Lição 12. Contratos em Espécie



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Transcrição:

Lição 12. Contratos em Espécie VENDA E COMPRA É o contrato no qual uma das partes se compromete a transferir o domínio ou propriedade de um bem para a outra parte, mediante pagamento em dinheiro. Assim, deve haver um objeto, um preço e acordo de vontades (res, pretium et consensus). TÍTULO VI Das Várias Espécies de Contrato CAPÍTULO I Da Compra e Venda Seção I Disposições Gerais Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço. Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato aleatório. Art. 484. Se a venda se realizar à vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem.

Parágrafo único. Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato. Art. 485. A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa. Art. 486. Também se poderá deixar a fixação do preço à taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar. Art. 487. É lícito às partes fixar o preço em função de índices ou parâmetros, desde que suscetíveis de objetiva determinação. Art. 488. Convencionada a venda sem fixação de preço ou de critérios para a sua determinação, se não houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor. Parágrafo único. Na falta de acordo, por ter havido diversidade de preço, prevalecerá o termo médio. Art. 489. Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio exclusivo de uma das partes a fixação do preço. Art. 490. Salvo cláusula em contrário, ficarão as despesas de escritura e registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradição. Art. 491. Não sendo a venda a crédito, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço. Art. 492. Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do comprador. 1o Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se recebem, contando, pesando, medindo ou

assinalando, e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão por conta deste. 2o Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tempo, lugar e pelo modo ajustados. Art. 493. A tradição da coisa vendida, na falta de estipulação expressa, dar-seá no lugar onde ela se encontrava, ao tempo da venda. Art. 494. Se a coisa for expedida para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos, uma vez entregue a quem haja de transportála, salvo se das instruções dele se afastar o vendedor. Art. 495. Não obstante o prazo ajustado para o pagamento, se antes da tradição o comprador cair em insolvência, poderá o vendedor sobrestar na entrega da coisa, até que o comprador lhe dê caução de pagar no tempo ajustado. Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar

em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito. Art. 498. A proibição contida no inciso III do artigo antecedente, não compreende os casos de compra e venda ou cessão entre co-herdeiros, ou em pagamento de dívida, ou para garantia de bens já pertencentes a pessoas designadas no referido inciso. Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão. Art. 500. Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a respectiva área, e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas, o comprador terá o direito de exigir o complemento da área, e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abatimento proporcional ao preço. 1o Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias, não teria realizado o negócio. 2o Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua escolha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso. 3o Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso, se o imóvel for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referência às suas dimensões, ainda que não conste, de modo expresso, ter sido a venda ad corpus.

Art. 501. Decai do direito de propor as ações previstas no artigo antecedente o vendedor ou o comprador que não o fizer no prazo de um ano, a contar do registro do título. Parágrafo único. Se houver atraso na imissão de posse no imóvel, atribuível ao alienante, a partir dela fluirá o prazo de decadência. Art. 502. O vendedor, salvo convenção em contrário, responde por todos os débitos que gravem a coisa até o momento da tradição. Art. 503. Nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a rejeição de todas. Art. 504. Não pode um condômino em coisa indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob pena de decadência. Parágrafo único. Sendo muitos os condôminos, preferirá o que tiver benfeitorias de maior valor e, na falta de benfeitorias, o de quinhão maior. Se as partes forem iguais, haverão a parte vendida os comproprietários, que a quiserem, depositando previamente o preço. Seção II Das Cláusulas Especiais à Compra e Venda Subseção I Da Retrovenda Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período

de resgate, se efetuaram com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias. Art. 506. Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o vendedor, para exercer o direito de resgate, as depositará judicialmente. Parágrafo único. Verificada a insuficiência do depósito judicial, não será o vendedor restituído no domínio da coisa, até e enquanto não for integralmente pago o comprador. Art. 507. O direito de retrato, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser exercido contra o terceiro adquirente. Art. 508. Se a duas ou mais pessoas couber o direito de retrato sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer, poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja efetuado o depósito, contanto que seja integral. Subseção II Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova Art. 509. A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido entregue; e não se reputará perfeita, enquanto o adquirente não manifestar seu agrado. Art. 510. Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para o fim a que se destina. Art. 511. Em ambos os casos, as obrigações do comprador, que recebeu, sob condição suspensiva, a coisa comprada, são as de mero comodatário, enquanto não manifeste aceitá-la. Art. 512. Não havendo prazo estipulado para a declaração do comprador, o vendedor terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em prazo improrrogável.

Subseção III Da Preempção ou Preferência Art. 513. A preempção, ou preferência, impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. Parágrafo único. O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel. Art. 514. O vendedor pode também exercer o seu direito de prelação, intimando o comprador, quando lhe constar que este vai vender a coisa. Art. 515. Aquele que exerce a preferência está, sob pena de a perder, obrigado a pagar, em condições iguais, o preço encontrado, ou o ajustado. Art. 516. Inexistindo prazo estipulado, o direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se exercendo nos sessenta dias subseqüentes à data em que o comprador tiver notificado o vendedor. Art. 517. Quando o direito de preempção for estipulado a favor de dois ou mais indivíduos em comum, só pode ser exercido em relação à coisa no seu todo. Se alguma das pessoas, a quem ele toque, perder ou não exercer o seu direito, poderão as demais utilizá-lo na forma sobredita. Art. 518. Responderá por perdas e danos o comprador, se alienar a coisa sem ter dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens que por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se tiver procedido de máfé. Art. 519. Se a coisa expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, não tiver o destino para que se desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços públicos, caberá ao expropriado direito de preferência, pelo preço atual da coisa.

Art. 520. O direito de preferência não se pode ceder nem passa aos herdeiros. Subseção IV Da Venda com Reserva de Domínio Art. 521. Na venda de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago. Art. 522. A cláusula de reserva de domínio será estipulada por escrito e depende de registro no domicílio do comprador para valer contra terceiros. Art. 523. Não pode ser objeto de venda com reserva de domínio a coisa insuscetível de caracterização perfeita, para estremá-la de outras congêneres. Na dúvida, decide-se a favor do terceiro adquirente de boa-fé. Art. 524. A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o comprador, a partir de quando lhe foi entregue. Art. 525. O vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou interpelação judicial. Art. 526. Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida. Art. 527. Na segunda hipótese do artigo antecedente, é facultado ao vendedor reter as prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o mais que de direito lhe for devido. O excedente será devolvido ao comprador; e o que faltar lhe será cobrado, tudo na forma da lei processual. Art. 528. Se o vendedor receber o pagamento à vista, ou, posteriormente, mediante financiamento de instituição do mercado de capitais, a esta caberá exercer os direitos e ações decorrentes do contrato, a benefício de qualquer

outro. A operação financeira e a respectiva ciência do comprador constarão do registro do contrato. Subseção V Da Venda Sobre Documentos Art. 529. Na venda sobre documentos, a tradição da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos. Parágrafo único. Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado. Art. 530. Não havendo estipulação em contrário, o pagamento deve ser efetuado na data e no lugar da entrega dos documentos. Art. 531. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os riscos do transporte, correm estes à conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da coisa. Art. 532. Estipulado o pagamento por intermédio de estabelecimento bancário, caberá a este efetuá-lo contra a entrega dos documentos, sem obrigação de verificar a coisa vendida, pela qual não responde. Parágrafo único. Nesse caso, somente após a recusa do estabelecimento bancário a efetuar o pagamento, poderá o vendedor pretendê-lo, diretamente do comprador. O contrato de venda e compra não transmite a propriedade. Ele somente contém uma obrigação de transferir a propriedade. O que transmite a propriedade, tratando-se de coisa móvel, é a entrega (tradição) da coisa; se for um imóvel, o que transmite a propriedade é o registro. Isso no caso do direito

brasileiro; no direito francês, por exemplo, o que transmite a propriedade é o contrato. A venda e compra é, necessariamente, contrato bilateral, consensual e oneroso. Pode ser comutativo (quando existe certeza das contraprestações) ou aleatório, instantâneo ou diferido. Se a venda for realizada mediante amostra da coisa a ser vendida, esta tem que ser idêntica à amostra (art. 484). Então, se houver divergência entre a amostra e aquilo que for estipulado, a respeito da coisa, no contrato, prevalecerão as características da amostra. O preço é estabelecido conforme acordo entre as partes. É nulo o contrato se o preço ficar a critério exclusivo de uma das partes, mas a lei permite que um terceiro, escolhido pelas partes, fixe o preço, ou que o mesmo seja estabelecido conforme cotação em bolsa (arts. 485 a 489). As obrigações das partes são o pagamento do preço (comprador) e a transmissão do domínio (vendedor). As obrigações devem ser cumpridas simultaneamente, a não ser que as partes acordem em venda a crédito. E como fica o caso de venda de imóvel com pagamento em prestações? É possível que se inclua na escritura que o pagamento será feito a prazo ou em prestações (neste caso, em geral, o comprador emite notas promissórias. Estas promissórias podem ser pro soluto, significando que o vendedor as aceitou como se pagamento fossem, e então em caso de inadimplemento das parcelas terá que executar as promissórias; as promissórias também podem ser pro solvendo, significando que elas valem, de fato, como pagamento somente após o efetivo pagamento, e então em caso de inadimplemento das parcelas o vendedor pode executa-las ou ainda optar pela rescisão do contrato de venda e compra). Se, no caso de a venda ser com pagamento a prazo ou em parcelas (mas também com entrega diferida da coisa), e o comprador entrar em insolvência, o vendedor pode se recusar a entregar a coisa enquanto o comprador não pagar ou oferecer garantia de pagamento (art. 495).

Existem restrições a respeito das partes que podem figurar no contrato de venda e compra, em virtude de colisão de interesses: - O pai só pode vender algo para um dos filhos se os demais filhos concordarem. Isso porque, se fosse uma doação, ao invés de uma venda, ela só poderia ser feita até o limite da legítima (50% do patrimônio do pai), e seria possível simular uma compra e venda, com preço inferior ao real valor da coisa, de forma a contornar esta restrição da legítima (e assim o pai beneficiaria um dos filhos em detrimento dos demais). Além disso, se os demais filhos forem casados, seus respectivos cônjuges devem anuir na venda a ser realizada pelo pai (a não ser que o casamento seja em regime de separação de bens). Se houver filhos menores, deve ser solicitado que juiz indique curador (somente para a venda e compra; os filhos continuam sob o poder de família do pai). Se os demais filhos não concordarem com a venda, e mesmo assim ela for realizada, será nula ou anulável? O CC/16 não esclarecia o caso, mas o CC/02 fixou que é caso de venda anulável, e portanto há um prazo de 2 anos para que se promova sua anulação (esse prazo (decadencial) não corre contra o absolutamente incapaz). - O cônjuge não pode vender bens que façam parte da comunhão ao outro cônjuge. - O art. 497 relaciona uma série de pessoas que estão impedidas de comprar a coisa, conforme a situação. Pode ocorrer, numa compra e venda, de existirem vícios redibitórios. Isso pode ensejar o desfazimento do contrato ou o abatimento no preço, a critério do adquirente. Venda de bens em condomínio

Nem sempre o bem pertence a uma única pessoa: é o caso do bem em condomínio. Existem várias formas de condomínio: o necessário (ex.: as paredes entre vizinhos), o tradicional (mais de uma pessoa compram o bem em conjunto) e o edilício. Quando se trata de condomínio edilício não há o problema que será abordado a seguir, pois cada condômino pode dispor de sua unidade (apartamento ou casa no condomínio) sem a interferência dos demais condôminos. Numa propriedade em condomínio (exceto o edilício), se a coisa for indivisível, nenhum condômino pode alienar sua cota-parte sem dar preferência de compra aos demais condôminos (arts. 504 e ss do CC/02). Notar que a lei fala em bens indivisíveis, não fixando nenhuma obrigação com relação a bens divisíveis. Todavia, a jurisprudência do STJ tem exigido que, igualmente, seja oferecida a preferência aos demais condôminos. Além disso, a lei fala em situações de venda da coisa. Se for o caso de troca, não há essa obrigação de oferecer a preferência aos demais condôminos, pois a troca interessa somente aos permutantes, e não a terceiros. O mesmo vale para a doação. Pactos adjectos Pode acontecer que a compra e venda seja acompanhada de pactos adjectos, que são cláusulas específicas do contrato. São a retrovenda, a venda a contento e a preempção ou preferência. - Retrovenda: é cláusula que somente pode ser considerada em se tratando de venda de imóvel. Estipula que, dentro de determinado prazo, o vendedor do imóvel tem o direito de recomprá-lo, pelo preço de venda acrescido de despesas do vendedor (como, por exemplo, com benfeitorias necessárias). A doutrina fala em propriedade resolúvel: a propriedade é do titular do domínio até que sobrevenha uma condição que faça com que ela passe para o patrimônio de uma outra pessoa.

Se a coisa for vendida a um terceiro, este terceiro se sujeita ao pacto de retrovenda (ou seja, tem que reconhecer a propriedade do imóvel como sendo do vendedor original), por isso este pacto consta do registro do imóvel. Também por isso a lei estabelece um prazo máximo de 3 anos para o exercício da cláusula, conforme art. 505 do CC/02 (em prol da segurança jurídica). Caso o comprador se recuse a devolver a coisa, o vendedor original pode fazer o depósito em juízo e reaver a coisa. - Venda a contento (ou sujeita a prova): pode ser cláusula de contrato de venda e compra de coisa móvel ou imóvel. É a venda por amostra. Se não houver identidade entre a amostra e o objeto do contrato, o adquirente pode recusar a compra. Trata-se de condição suspensiva (há suspensão da aquisição e do exercício do direito). Para que se confirme a compra, o comprador deve se manifestar expressamente no sentido de ter aceitado; enquanto não se manifesta, é considerado comodatário. Arts. 509 a 512 do CC/02. Se o contrato não estipular prazo para que o comprador se manifeste, e não havendo manifestação, o vendedor deverá interpela-lo judicial ou extrajudicialmente; a partir deste momento o comprador estará em mora. - Direito de preferência: cláusula aplicável para bens móveis ou imóveis. O vendedor, no caso de o comprador desejar vender a coisa adquirida, terá preferência para readquiri-la (art. 513 do CC/02). Mas há um prazo máximo para que exerça este direito: 180 dias, em se tratando de coisa móvel, ou 2 anos, se imóvel. Caso o adquirente não dê a preferência ao vendedor original, este terá 3 dias para efetuar o depósito do preço e reaver a coisa, se móvel (se imóvel, este prazo é de 60 dias).

Se o adquirente resolver doar a coisa, o vendedor original não tem direito nenhum (a cláusula só vale se o adquirente for vender a coisa ou fazer dação em pagamento). Há uma hipótese peculiar com relação ao poder público: a desapropriação deve ter uma finalidade pré-definida. Se, no prazo de 5 anos, não for feito o que pretendia o poder público, o expropriado tem o direito de pleitear a recompra do bem (retrocessão). A jurisprudência tem entendido que se a desapropriação tenha sido por determinado motivo (ex.: construir uma escola), mas atendeu a outra finalidade pública (ex.: construir um hospital), o expropriado não tem direito a pleitear a retrocessão. O CC/02 prevê, ainda, mais duas outras cláusulas (não previstas no CC/16): a venda com reserva de domínio e a venda sobre documentos. - Venda com reserva de domínio: só é admitida quando tem por objeto uma coisa móvel. Numa venda a prestações, feita a tradição, a propriedade já foi transferida, mesmo que ainda restem prestações a pagar. Assim, se o adquirente resolver vender a coisa, o novo adquirente não poderá ser prejudicado, caso tenha agido com boa-fé; então, caso o primeiro adquirente deixe de pagar as prestações ao vendedor original, este ficará em prejuízo. Com a venda com reserva de domínio, apesar de haver a tradição, o adquirente somente se torna proprietário após o término do pagamento; então, se vender a coisa a um terceiro, o vendedor original pode pleiteá-la de volta em juízo. - Venda sobre documentos: esta cláusula pode ser utilizada numa compra e venda na qual o objeto não esteja no local onde se celebra o contrato. A entrega do documento relativo ao negócio corresponde a uma tradição ficta. Então, se a coisa chegar ao comprador com defeito, não se desfaz a venda, a não ser que se prove que o defeito existia anteriormente à celebração do contrato (art. 529 e ss do CC/02).

A lei não é expressa em que esta cláusula se aplique somente a bens móveis, mas há restrições fáticas à sua aplicação a bens imóveis: não há como utilizála para bens naturalmente imóveis (para bens imóveis por definição legal seria possível). Contrato estimatório: uma das partes entrega objeto a outra para ser vendido (venda em consignação). Neste caso, o consignante não pode vender o objeto sem que o consignatário o tenha devolvido ou tenha sido comunicado (ou seja, se alguém entrega um objeto para que outra pessoa o venda em consignação, aquele que entregou, caso encontre um comprador e deseje vender diretamente o objeto, tem que avisar à pessoa a quem entregou a coisa em consignação ou esperar que ela o devolva). Art. 534. Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada. Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável. Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço. Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição. Compromisso de compra e venda: é tratado como um direito real. O promitente comprador pode ceder o imóvel, por trespasse, a um terceiro (cessionário), sem a necessidade de anuência do promitente vendedor (aí a promessa tem que ser irretratável expressamente).

Pode ser celebrado por instrumento público ou particular (no caso de negócios envolvendo imóveis, em regra utiliza-se o instrumento público, mas há exceções: imóvel de valor inferior a 30 salários mínimos; cessão de imóvel para integralização de capital de sociedade anônima; imóvel financiado por instituição financeira).