UNIVERSIDADE PORTUCALENSE MESTRADO EM FINANÇAS DISCIPLINA DE FINANÇAS PÚBLICAS Doutor José Neves Cruz A disciplina de Finanças Públicas tem como objectivo o estudo da intervenção do Estado na Economia, procurando evidenciar os argumentos que segundo a racionalidade económica a provocam e a condicionam. A interacção do sistema político como veículo de expressão das preferências sociais é abordada numa óptica positiva com o objectivo de perceber a escolha pública existente e com o sentido normativo da descoberta das melhores práticas. Assim, o estudo científico torna-se útil ao fornecer conhecimentos sobre as formas institucionais que possibilitam uma aproximação da escolha colectiva às preferências da colectividade. A avaliação da disciplina será feita através de duas componentes: uma prova escrita no final da leccionação; um trabalho prático sobre os tópicos leccionados. Cada uma das componentes pesa 50% na determinação da nota final. A prova escrita será realizada em duas chamadas (mutuamente exclusivas) cada uma delas com duas horas de duração. As provas escritas realizam-se ao Sábado entre as 10.00 e as 12.00 (ver quadro do calendário). A leccionação processar-se-á em 12 aulas de três horas (das 18.00 às 21.00), às Terças e Quintas-feiras (ver quadro do calendário) e numa aula de uma hora para recepção dos trabalhos práticos e dos elementos complementares. 1 CALENDÁRIO LECTIVO CALENDÁRIO LECTIVO AULA TERÇA-FEIRA QUINTA-FEIRA SÁBADO 1 10/9/02 2 12/9/02 3 17/9/02 4 19/9/02 5 24/9/02 6 26/9/02 7 1/10/02 8 3/10/02 9 8/10/02 10 10/10/02 11 15/10/02 12 17/10/02 1ª CHAMADA 9/11/02 2ª CHAMADA 16/11/02 ENTREGA DE TRABALHOS 5/12/02 1
2 PROGRAMA PROGRAMA DA DISCIPLINA DE FINANÇAS PÚBLICAS AULA 1 A - INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO ORÇAMENTO E ÀS FUNÇÕES DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA i) O Orçamento da Administração Pública - Funções - Estrutura - Principais regras orçamentais i Funções da Administração Pública - Função afectação - Função redistribuição - Função estabilização Conflitos de funções na actuação pública AULA 2 B A FUNÇÃO AFECTAÇÃO i) A teoria dos bens públicos - Bens púbicos: puros e impuros - Bens de mérito Externalidades - Classificação das externalidades - Correcção das externalidades com ou sem intervenção estatal AULA 3 C A FUNÇÃO REDISTRIBUIÇÃO i) Abordagem tradicional das finanças públicas - Aspiração social à justiça distributiva - Conflito eficiência / equidade no exercício da redistribuição Abordagem Public choice da redistribuição - Racionalidade para redistribuir 2
AULA 4 D A INTERVENÇÃO PÚBLICA E A DEMOCRACIA POLÍTICA i) A votação e a escolha pública i O dilema do prisioneiro é um argumento racional para a intervenção pública O poder eleitoral da maioria - A hipótese do votante mediano - Críticas aos pressupostos do teorema do votante mediano O monopólio da burocracia - Hipótese do burocrata maximizador - Hipótese do burocrata controlador da agenda v) O poder eleitoral das minorias - Teoria da regulamentação - O rent-seeking dos grupos de interesse vi) Falhas de informação no mercado político - A ilusão fiscal - A irracionalidade do acto de votar AULA 5 v A democracia e o crescimento do sector público - Argumentos explicativos do crescimento da dimensão do sector público - Criticas à análise do sobredimensionamento do Estado E A ECONOMIA DA DÍVIDA PÚBLICA i) O défice público e a dívida pública em vários países da OCDE i Incidência económica do financiamento do défice através de dívida pública Custos de bem-estar da dívida pública Deve o défice ser reduzido? v) O sistema político e o endividamento público AULA 6 F ANÁLISE ECONÓMICA DA TRIBUTAÇÃO i) Princípios da tributação 3
- Princípio do Benefício - Princípio da Capacidade de Pagamento i Problemática da escolha de medidas de capacidade de pagamento Teoria da incidência fiscal - Análise de equilíbrio: parcial; geral - O critério da neutralidade do imposto - O custo de bem-estar da tributação - O custo de bem-estar e a elasticidade-preço da procura e da oferta de mercado AULA 7 G O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS FÍSICAS i) Análise comparativa para várias economias da OCDE i Impostos sobre os rendimentos do trabalho - Estrutura da tributação do rendimento - O imposto negativo sobre o rendimento em comparação com subsídios específicos e deduções à tributação - Imposto sobre o rendimento e a oferta de trabalho Imposto sobre os rendimentos de capital AULA 8 H O IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DAS PESSOAS JURÍDICAS i) Análise comparativa para várias economias da OCDE i Incidência em mercados competitivos Custos de bem-estar O problema da dupla tributação e da integração com o imposto sobre o rendimento das pessoas físicas AULA 9 I IMPOSTOS SOBRE O OUTPUT, SOBRE AS VENDAS OU SOBRE O CONSUMO i) Análise comparativa para algumas economias da OCDE Incidência do imposto geral sobre as vendas 4
i Incidência do imposto específico sobre as vendas O imposto sobre o valor acrescentado (IVA) v) O imposto pessoal sobre o consumo em substituição do imposto pessoal sobre o rendimento J CONTRIBUIÇÕES PARA A SEGURANÇA SOCIAL i) Análise comparativa para algumas economias da OCDE i Divisão do imposto entre empregador e empregado Reformar a tributação relativa à Segurança Social AULA 10 K CONFIGURAÇÃO ÓPTIMA DO SISTEMA TRIBUTÁRIO i) Hipótese de poder discricionário do Estado - Tributação indirecta óptima - Tributação directa óptima i Hipótese de poder limitado do Estado - A Constituição Fiscal A evasão fiscal Custos políticos na determinação da estrutura fiscal AULA 11 L A DESCENTRALIZAÇÃO i) Distribuição de competências entre governo central e governos locais i A dimensão óptima dos governos locais quando há migrações entre unidades políticas locais - Teoria dos clubes - Modelo de Tiebout Exportação para outras comunidades dos efeitos da intervenção pública local 5
AULA 12 O orçamento dos governos locais - Transferências intergovernamentais - O flypaper effect - Incidência dos impostos sobre a propriedade quando há autonomia fiscal local - Incidência dos impostos sobre a propriedade quando não há autonomia fiscal local 3 - BIBLIOGRAFIA A Bibliografia respeitante aos conteúdos teóricos ARROW, KENNETH, 1963; Social Choice and Individual Values, 2nd edn., New Haven, Conn.: Yale University Press. ATKINSON, Anthony e STIGLITZ, George, 1987; Lectures on Public Economics, 2ª edição, com 1ª edição em 1980, New York: McGraw-Hill Book Company. AUERBACH, Alan e FELDSTEIN, Martin, 1997, 1999 e 2002; Handbook of Public Economics volume 1, 2 e 3, com 1ª edição respectivamente em 1985, 1987 e 2202, Elsevier Science, Amesterdam, The Netherlands. BARBOSA, António S. Pinto,1997; Economia Pública, McGraw-Hill, Portugal. BRAZ TEIXEIRA, António, 1992; Finanças Públicas e Direito Financeiro ; Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa. BROWNING, Edgar e BROWNING, Jacqueline, 1994; Public Finance and the Price System, 4ª edição, com 1ª edição em 1979, Prentice Hall, Inc., New Jersey, USA. BUCHANAN, James, 1988; The Economic Theory of Politics Reborn, Challenge, vol 31 nº 2, pág. 4 10. BUCHANAN, James e MUSGRAVE, Richard, 1999; Public Finance and Public Choice: Two Contrasting Visions of the State, Massachusetts Institute of Technology (MIT), MIT Press, USA. CÉSAR DAS NEVES, João e REBELO, Sérgio, 1996; Executivos Interpelam Portugal: Questões-Chave da Nossa Economia, Editora Verbo. CHAFFLON, Bernard e WEBER, Luc, 1984; Le Financement du Secteur Public, PUF. COASE, Ronald, 1960, The Problem of Social Cost, Journal of Law and Economics, vol. 3, October, pág. 1-44. 6
CORDES, Joseph, 1997; Reconciling Normative and Positive Theories of Government, The American Economic Review, vol. 87 nº 2, pág. 169 172. COSTA, José, 1993; Conjunto de apontamentos não publicados das aulas da disciplina de Finanças Públicas do Mestrado em Finanças da Universidade Portucalense. CRUZ, José Neves; 1998, Análise Económica da Procura no Mercado Político: Quem Determina as Escolhas Públicas: Eleitores ou Grupos de Interesse?, editado por Edições Vida Económica, Porto. CRUZ, José Neves; 2002, Apontamentos de Economia Pública: As Finanças Públicas e a Escolha Colectiva, Universidade Portucalense. CULLIS, John e JONES, Philip, 1992; Public Finance and Public Choice, Analytical Perspectives, Mcgraw-Hill Book Company Europe 1992. CULLIS, John e JONES, Philip, 1998; Public Finance and Public Choice, 2ª edição, com 1ª edição de 1992, Oxford University Press, UK. HAMLIN, Alan, 1993, Public Expenditure and Political Process em The Growth of the Public Sector, Theories and International Evidence, editado por Norman Gemmell, publicado por Edward Elgar Publishing Limited, Gower House, England. LAFFONT, Jean-Jacques, 1988, Fondments de L Economie Publique:Cours de Théorie Microéconomique, 2ª edição, Economica. MARCHAND, Christophe, 1999; Économie des Interventions de L Etat: Théorie des Choix Publics, colecção Que sais-je?, PUF. MORENO, Carlos, 2000; Finanças Públicas: Gestão e Contrlo dos Dinheiros Públicos, 2ª edição revista e aumentada, Universidade Autónoma de Lisboa. MUELLER, Dennis, 1979; Public Choice, Cambridge, Cambridge University Press. MUELLER, Dennis, 1997, Perspectives on Public Choice: A Handbook, Cambridge University Press. MUSGRAVE, Richard e MUSGRAVE, Peggy, 1989, Public Finance in Theory and Practice, 6ª edição, publicado originalmente em 1959; McGraw-Hill, Book Company. PIERCE, David W. e TURNER, R. Kerry, 1990, Economia de los Recursos Naturales y del Medio Ambiente, traduzido de Economics of Natural Resources and the Environment, Celeste Ediciones, 1995. PIGOU, Arthur, 1920; La Economia del Bienestar, Aguilar, Madrid 1946; primeira publicação: The Economics of Welfare, Macmillan, Londres. PUY FRAGA, Pedro, 1993; Busqueda de Rentas en el Sector Publico, o una Teoria Economica de La Corrupcion Política, em Análisis Económico del Derecho y de la Política editado por P. Puy Fraga, Santiago de Compostela, Fundación Alfredo Brañas. 7
PUY FRAGA, Pedro, 1996, Economia Política del Estado Constitucional: Fundamentos de Economia Constitucional, Cedecs Editorial, ISBN: 84-89171-52-1. ROSEN, Harvey, 1999; Public Finance ; 5ª edição, MacGraw-Hill, USA. SOUSA FRANCO, António L., 1990; Finanças Públicas e Direito Financeiro, 3ª edição, Livraria Almedina, Coimbra. SOUSA FRANCO, António L., 1991; Finanças do Sector Público: Introdução aos Subsectores Institucionais ; Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa. TEIXEIRA RIBEIRO, José Joaquim, 1997, Lições de Finanças Públicas, 5ª edição, Coimbra Editora. VENCE DEZA, Xavier, 1995; Economia de la Innovación y del Cambio Tecnológico, Siglo Veintiuno de España Editores, S.A. XAVIER BASTO, 1991; A Tributação do Consumo e a sua Coordenação Internacional, Centro de Estudos Fiscais. B Bibliografia referente a dados estatísticos e a códigos fiscais Os documentos estatísticos mais utilizados são várias publicações da OCDE (como OECD in Numbers ; Economic Outlook ; The Observer ), os Relatórios do Banco de Portugal, o Relatório do Banco Mundial; várias publicações do INE e informações do Ministério das Finanças e do Ministério da Economia, disponíveis na Internet. Outros documentos muito utilizados são o Orçamento Geral do Estado e a Conta Geral do Estado. Recorre-se ainda a diversos artigos e dados publicados em várias revistas e jornais, com especial destaque para as revistas Economia Pura, O Economista ; Economist ; Financial Times. Relativamente ao estudo da Segurança Social, recorre-se ao Livro Branco da Segurança Social, de 1995 e ao site do Ministério da Solidariedade Social. Para o estudo da fiscalidade portuguesa, nomeadamente do IVA, IRS e IRC, utilizam-se os códigos publicados pela Editora Vida Económica, assim como os próprios Decretos- Lei publicados no Diário da República. 8
4 TRABALHOS PRÁTICOS A Regras: i) Trabalho individual e original Temas directamente relacionados com pelo menos um dos tópicos leccionados i Os trabalhos não se podem cingir a uma simples descrição (do sistema tributário, por exemplo), devendo centrar-se nas causas ou consequências económicas da intervenção pública Juntamente com o trabalho deve ser fornecida uma cópia da página descritiva do original (capa ou página onde está descrito o título e a referência bibliográfica) de todas as referências bibliográficas indicadas no trabalho. v) Trabalho deve ser escrito usando o Microsoft Word, Times New Roman, Letra 12; Espaço 1,5, Margem superior e inferior de 2,5 cm, esquerda e direita de 3cm vi) O trabalho deve ser entregue em papel e em disquete v Os quadros e as figuras devem estar numerados vi Limite mínimo de páginas: 15 páginas (exclui índice, anexos e apêndices) ix) Limite máximo de páginas: 30 páginas (exclui índice, anexos e apêndices) x) Os apêndices devem ser inseridos antes da bibliografia e os anexos serão inseridos depois da bibliografia xi) As notas são inseridas no final da página onde se encontra a indicação de nota (pé de página) x A bibliografia de publicações periódicas deve ser escrita na seguinte forma (exemplo): CORDES, Joseph, 1997; Reconciling Normative and Positive Theories of Government, The American Economic Review, vol. 87 nº 2, pág. 169 172. xi A bibliografia de publicações (livros) deve ser escrita na seguinte forma (exemplo): SOUSA FRANCO, António L., 1990; Finanças Públicas e Direito Financeiro, 3ª edição, Livraria Almedina, Coimbra. B SUGESTÃO DE TEMAS i) A dimensão do sector público limita a eficiência do mercado? O forte recurso à privatização que se tem verificado em diversas economias corresponde ao esgotamento das áreas de intervenção pública? i Privatizar a segurança social? Políticas de redistribuição e eficiência económica (Segurança Social, Rendimento Mínimo, Subsídio de Desemprego,...): conflito ou complementaridade? v) Escolha pública num contexto político distanciado dos eleitores: deve-se reformar o sistema político? 9
vi) O lobbying das minorias (grupos de interesse) dirige a escolha pública? (O poder dos media, Associações, Sindicatos, Ordens, RTP, TAP,... versus eleitores) v Os media controlam a agenda política ou os políticos controlam os media? vi A educação pública sector-chave na formação: reformar, privatizar, subsídio ao aluno? ix) A intervenção pública na área da Saúde: privatizar, exclusividade dos quadros, subsídio ao doente? x) A burocracia e a estagnação da função pública: mito ou realidade? xi) A descentralização: reflexão sobre a transferência de competências, verbas, formação para lidar com novas competências,... x Autonomizar o poder fiscal dos governos locais? xi Equacionar a existência de um nível intermédio de governo entre o governo central e os municípios ou aprofundamento das associações de municípios? x Reflexão sobre a possibilidade de reforma fiscal e análise crítica: IRS, IRC, IVA; SISA; Contribuição Autárquica, Imposto Automóvel, Imposto de selo, outros impostos xv) Dupla tributação do rendimento análise crítica; soluções? xvi) Harmonização fiscal no espaço da União Europeia? Caminho percorrido; futuro; vantagens e desvantagens? xv A evasão fiscal: paraísos fiscais; sigilo bancário, globalização, movimentos de capitais sem restrições,... xvi A tributação das mais-valias num contexto de concorrência fiscal xix) Reforma da administração fiscal flexibilidade e inovação face a novos desafios competitivos xx) Fiscalidade e políticas de família; natalidade; formação educacional;... xxi) O défice público, a dívida pública e o Pacto de Estabilidade: custos e benefícios do caminho a precorrer xx Orçamento público equilibrado é uma boa solução? Reflexão crítica xxi...outros temas 11 de Julho de 2002 José Neves Cruz 10