Cena do Fidalgo
Gil Vicente nasceu na cidade de Guimarães em 1466. É considerado o primeiro grande dramaturgo português, além de poeta. Enquanto homem de teatro, parece ter também desempenhado as tarefas de músico, ator e encenador. É considerado o pai do teatro português, ou mesmo do teatro ibérico, já que também escreveu em castelhano. Morreu entre 1536 e 1540. Gil Vicente
As suas principais obras - Auto Pastoril Castelhano (1502) - Auto da Visitação (1502) - Auto dos Reis Magos (1503) - Auto da Índia (1509) - Auto da Sibila Cassandra (1513) - Auto da Barca do Inferno (1516) - Auto da Barca do Purgatório (1518) - Auto da Barca da Glória (1519) - Farsa de Inês Pereira (1523)
O que Gil Vicente pretende? Com esta cena, Gil Vicente pretende criticar a nobreza em geral, pondo em causa a sua corrupção, vaidade e presunção. O dramaturgo realça ainda a exploração dos mais necessitados e a tirania com que os fidalgos tratavam o povo. Por fim, denuncia a infidelidade conjugal que põe em causa os valores morais da família. Os nobres viviam como queriam (vida de luxúria) e pensavam que bastava rezar e ir à missa para ir para o Céu.
Resumo desta cena O Fidalgo apresenta-se com toda a sua vaidade e presunção. Habituado a usufruir de privilégios, não coloca a hipótese de ir para o Inferno, assim para justificar o seu direito a entrar na Barca celestial, apresenta-se apenas ao Anjo. É acusado de fazer tudo o que queria. Além disso, fora infiel à sua mulher, mas Gil Vicente, na boca do Diabo denuncia também a corrupção da mulher da corte, caracterizando a sociedade do seu tempo, a hipocrisia, a falsidade, o fingimento e a infidelidade da mulher. O Fidalgo ao longo da cena vai mudando o seu estado de espirito, de acordo com a evolução do seu julgamento. Começa por ficar surpreendido, incrédulo passando por momentos de ingenuidade, acabando por embarcar na Barca do Inferno desanimado e arrependido. Como sentença final, o fidalgo embarca na barca do Inferno e o pajem não entra em nenhuma das barcas pois representa um elemento do povo, a principal vítima da opressão da nobreza.
Símbolos Cénicos Pajem/criado Manto Cadeira
Percurso Cénico No cais da morte dirige-se á barca do Diabo que lhe explica para onde vai a barca, mas o fidalgo reage com uma atitude de arrogância e insignificância, pois está seriamente convencido que ali não é o seu lugar. De seguida vai até à barca do Paraíso para tentar a sua sorte, mas o Anjo acusa-o de tirania e diz-lhe de que de maneira nenhuma pode lá entrar ( Não se embarca tirania neste batel divinal vi. 82-83). O Fidalgo regressa á Barca do Inferno, e o Diabo explica-lhe todos os seus pecados, fazendo com que ele fique muito triste e arrependido.
Argumentos de defesa Que leixo na outra vida quem reze sempre por mi vv. 43-44 Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais vv. 80-81
Argumentos de acusação E tu viveste a teu prazer (v. 47) ( ) mandai meter a cadeira/que assi passou vosso pai (vv. 52-53)
Caracterização desta personagem Esta personagem era nobre, vaidoso, presunçoso, altivo, infiel e exuberante. A forma como reage perante o Diabo e o Anjo revelam a sua arrogância Apresenta-se como alguém importante Despreza a barca do Diabo chamando-lhe cortiço A sua conversa com o Diabo revela-nos que além da sua mulher tinha uma amante, mas que ambas o enganavam pois a mulher quando ele morreu chorava mas era de felicidade e a amante antes de ele morrer já estava com outro. O Fidalgo é, pois, uma personagem tipo que representa a nobreza, os seus vícios, tirania, vaidade, arrogância e presunção
Recursos expressivos Antítese Segundo lá escolhestes/assi cá vos contentai (vv. 56-57) Eufemismo Vai para a ilha perdida (v.27) Ironia Embarqu a a vossa doçura/que cá nos entenderemos (vv. 122-123) Metáfora Oh! que maré tão de prata! (v.107) Repetição Chegar a ela! Chegar a ela! (v. 181)
Tipos de linguagem Informal Pardeos aviado estou (v.70) Formal Porém a que terra passais? (v.33)
Tipos de cómico De situação Pera lá vai a senhora? (v. 29) De linguagem Que jiricocins, salvanor! (v. 72) De caráter Sou fidalgo de solar/é bem que me recolhais (vv. 80-81)