MÓDULO 3 PORTUGUÊS. Linguagens, Códigos e suas Tecnologias



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1 5 10 15 20 25 30 35 40 45 Linguagens, Códigos e suas Tecnologias PORTUGUÊS MÓDULO 3 As questões de 1 a 8 referem-se ao texto seguinte: Vou direto ao ponto: estive em Paris. Está dito e precisava ser dito, logo verão por quê. Mas é difícil escapar à impressão de pedantismo ou de exibicio - nismo, ao dizer isto. Culpa da nossa velha francofilia (já um tanto fora de moda). Ou do complexo de eternos colonizados diante dos países de primeiro mundo. Alguns significantes, como Nova Iorque ou Paris, produzem fascínio instan tâneo. Se eu disser fui a Paris, o interlocutor responderá sempre: que luxo!. E se contar: fui assaltada em Paris, ou fui atropelada em Paris, é bem provável que escute: mas que luxo, ser assaltada (atropelada) em Paris! O pior é que é verdade. É um verdadeiro luxo, Paris. Não por causa do Louvre, da Place Vêndome ou dos Champs Élisées. Nem pelas mercadorias todas, lindas, chiques, caras, que nem penso em trazer para casa. Meu luxo é andar nas ruas, a qualquer hora da noite ou do dia, sozinha ou acompanhada, a pé, de ônibus ou de metrô (nunca de táxi) e não sentir medo de nada. Melhor: de ninguém. Meu luxo é enfrentar sem medo o corpo a corpo com a cidade, com a multidão. O artigo de luxo que eu traria de Paris para a vida no Brasil, se eu pudesse artigo que não se glo - balizou, ao contrário, a cada dia fica mais raro e caro seria este. O luxo de viver sem medo. Sem medo de quê? De doenças? Da velhice? Da morte, da solidão? Não, estes medos fazem parte da condição humana. Pertencemos a esta espécie desnaturada, a única que sabe de antemão que o coroamento da vida consiste na decadência física, na perda progressiva dos companheiros de geração e, para coroar tudo, na morte. Do medo deste previsível grand finale não se escapa. O luxo de viver sem medo a que me refiro é bem outro. O de circular na cidade sem temer o se - melhante, sem que o fantasma de um encontro violento esteja sempre presente. Não escrevi viver numa sociedade sem violência, já que a violência é parte integrante da vida social. Basta que a expectativa da violência não predomine sobre todas as outras. Que a preocupação com a segurança (que no Brasil de hoje se traduz nas mais variadas formas de isolamento) não seja o critério principal para definir a qualidade da vida urbana. Não vale dizer que fora do socialismo este problema não tem solução. Há mais 50 55 60 65 70 75 80 conformismo do que parece em apostar todas as fichas da política na utopia. Enquanto a sociedade ideal não vem, estaremos condenados a viver tão mal como vivemos todos por aqui? Temos que nos conformar com a sociabilidade do medo? Mas eu conheço, eu vivi numa cidade diferente desta em que vivo hoje. Esta cidade era São Paulo. Já fiz longas cami nhadas a pé pelo centro, de madrugada. Namo - rando, conversando com amigos, pelo prazer despreocupado da flânerie*. A passagem do ano de 1981 para 82 está viva na minha lembrança. Uma amiga pernambucana quis conhecer a esquina de Sampa. Fomos, num grupo de quatro pessoas, até a Ipiranga com a São João. Dali nos empol gamos e seguimos pelo centro velho. Mendigos na rua não causavam medo. Do Paysandu (o Ponto Chic esta va aberto, claro!) seguimos pelo Arouche, Repú blica, São Luís, Municipal, Patriarca, Sé; o dia primeiro nasceu no Largo São Bento. Não escrevo movida pelo saudosismo, mas pela esperança. Isso faz tão pouco tempo! Sei lá como os franceses conseguiram preservar seu raro luxo urbano. Talvez o valor do espaço público, entre eles, não tenha sido superado pelo dos privilégios privados. Talvez a lei se proponha, de fato, a valer para todos. Pode ser que a justiça funcione melhor. E que a sociedade não abra mão da aposta nos direitos. Pode ser que a violência necessária se exerça, prioritariamente, no campo da política, e não da criminalidade. Se for assim, acabo de mudar de ideia. Viver sem medo não é, não pode ser um luxo. É básico; é o grau zero da vida em sociedade. Viver com medo é que é uma grande humilhação. (Maria Rita Kehl. Você tem medo de quê? Em: http://www.mariaritakehl.psc.br, 2007, adaptado.) *flânerie (substantivo feminino): passeio sem destino. 1. (ITA) Considere as afirmações abaixo: I. Para a autora, o luxo de Paris não se restringe somente ao aspecto físico da cidade. II. A autora mostra algumas diferenças entre viver em Paris e em uma cidade brasileira como São Paulo. III. A autora, tomada pela francofilia, quer mostrar, ao longo do texto, o luxo urbano raro de Paris. De acordo com o texto, está(ão) correta(s) a) apenas a I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas a II. e) apenas a III. 1

A autora menciona a francofilia (admiração pela Fran ça e por tudo que é francês) como um traço brasileiro antigo e já um tanto fora de moda, responsável por parecer pedante e exibicionista a simples menção de ter estado em Paris. Portanto, a afirmação III é inteiramente descabida ao descrever a autora como tomada pela francofilia (os brasi leiros em geral é que teriam sido) e ao considerar o texto como uma tentativa de mostrar... o luxo urbano raro de Paris. O que a autora valoriza na cidade é a segurança ou a ausência de medo, que ela, ironicamente, classifica como luxo, dado que se trata de artigo raro ou inexistente numa cidade como São Paulo. Assim sendo, são corretas as afirmações I e II. Resposta: B 2. (ITA) Da leitura do texto, NÃO se pode inferir que a) os brasileiros entendem segurança como forma de iso - lamento. b) a cidade de Paris é desprovida de violência. c) em Paris, podem-se usar meios de transporte coletivos a qualquer hora do dia e da noite, sem medo da violência. d) a globalização proporcionou a importação de bens luxuosos da França, mas não a consciência de coleti - vidade da nação francesa. e) a ação de andar livremente pelas ruas de Paris não é acompanhada pela expectativa da violência. A alternativa b poderia ser a resposta, pois o que a autora afirma sobre Paris é que lá se pode circular sem medo, o que não equivale a afirmar que a cidade seja desprovida de violência (lembre-se de que a autora considera a violência como parte integrante da vida social ). Ocorre, porém, que a alternativa d também não encontra pleno respaldo no texto, pois a autora apenas menciona a globalização, no início do terceiro parágrafo, para observar que o luxo de viver sem medo é um artigo que não se globalizou. Além dessa consideração, nada há no texto que corresponda ao que contém a alternativa d, pois a autora não afirma que a globalização proporcionou a impor tação de bens luxuosos da França, embora seja pos sível inferir que, entre o que não se importou, esteja a consciência de coletividade da nação francesa. Resposta: B 3. (ITA) Assinale a opção em que o uso do sinal de pontuação NÃO se justifica pelo mesmo motivo nas duas ocorrências. a) Parênteses em: (já um tanto fora de moda). (linha 5) (que no Brasil de hoje se traduz nas mais variadas formas de isolamento) (linhas 42 e 43) b) Aspas em: fui a Paris, (linha 9) viver numa sociedade sem violência, (linhas 38 e 39) c) Interrogação em: Sem medo de quê? (linhas 26 e 27) Temos que nos conformar com a sociabilidade do medo? (linhas 52 e 53) d) Exclamação em: (o Ponto Chic estava aberto, claro!) (linhas 64 e 65) Isso faz tão pouco tempo! (linha 69) e) Vírgula em: É um verdadeiro luxo, Paris. (linhas 14 e 15) Não, estes medos fazem parte da condição humana. (linhas 29 e 30) Na alternativa apontada, a vírgula foi empregada por motivos diferentes: Paris é sujeito e vem precedido de vírgula por causa da inversão que o situa depois do verbo e do complemento predicativo, quando, na ordem dita direta, deveria ocupar o primeiro lugar na frase; não, em início de oração, é utilizado como resposta às interrogações que o precedem, e vem separado por vírgula para não ser entendido como termo da oração que o segue. Em a, os parênteses foram empregados para intercalar comentários; em b, as aspas marcam citação; em c, os pontos de interrogação assinalam perguntas retóricas dirigidas ao leitor ou a um interlocutor hipotético; em d, as exclamações foram usadas para indicar surpresa. Resposta: E 2

4. (ITA) O destaque para o luxo urbano de Paris é dado princi palmente porque a cidade a) proporciona segurança aos que andam pelas ruas. b) pertence a um país de primeiro mundo. c) é globalizada, com baixo índice de mortalidade. d) apresenta passado socialista, sem política utópica e conformista. e) limita a violência ao campo da política. A autora destaca, como ponto central de seu texto, a ideia de que o verdadeiro luxo que se encontra em Paris, mas não em São Paulo, é o de andar pelas ruas da cidade com segurança e sem medo. Resposta: A 5. (ITA) Da leitura do texto, pode-se inferir que a) os medos inerentes à condição humana provocados pela consciência da velhice, morte, solidão e das perdas são tão humilhantes quanto o medo da violência. b) a autora apresenta duas cidades de São Paulo, diferentes não no aspecto geográfico, mas no aspecto so cial, considerando o eixo do tempo. c) a autora mostra-se incoerente, quando diz, em momen tos distintos do texto, que viver sem medo da violência é e não é um luxo. d) quando a autora diz que não anda de táxi em Paris, ela sugere que não usa esse meio de transporte por moti - vos econômicos. e) a autora sugere que, mesmo fora da utopia, é possível a existência de uma sociedade sem violência, onde inexista o medo urbano. Resposta: B 6. (ITA) Considere as afirmações abaixo: I. Em São Paulo, até pouco tempo, era possível pre - servar o luxo urbano de não se preocupar com a violência nas ruas. II. No Brasil, geralmente, as pessoas superestimam os produtos de países desenvolvidos e subestimam pro - dutos nacionais. III. Diferentemente da França, no Brasil, segurança está prioritariamente relacionada ao isolamento urbano. Está(ão) correta(s) a) apenas a I. b) apenas I e II. c) apenas I e III. d) apenas a II. e) apenas II e III. A autora evoca um tempo, ainda recente, em que a vio lência e o medo não predominavam nas ruas de São Pau lo. Portanto, diferentemente do que se afirma em I, não se tratava de não se preocupar com a violência nas ruas, mas sim de que não havia violência nas ruas. A afirmação II corresponde ao que a autora observa, no primeiro parágrafo, a respeito de complexo de eternos colonizados diante dos países de [sic] primeiro mundo, complexo este que caracterizaria os brasileiros. A afir mação III corresponde ao que se lê no quarto pará grafo sobre o fato de que a segurança (aspas da auto ra) no Brasil de hoje se traduz nas mais variadas formas de isolamento, enquanto em Paris (e por ex ten são supõe-se na França) pode-se participar da vi da coletiva sem sentir medo de nada, ou, melhor: de ninguém. Resposta: C 3

7. (ITA) Mas é difícil escapar à impressão de pedantismo ou de exibicionismo, ao dizer isto. (linhas 2 e 3) Com o pronome isto, a autora refere-se a) à sua estada em Paris. b) à necessidade de ter estado em Paris. c) ao pedantismo ou exibicionismo de dizer que esteve em Paris. d) à francofilia que justifica dizer que esteve em Paris. e) ao complexo brasileiro de eterno colonizado. O pronome isto, na frase em questão, refere-se ao fato de ter estado em Paris. Segundo a autora, o simples fato de dizer que lá esteve pode dar a impressão de pedantismo ou exibicionismo, seja por causa da nos - sa velha francofilia, seja em razão do com plexo de eternos colonizados diante dos países de [sic] primeiro mundo. Resposta: A 8. (ITA) Assinale a opção que apresenta os significados corretos para os termos numerados: I. Pertencemos a esta espécie desnaturada, a única que sabe de antemão [1] que o coroamento [2] da vida consiste na decadência física, na perda progressiva dos companheiros de geração e, para coroar tudo, na morte. (linhas 29 a 34) II. Pode ser que a violência necessária se exerça, prioritariamente [3], no campo da política, e não da criminalidade. (linhas 74 a 76) a) [1] previamente [2] encerramento [3] precipuamente b) [1] precipuamente [2] auge [3] principalmente c) [1] antecipadamente [2] auge [3] permanentemente d) [1] precipuamente [2] encerramento [3] principal men te e) [1] antecipadamente[2] esplendor [3] permanente men te De antemão significa, sem dúvida, previamente. As duas outras palavras poderiam causar dúvidas aos candidatos, pois coroamento, em outro contexto, poderia significar auge, mas, no texto dado, tem o sentido inequívoco de arremate (como no sentido ar qui te tônico de ornamento que arremata o topo de um edifício ); quanto a prioritariamente, seu sentido estaria adequadamente indicado tanto por preci puamente quanto por principalmente. Resposta: A 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 MÓDULO 4 Texto para as questões de 1 a 6. O Colocador de Pronomes (excerto) Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. (...) Vivia em paz com as suas certidões quando o flechou venenosa seta de Cupido. Objeto amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família (...). Triburtino não era homem de brincadeira. (...) Toda gente lhe tinha um vago medo; mas o amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados nem tufos de cabelos no nariz. Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava. Namoro à moda velha, já se vê, pois que nesse tempo não existia a gostosura dos cinemas. Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores o que havia de inocente e puro. (...) Depois, a serenata fatal à esquina, com o Acorda, donzela sapecado a medo num velho pinho de empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado. Aqui se estrepou Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas quatro palavras, afora pontos exclamativos e reticências: Anjo adorado! Amo-lhe! Para abrir o jogo bastava esse movimento de peão. Ora, aconteceu que o pai do anjo apanhou o bilhetinho celestial e, depois de três dias de sobrecenho carregado, mandou chamá-lo à sua presença, com disfarce de pretexto para umas certidõezinhas, explicou. (...) Mal o pilhou portas aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a carranca e disse: A família Triburtino de Mendonça é a mais 4

35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 honrada desta terra, e eu, seu chefe natural, não permitirei nunca nunca, ouviu? que contra ela se cometa o menor deslize. Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o bilhetinho cor-de-rosa, desdobrou-o. É sua esta peça de flagrante delito? O escre vente, a tremer, balbuciou medrosa confirmação. Muito bem! Continuou o coronel em tom mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a audácia de o declarar Pois agora O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica. é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai. O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e com lágrimas nos olhos disse, gaguejante: Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora! Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das expan - sões. Nada de frases, moço, vamos ao que serve: declaro-o solenemente noivo de minha filha! E voltando-se para dentro, gritou: Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo! O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro. Laurinha, quer o coronel dizer O velho fechou de novo a carranca. Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama- lhe. Se amasse a ela deveria dizer amo- te. Dizendo amolhe declara que ama a uma terceira pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo. Salvo se declara amor à minha mulher e) A má reputação de Triburtino entre os itaoquenses foi desmentida pela sua maneira de agir com o namorado de sua filha. O coronel aproveitou-se de um erro de regência cometido pelo escrevente para forçá-lo a casar-se com o encalhe da família. Resposta: B 2. Considere as seguintes afirmações acerca de elementos linguísticos do texto: I. Diferentemente do que ocorre em Amo-lhe (L.25), o pronome lhe tem valor possessivo no trecho Beijo-lhe as mãos (L. 63). II. Mal (L. 32) introduz uma oração que dá ideia de tempo. III. A palavra então tem o mesmo sentido, tanto no trecho então nos dezessete (L. 7) quanto em Ama, então, minha filha (L. 44). Tendo em vista o contexto, está correto apenas o que se afirma em a) I. b) II. c) III. d) I e II. e) II e III. Então tem sentido temporal em então nos dezessete e sentido conclusivo em Ama, então, minha filha. Resposta: D Monteiro Lobato, Negrinha. 1. É coerente com o que se narra no texto a frase que está em: a) O pobre moço de Itaoca enganou-se na hora de indicar o destinatário de sua mensagem amorosa. b) Triburtino valeu-se dos termos em que foi redigida a mensagem do escrevente, para forçá-lo a se casar com a do Carmo. c) O escrevente, graças à força de seu amor, foi corajoso o suficiente para enviar o bilhete à sua amada por intermédio do pai dela. d) O temido coronel entendeu de forma equivocada o que dizia o bilhete enviado pelo jovem apaixonado. 5

3. Apesar de ter apontado uma impropriedade gramatical no bilhete escrito pelo namorado de sua filha, o coronel não seguiu a norma culta em uma das suas falas, como se pode verificar em: a) É sua esta peça de flagrante delito? b) Ama, então, minha filha e tem a audácia de o declarar c) declaro-o solenemente noivo de minha filha! d) Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo! e) Se amasse a ela deveria dizer amo-te. Na frase dada não há uniformidade de pessoas gramaticais, pois venha está no imperativo afirmativo, 3.ª pessoa do singular, e o pronome possessivo teu na 2.ª pessoa do singular. Uniformizandose a forma de tratamento, tem-se: Do Carmo! Vem abraçar o teu noivo! ou Do Carmo! Venha abraçar o seu noivo! Resposta: D 4. Monteiro Lobato antecipou algumas ideias defendidas pelos modernistas, mas também adotou posição contrária à arte moderna. Em sua obra, exemplificam essas atitudes antagônicas, respectivamente, a a) sátira ao purismo linguístico e a crítica a Anita Malfatti. b) valorização da influência estrangeira e o estímulo do espírito crítico das crianças. c) predileção pelos temas do passado histórico e a preocupação com as relações sociais no meio rural. d) adoção de modelos do Naturalismo e a tematização do folclore brasileiro. e) defesa da correção gramatical e as adaptações de clássicos da literatura universal. A sátira ao purismo linguístico, exemplificada no conto de que se extraiu o texto, antecipa o Moder nismo; as críticas aos quadros de Anita Malfatti, por outro lado, são explicitamente antimodernistas e conservadoras. Resposta: A 5. Quanto aos procedimentos de construção, o discurso do narrador caracteriza-se pela a) preferência por verbos na voz passiva, a fim de indicar a indeterminação do autor da ação. b) fusão de vocabulário culto com expressões de uso coloquial e da variedade regional. c) incorporação, por meio do discurso indireto, da maioria das falas das personagens. d) ausência de linguagem figurada visando dar maior objetividade à narrativa. e) omissão dos nexos entre termos e orações, especialmente nos trechos que contêm reflexões sobre sentimentos. O texto apresenta variantes linguísticas que vão da norma culta ao regionalismo. Como exemplo da linguagem padrão, tem-se o emprego do verbo haver. Havia em Itaoca um pobre moço Quanto à linguagem coloquial, tem-se: Aqui se estrepou. Em relação ao regionalismo, tem-se sapecado, usado no Nordeste como mal executado. Resposta: B 6

6. Em um dos seus primeiros artigos, no qual foi criada a personagem Jeca Tatu, Monteiro Lobato escreveu: Esboroou-se o balsâmico indianismo de Alencar ao advento dos Rondons. (...) Não morreu, todavia. Evoluiu. O indianismo está de novo a deitar copa, de nome mudado. Crismou-se de caboclismo. O cocar de penas de arara passou a chapéu de palha rebatido à testa; (...) Mas o substrato psíquico não mudou: orgulho indomável, independência, fidalguia, coragem, virilidade heroica, todo o recheio em suma, sem faltar uma azeitona, dos Peris e Ubirajaras. A comparação de caboclismo com indianismo, feita por Lobato no trecho citado, objetivava criticar, nessas correntes literárias, uma visão do índio e do caboclo que se caracterizava pela a) animalização. b) ridicularização. c) idealização. d) socialização. e) marginalização. Lobato critica a idealização do índio e do caboclo na literatura a que se refere. Resposta: C Jeca Tatu Jeca Tatu era um pobre caboclo que morava no mato, numa casinha de sapé. Vivia na maior pobreza, em companhia da mulher, muito magra e feia, e de vários filhinhos pálidos e tristes. Jeca Tatu passava os dias de cócoras, pitando enormes cigarrões de palha, sem ânimo de fazer coisa nenhuma. Ia ao mato caçar, tirar palmitos, cortar cachos de brejaúva, mas não tinha a ideia de plantar um pé de couve atrás da casa. Perto corria um ribeirão, onde ele pescava de vez em quando uns lambaris e um ou outro bagre. E assim ia vivendo. Dava pena ver a miséria do casebre. Nem móveis, nem roupas, nem nada que significasse comodidade. Um banquinho de três pernas, umas peneiras furadas, a espingardinha de carregar pela boca, muito ordinária, e só. Todos que passavam por ali murmuravam: Que grandissíssimo preguiçoso! [...] Jeca só queria beber pinga e espichar-se ao sol no terreiro. Ali ficava horas, com o cachorrinho rente; cochilando. A vida que rodasse, o mato que crescesse na roça, a casa que caísse. Jeca não queria saber de nada. Trabalhar não era com ele. Perto morava um italiano já bastante arranjado, mas que ainda assim trabalhava o dia inteiro. Por que Jeca não fazia o mesmo? Quando lhe perguntavam isso, ele dizia: Não paga a pena plantar. A formiga come tudo. Mas como é que o seu vizinho italiano não tem formiga no sítio? É que ele mata. E por que você não faz o mesmo? Jeca coçava a cabeça, cuspia por entre os dentes e vinha sempre com a mesma história: Quá! Não paga a pena... Além de preguiçoso, bêbado; e além de bêbado, idiota, era o que todos diziam. (MONTEIRO LOBATO. Jeca Tatu. In: Obras completas de Monteiro Lobato. Vol 8. São Paulo: Editora Brasiliense Limitada, 1951, p. 329-331.) Juca Mulato Juca Mulato pensa: a vida era-lhe um nada... Uns alqueires de chão; o cabo de uma enxada; um cavalo pigarço; uma pinga da boa; o cafezal verdoengo; o sol quente e inclemente... 05 Nessa noite, porém, parece-lhe mais quente, o olhar indiferente, da filha da patroa... "Vamos, Juca Mulato, estás doido?" Entretanto, tem a noite lunar arrepios de susto; 10 parece respirar a fronde de um arbusto, o ar é como um bafo, a água corrente, um pranto. Tudo cria uma vida espiritual, violenta. O ar morno lhe fala; o aroma suave o tenta... "Que diabo!" Volve aos céus as pupilas, à toa, 15 e vê, na lua, o olhar da filha da patroa... Olha a mata; lá está! o horizonte lho esboça; pressente-o em cada moita; enxerga-o em cada poça; e ele vibra, e ele sonha, e ele anseia, impotente, esse olhar que passou, longínquo e indiferente! 20 Juca Mulato cisma. Olha a lua e estremece. Dentro dele um desejo abre-se em flor e cresce e ele pensa, ao sentir esses sonhos ignotos, que a alma é como uma planta, os sonhos, como brotos, vão rebentando nela e se abrindo em floradas... 25 Franjam de ouro, o ocidente, as chamas das queimadas. (MENOTTI DEL PICCHIA, Paulo. Poemas. 6.ª. edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1954, p. 20-21.) 7. Com um discurso narrativo simples e objetivo, o narrador de Jeca Tatu nos fornece, no trecho citado, um retrato bem definido da situação vivida pela personagem em seu meio. Releia atentamente o trecho e, a seguir, 7

a) levando em consideração as informações do nar rador, avalie a atuação de Jeca Tatu como proprie tário rural; b) indique dois adjetivos empregados no texto que sin - tetizam a opinião que as outras pessoas tinham so bre Jeca Tatu. a) Jeca Tatu é apresentado como proprietário relap so e carente de iniciativa, conformado com a pre carie dade e avesso ao trabalho. b) Preguiçoso (em grandíssimo preguiçoso ), bêbado e idiota. exercícios-tarefa q MÓDULO 4 1. Os trechos transcritos de Jeca Tatu e Juca Mulato exploram gêneros e temas distintos, mas não deixam de apresentar algumas identidades. Depois de relê-los, buscando observar bem suas diferenças e semelhan ças, a) mencione um ponto de contato entre os dois trechos, no que diz respeito ao ambiente descrito; b) baseado no fato de que numa narrativa podem ser apresentados aspectos externos e aspectos inter nos do comportamento das personagens, estabe leça a diferença essencial que há entre os dois textos no modo de focalizar as personagens Jeca Tatu e Juca Mulato pelos respectivos narradores. 2. Os escritores se valem, com frequência, do recurso de atribuir características de seres animados a elementos do meio ambiente. Após verificar a ocorrência desse recurso no trecho de Juca Mulato, a) cite uma sequência de versos do poema em que elementos do ambiente parecem assumir carac terís ticas de seres animados; b) estabeleça a relação existente entre as caracte rísticas do ambiente assim descrito e o estado de espírito da personagem Juca Mulato. resolução dos exercícios-tarefa MÓDULO 4 1. a) Nos dois textos, o ambiente descrito é rural. b) Jeca Tatu é apresentado a partir de uma pers - pectiva exterior; sua caracterização é pura men - te objetiva. Diferentemente, Juca Mulato é ca rac te riza do a partir do que pensa, sente e so - nha, ou seja, sua caracterização é elaborada so - bretudo com elemen tos subjetivos. 2. a) No trecho compreendido entre os versos 9 e 13 ocorre personificação (prosopopeia) da noite, do arbusto, da água, do ar b) O estado de espírito de Juca Mulato é marcado pela perturbação que causava nele o olhar in - diferente da filha da patroa. Sua perturbação e seus estreme cimentos parecem espelhar-se ou encontrar correspondência na natureza que o circunda, descrita em termos neoromân ticos. 8