USO DE AGROTÓXICO NO PERÍMETRO IRRIGADO VÁRZEAS DE SOUSA (PIVAS) - PB



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Raisa Maria de Sousa Regala UFPB raisa.mar@hotmail.com Emilia de Rodat Fernandes Moreira UFPB erodat@hotmail.com USO DE AGROTÓXICO NO PERÍMETRO IRRIGADO VÁRZEAS DE SOUSA (PIVAS) - PB INTRODUÇÃO Este trabalho é produto de um projeto maior desenvolvido no âmbito do GETEC/Departamento de Geociências/UFPB que trata dos impactos das políticas públicas de irrigação sobre o meio ambiente e a população. Nele focamos o uso de agrotóxico por uma empresa agrícola num projeto de irrigação sobre uma área de assentamento situada no projeto. Trata-se do Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa (PIVAS), criado no âmbito do Programa de Desenvolvimento de Recursos Hídricos para o Semi-árido do Ministério do Meio Ambiente e que recebeu na Paraíba o nome de Plano das Águas no governo de José Maranhão. Ele deu inicio a interligações das águas na PB entre 1997-2002 tendo sido responsável pela implementação de 12 projetos hidroagrícolas dentres os quais se destaca o projeto mencionado, iniciado com a construção de um canal denominado Canal da Redenção que transfere água dos reservatórios Coremas-Mãe d Água para atender a demanda da agricultura irrigada do projeto das Várzeas de Sousa (PARAÍBA, 2002). Durante o processo de criação do PIVAS, camponeses sem terra ocuparam áreas do projeto na luta por terra e água, o que deu origem ao Projeto de Assentamento Nova Vida I, com 141 famílias assentadas, numa área de 1007,0 hectares.

O problema que se coloca é que uma empresa, pertencente ao Grupo Santana do Rio Grande do Norte, através de uma parceria com a Bayer, empresa alemã, que está atuando na atividade por meio de filial do Mato Grosso possui mais de 1000 hectares de terra dentro do PIVAS, sendo que 475 hectares vem sendo plantado com algodão. Esta empresa vem sendo acusada utilizar agrotóxicos de forma indiscriminada sobre suas plantações contaminando as águas, o solo, a cvegetação e a população do PA instalado vizinho ao lote empresarial. Interessa a esse estudo analisar de que forma se dá a distribuição e a organização dos lotes e até que ponto a utilização maciça de agrotóxico pela Santana vem comprometendo a produção e a saúde dos assentados. Para tanto fez-se necessário a realização de ampla pesquisa bibliográfica, pesquisa em revistas, jornais e na internet, levantamento de dados secundários, confecção de mapas, e trabalhos de campo. A pesquisa de campo foi realizada no Assentamento e no lote da Santana, utilizando como instrumentos de pesquisa o questionário aplicado aos assentados e a entrevista semiestruturada realizada tanto com os assentados como com o gerente administrador da Santana Sementes. O trabalho está estruturado em três itens além dessa introdução e das considerações finais. LOCALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DO PIVAS O Pivas esta localizado entre os municípios de Sousa e Aparecida, na região da Depressão do Piranhas, Alto Sertão Paraibano.

Figura 1: Mapa de Localização A construção do Pivas teve início, como dito anteriormente, no governo de José Maranhão começando pelo Canal da Redenção que foi construído com o financiamento do Governo Estadual no Chamado Plano das Águas e foi concluído em 1998. Ele possui uma extensão de 37 km, uma vazão de 4.000 l/s e alcança os municípios de Coremas, São José da Lagoa Tapada e Aparecida (LIMA, 2006). Seu maior objetivo é levar água para atender a demanda da agricultura irrigada do Projeto das Várzeas de Sousa. Criado durante a primeira gestão estadual do governador José Maranhão, em 2002, o Projeto foi abandonado pelo sucessor do mesmo o governador Cássio Cunha Lima no mesmo ano de sua inauguração. Após seis anos, com o retorno de José Maranhão ao governo do estado o projeto foi retomado. No Pivas foram criados lotes empresariais correspondendo a 2.336,3 ha distribuídos entre 19 empresas, 178 lotes numa área de 992,5 ha distribuídos com pequenos produtores, 3 lotes destinados à pesquisa/experimentação com um total de 55,0 hectares. Após uma intensa luta por terra, uma área de 1007,3 hectares foi destinada à instalação de um projeto de assentamento onde vivem 141 famílias (Fig. 2).

No total o Projeto conta com 341 lotes, com 4.391 ha de áreas irrigáveis e um total de 1473,8 ha de área de preservação, além das áreas do centro gerencial, áreas de reservatórios de compensação e distribuição, de bombeamento e a área de infraestrutura de irrigação de uso comum com o canal adutor totalizando o Projeto, uma área de 6.335,74 ha. Figura 2: Mapa de divisão do Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa PIVAS. Fonte: Projetec, 2014. A forma de distribuição das terras no PIVAS reproduz a concentração da propriedade que caracteriza historicamente a estrutura fundiária do Nordeste e do Brasil. Neste caso, fica evidente o papel do Estado, no fortalecimento da arcaica estrutura de posse da terra na região, através das políticas públicas de irrigação. Nesse sentido entende-se a eclosão de conflitos sociais de luta pela terra no entorno do PIVAS enquanto reflexo da luta camponesa contra o monopólio da terra.

A luta camponesa pelo acesso à água e à terra no Pivas durou cerca de cinco anos. Nesse período, mais de 100 famílias de trabalhadores sem terra apoiados pela CPT Sertão, levantaram dois acampamentos na área: o Acampamento Nova Vida I e o Acampamento Renascer. Em 2007, um acordo com o Governo do estado possibilitou a criação de 2 Assentamentos, Nova Vida I e Nova Vida II, em uma área de 998,75 ha no setor Norte do Projeto, onde foram assentadas as famílias acampadas. As famílias se organizaram num único Assentamento por elas denominado Vida Nova I. São essas famílias que vem sofrendo os efeitos do sistema de produção implantado dentro da perspectiva da modernização agrícola pela empresa Santana Sementes, do Grupo Santana em virtude do uso indiscriminado de agrotóxicos. A MODERNIZAÇÃO AGRÍCOLA E O USO DE AGROTÓXICO A modernização técnica da agricultura implantada pelos governos militares no Brasil a partir da segunda metade dos anos de 1960 preocupou-se substancialmente em expandir e intensificar formas de produção e relações de trabalho tipicamente capitalistas no campo, sem preocupar-se com seus efeitos perversos sobre o ambiente e a população. O foco principal era aumentar a produtividade e consequentemente a lucratividade da produção agropecuária não importando os efeitos do processo. Para tanto, expande-se o uso de agrotóxicos, maquinários e processos produtivos poupadores de mão-de-obra. O resultado desta política de modernização agrícola foi o avanço do agronegócio que não só concentra a terra como exige cada vez mais elevadas quantidades de produtos químicos para garantir a produção em escala industrial. Como consequência

desse processo tem-se que enquanto em âmbito mundial o mercado de agrotóxicos 1 cresceu 93%, no Brasil ele chegou a 190% (CARNEIRO, 2012). Isto transforma o país no maior consumidor de agrotóxicos do planeta, superando os Estados Unidos. Em 2009 foram aplicados no país mais um bilhão de litros de agrotóxicos o que equivale a um consumo médio de 5,2 Kg de agrotóxico por habitantes (LONDRES 2011). Segundo Carneiro et al, 2012 (apud AUGUSTO et al, 2012, p. 17) dos 50 agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia o que torna o Brasil, o maior consumidor de agrotóxicos já banidos no exterior. Para atingir o objetivo que é o controle de pragas ou doenças as grandes empresas agrícolas fazem várias pulverizações, porém só uma parte do produto pulverizado atinge o alvo, outra parte atinge as plantas e o solo e 24,8% vai para o ar e para as áreas vizinhas (CHAIM, 2003). Paralelo a este crescimento verifica-se um aumento nos números de intoxicações causados pelo uso, direto ou indireto, de agrotóxico. Na verdade, o uso intensivo de agrotóxicos tem sido responsável por milhares de mortes na última década (1900 casos de morte por intoxicação no período de 1999 a 2009) e dezenas de milhares de intoxicações no mesmo período (62 mil intoxicações notificadas) segundo o SINITOX. Os agrotóxicos são tidos como fator de desenvolvimento e de solução para a agricultura. Mas se observado por outro viés, leles não passam de vilões, um problema grave para a saúde pública e para o meio ambiente. Como reação à expansão do uso de agrotóxicos tem se desenvolvido no Brasil - sistemas alternativos de produção como a produção orgânica e a produção agroecológica. 1 É definido como Agrotóxico, segundo a Lei Federal n 7.802 de 11/7/1989 no art. 2 : a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento;

No Pivas além da desigual distribuição das terras, verifica-se também a utilização de sistemas de produção agrícola conflitantes até mesmo entre os lotes empresariais. Enquanto a empresa Mocó Agropecuária realiza todo processo produtivo pautado na agricultura orgânica voltada, particularmente para a produção de arroz, os 178 pequenos agricultores assentados nos lotes produzem frutas e hortaliças utilizando sistema misto de produção e os assentados do PA Vida Nova I utilizam o sistema agroecológico ou o tradicional sem uso de agrotóxicos, a emprsa Santana Sementes utiliza o sistema dito moderno de produção de algodão, girassol e milho, com uso intensivo de agrotóxicos. OS IMPACTOS DO USO DE AGROTÓXICO PELA SANTANA SEMENTES SOBRE A POPULAÇÃO E O AMBIENTE: O CASO DO PA VIDA NOVA I O uso de agrotóxico tem consequências graves, tanto para os seres humanos, como para o meio ambiente. Segundo Carneiro et al (2012)- Dossiê da ABRASCO, para os seres humanos são inúmeros os problemas causados pelo uso de agrotóxicos. Eles variam da intoxicação aguda, aberrações cromossômicas, alteração na produção de hormônios, diminuição na produção de anticorpos tumorais, Mortes neonatais e malformações congênitas, câncer etc. (Quadro 1). Quadro 1 - Problemas para a saúde acarretados pelo uso de agrotóxicos Agrotóxico Problemas Abamectina Toxicidade aguda e suspeita de toxicidade reprodutiva do IA e de seus metabólitos Acefato Neurotoxicidade, suspeita de carcinogenicidade e de toxicidade reprodutiva e a necessidade de revisar a Ingestão Diária Aceitável. Carbendazim Aberrações cromossômicas, desregulação endócrina do sistema reprodutivo masculino de ratos Carbofurano Alta toxicidade aguda, suspeita de desregulação endócrina Cihexatina Alta toxicidade aguda, suspeita de carcinogenicidade para seres humanos, toxicidade reprodutiva e neurotoxicidade Clorotanolil Endossulfam carcinógeno não-genotóxico, embriotoxicidade em camundongos Alta toxicidade aguda, suspeita de desregulação endócrina e toxicidade reprodutiva. Alta toxicidade aguda, suspeita de desregulação endócrina e toxicidade reprodutiva. Efeitos genotóxicos, pois induzem quebras na fita de DNA, troca entre cromátides irmãs e aumento na freqüência de micronúcleos. Pode afetar o sistema endócrino e o metabolismo orgânico, através de sua atividade nas

os Forato Fosmete Glifosato glândulas hipófise, tireóide, supra-renais, mamas, ovários e testículos, provocando efeitos no metabolismo do organismo, alterando a produção de hormônios, entre outros, do crescimento (GH), prolactina (PRL), adrenocorticotrófico (ACTH), estimulante da tireóide (TSH), folículo estimulante (FSH), luteinizante (LH), triiodotironina (T3), tiroxina (T4), hormônios sexuais. Pode também causa atrofia testicular, hiperplasia da paratireóide, aumento de peso da glândula pituitária e do útero (redução da fertilidade feminina por endometriose, redução da fertilidade masculina com prejuízo da produção de espermatozóides, a qualidade do sêmen e a motilidade dos espermatozóides em roedores. Imunossupressor em baixas doses, causando a diminuição na produção de anticorpos tumorais, na resposta de imunidade celular: diminuição da função dos macrófagos e decréscimo de níveis séricos de IgG e indução da morte de células T natural killer, as quais atuam na supressão tumoral, de forma que o endossulfam agiria no desenvolvimento de tumores. Alta toxicidade aguda e neurotoxicidade imunosupressor em camundongos em doses correspondentes à exposição ocupacional humana O forato provoca aberrações cromossômicas in vivo em células da medula óssea de ratos, como troca entre cromátides, quebra e deleção, clastogenicidade, aumento de recombinação (SCE) em células de linfócitos humanas e indução de micronúcleos Neurotoxicidade Casos de intoxicação, solicitação de revisão da Ingesta Diária Aceitável (IDA) por parte de empresa registrante, necessidade de controle de impurezas presentes no produto técnico e possíveis efeit. Lactofem Carcinogênico para humanos Metamidofós Alta toxicidade aguda e neurotoxicidade. pronunciado efeito imunosupressor, diminui ainda a proliferação dos linfócitos T do timo e a capacidade de formar anticorpos Organofosforad Paraquate Parationa Metílica Piretróide Procloraz Tebuconazol Neurotóxico, desregulador do eixo hormonal da tireóide, alterações histopatológicas de testículos diminuição da contagem de espermatozóides e da fertilidade, depressão, inibidor irreversível da acetilcolinesterase Alta toxicidade aguda e toxicidade Neurotoxicidade, suspeita de desregulação endócrina, mutagenicidade e carcinogenicidade. Mutação nos testes de Ames e aberrações cromossômicas e quebras de DNA em amostras biológicas de seres humanos expostos. Desregulador endócrino, uma vez que induz a hiperglicemia e hipoinsulinemia em ratos e aumento da atividade de aromatase, enzima responsável pela conversão dos hormônios andrógenos em estrógenos. Diminuição da proliferação de linfócitos T, inibição da quimiotaxia de neutrófilos humanos diminuição de IL-2 e diminuição da produção de anticorpos Mortes neonatais e malformações congênitas, potencial mutagênico e genotóxico, aberrações cromossômicas, indução de micronúcleos, alterações de espermatozóides, mutações letais dominantes, trocas de cromátides irmãs, distúrbios neurocomportamentais e hormonais Desregulador endócrino, diminuindo a produção e síntese de hormônios corticosteróides e sexuais masculinos e femininos e prejudica diversas funções fisiológicas, como a fertilidade masculina, o metabolismo de nutrientes e a regulação do sistema imunológico, malformações fetais em ratos Provoca alteração na função reprodutiva de ratos, alterando outros

parâmetros como a síntese de hormônios e causando a feminilização dos machos expostos durante a gestação e lactação e o desenvolvimento neuronal Tiram Estudos demonstram mutagenicidade, toxicidade reprodutiva e suspeita de desregulação endócrina Triclorfom Neurotoxicidade, potencial carcinogênico e toxicidade reprodutiva. Tem efeitos sobre a reprodução e provoca a não disjunção cromossômica em diferentes tipos de células. considerado um desregulador endócrino pela agência federal de meio-ambiente da Alemanha pois provoca vários efeitos no sistema reprodutivo, como diminuição do número de espermatozóides, do volume de líquido seminal, da motilidade e viabilidade de espermatozóides e de perdas embrionárias, anormalidades fetais, diminuição do número de fetos vivos, taxas de gravidez, ausência de folículos primários alterações estruturais na tireóide e adrenais em ratos. Elevada capacidade de causar efeitos neurotóxicos como a síndrome colinérgica, a polineuropatia retardada, a esterase neuropática e a síndrome intermediária em seres humanos. Fonte: CARNEIRO et al. Dossiê da ABRASCO, 2012. Alguns desses problemas já vem sendo sinalizados pelos assentados do PA Nova Vida I como consequência das constantes pulverizações com agrotóxicos realizada pela Santana Sementtes. São frequentes os casos de intoxicação de assentados decorrente do uso de agrotóxico pela Empresa Santana. Eles são acometidos justo no momento de pulverização, como relatado pelo Entrevistado 1. O mais grave é o fato de que quando chegam ao hospital de Sousa eles não recebem o laudo de que foram intoxicados, e muito menos são feitos exames para confirmar a intoxicação. Mais da metade dos assentados entrevistados sofrem de dores de cabeça, náuseas, boca seca, olhos ardendo e muitos deles relataram que o ar fica pesado, nos dias de pulverização, e afirmam esses serem os sintomas mais leves. Um outro relato do Entrevistado 2, não só mostra o problema dos agrotóxicos como também o papel da segurança. Ele afirmou que em um dos dias que ocorreu a pulverização sua esposa se sentiu muito mal e ele foi até a estrada pedir carona para poderem chegar ao hospital de Sousa. Neste momento a polícia, chegou, não para assegurar os direitos do cidadão exposto a pulverização mas para garantir que esta seja realizada pela empresa. Quando eles tão pruverizando ai, fica tanto o carro que tem o nome da empresa como o da polícia, vindo e descendo, o dia e a noite. Enquanto eles tiverem pruverizando, eles tão subindo e

descendo. Dando apoio a ele. Se eles vê a gente debaixo daquele pé de algaroba alí, conversando, eles pára. Já chegou a parar a polícia... Parou, desceu e perguntou, vocês tão fazendo o que ai? Ai a gente disse, é proibido a gente tá debaixo. [...] a gente tava conversando com raiva da catinga do veneno. (Entrevistado 1, Assentamento Vida Nova I, 19/05/2014). Os problemas ambientais do uso de agrotóxico são os impactos sobre o solo, a água e os animais. Um dos entrevistados afirma que enquanto eram acampados eles sempre deixavam os animais entre a estrada e a Empresa Santana, pois neste espaço sempre fica água acumulada. Um dia um burro amanheceu morto e uma burra não tomava mais água, com isso pode-se perceber que o agrotóxico está contaminando a água e os animais. Em dias de pulverização os assentados também relatam que várias galinhas, pássaros, insetos amanhecem mortos. Outro problema apontado pelos assentados é o da água que fica empoçada ao lado do lote da Santana. Quando ela alcança a certo nível escoa para o outro lado da BR-230 e desce para dentro do Assentamento passando por dentro de vários lotes, contaminando o solo e a água, já que o destino final é o rio do Peixe ampliando muito mais os efeitos do uso do agrotóxico pela empresa. Caso grave, já que muito dos assentados querem o sistema de produção agroecológico e se encontram frente a um impasse sem solução até o momento, apesar das denúncias realizadas junto aos órgãos competentes, ao Incra e até mesmo aos representantes do legislativo estadual. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES Com base no exposto constata-se que o agronegócio embora contribua com a balança comercial brasileira através da exportação da sua produção, ele utiliza sistemas produtivos danosos a vida humana, vegetal e animal sem preocupação alguma com as consequências. Seu objetivo maior é o lucro e para tanto ele fecha os olhos para qualquer efeito perverso do modelo adotado nos seus processos produtivos. Na grande maioria das vezes, como no caso da Santana Sementes, o Estado, através do seu instrumento repressor (polícia) alia-se à empresa descumprindo com o seu papel de proteção do cidadão. Assim sendo entende-se que só a organização dos trabalhadores

com o apoio dos movimentos sociais e da sociedade civil em geral poderá pleitear a ação da justiça de forma que o território de vida, também conhecido como território de esperança (MOREIRA, 2006), não se transforme em território de morte e desesperança. BIBLIOGRAFIA Augusto, L G S.; Carneiro, F F; Pignati, W; Rigotto, R M et al. Dossiê ABRASCO Um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde.abrasco, Rio de Janeiro, junho de 2012. 2ª Parte. CARNEIRO F.F; PIGNATI, W; RIGOTTO, R.M et al. Dossiê ABRASCO:um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2012. 1ª Parte. CHAIM, A.Tecnologia de aplicação de agrotóxicos: fatores que afetam a eficiência e o impacto ambiental. In: Silva CMMS, Fay EF.Agrotóxicos & Ambiente. Brasília: Embrapa; 2004. p. 289-317. LONDRES, F. Agrotóxicos no Brasil:um guia para a ação e defesa da vida. Rio de Janeiro: AS-PTA. Assessoria e serviços a projetos em agricultura alternativa, 2010. MOREIRA, Emilia. Territórios de Esperança. João Pessoa: Projeto apresentado ao CNPq, 2006. MATA, João Siqueira da. e FERREIRA, Rafael Lopes. Agrotóxico no Brasil USO E Impactos ao meio ambiente e a saúde pública. EcoDebate Cidadania & Meio Ambiente. Agosto de 2013. Disponível em: http://www.ecodebate.com.br/2013/08/02/agrotoxico-no-brasil-uso-e-impactos-aomeio-ambiente-e-a-saude-publica-por-joao-siqueira-da-mata-e-rafael-lopes-ferreira/. Acesso em 24 de junho de 2014. PARAÍBA, Secretaria Extraordinária de Meio Ambiente e Recursos Hídricos SEMARH Plano das Águas: Estado d arte, 2002.