Vila Verde recebe brasileiros de Bom Despacho *JACINTO GUERRA, de Brasília para o Portal de Aboim da Nóbrega Em 1967, quando o Dr.Laércio Rodrigues lançou seu livro História de Bom Despacho origens e formação, ficamos sabendo que, na Freguesia de Cervães, em Vila Verde, Portugal, existe o famoso Santuário de Nossa Senhora do Bom Despacho, padroeira de nossa terra e lá conhecida, antigamente, como a Senhora do Sol. Promotor de Justiça, Laércio, que veio de Teixeiras pequena cidade da Zona da Mata, situada entre Viçosa e Ponte Nova, tornou-se um dos professores mais queridos de Bom Despacho. Suas luzes de historiador despertaram-me um interesse especial por Vila Verde e a província do Minho, de onde, nos fins do século XVIII, vieram os colonizadores de vasta região de Minas Gerais, inclusive meu bisavô materno, Mizael Pinto Ribeiro, natural da região do Porto e, depois, morador da vizinha Santo Antônio do Monte. Bem antes da História de Bom Despacho origens e formação, encanteime com os relatos do Vigário Nicolau e outras lendas de minha terra, que enriquecem a nossa memória literária e devem harmonizar-se com os estudos históricos, cada um no seu espaço de conhecimento e de cultura. Em 1995, depois do período em que nos despedimos de nossa querida Letícia que virou uma estrela no poema que a Bete, sua irmã, lhe dedicou, os desígnios de Deus nos conduziram, numa viagem de sonho, partindo de Brasília rumo à Grécia, Itália, Turquia, França, Espanha e a Portugal de nossas origens e de nosso bem-querer, com uma escala na mais bela cidade do mundo: o sempre lindo Rio de Janeiro. De Lisboa e, depois do Porto e de Braga, Nilce e eu tomamos o caminho de Vila Verde, onde fomos conhecer o famoso Santuário da Virgem do Bom Despacho, no alto de uma colina, enriquecendo ainda mais uma das mais belas paisagens que meus olhos já viram. Daquela viagem, carregada de emoção e de uma saudade mergulhada em tempos distantes mas dirigida ao futuro surgiu um programa de amizade entre Bom Despacho e Vila Verde. É um sonho de duas comunidades separadas por terras e mares, mas unidas pela cultura, pela história e pelas tradições de povos irmãos.
Ao longo de quase 15 anos, diversos foram os encontros de amizade, de cultura, sobretudo de idéias e sonhos com um futuro de desenvolvimento e de paz social em pequenas cidades do Brasil e de Portugal. Foram belos encontros de arte e cultura, como as apresentações do músico Valdir Silva, em Vila Verde, e a entrega solene, em Bom Despacho, de livros e outros bens culturais ao nosso Museu da Cidade e à Biblioteca Municipal, especialmente o Lenço dos Namorados, uma tradição de beleza e de ternura, principalmente na aldeia vilaverdense de Aboim da Nóbrega. Esta amizade entre Bom Despacho e Vila Verde parece aquelas lamparinas antigas que iluminavam nossas casas, apagando de vez em quando sua chama, para depois, reacendê-la com o seu brilho vencedor da escuridão. Em outras visitas que fizemos a Vila Verde, em 1997 e 1999, tivemos a oportunidade de conhecer a Casa do Picão, em Aboím da Nóbrega, onde acredita-se estão as origens de um dos primeiros habitantes de nossa região, o legendário Picão Camacho que, em Bom Despacho é nome de uma importante rua e do histórico rio Picão, uma dádiva da natureza em terras bondespachenses. Fomos, também, a Mixões da Serra e assistimos a uma festa popular e religiosa muito interessante, sobretudo com a Bênção dos Animais, num deslumbrante cenário de montanhas, com o Minho a evocar terras de Minas Gerais. Agora, em julho de 2009, uma embaixada de três bondespachenses, deixou importante Congresso de Literatura, em Braga, chegando, de surpresa, ao palácio do governo de Vila Verde que é a sede da Câmara Municipal, munidos apenas de uma cópia de mensagem que enviei pela internet, apresentando aos amigos vilaverdenses, meus conterrâneos de Bom Despacho que estavam em terras de Espanha e Portugal. A pequena comitiva, que já estivera em Lisboa, Coimbra e Fátima, chegara a Vila Verde, formada por Dulce Couto Alves, professora em Belo Horizonte, e sua irmã Dinorá Couto Cançado, moradora de Brasília, completando-se o grupo com seu marido, o fazendeiro Edson Geraldo Cançado, incentivador de sua mulher em projetos de cultura e inclusão social, reconhecidos no Brasil e outros países da América Latina. Dinorá, que já levou suas experiências a Cuba e ao Peru, foi a Portugal num projeto de intercâmbio da Universidade de Brasília-UnB e a Universidade do Minho-Um, com o objetivo de levar à Europa seus projetos de leitura para deficientes visuais e de incentivo às crianças
para o prazer com os livros e as bibliotecas, mostrando o que se faz no Brasil neste campo da educação e da inclusão social. Em Braga, a professora mineira apresentou o projeto Braille, desenvolvido principalmente em Taguatinga, que envolve escritores e leitores, facilitando aos cegos um contato mais direto com a literatura e seus autores. Ainda na Universidade do Minho, Dinorá Couto coordenou sua oficina de incentivo à leitura, intitulada Brincando de Biblioteca, promovida em Brasília com apoio da Lei de Incentivo à Cultura do Distrito Federal. Edson, Dulce e Dinorá ficaram encantados com a hospitalidade dos nossos amigos vilaverdenses. Foram recebidos no Gabinete do Presidente da Câmara Municipal que lá é, também, o chefe do Poder Executivo. Naquele salão belamente decorado com o Brasão de Vila Verde, receberam livros e outros presentes do rico artesanato da província do Minho.O presidente da Câmara, António Vilela, que visitou Bom Despacho em 1997, encontravase em viagem à Espanha e foi representado por seus assessores, Manuel Lopes e Domingos Xavier, anfitriões dos melhores naquelas terras de Portugal. Da Câmara Municipal, nossos conterrâneos foram conhecer a Biblioteca Municipal Prof.Machado Vilela, instalada num prédio monumental, um dos orgulhos de Vila Verde, também, pela riqueza de seu acervo e pela modernidade de suas instalações como integrante da Rede de Bibliotecas Modelo que funcionam com apoio da Unesco. Recebidos por Maria Fernanda Pimenta, técnica da Biblioteca, num requinte de hospitalidade, os visitantes foram levados, primeiramente, a uma obra de arte que representa um traço de união entre duas cidades, uma do Brasil e outra de Portugal: em primeiro plano, vemos uma Ponte Romana que existe em Vila Verde e, logo depois, encontra-se a bela Igreja Matriz de Bom Despacho, compondo a idéia das relações entre os dois Municípios. A imaginação nos leva aos tempos distantes, em que o Império Romano estendia-se até a Lusitânia, hoje terras de Portugal. Trata-se de um quadro-a-óleo da artista plástica Nilce Coutinho, sendo que, da mesma obra, existe outro exemplar em Bom Despacho, no Museu da Cidade, integrando o conjunto de bens culturais desse interessante programa de intercâmbio luso-brasileiro. Na frente da Biblioteca, uma grande faixa de divulgação da Bienal Internacional de Arte Jovem de Vila Verde mostra o alto nível da programação de arte e cultura da cidade. Nesta importante Bienal, jovens
de Bom Despacho já tiveram a oportunidade de participar, enviando seus trabalhos, que foram selecionados e expostos ao lado de outros, principalmente de jovens artistas de Portugal, Espanha, França e Alemanha. Chamaram a atenção dos brasileiros, principalmente do Edson Cançado, a beleza do verde e da natureza por toda parte no Minho, com vinhedos, árvores frutíferas e até hortas e milharais dentro das cidades, em quintais e espaços de jardins. Dulce e Dinorá acharam muito interessante o programa de intercâmbio entre Bom Despacho e Vila Verde, que temos desenvolvido, inclusive em contatos pela internet. Acreditam que nossa Secretaria Municipal de Cultura e Turismo poderá ampliar as ações que diversos cidadãos realizam nesta direção, citando principalmente o interesse meu e de Nilce Coutinho criadores e incentivadores desse projeto, compartilhado, também, por sites.e jornais nos dois países de Língua Portuguesa. Nossos embaixadores trouxeram as melhores impressões de Vila Verde, em razão da qualidade de vida de seus moradores, das conquistas na educação e na cultura, no encontro feliz da tradição com a modernidade, no espírito religioso e na organização comunitária. Em Vila Verde, os mineiros não se esqueceram do bom vinho, do bacalhau e das batatas, enfim, da excelente culinária, em que os portugueses são grandes mestres. Mas, lembrando de Bom Despacho e de sua fazenda em Goiás, o Edson ficou mais com a cerveja, o arroz com feijão, a farinha de mandioca e a carne de gado, que, por lá é meio escassa e custa os olhos da cara. Como as irmãs Couto são educadoras em Brasília e Belo Horizonte, o projeto que nasceu em Bom Despacho irá florescer, também, em bibliotecas e escolas das duas capitais, lembrando que, também, as cidades pequenas como Vila Verde podem exercer sua influência nos grandes centros, seja Paris, Lisboa ou Nova York e para valorizar os que acreditam em sonhos, lembro algumas palavras do grande poeta Fernando Pessoa: tudo vale a pena, se a alma não é pequena, porque Deus quer, o homem sonha, a obra nasce. *Jacinto Guerra, professor e escritor luso-brasileiro, natural de Bom Despacho, Minas Gerais, com raízes familiares na região do Porto, é autor de vários livros, entre os quais JK Triunfo e Exílio - Um estadista brasileiro em Portugal (Thesaurus,Brasília, 2ª edição, 2005). Jacinto
visitou o Concelho de Vila Verde em 1995, 97 e 99. Em 1997, como Secretário de Cultura e Turismo de Bom Despacho esteve em Aboim da Nóbrega, quando visitou a Casa de Picão e foi a Mixões da Serra, onde participou da tradicional Festa de Santo António com a grande bênção dos animais.