Gab. Senador Eduardo Suplicy PARECER Nº, DE 2009 Da COMISSÃO DE EDUCAÇÃO, sobre o Projeto de Lei do Senado nº 178, de 2009, que altera os arts. 3º, 14 e 67 e acresce o art. 67-A à Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), para fortalecer a cultura da paz nas escolas e nas comunidade adjacentes. RELATOR: Senador EDUARDO MATARAZZO SUPLICY I RELATÓRIO Chega a esta Comissão, para decisão em caráter terminativo, o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 178, de 2009, de autoria do Senador Paulo Paim, que altera os arts. 3º, 14 e 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), e acrescenta a ela o art. 67-A. O art. 1º do PLS modifica a redação do inciso IV do art. 3º da LDB, de forma a que a um dos princípios do ensino no Brasil respeito à liberdade e apreço à tolerância se acrescente a "superação de todas as formas de violência, internas e externas à escola, na perspectiva da construção de uma cultura da paz". O art. 2º altera o art. 14 da mesma LDB, que dispõe sobre os princípios da gestão democrática do ensino público na educação básica, garantindo: participação dos profissionais da educação, dos estudantes e de seus pais na elaboração e avaliação do projeto pedagógico da escola, bem como participação dos segmentos da escola e da comunidade escolar em conselhos escolares ou colegiados deliberativos equivalentes. Ainda no art. 2º, parágrafo único, estabelece a periodicidade mínima quinzenal para as reuniões dos conselhos escolares, em horários compatíveis para todos, incentivada a presença de representantes da comunidade local, especialmente das áreas da saúde, segurança, cultura, esportes e ação social. O art. 3º do PLS modifica o inciso V do art. 67 da LDB, que trata dos componentes da jornada dos profissionais da educação, para garantir que, pelo menos um terço da carga horária semanal remunerada seja reservado a estudos, 1
planejamento, avaliação e integração com a comunidade escolar e local. O art. 4º inclui um novo artigo na LDB, o de nº 67-A, para dispor que as escolas públicas de ensino fundamental e médio tenham em seu quadro de pessoal profissionais habilitados na manutenção dos espaços educativos, que inclua o zelo pela segurança escolar e pelas relações pacíficas com a comunidade local. A justificação lembra que o princípio do respeito à liberdade e do apreço à tolerância foi introduzido pelo Senador Darcy Ribeiro, o qual, se vivo fosse, entenderia ser necessário, no presente momento de insegurança generalizada nas escolas, acrescentar uma proposta positiva de superação das manifestações de violência externas e internas à escola. É missão da educação escolar contribuir para a construção de uma cultura de paz. Quanto à gestão democrática, é necessário, segundo a justificação, não somente garantir o funcionamento dos conselhos escolares, mas inserir neles representantes da comunidade local, inclusive de autoridades da segurança. Outro dispositivo que contribuirá para a construção da cultura de paz, ainda conforme a justificação, é a presença dos professores nas casas dos alunos e nos eventos da comunidade local, que passam a ser considerados itens de seu trabalho remunerado com educador. Finalmente, diz a justificação, é necessária a atuação no espaço escolar de uma figura nova de educador, qualificada técnica e pedagogicamente para fazer a mediação dos conflitos internos e externos um profissional da "segurança escolar". Alguns governos têm apelado para pessoal terceirizado no exercício dessa função, quase sempre sem o preparo adequado e sem o compromisso permanente de contribuir para a educação e a paz na relação escolacomunidade. II ANÁLISE Não foram apresentadas emendas ao PLS no prazo regimental A Lei nº 9.394, de 1996, a LDB que serve de parâmetro geral para o desenvolvimento da educação brasileira, tem sido constantemente aperfeiçoada, tanto porque sua redação original se ressente de óbvias incompletudes, quanto pela necessidade de se adaptar a novas condições que vive a sociedade no terceiro milênio. As alterações propostas pelo PLS 178, de 2009, se enquadram nos dois casos acima mencionados. A gestão democrática das escolas públicas, passados mais de dez anos da promulgação da Lei, ainda não se tornou realidade no cotidiano da vida escolar. Prevalecem as decisões autoritárias ou hierárquicas, ignorando-se que, à semelhança das universidades, que contam com colegiados deliberativos, todas as escolas precisam ter seus conselhos escolares. Muitas delas até contam com os conselhos, mas eles pouco funcionam, limitando-se a funções 2
Gab. Senador Eduardo Suplicy homologatórias, como as de aprovação de prestações de contas que, no mais das vezes, são segredos da burocracia. A inserção de elementos da comunidade local nos conselhos, bem como a obrigação de uma reunião a cada quinze dias, no mínimo, dará mais efetividade à gestão democrática, afinando-a com o projeto pedagógico da escola e contribuindo para a construção da cultura de paz na comunidade. Mas o principal objetivo do PLS parece ser reforçar a segurança escolar, para o que contribuem sobremaneira dois dispositivos: o primeiro é o protagonismo do professor como elemento de ligação entre a escola e a comunidade onde moram seus alunos; o segundo é o de integrar na escola profissionais diretamente preparados e responsabilizados pela segurança escolar, inserida no trabalho mais amplo de transformar o "espaço escolar" em "espaço educativo". Muitas escolas hoje se defendem da violência externa com muros e arame farpado, com guaritas e guardas até mesmo armados. Temos que construir pontes de relações pacíficas com a comunidade adjacente à escola, em primeiro lugar pela própria ação dos profissionais da educação, de que tratam os arts. 3º e 4º do PLS, de forma moderna e dentro dos ditames da pedagogia. III VOTO Pelo exposto, nosso voto é pela aprovação do PLS 178, de 2009. IV DECISÃO DA COMISSÃO A Comissão, reunida no dia de hoje, aprova por 14 (quatorze) votos favoráveis o presente projeto, tendo como relator o Senador Eduardo Suplicy, incorporando ao texto final a emenda nº 01-CE, de autoria do relator, aprovada por 13 (treze) votos e a emenda nº 02-CE, de autoria da Senadora Marisa Serrano, aprovada por 13 (treze) votos, oferecidas durante a discussão. A Senadora Marisa Serrano apresenta declaração de voto, conforme disposto no art. 316, do Regimento Interno do Senado Federal. EMENDA Nº 01-CE Dê-se ao parágrafo único do art. 14 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, nos termos do art. 2º do PLS 178, de 2009, a seguinte redação: Art. 2º...... Art. 14º...... Parágrafo único. As escolas públicas garantirão em seus calendários letivos reuniões ordinárias de seus conselhos, em horários compatíveis com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, incentivada a presença de representantes da comunidade 3
local, especialmente das áreas de saúde, segurança, cultura, esportes e ação social. (NR) EMENDA Nº 02-CE Substitua-se a expressão do art. 67-A pessoal habilitado, proposto no art. 4º do presente projeto, pela expressão esses profissionais. Sala da Comissão, em 06 de outubro de 2009. Senador Flávio Arns, Presidente Senador Eduardo Suplicy, Relator TEXTO FINAL PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 178, DE 2009 4
Gab. Senador Eduardo Suplicy Altera os arts. 3º, 14 e 67 e acresce o art. 67-A à Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), para fortalecer a cultura da paz nas escolas e nas comunidades adjacentes. O CONGRESSO NACIONAL decreta: Art. 1º O inciso IV do art. 3º da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a viger com a seguinte redação: Art. 3º... : IV - respeito à liberdade, apreço à tolerância e superação de todas as formas de violência, internas e externas à escola, na perspectiva da construção de uma cultura de paz;... (NR) Art. 2º O art. 14 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a viger com a seguinte redação: Art. 14. Os entes federados e seus respectivos sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e tendo em conta, obrigatoriamente, os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação, dos estudantes e de seus pais ou responsáveis na elaboração e avaliação do projeto pedagógico da escola; II - participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou colegiados deliberativos equivalentes. Parágrafo único. As escolas públicas garantirão em seus calendários letivos reuniões ordinárias de seus conselhos, em horários compatíveis com a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, incentivada a presença de representantes da comunidade local, especialmente das áreas de saúde, segurança, cultura, esportes e ação social. (NR) Art. 3º O inciso V do art. 67 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a viger com a seguinte redação: 5
: Art. 67.... V - período semanal nunca inferior a um terço de sua carga horária, reservado a estudos, planejamento, avaliação e integração com a comunidade escolar e local, incluído no tempo de trabalho remunerado..... (NR) Art. 4º A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 67-A: Art. 67-A. Entre os profissionais da educação não docentes, com formação técnica e pedagógica, as escolas públicas de ensino fundamental e médio contarão com esses profissionais na manutenção dos espaços educativos, que incluam o zelo pela segurança escolar e pelas relações pacíficas com a comunidade local. Art. 5º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Sala da Comissão, em 06 de outubro de 2009. Senador Flávio Arns, Presidente Senador Eduardo Suplicy, Relator 6