SISTEMA DE MONITORAMENTO E CONTROLE DO DESMATAMENTO NO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE POR MEIO DE IMAGENS DO SATÉLITE CBERS CRUZ, P. F. 1 ; BEZERRA, I. DE M. 2 RESUMO: O projeto desenvolvido teve como objetivo fornecer uma base de informações geográficas precisas sobre o desmatamento no estado do Rio Grande do Norte. Com a comparação de imagens do China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS) dos anos de 2004 e 2005, pretendeu-se estabelecer um modelo metodológico para o acompanhamento mais freqüente do desmatamento. Foram cruzados bancos de dados das autorizações de desmate expedidas pelo IBAMA-RN com os dados de áreas desmatadas obtidos na comparação das imagens. O resultado pretendido foi quantificar o total de supressão vegetal no período e qual o percentual de áreas desmatadas irregularmente em cada município. Com o resultado final desse trabalho vislumbra-se melhorar o combate ao crime ambiental, diminuindo o número de desmatamentos ilegais. PALAVRAS-CHAVES: Monitoramento ambiental, desmatamento, Sistema de Informações Geográficas (SIG). ABSTRACT: The developed project had as objective supplies a base of necessary geographic information on the deforestation in the state of Rio Grande do Norte. With the comparison of images of the China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS) of the years of 2004 and 2005, it intended to establish a methodological model for the most frequent attendance of the deforestation. Authorizations Databases were crossed of it sent deforests by the IBAMA-RN with the deforested areas data obtained in the comparison of the images. The intended result was to quantify the total of vegetable suppression in the period and which the percentile of deforested irregularly areas in each municipal district. With the final result of that work it glimpses to improve the combat to the environmental crime, reducing the number of illegal deforestations. KEY-WORDS: Monitor Environmental, deforestation, Geographic Information System (GIS). 1 Geógrafo (UFMG), mestrando em Tratamento da Informação Espacial (PUC-MG), analista ambiental do IBAMA. Rua Alexandrino de Alencar, 1399, Tirol, CEP 59.015-350 - Natal-RN. E-mail: pedro-ferraz.cruz@ibama.gov.br Fone/fax: (84) 3201-4022. 2 Geógrafo (UFRN), aluno da Especialização em Gestão Ambiental Urbana (UFRN) e Geografia-Licenciatura, estagiário do IBAMA.
INTRODUÇÃO: No estado do Rio Grande do Norte, assim como em grande parte do Brasil, os crimes ambientais de supressão vegetal e extração ilegal de madeira ultrapassam a capacidade estrutural de fiscalização. Dessa maneira, é imprescindível a implementação de mecanismos de monitoramento e controle ambiental que façam frente a tal situação. O desenvolvimento de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) para o monitoramento e controle do desmatamento no estado pretende aperfeiçoar o combate aos crimes ambientais, como a supressão vegetal irregular. Além de priorizar a preservação do meio-ambiente à luz de uma política nacional de ampliação do controle social sobre o uso do bem público, o sistema possibilitará que haja uma maior regularização e fiscalização das práticas de desmatamento. A comparação periódica de imagens de satélites permite não só a localização da devastação, mas, sobretudo, a quantificação e a direção do avanço das áreas desmatadas. Baseado no modelo metodológico do Programa DETER 3, o sistema ora desenvolvido utiliza imagens do China-Brazil Earth Resources Satellite (CBERS). A partir da planimetria, é feita a comparação da área desmatada com autorização do IBAMA e do desmatamento total ocorrido na região. Assim, é possível saber, com precisão, se as condições estabelecidas pelo órgão competente estão sendo cumpridas, permitindo-lhe classificar municípios através de um índice de desmatamento irregular e focalizar as ações da fiscalização. MATERIAL E MÉTODOS: No desenvolvimento do sistema, foi utilizado um computador com processador Pentium IV (2.4 Gigahertz), com 512 Megabytes de memória RAM e um disco de 80 Gigabytes de capacidade de armazenamento. O software usado foi o ArcGIS 8.3. Foi utilizado como base cartográfica o mapa dos limites municipais do estado do Rio Grande do Norte, elaborado pelo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e cartas topográficas do estado, em escala 1:100.000, elaboradas pelo o mesmo instituto. Os arquivos estão em formato shapefile (shp) e projetados no sistema de coordenadas geográficas, no Datum South American 1969. Foram usadas também imagens do satélite CBERS: um mosaico do Rio Grande do Norte em 2004, cedido pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e um conjunto de imagens de 2005, obtidas no site do instituto (www.cbers.inpe.br). Em ambos, a composição colorida Red-Green-Blue (RGB) foi composta pelas bandas (faixas espectrais) 3, 4 e 2, nesta seqüência. Abaixo, a tabela com as características de localização e data das 10 cenas selecionadas: 3 Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real
1º momento 2º momento CENAS Órbita Ponto (Ano-mês-dia) (Ano-mês-dia) 1 146 107 2005-03-16 2005-08-19 2 147 106 2004-07-22 2005-09-11 3 147 107 2004-07-22 2005-07-21 4 148 106 2004-08-14 2005-08-13 5 148 107 2004-08-14 2005-10-30 6 148 108 2004-08-14 2005-08-13 7 149 105 2004-09-06 2005-10-01 8 149 106 2004-09-06 2005-10-01 9 149 107 2004-09-06 2005-10-01 10 150 107 2004-08-08 2005-10-24 As etapas do trabalho estão descritas a seguir: 1) Construção e atualização de um banco de dados com todas as autorizações de desmates (AD) expedidas pelo o IBAMA de julho de 2003 a outubro de 2005, autorizações válidas no período de comparação das imagens; 2) Tratamento das imagens de 2005, incluindo a composição colorida nos canais RGB das bandas 3,4 e 2 do CBERS e o ajuste de contraste pela manipulação do histograma de cada imagem; 3) Georreferenciamento das imagens de 2005 com base no mosaico de 2004, previamente georreferenciado pelo INPE; 4) Comparação das imagens sobrepostas, detecção visual e vetorização manual dos polígonos que representam as áreas desmatadas; 5) Cálculo das áreas de todos os polígonos vetorizados para obtenção da área total desmatada no estado do Rio Grande do Norte. 6) Cruzamento do shapefile de áreas desmatadas com o shapefile dos municípios do estado para obtenção da área desmatada em cada município. 7) Cruzamento dos dados de área desmatada em cada município com os dados de área autorizada para desmatamento pelo IBAMA. Dessa forma, obtem-se a porcentagem da área desmatada irregularmente em cada município.
8) Confecção dos mapas estaduais em formato A0, na escala 1:350.000. O primeiro mostra as áreas desmatadas e o segundo classifica os municípios de acordo com o índice de desmatamento irregular, obtido na etapa anterior. 9) Confecção dos mapas específicos em formato A3, na escala 1:50.000, mostrando o detalhe da mesma área nas duas datas, 2004 e 2005. Estes mapas serão feitos somente para as áreas com supressão vegetal irregular e tem como objetivo orientar a ação do setor de fiscalização. RESULTADOS E DISCUSSÕES: O resultado preliminar desse trabalho mostra que 29.893,4 hectares ou 298,9 quilômetros quadrados foram autorizados para desmate pelo IBAMA do RN no período. Deste total, autorizou-se 4.302,3 hectares em 2003, a partir de 22 de julho; 12.707,8 hectares no ano de 2004; e 12.883,3 hectares em 2005, até 24 de outubro, mantendo uma estimativa média anual de cerca de doze mil hectares autorizados pelo órgão. Na comparação das áreas desmatadas e das áreas autorizadas, optou-se por suprimir as autorizações de desmate do ano de 2003, visto que, geralmente, quando é solicitada uma AD, o requerente efetua o desmate em menos de 3 meses após receber a concessão, portanto, antes do período retratado pelas imagens de 2004. Dessa forma, o total autorizado a supressão é de 25.940,70 hectares, com um rendimento lenhoso de aproximadamente 1.012.571,8 estéreos de lenha. Entretanto, segundo dados do Programa Nações Unidas (PNUD), a área de caatinga desmatada anualmente, apenas na região Seridó, chega a 4.274 hectares, um número muito alto se considerarmos que a região ocupa menos de 15% do território potiguar. Um dado preliminar importante refere-se à região oeste do estado, onde já mapeou-se 3.358 hectares de desmatamentos de 2004 a 2005, em municípios que ocupam 8.371 quilômetros quadrados, ou 15% da área do estado. Um dos pontos mais favoráveis ao desenvolvimento do SIG foi a reduzida área ocupada pelo estado do Rio Grande do Norte: 53.306 quilômetros quadrados, onde apenas 10 cenas do CBERS recobrem seus 167 municípios. Dessa maneira, é possível operacionalizar o monitoramento orbital com um número reduzido de técnicos. Outro ponto positivo é o fornecimento gratuito de imagens atualizadas a cada 26 dias, acessíveis para todo brasileiro no site do INPE. Não havendo cobertura de nuvens, o acompanhamento bimestral seria ideal para que esta proposta metodológica de trabalho se efetivasse. A resolução espacial das imagens CBERS, 20 X 20m, permite identificar, com segurança, áreas acima de 1 hectare, sendo mais um ponto favorável para a escala de trabalho adotada. Como aspecto desfavorável, pode ser citada a dificuldade de percepção visual do chamado corte seletivo da vegetação, caracterizado pela retirada de somente algumas espécies arbóreas, mantendo, portanto, parte da cobertura vegetal, diferentemente do corte raso, que é facilmente percebido na
imagem. Outro problema encontrado é a grande cobertura de nuvens que algumas imagens apresentam. Mesmo que selecionadas as melhores, a presença de nuvens no litoral sul do estado encobre partes significativas das imagens desta região, em qualquer época do ano. CONCLUSÕES: Ao que tudo indica, o valor total das áreas desmatadas no estado pode ultrapassar os 30.000 hectares por ano. A possível contribuição deste estudo é identificar, exatamente, onde estão acontecendo desmatamentos irregulares, para assim, orientar o combate e erradicação dessa ilegalidade. Para um controle mais preciso do desmatamento no estado do Rio Grande do Norte, a inserção dos polígonos georreferenciados das áreas autorizada para desmate seria fundamental, assim é possível verificar se o local e o tamanho da área estão corretos. O método de classificação supervisionada de imagem poderia facilitar a identificação de áreas com solo exposto que no período anterior apareceram como vegetação de caatinga ou outro bioma presente no estado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CARVALHO, A.J.E.; ZÁKIA, M. J.B. Avaliação do estoque madeireiro: etapa final inventário Florestal do Estado do Rio Grande do Norte. Natal: IBAMA, 1994. 84p. (Projeto PNUD/ FAO/ IBAMA/ GOVERNO DO RIO GRANDE DO NORTE; Documento de Campo, nº 13). CROSTA, A. P. Processamento digital de imagens de sensoriamento remoto. Campinas: IG/UNICAMP, 1992. 170p. PNUD; FAO; IBAMA. Diagnóstico florestal do Rio Grande do Norte. Natal: [s.n.], 1993. 45p. SHIMABUKURO, Yosio E.; DUARTE, Valdete; MOREIRA, Maurício Alves. Et al. Detecção de áreas desflorestadas em tempo real: conceitos básicos, desenvolvimento, e aplicação do projeto DETER. São José dos Campos: INPE, 2005. 63 p. (INPE-12288-RPE/796)