A INFORMALIDADE NA PRODUÇÃO DE AREIA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE



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Transcrição:

A INFORMALIDADE NA PRODUÇÃO DE AREIA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE 1 Mauro Froes Meyer - Professor do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) e-mail: mf.meyer@terra.com.br e mf.meyer@hotmail.com e mauro.meyer@cefetrn.br 2 Julio César de Pontes - Professor do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) 3 João Batista Monteiro de Souza - Professor do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) 4 Marcondes Mendes de Souza - Professor do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte) 5 Danilo Nogueira de Medeiros Aluno do Curso de Mineração do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte). 6 João Victor Joaquim dos Santos Aluno do Curso de Mineração do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte). 7 Monike de Azevedo Silva Aluno do Curso de Mineração do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte). 8 Nayra Maria Gomes Magno Pinto - Aluna do Curso de Mineração do IFRN (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte). RESUMO TEMA: Meio Ambiente SESSÃO TÉCNICA: Mina a Céu Aberto O presente trabalho apresenta aspectos econômicos da extração de areia para a construção civil no Estado do Rio Grande do Norte, entre os anos de 2004 e 2009. Os dados e análises aqui apresentados são relativos aos mercados de extração de areia. Foi realizado um levantamento de todos os processos de licenciamento e autorização de pesquisa, no site do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), com o objetivo de conhecer o mercado formal de produção desse bem mineral no estado do Rio Grande do Norte. No entanto, sabe-se, embora não se tenha ainda quantificado, que a produção desses agregados se dá, em grande parte, de maneira informal. Bens minerais são de propriedade da União. Para se produzir tais bens, é necessária a anuência formal por parte do DNPM. A informalidade é aqui entendida como a produção desses bens minerais sem a devida concessão do órgão competente. Palavras-chave: informalidade, areia, Rio Grande do Norte. ABSTRACT This paper presents the economic extraction of sand for construction in the state of Rio Grande do Norte, between the years 2004 and 2009. The data and analyzes presented here are relative to markets for sand extraction. A survey of all the processes of licensing and authorization of research, the site of the Department National of Mineral Production (DNPM), in order to meet the formal production of the mineral in the state of Rio Grande do Norte. However, it is known, though there has also measured, the production of these aggregates occurs, largely in an informal. Minerals are the property of the Union to produce these goods

requires the formal approval by the DNPM. Informality is understood here as the production of these minerals without proper grant of agency authority. Key words: Informality, sand, Rio Grande do Norte. INTRODUÇÃO A indústria de agregados para a construção civil tem-se desenvolvido de forma torrencial, evidenciando o quanto as áreas urbanas e rurais estão evoluindo em busca de uma infra-estrutura mais moderna. A demanda desses agregados é condicionada pelo fluxo de investimentos em obras de infraestrutura econômica regional (transporte, energia e saneamento) e de infraestrutura urbana e metropolitana (pavimentação, adução de águas, construções residenciais, industriais, comerciais, lazer e serviços). Um dos combustíveis para essa indústria é a areia, que é caracterizado como todo material granular de dimensões entre 0,02mm e 2,0mm (LEINZ & LEONARDOS, 1982). O caráter da produção de areia para construção civil é bastante disseminado e composto em sua grande maioria pela aglomeração de muitos pequenos produtores locais. A atividade de exploração desse agregado geralmente está localizada próximo aos consumidores, ou seja, no entorno de núcleos urbanos. No Rio Grande do Norte a extração está basicamente concentrada nas circunvizinhanças dos pólos crescentes do estado: Mossoró e Natal. Não deixando de considerar que são nesses locais onde a tendência geológica está voltada para esse tipo de bem mineral. Ver figura 1 abaixo. Figura 1 - Mapa das principais áreas de produção de areia no Rio Grande do Norte. Fonte: Meyer 2011.

A união entre a grande demanda desse produto, seu baixo valor econômico, o aspecto econômico dos produtores (produção descentralizada, através de pequenos produtores, que não se beneficiam de economias de escala e tem pouco ou nenhum acesso ao crédito) e o aspecto legal e tributário (que apresenta-se como o recolhimento da CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) da produção gera uma informalidade no setor, que traz prejuízos para os órgãos que arrecadam os tributos vinculados a extração desse bem mineral, criando a inevitável conseqüência de estancamento do progresso do país. O presente trabalho objetiva uma comparação entre dados declarados ao DNPM e os dados reais da produção de areia no RN, entre os anos 2004 e 2009, relevando todo o processo legal que se tem disponível para a extração do dito produto, e assim estimar a informalidade presente nesse setor produtivo no estado. A fim de avaliar o nível de informalidade, foi realizada uma análise comparativa entre o nível da produção comercializada declarada deste produto e o nível de consumo de cimento Portland no estado durante o referido período, pois o consumo de cimento, majoritariamente formal, está sempre associado ao consumo de areia (para concreto). FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Regimes legais de aproveitamento mineral São existentes seis tipos básicos de regimes de exploração e aproveitamento de recursos minerais: autorização de pesquisa, concessão de lavra, licenciamento, permissão de lavra garimpeira, registro de extração (ou extração mineral) e monopólio. Sendo desses a autorização de pesquisa e o licenciamento, os regimes legais para o aproveitamento privado dos agregados minerais e o registro de extração para o mesmo fim, porém voltado para interesses do estado. De acordo com Campos (2007), no regime de Autorização de Pesquisa, que é preparatório para lavra futura, objetiva-se investigar (explorar) o depósito mineral por determinado prazo (de 1 a 3 anos, prorrogável), visando descobrir, conhecer, definir geometricamente e avaliar economicamente o depósito mineral. Os trabalhos de pesquisa, segundo o 1 do art. 14 do Código de Mineração, compreendem, entre outros, levantamentos geológicos pormenorizados da área, estudos dos afloramentos, levantamentos geofísicos e geoquímicos, aberturas de escavações visitáveis e execução de sondagens, amostragens sistemáticas, análises físicas e químicas das amostras, ensaios de beneficiamento, trabalhos esses de pequeno impacto ambiental. O aproveitamento dos bens minerais, nesse regime, só é possível excepcionalmente por meio de Guia de Utilização. Disso resulta que esse regime é oneroso e moroso, já que depende de trabalhos técnicos e desembolso de dinheiro em três momentos diferentes: 1) previamente, vale dizer, antes do início da atividade; 2) concomitantemente, durante a vigência da autorização e 3) posteriormente ao final do prazo de validade da pesquisa autorizada. Nesse regime, a outorga do título é vinculada, mas a aprovação do relatório é discricionária. O Alvará de Pesquisa, por ser mera expectativa de direito, não assegura legalmente ao seu titular direitos econômico-financeiros sobre ele. É expectativa de direito, exatamente porque se trata, primeiro, de uma atividade geologicamente aleatória e, segundo, por se tratar de ato discricionário da Administração Pública, conforme estabelece o artigo 42 do Código de Mineração, aplicado analogicamente e por antecipação ao caso presente, que diz: Art. 42 A autorização será recusada, se a lavra for considerada prejudicial ao bem público ou comprometer interesses que superem a utilidade da exploração mineral, a juízo do Governo.

Aprovado o relatório de pesquisa, passa-se ao segundo regime previsto no Código, que é o da concessão de lavra, cuja definição encontra-se assim transcrita no art.36 do referido Diploma Legal: Entende-se por lavra o conjunto de operações coordenadas objetivando o aproveitamento industrial da jazida, desde a extração de substâncias minerais úteis que contiver, até o beneficiamento das mesmas. Trata-se de regime exclusivo de pessoas jurídicas. Portanto, há a necessidade de o requerimento de lavra vir acompanhado do competente Plano de Aproveitamento Econômico da Jazida PAE (art. 38,VI, do Código de Mineração). Esse plano prevê a apresentação dos diversos projetos de engenharia incluindo as ações necessárias à preservação ambiental, à recuperação da área degradada, bem como o projeto de fechamento de mina. Nessa fase, contrariamente à anterior, há realmente intervenção significativa na natureza, pois ela compreende a extração de recursos minerais existente em determinado local e que levaram milhares de anos para se formar. Da mesma forma, pelas características da atividade, também é um regime oneroso porque depende para sua liberação e manutenção de inúmeros trabalhos técnicos e administrativos, mas contrariamente ao que se disse para fase da pesquisa mineral, este regime atribui à jazida um valor econômicofinanceiro, que deverá constar do ativo imobilizado da empresa, consoante obriga o art. 1 do Decreto 69.885/71, assim redigido: Art. 1 - As empresas de mineração registrarão em sua contabilidade os direitos de lavra. 1 - O valor original, a eventual reavaliação e a correção monetária dos direitos de lavra constarão discriminadamente do Ativo Imobilizado. Figura 2: Etapas do processo de Autorização de pesquisa. Fonte: Guia do Minerador 2012

Ocorrendo a outorga da Portaria de Lavra pelo Ministro de Minas e Energia, nasce, como se viu, um direito patrimonial ao seu titular, o qual, uma vez revogado ou derrogado, ensejará o pagamento das indenizações cabíveis, computando-se, nesse caso, para seu cálculo, os lucros cessantes e demais variáveis econômico-financeiras, exatamente porque o título é outorgado por prazo indeterminado e constitui-se, pelas razões apresentadas, em um quase direito de propriedade. Daí a importância de os estudos técnico-econômicos serem feitos em obediência às melhores técnicas disponíveis. Até então, havendo a perda do direito à pesquisa ou a lavra futura pela aplicação do mencionado art. 42 do Código, o titular tem direito apenas ao ressarcimento dos valores efetivamente despendidos até aquele momento. Outro regime voltado ao aproveitamento mineral é o Licenciamento, previsto no inciso III do art. 2 do Código de Mineração e regulamentado pelas leis 6.403/76 e 6.567/78. É um regime previsto, mas não exclusivo, para o aproveitamento das seguintes substâncias minerais: areias, cascalhos e saibros para utilização imediata na construção civil, no preparo de agregados e argamassas, rochas e outras substância minerais, quando aparelhadas para paralelepípedos, guias, sarjetas, moirões e afins; argilas utilizadas na fabricação de cerâmica vermelha; rochas quando britadas para uso imediato na construção civil e os calcários empregados como corretivos de solo na agricultura. Essas substâncias podem ser lavradas indiferentemente pelo regime de autorização e concessão ou pelo regime de licenciamento. A área a ser licenciada não pode ultrapassar 50 ha. É um regime exclusivo do proprietário do solo ou a quem dele possuir expressa autorização e depende da obtenção do interessado de licença específica expedida pela autoridade administrativa municipal e do seu registro no DNPM. A licença municipal deverá conter obrigatoriamente o prazo de sua validade, que é contada da data de sua expedição. Expirando esse prazo ou vencidas as autorizações necessárias à instrução do processo, é assegurado ao titular o direito de prioridade, desde que ele apresente, dentro de 30 dias, as suas respectivas renovações e desde que não haja descontinuidade nos prazos estabelecidos originalmente. Faculta-se ao titular do regime de autorização, concessão ou de licenciamento transformar aqueles regimes neste, ou vice-versa, sem que a mudança pleiteada suspenda o exercício da atividade extratora. Figura 3: Etapas do processo do regime de Licenciamento. Fonte: Guia do Minerador 2012 Por fim, tratando-se de aproveitamento de agregados para construção civil, há o regime denominado de extração mineral, instituído pela Lei 9827, de 28/08/1999, regulamentada pelo decreto 3.358, de 02/02/2000, pela MME 23/2000, pelo art. 5 da Instrução Normativa n 5/2000 do DNPM e pela portaria DNPM 268/05. Esse regime ao contrário dos outros regimes citados, que podem ser fornecidos tanto para pessoa física quanto jurídica, só pode ser usado

por órgãos da administração direta ou autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Fruto de reivindicações de diversos órgãos públicos do País, os quais, buscando reduzir o preço de insumos minerais necessários às obras públicas obtidas, muitas vezes, por licitações espúrias, propuseram a criação de um regime que lhes permitisse extrair diretamente os agregados para construção civil. Esse regime autoriza o poder público das três esferas de Governo a extrair 1) areia, cascalho e saibro, quando utilizados in natura na construção civil e no preparo de agregados e argamassas: 2) material sílico argiloso, cascalho e saibro empregados como material de empréstimo: 3) rochas, quando aparelhadas para paralelepípedos, guias, sarjetas, moirões ou lajes para calçamento: 4) rochas, quando britadas para uso imediato na construção civil. A autorização contempla áreas consideradas livres, podendo excepcionalmente, ser autorizado o registro em áreas oneradas desde que haja anuência do titular do direito mineral. A área máxima permitida para o exercício desta atividade é de 5 ha, e o prazo será aquele necessário a conclusão da obra pública a que se destina os bens minerais, podendo, excepcionalmente ser esse prazo prorrogado por mais uma vez. São vedadas a cessão ou a transferência do registro da extração, bem como do seu respectivo requerimento, e a contratação de terceiros para a execução das atividades de extração de que trata a legislação aplicável ao caso. É possível editar-se nova substância mineral ao registro autorizado, desde que a nova substância se enquadre na lista dos minerais relacionados na legislação. É bem verdade e a lei é clara que a atividade só pode ser desenvolvida em áreas livres ou, estando oneradas, mediante autorização expressa do seu titular. Infelizmente, não é isso que vem ocorrendo na prática. A persistir tais procedimentos irregulares, a segurança jurídica, pilar fundamental nas relações sociais, ficará comprometido e com ela o setor e os pequenos mineradores estarão inexoravelmente prejudicados. Para tal regime é necessário o envio de requerimento junto ao DNPM, com um recibo que conste que a área a ser requerida esta dentro da unidade da autarquia, a qualificação do requerente, órgão da administração direta ou autárquica da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; a indicação da substância a ser extraída; informações sobre a necessidade da utilização da substância; descrição da obra pública, bem como suas datas de início e término; dados sobre a localização e extensão da área objetivada; e licença de operação, expedida pelo órgão ambiental competente. Cumpridas as exigências previstas, é expedida, pelo DNPM, a declaração de registro de extração, com prazo determinado e podendo ser apenas uma vez prorrogado. Figura 4 Etapas do processo do Regime Extração. Fonte: Guia do Minerador 2012

Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais A Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais, estabelecida pela Constituição de 1988, em seu Art. 20, 1o, é devida aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, e aos órgãos da administração da União, como contraprestação pela utilização econômica dos recursos minerais em seus respectivos territórios. Sua administração é de responsabilidade do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM). Os contribuintes são os indivíduos ou organizações empresariais que exercem atividades de mineração em decorrência da exploração ou extração de recursos minerais. As atividades que implicam no pagamento deste tributo são caracterizadas pela saída por venda do produto mineral das áreas da jazida, mina, salina ou outros depósitos minerais. E, ainda, a utilização, a transformação industrial do produto mineral ou mesmo o seu consumo por parte do minerador. A CFEM é calculada sobre o valor do faturamento líquido, obtido por ocasião da venda do produto mineral. Entende-se por faturamento líquido o valor da venda do produto mineral, deduzindo-se os tributos (ICMS, PIS, COFINS), que incidem na comercialização, como também as despesas com transporte e seguro. Quando não ocorre a venda, porque o produto mineral é consumido, transformado ou utilizado pelo próprio minerador, então considera-se como valor, para efeito do cálculo da CFEM, a soma das despesas diretas e indiretas ocorridas até o momento da utilização do produto mineral. As alíquotas aplicadas sobre o faturamento líquido para obtenção do valor a ser cobrado variam de acordo com a substância mineral. Para a construção civil esse número é de 2%. O pagamento da Compensação Financeira será realizado mensalmente, até o último dia útil do segundo mês subsequente ao início das atividades que geram a necessidade do tributo. A arrecadação da CFEM é distribuída na seguinte organização: 12% para a União (DNPM, IBAMA e MCT); 23% para o Estado onde for extraída a substância mineral e 65% para o município produtor. Devendo ser essa receita aplicada em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e educação. METODOLOGIA Fonte de dados Inicialmente realizou-se uma descrição sobre os regimes legais utilizáveis no aproveitamento dos agregados minerais para a construção civil, assim como esclarecimentos para a arrecadação da CFEM. A fonte dos referidos dados constitui-se em um levantamento realizado no site do DNPM. Foram obtidos todos os processos relativos à areia, nos regimes de Licenciamento e Autorização de Pesquisa, entre os anos de 2004 e 2009, no estado do Rio Grande do Norte. As fases nas quais os processos se encontravam foram analisadas com o objetivo de saber como estava à legalização desse bem mineral no período. Método de análise Utilizou-se como parâmetro, para estimar a produção real de areia no estado, o consumo de cimento Portland, a saber, que esse está diretamente associado á produção e consumo local de areia. Na construção civil o cimento e a areia têm variações de demanda similares como parte dos compostos utilizados na mesma. O traço médio mínimo de areia e cimento utilizado na construção civil é de 3:1, ou seja, para cada porção de cimento são adicionadas três

porções iguais de areia, considerando o valor médio para todos os tipos de construção, de acordo com o Sindicado Nacional da Indústria do Cimento (SNIC, 2011). O Anuário Mineral Brasileiro informou a produção declarada de areia no estado do Rio Grande do Norte em m 3 até 2007. A partir de 2008, através da portaria N 13 de 07/01/2008, passou a ser adotada a unidade de peso (tonelada). Foi utilizada a massa específica da areia, que é de aproximadamente 1,6 t/m 3, para transformar a produção de areia (em m³) para toneladas. Considerando o consumo de cimento no estado e ainda o traço médio entre areia e cimento utilizado na construção civil, chegou-se ao consumo aparente de areia, em toneladas, naquele período. Finalmente foi analisado o impacto negativo da produção informal de agregados sobre a arrecadação da CFEM. RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante o período entre 2004 e 2009, o DNPM recebeu 101 processos de pesquisa e Licenciamento de areia no estado do RN, observados na Tabela 1. Pode-se perceber que a porcentagem de processos ativos no período é de 38.6% e dos processos inativos é de 61.4%. Os principais motivos da existência dos processos inativos são os seguintes: no Licenciamento, o vencimento da licença da prefeitura; e na Pesquisa, 1) a superposição total da área com outro processo já existente, tornando o plano indeferido; 2) a desistência e 3) a não entrega do Relatório Final de Pesquisa. Tabela 1: Quantidade e situação dos processos requeridos ANO QUANTIDADE ATIVOS INATIVOS 2004 5 2 3 2005 9 0 9 2006 17 4 13 2007 18 5 13 2008 23 11 12 2009 29 17 12 TOTAL: 101 39 62 Fonte: Brasil. DNPM, 2012. Dos processos ativos nesse período, como pode ser visto na Tabela 2, 64.1% deles tratava-se de Licenciamento. Esse número evidencia o fato de que esse regime é ágil, econômico e permite uma atuação imediata sobre o deposito mineral, ainda que não ofereça a mesma segurança jurídica, e é muito utilizado por pequenos mineradores, o que comprova o caráter pulverizado da produção dessa substância. Vale salientar que esses processos não possuíam só areia como bem mineral envolvido. Percebe-se ainda que, mesmo os processos que estão em fase inicial para licenciamento, como é o caso do Requerimento de Licenciamento, possuem uma representação mais significativa na participação dos processos do período, se comparados com o regime de Autorização de Pesquisa. Isso se explica pela onerosidade e lentidão que este último regime apresenta.

Tabela 2: Classificação dos processos ativos relacionados à areia no período de 2004 a 2009. CLASSE QUANTIDADE Autorização de pesquisa 3 Licenciamento 25 Requerimento de licenciamento 11 TOTAL 39 Fonte: Brasil. DNPM, 2012. Tabela 3: Produção comercializada declarada de areia no Rio Grande do Norte ANO QUANTIDADE (m³) QUANTIDADE (t) 2004 382.497 611.996 2005 809.170 1.294.672 2006 221.650 354.640 2007 665.601 1.064.963 2008 537.875 860.600 2009 270.292 432.468 TOTAL: 4.619.339 Fonte: Brasil. DNPM, 2012a. Devido ao suposto alto índice de informalidade na produção de areia, foi utilizado o consumo de cimento Portland no estado do Rio Grande do Norte entre 2004 e 2009, como indicador da produção real. A areia é utilizada juntamente com outros agregados na composição de argamassas e concretos em serviços na construção civil e obras de infraestrutura. Tabela 4 Consumo de cimento e areia (real) no Rio Grande do Norte ANO Consumo de cimento (t) Consumo de areia (t) 2004 405.000 1.215.000 2005 450.000 1.350.000 2006 527.000 1.581.000 2007 602.000 1.806.000 2008 706.000 2.118.000 2009 694.000 2.082.000 TOTAL: 3.384.00 10.152.000 Fontes parciais: SNIC, 2010.

A proporção média de cimento e areia é de 1 para 3. A partir da quantidade de consumo de cimento registrada no estado (Tabela 4), pode-se estimar a quantidade do consumo de areia utilizada. Comparando o consumo aparente de areia no estado (Tabela 4) com a produção consumida declarada desta no mesmo período (Tabela 3), foi estimado o nível de informalidade na produção deste importante agregado para construção civil no Rio Grande do Norte. O gráfico 1 apresenta o nível de informalidade estimado para a produção de areia no mesmo período. Ver gráfico abaixo: 90% 80% 77,6% 79,3% 70% 60% 50% 40% 49,6% 41,1% 59,4% 30% 20% 10% 0% 4,1% 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Gráfico 1: Nível de informalidade estimado para a produção de areia no RN O comportamento do nível de informalidade na produção de areia, nesse período, demonstrou-se bastante atípico, não apresentando um padrão lógico de crescimento ou decréscimo, acredita-se que esse fato ocorra por tentativas dos produtores ilegais de aderirem os processos legais e mais tarde os abandonarem. Impacto da Informalidade sobre a Arrecadação da CFEM Com o intuito de se estimar o impacto do nível de informalidade na produção de areia para construção civil no Rio Grande do Norte sobre a contribuição da CFEM considera-se que a alíquota para esse bem mineral é 2% e o preço médio da tonelada de areia em 2009, R$ 11,60. Baseado nesses parâmetros estima-se uma sonegação de aproximadamente R$ 1.283.577 na arrecadação da CFEM, apenas para areia, durante o período de anos que se encontra entre 2004 e 2009.

CONCLUSÕES O nível de informalidade na produção de areia no estado do Rio Grande do Norte para a construção civil, durante o período entre 2004 a 2009 foi bastante elevado. A produção total de areia comercializada declarada foi de 4.619.339 t, enquanto que a produção total estimada foi de 10.152.000 t, configurando assim um nível médio de informalidade, no período, de 54,5%. O impacto negativo em produção informal sobre arrecadação da CFEM, a preços de 2009, foi em torno de um milhão duzentos e oitenta e três mil, quinhentos e setenta e sete reais. A estimativa da informalidade na produção de areia nos anos que antecedem 2004 e sucedem 2009 tornou-se impossível devido à ausência dos dados necessários, isso graças a não publicação do Anuário Mineral Brasileiro 2011 de ano base 2010, onde são fornecidos os dados sobre produção e consumo dos bens minerais, e a não existência de registros de requerimento de regimes, tendo areia como bem requerido, dos anos antes de 2004, no site do DNPM onde é possível pesquisar e consultar processos. Esses dados constados neste estudo demonstram a necessidade da adoção de medidas que promovam a formalização da produção, tais como aumento da fiscalização, organização dos pequenos produtores em cooperativas e instalação de arranjos produtivos locais (APLs). A adoção de modelos de gestão adequados e de práticas de produção apoiadas em processos tecnológicos eficientes, amparados no respeito às exigências legais, ambientais e de segurança, é imprescindível para a sustentabilidade e o desenvolvimento da atividade produtiva de agregados de qualquer região do País. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. DNPM, Departamento Nacional de Produção Mineral. Entrada de Processos do Site do DNPM. Disponível em: <https://sistemas.dnpm.gov.br/scm/extra/site/admin/pesquisarprocessos.aspx> Acesso em 26 Jan. 2012. Natal. BRASIL. DNPM, Departamento Nacional de Produção Mineral. Anuário Mineral Brasileiro. 2012 a. CAMPOS, E.E. Agregados para a Construção Civil no Brasil: Contribuições para Formulação de Políticas Públicas. Belo Horizonte: CETEC, 2007. LEINZ, V.; LEONARDOS, O.H. Glossário Geológico. Companhia Editora Nacional, 1982. SNIC. Sindicado Nacional da Indústria do Cimento. Relatório Anual 2010. Disponível em: <http://www.snic.org.br/pdf/snic-relatorio2010-11_web.pdf> Acesso em 26 Jan. 2012. MEYER, M.F. Avaliação dos Impactos Ambientais nas Atividades de Mineração de Areia no RN. 2011 GUIA DO MINERADOR. Disponível em: <http://www.dnpm pe.gov.br/legisla/guia/indice.php> Acesso em 26 Jan. 2012. Natal PORTO, A.L. Informalidade na Produção de Agregados Minerais Utilizados na Construção Civil no Estado da Paraíba. 2008.