nas demais áreas da praia, todo o espaço, que compreende o pós-praia, é recoberto por vegetação pioneira e coqueiros. Apesar da área em apreço encontrar-se próxima a um bar e de um grande volume de circulação de usuários, foram encontrados relativamente poucos materiais poluentes (vidro, plástico e material orgânico) misturado com os sedimentos. Na área correspondente ao estirâncio não foi constatado nenhuma obra construída pelo homem, nem outra alteração de impacto. Foto 01: Pós-praia com vegetação e sem interferência antrópica na praia de Intermares. Fonte: Marianna Neves (2009) Na Praia do Poço, a pós-praia praticamente se extinguiu devido a intensa interferência antrópica existente na área. O espaço foi todo ocupado pelas construções residenciais, bares, etc. O estirâncio, nas marés baixas, apresenta-se bastante largo, com bom espaço recreativo. 8
Entretanto, nas marés cheias, em vários trechos da orla, ele desaparece, tornando a passagem dos pedestres impossível de acontecer. Foto 02 e 03: Pós-praia inexistente devido a ocupação urbana na praia do Poço e o acentuado estágio erosivo da praia. Fonte: Marianna Neves (2010) A erosão costeira detectada na área encontra-se em um estágio bastante avançado, com crescente perda da pós-praia e do patrimônio dos que ali residem e trabalham. As variações do nível do mar e a ocupação indevida das áreas de dinâmica dos processos costeiros têm ocasionado intensa descaracterização do ambiente praial. Apesar do fato constatado, nada é realizado, por nenhum órgão público, para evitar maiores danos, tendo os moradores e trabalhadores do local que lidar com o problema por conta própria, o que acaba, na maioria das vezes, por agravar a situação, por não terem conhecimento de métodos e técnicas específicas. 4.2. Perfis Topográficos O estudo do perfil de uma praia revela a variabilidade na mudança de volume sedimentar que ocorre no perfil ao longo do tempo. A comparação entre perfis sucessivos pode ser usada para compreender e quantificar as mudanças na posição da linha de praia durante um determinado tempo. 9
Silva (2009) apresenta a importância do estudo do nivelamento topográfico, tendo em vista que os dados coletados e posteriormente transformados em gráficos possibilitam a visualização dos diferentes níveis da topografia do terreno, dando condições para o entendimento do ciclo erosivo e deposicional de uma determinada praia. Gráfico 01: Sobreposição dos perfis Praia de Intermares. A análise de todos os perfis praiais até agora levantados para o ponto na praia de Intermares, revelou certa estabilidade na morfologia na área do pós-praia. Na área correspondente ao estirâncio da praia, nota-se um aumento no volume sedimentar no período do mês de dezembro, indicando um possível período de deposição, porém uma considerável queda é registrada no mês posterior. Podemos relacionar essa anomalia a uma ocorrência da interferência antrópica. No mês em que se observa um aumento no volume sedimentar, houve uma abertura, realizada pelo homem (moradores ribeirinhos), de ligação do antigo maceió do rio Jaguaribe com o mar, fato que não ocorre naturalmente, devido a própria dinâmica marinha que ao depositar sedimentos, forma uma cordão arenoso no qual impede o contato entre os ambientes. O fato de essa abertura ter sido realizada pode ter influenciado no volume sedimentar do ponto em análise. Nos demais meses observa-se moderadas variações. 10
Gráfico 02: Sobreposição dos perfis Praia do Poço. A sobreposição dos perfis até agora levantados na Praia do Poço constatou um período de perda sedimentar mais constante, mesmo em época a qual considerava-se ser de deposição, como no mês de janeiro. Cabe ressaltar também, o berma bastante acentuado durante o mês de agosto, com altura aproximada de 80cm, indicando um possível período mais intenso de erosão na área. Foto 03 e 04: Destaque para o berma bastante elevado, com altura aproximada de 80cm, no ponto de análise na praia do Poço, durante o mês de agosto, além de resquícios das construções destruídas pela ação do mar. Fonte: Marianna Neves (2009) 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 11
Diante do que foi exposto neste trabalho, podemos inferir que a interferência do homem é o fator que vai ressaltar as diferenças no ambiente praial entre as localidades estudadas. Enquanto a praia do Poço sofre as conseqüências da ocupação e interferência indevidas do homem no ambiente de atuação dos processos marinhos, a praia de Intermares apresenta-se ao contrário, mostrando um equilíbrio dinâmico na convivência do homem com o meio ambiente, com grande parte de seu potencial natural preservado. Embora a ocupação urbana na linha de costa do município de Cabedelo tenha sido de forma intensa e desordenada, a área ainda apresenta resquícios de ambientes como vegetação de mangue e restinga, que precisam ser preservados. Recomenda-se, portanto, um monitoramento sistemático na área por um período de tempo mais longo, a fim de dar subsídios na tomada de decisões quanto à implantação de medidas mitigadoras dos problemas que lá acontecem. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MUEHE, D. Geomorfologia Costeira. In:. CUNHA, S. B. & GUERRA, A. J. T. Geomorfologia Exercícios, Técnicas e Aplicações. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1996. NEVES, M. M. Classificação e Caracterização dos Tipos de Orla do Município de Cabedelo-PB. In: Anais do II SIMPÓSIO DE GEOGRAFIA FÍSICA DO NORDESTE: sustentabilidade e meio ambiente no nordeste brasileiro. João Pessoa-PB, 2008. NEVES, S. M. Erosão Costeira no Estado da Paraíba. Salvador BA 2003. Tese de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal da Bahia. SILVA, S. R. A. da. Dinâmica Costeira: Uso e Ocupação do Solo Entre as Praias de Cabo Branco e Seixas, João Pessoa/PB. João Pessoa, 2009. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Geografia, Centro de Ciências Exatas e da Natureza, Universidade Federal da Paraíba. 12