IX-016 - A BALNEABILIDADE DAS PRAIAS DE SANTOS - DISCUSSÃO DOS CRITÉRIOS OFICIAIS DE AVALIAÇÃO



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Transcrição:

IX-016 - A BALNEABILIDADE DAS PRAIAS DE SANTOS - DISCUSSÃO DOS CRITÉRIOS OFICIAIS DE AVALIAÇÃO Sílvia Maria Sartor (1) Bióloga pela Universidade do Estado de São Paulo (UNESP)- Campus Botucatu - SP. Mestre e Doutora em Oceanografia Biológica pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP). Coordenadora e Professora no Curso de Graduação em Oceanografia e no Curso de Pós- Graduação em Administração e Educação Ambiental do Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE), Santos - SP. Fernando Antonio Degaspari Geógrafo pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Camilo Castelo Branco -São Paulo SP. Mestrando em Administração e Educação Ambiental - Centro Universitário Monte Serrat (UNIMONTE) - Santos - SP. Endereço (1) : Rua Antonio Pestana, 616 - Parque Monte Alegre - Taboão da Serra - SP - CEP: 06756-010 - Brasil - Tel: (11) 491-7353 - e-mail: ssartor@uol.com.br RESUMO O presente trabalho apresenta uma reavaliação dos critérios utilizados para determinar o índice de balneabilidade nas praias do município de Santos, SP. A legislação federal (Resolução CONAMA 20/86), considera a média das últimas cinco medições na determinação da qualidade das praias. Esse critério é demasiadamente generalista considerando uma região costeira tão extensa como é o litoral brasileiro. A estratégia adotada pelo município de Santos, que ora impede a entrada do esgoto carreado pelos canais e ora o libera, dependendo da pluviometria, induz a grandes oscilações no aporte de coliformes fecais para o mar. Os boletins divulgados para indicar as condições das praias em Santos, não refletem a realidade, liberando praias em condições impróprias (colocando em risco a saúde), e não recomendando seu uso quando em condições próprias (prejudicando o turismo). Nesse estudo, está sendo avaliada a frequência dos desvios observados entre os dados divulgados pelos jornais e a condição real no momento da coleta das amostras de água das praias. Esses resultados são correlacionados com a situação das comportas existentes para controlar o fluxo dos canais. Esse estudo pretende subsidiar a discussão na definição de nova estratégia para determinar a balneabilidade das praias de Santos, SP. PALAVRAS-CHAVE: Balneabilidade, Resolução CONAMA 20, Poluição, Praias, Santos SP. INTRODUÇÃO Em um cenário mundial no qual a preocupação ambiental se torna a cada dia mais relevante, o Brasil ainda enfrenta problemas básicos com o saneamento ambiental e todas as suas conseqüências para a saúde, economia e bem estar da população (Addas, 1998; Costa,1994). Essa questão é tão relevante na Baixada Santista que acompanha sua própria história (Ochipinti, 1975; CETESB, 1978,1985; Santos, 1986; Frigério, 1992; Lanna, 1996). Sua população já foi dizimada por epidemias vinculadas à falta de saneamento e, como conseqüência, sua economia já foi prejudicada em várias situações. Como principal porto do Brasil, já teve restrições à atracação de navios em função de riscos de contaminação por patógenos. Como pólo industrial já foi destaque internacional como o local mais poluído do mundo (Tommasi, 1982; Vargas-Boldrini, 1983; Braga, 1997). Como balneário para a imensa população de São Paulo, também foi alvo de exclusão: durante as décadas de 70 e 80, devido aos altos índices de poluição orgânica detectados em sua praias, a cidade sofreu abalo em sua economia, com a queda acentuada do turismo. A partir do início da década de 90, uma série de medidas deflagradas pelo governo estadual e municipal vem tentando reverter esse quadro. No final da década de 80, foi constatado que uma das principais fontes de contaminação orgânica provinha dos canais de drenagem. Estes foram construídos no início do século, por obra do Eng. Saturnino de Brito, visando possibilitar a ocupação da área insular de Santos, cujo lençol freático é muito próximo da superfície. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1

O sistema adotado desde então, é do tipo separador absoluto, com a rede de drenagem separada da rede de esgoto. Entretanto, no decorrer do processo de urbanização, muitas ligações clandestinas de esgoto foram feitas na rede de drenagem e vice-versa. Essa situação culminou no comprometimento das praias que recebem o fluxo dos canais. Em 1989, quando detectada essa fonte de problema, adotou-se a estratégia de impedir o fluxo contínuo dos canais de drenagem em direção ao mar. Essa alternativa foi executada com êxito, utilizando-se das comportas instaladas no início do século. Dessa forma, a água de drenagem foi desviada para a tubulação de esgoto, tratada juntamente com este e lançada ao mar através de emissário submarino. Essa medida resultou em imediata melhoria da qualidade das praias em Santos, conforme é demonstrado na Figura 1. Figura 1- Média anual da balneabilidade das praias de Santos entre 1985 e 1998 (CETESB, 85-98). Entretanto, em situações de chuvas intensas, o interceptor oceânico, que recebe a rede de esgoto, torna-se insuficiente para assimilar tanta água e os canais são abertos para evitar as enchentes. Essa condição leva à grandes oscilações nos níveis de esgoto que são carreados para o mar (Braga, 1999; CETESB, 1999). Essa particularidade não é considerada nas avaliações oficiais sobre a balneabilidade, implicando em grande defasagem entre as informações divulgadas e a realidade como se apresenta. O presente estudo avalia os desvios existentes nos boletins oficiais, comparativamente às medições obtidas e relaciona o comprometimento de três praias com situações de abertura ou fechamento das comportas. MATERIAIS E MÉTODOS Para a avaliação da balneabilidade está sendo utilizado um indicador de qualidade das praias bastante comum, que é o número de coliformes fecais presentes na água, e que fornece uma idéia do grau de contaminação por esgoto (Plusquellec,1983). A CETESB, desde 1974, e a prefeitura de Santos, desde 1994, realizam medições com o objetivo de monitorar a qualidade das praias na cidade. Em 1997, foi firmada uma parceria entre Estado e Prefeitura para considerar os resultados em conjunto, na aplicação da Resolução CONAMA 20/86. Para a avaliação realizada nesse estudo consideraram-se os dados obtidos pela CETESB (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) e pela Prefeitura de Santos. Foram considerados apenas os meses de dezembro/99 e janeiro a abril de 2000, nas avaliações, por tratar-se do período com maior índice pluviométrico. Consideraram-se os dados obtidos em três praias: José Menino, próxima ao canal de drenagem 2, Gonzaga, próxima ao canal 3 e Boqueirão, próxima ao canal 4 (Fig. 2). As amostras de água do mar foram coletadas no local mais representativo, à 1 metro de profundidade, que representa a área mais utilizada para a recreação. Durante o período estudado, as amostragens foram realizadas em três a quatro dias, semanalmente, incluindo os domingos, dia de maior afluência do público às praias. A coleta ocorreu, preferencialmente, na maré vazante, quando se observa maior contribuição e menor diluição dos efluentes. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2

Figura 2 - Distribuição dos canais de drenagem e local de conexão com as praias. Segundo os critérios estabelecidos pela Resolução CONAMA n o 20, de 18 de junho de 1986, as praias são classificadas em quatro categorias diferenciadas: Excelente, Muito Boa, Satisfatória e Imprópria, de acordo com as densidades de coliformes fecais resultantes de análises feitas em cinco semanas consecutivas (Tabela 1). As categorias Excelente, Muito Boa e Satisfatória são agrupadas numa única classificação denominada Própria. CATEGORIA LIMITE DE COLI-FECAL (*NMP/100L) EXCELENTE MÁX. de 250 em 80% ou mais do tempo MUITO BOA MÁX. de 500 em 80% ou mais do tempo SATISFATÓRIA MÁX. de 1.000 em 80% ou mais do tempo IMPRÓPRIA SUPERIOR a 1.000 em 20% ou mais do tempo Tabela 1. Limites para a presença de coliformes fecais segundo a Resolução CONAMA nº 20/86 * NMP (número mais provável): é a estimativa da densidade de coliformes fecais em uma amostra, calculada a partir da combinação de resultados positivos e negativos, obtidos mediante a aplicação da técnica denominada Tubos Múltiplos. Esse critério de avaliação foi comparado com as condições reais obtidas pelas amostragens de água e com outro, baseado apenas nas datas e horários de abertura e fechamento das comportas. Nesse caso, considerou-se resultados prévios, indicando que, com segurança, após 72 horas de fechamento das comportas, as praias já encontram-se próprias. RESULTADOS E DISCUSSÃO Apesar das soluções inovadoras implantadas, os boletins correspondentes a 1998 e 1999 apontaram para praias impróprias durante 20 a 60 % do tempo (CETESB, 1998, 1999). Nenhuma das técnicas de determinação da concentração de coliformes fecais disponíveis atualmente permite que se conheça a qualidade das águas marinhas em tempo real. Entre a coleta, análise laboratorial, ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3

interpretação, processamento das informações e publicação pela imprensa, obtém-se um período de até 48 horas entre a coleta e a divulgação da qualidade das praias. Essa condição de defasagem, é ainda agravada quando se utiliza a Resolução CONAMA 20/86. Pelo critério adotado, densidades de coliformes fecais superiores a 1000 NMP/100ml de água, em mais de uma das amostras de um conjunto de cinco semanas consecutivas (ou cinco últimas medidas), caracterizam a impropriedade da praia. Essa classificação implica em indicação de uma praia como Própria, quando na verdade está Imprópria, como ocorre na data 5 da série abaixo: Data 1 Data 2 Data 3 Data 4 Data 5 N o de Coliformes fecais 130 220 50 110 25 000 Avaliando a continuidade dessa série de dados em próximas medições temos: Data 5 Data 6 Data 7 Data 8 Data 9 N o de Coliformes fecais 25 000 1200 220 140 50 Nesse caso, a praia está Própria na data 9, mas seria classificada como Imprópria, considerando a legislação em vigor. Os resultados obtidos nesse trabalho, para as praias do José Menino, Gonzaga e Boqueirão indicam grande imprecisão entre os dados oficiais divulgados e a realidade (Tabela 1). Nome da Praia José Menino (Canal 2) Gonzaga (Canal 3) Boqueirão (Canal 4) Boletim Oficial Dados Reais Própria Própria 33% 34% 53 % Imprópria Imprópria 18% 18% 11% Própria Imprópria 13% 15% 16% Imprópria Própria 36% 33% 20% Relação de Própria ou Imprópria com situação 97% 88% 93% de abertura das comportas Acertos nos boletins oficiais (CONAMA 20) 50% 66 % 60% Tabela1 - Grau de eficácia nos boletins indicativos das condições de balneabilidade para as praias durante o conjunto dos meses dez/99 e jan-abr/2000. Durante os meses de dezembro/1999 e janeiro-abril de 2000 (121 dias), as praias José Menino, próxima ao canal de drenagem 2, Gonzaga, localizada próxima ao canal de drenagem 3 e Boqueirão, nas imediações do canal 4, foram avaliadas em 73 dias - 60% do período. Conforme indicado pela Tabela 1, os boletins oficiais acertaram o diagnóstico em apenas 50 a 66% dos dias. Em 13 a 16 % do período as praias em estudo foram consideradas próprias para banho quando estavam impróprias, colocando em risco a saúde dos banhistas. O oposto, isto é, boletim oficial indicando a praia como imprópria quando em situação de própria, ocorreu em 20 a 36% do período. Os turistas que nortearam a escolha de local para banho de acordo com as informações fornecidas pela mídia, deixaram de freqüentar essas praias, com prejuízo para a economia da região. Considerando o conjunto de avaliações realizadas no período, houve coincidência entre os boletins divulgados e os dados reais em 51 a 64% dos dias e divergência em 32 a 49%. Se a condição de balneabilidade não aplicasse a Resolução CONAMA 20/86 e considerasse apenas previsões baseadas nas situações de abertura e fechamento das comportas, as informações fornecidas à população refletiriam a realidade em 88 a 97% dos dias avaliados. CONCLUSÕES Os atuais boletins referentes à balneabilidade das praias santistas são demasiadamente imprecisos para nortear seu uso por banhistas. Essa imprecisão poderia ser resolvida adotando novos critérios, menos abrangentes que a Resolução CONAMA 20/86, desenvolvidos para atender a realidade local. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4

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