1 X CONGRESSO INTERNACIONAL DOS MÉDICOS EM ANGOLA CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES 1. INTRODUÇÃO Realizou-se nos dias 26 e 27 de 2015, no Centro de Convenções de Talatona, o X CONGRESSO INTERNACIONAL DOS MÉDICOS EM ANGOLA, promovido e organizado pela Ordem dos Médicos de Angola, com o alto patrocínio do Executivo Angolano, cuja sessão solene de abertura foi presidida por Sua Excelência o Sr. Ministro da Saúde, Dr. José Vieira Dias Van-Dúnem. O Congresso decorreu sob o lema Os Desafios da Saúde em Angola no Contexto de um Mundo em Mudança, e teve a participação de 854 Médicos Nacionais e Estrangeiros e Convidados, provenientes de Brasil, Bélgica, Cabo Verde, Estados Unidos da América, Israel, Moçambique e Portugal. A anteceder este Evento, foram realizados 42 Cursos Pré-Congresso que abordaram temáticas eminentemente práticas em áreas diversificadas da medicina, gestão hospitalar e tecnologias de informação. No discurso de boas-vindas, o Exmo. Sr. Bastonário fez notar que estamos confrontados por uma nova era a que não podemos ficar alheios: O Médico na Era da Técnica. Por um lado, as consequências do desenvolvimento científico e tecnológico em torno da prevenção, da promoção, do diagnóstico, do tratamento, da investigação e do ensino são enormes e, por outro, a ética, a bioética e o biodireito, vieram introduzir um factor de equilíbrio na relação dos doentes (dos cidadãos em geral) com os médicos e no envolvimento da sociedade na sua pluridimensão. Ora, a Ordem dos Médicos de Angola pretendeu, neste seu X Congresso Internacional, trazer à discussão serena, firme e consistente, um conjunto de matérias destinadas a aumentar a elevada conscientização dos médicos não apenas face à doença, mas, igualmente, face às exigências plurifacetadas que a Medicina provoca pela sua complexidade e riqueza e aos modelos de organização, de atendimento e de prestação de cuidados. No discurso de abertura, Sua Excelência o Sr. Ministro da Saúde, Dr. José Vieira Dias Van- Dúnem salientou os seguintes aspectos: a) A Ordem dos Médicos de Angola está intrinsecamente ligada ao Sistema Nacional de Saúde desde 1990, devendo-se aos médicos uma parte significativa dos seus resultados e da qualidade do seu desempenho aos médicos. Na oportunidade, saudou os Médicos no Dia do Médico Angolano. b) O Sistema Nacional de Saúde é um dos pilares mais importantes do Sector Social em Angola, contribuindo para a consolidação da democracia, da equidade e da justiça social;
2 por isso, é um desafio proceder a ajustamentos à realidade actual e aos desafios do futuro, que confiram proximidade aos indivíduos, às famílias e comunidades; havendo que estabelecer prioridades para preservar e aumentar os ganhos em saúde. c) O direito à saúde é um direito fundamental, constitucionalmente previsto, que o Executivo privilegia para defesa das comunidades e dos cidadãos, enfatizando o desenvolvimento dos cuidados de saúde primários, fazendo apelo à participação das comunidades locais. d) A defesa de princípios de rigor na gestão dos bens públicos, através de métodos de gestão que valorizam a eficiência, a produtividade e a redução dos desperdícios. e) A responsabilidade social das instituições e dos médicos que deverão interagir com as populações. f) Os resultados encorajadores alcançados no último ano, destacando: (i) o não registo de casos de poliomielite devido à cobertura nacional de vacinação situada acima de 80%; (ii) o aumento de serviços em unidades de saúde para acompanhamento do tratamento de doentes com HIV; (iii) a melhoria dos indicadores de saúde materna; (iv) as acções conjuntas multissectoriais com outros ministérios; (v) a abertura de novos serviços hospitalares de especialidade em algumas províncias; (vi) o aumento da esperança de vida para 52 anos; g) A necessidade de regulação dos actos médicos e de fixação do preço dos medicamentos e produtos farmacêuticos para as populações mais carenciadas. 2. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As comunicações apresentadas, de muito elevado nível de qualidade científica e técnica, possibilitaram a partilha de conhecimentos e o contacto com abordagens e experiências trazidas pelos distintos participantes, de que resultaram as seguintes conclusões e recomendações: (i) (ii) (iii) A época que vivemos realça de forma clara a responsabilidade da sociedade, a responsabilidade de cada cidadão, e, também, os comportamentos de prevenção e agilização de processo de promoção da saúde e de prevenção da doença. Face ao valor vida, constitucionalmente previsto, o Executivo assumiu um compromisso histórico que se traduz em muitas iniciativas e concretizações explicitadas na Política Nacional de Saúde e no instrumento que a operacionaliza O Plano Nacional de Desenvolvimento Sanitário. Impõe-se-nos, pois, uma espécie de ética à distância, pois as gerações presentes vinculam, com os seus actos, as gerações vindouras. A implementação da política nacional de saúde abre uma oportunidade para se conjugar o binómio saúde e riqueza visando uma vida saudável para todos os angolanos. Para a implementação da PNS é fundamental dispor de financiamento sustentável que assegure a continuidade das intervenções de saúde, promovendo
3 (iv) (v) (vi) (vii) (viii) o aumento da eficiência do sistema de saúde, particularmente dos cuidados primários; de recursos humanos que garantam a execução das intervenções de saúde com qualidade, eficácia e eficiência; garantir a disponibilidade contínua do pacote essencial de intervenções a todos os níveis do sistema de saúde; de recursos físicos como medicamentos, infraestruturas e outras tecnologias para garantir a qualidade dos serviços de saúde; tal significa o envolvimento de todos os profissionais de saúde, em particular, dos médicos. As medidas de política e prioridades para 2015 preconizam: garantir a continuidade e sustentabilidade na aquisição de vacinas, medicamentos, equipamentos e meios essenciais, bem como o funcionamento das unidades sanitárias do primeiro nível de atenção e das equipas móveis que permitem a oferta universal; reduzir os custos operacionais e aumentar a eficiência dos programas; rever as necessidades em termos de cooperação estrangeira e promover ganhos de eficiência; promover acções de fiscalização e monitorização dos programas e das despesas, fortalecendo o sistema de informação a todos os níveis; melhorar a qualidade dos orçamentos na definição das acções prioritárias e identificação das várias fontes de financiamento disponíveis (níveis central, locais e parceiros); rever os critérios de alocação dos fundos para os CPS (Centros Primários de Saúde), promovendo a equidade e qualidade nas despesas, tendo em consideração os critérios demográficos e os critérios de utilização e controle dos fundos, promovendo também uma melhor utilização dos mesmos. A participação da comunidade foi evidenciada como uma estratégia decisiva na implementação dos cuidados primários de saúde através da construção de infraestruturas e da formação de recursos humanos para a prevenção da doença e promoção da saúde. O Sistema Nacional de Saúde foi considerado um elemento estruturante e decisivo de solidariedade e coesão social, da protecção dos doentes, da promoção da qualidade do exercício da Medicina e da interligação com outros sectores e participação activa da Comunidade, constituindo um contributo importante para o desenvolvimento humano. A informação educacional às populações deve incidir sobre a adopção de hábitos e estilos de vida saudáveis, em que os médicos devem assumir um papel fundamental, realçando, em particular, a necessidade de contribuir para a educação e literacia em saúde. O Sector da Saúde carece, por um lado, de tecnologias de informação para que a tomada de decisões de política de saúde se fundamente em dados epidemiológicos
4 (ix) (x) (xi) (xii) (xiii) (xiv) (xv) com implementação gradual e correctamente gerida aos níveis nacional, provincial e municipal, colocando os cidadãos no centro das decisões com envolvimento efectivo dos profissionais de saúde; por outro lado, a investigação-acção é uma abordagem que deve ser realizada na promoção da saúde através de contributos de diversas disciplinas, como a economia, a estatística, a informática. A criação de mecanismos de formação contínua com oferta variada e flexível que enriqueça a qualificação dos médicos que trabalham nas diversas unidades de saúde, dotando-os de competências práticas diferenciadas de acordo com as necessidades objectivamente identificadas. A necessidade de adaptação do plano de estudos da formação médica à visão moderna de saúde, considerando a aprendizagem em ambientes diversificados em que as questões relacionadas com a ética médica e a medicina preventiva tenham um lugar importante. A qualidade em saúde pode não ter um preço, mas apresenta custos sempre elevados; no entanto, como acto cultural assumido nas instituições de saúde, necessariamente está a contribuir para a melhoria dos cuidados e para a redução de custos a médio e longo prazo. As instituições de saúde devem promover a qualidade e segurança do doente, e prosseguir acções de certificação de forma gradual e devidamente sustentada. A necessidade de garantir uma relação médico-doente sustentada em valores éticos e na comunicação humana foi considerado como um elemento fulcral na humanização dos cuidados de saúde. A população angolana reflecte o duplo desafio epidemiológico entre as doenças transmissíveis e o surgimento de doenças não transmissíveis, pois o crescimento económico promoveu mudanças comportamentais na população urbana. Neste sentido, foram abordados temas de cirurgia e de medicina de grande actualidade para a praxis médica. A importância da componente de gestão de hospitalar e da economia da saúde como meio de racionalizar os custos sem prejuízo da garantia de acesso a todos dos cuidados de saúde (compreensividade) a todos os cidadãos (universalidade) sem barreiras económicas (gratuitidade no ponto de consumo). Em regra, as medidas mais eficazes incidem sobre a organização e o financiamento da oferta de cuidados. A defesa de princípios de rigor na gestão dos bens públicos, através de métodos de gestão que valorizam a eficiência, a produtividade e a redução dos desperdícios. A necessidade de adopção de medidas que melhorem, ainda mais, os factores de risco da mulher e da criança, tais como: intervenções multissectoriais e interdisciplinares, mapeamentos locais que identifiquem esses factores, melhoria
5 do acesso à informação e educação para a saúde, redução da desigualdade dos géneros. (xvi) Os acidentes de trânsito são a segunda causa de morte depois da malária, o que sugere uma atenção das unidades mais vocacionadas para o tratamento destas patologias, sem prejuízo das medidas a tomar a montante. Sua Excelência o Sr. Ministro da Saúde presidiu à cerimónia de Encerramento. Feito em Luanda aos 27 de Janeiro de 2015.