Parede Diafragma em Solo e Rocha com Contrafortes e Uso de Hidrofresa Eng. Luiz Callandrelli Neto Gerente Técnico Costa Fortuna Fundações e Construções Ltda., São Paulo, Brasil, luiz@costafortuna.com.br RESUMO: Em Setembro de 2009 chega ao Brasil o primeiro equipamento de escavação de paredes diafragma em solos de alta resistência e rochas, a Hidrofresa. Em 2010 iniciou a primeira obra no Brasil em parede diafragma estrutural embutida em rocha sedimentar atingindo 51,0ml de profundidade em aprox. 30.000m² de contenções e fundações em estacas barrete. Neste trabalho será apresentada a metodologia construtiva utilizada na construção das contenções de quatro viradores de vagões e galeria de acesso na região norte do Brasil. Contudo serão apresentados dados pertinentes da evolução de sua execução como dados de precisão e verticalidade alcançada, produtividade, problemáticas executivas, resoluções e lições aprendidas neste primeiro empreendimento que utilizou a técnica em território nacional. Com concepções de projeto inovadoras, vãos livres de 24,00ml de extensão este empreendimento, sem dúvida se torna um marco de uma nova era para as grandes escavações no cenário brasileiro de fundações. Palavras-Chave: Hidrofresa, Parede diafragma em rocha, Controle e registro eletrônico de perfurações. 1 INTRODUÇÃO Em grandes centros urbanos e na área industrial, as dificuldades construtivas para obras de porte crescente são evidenciadas e majoradas. Os projetos concebem artifícios executivos limitados ao que há de disponível em seu cenário regional. Sendo assim, às vezes, são idealizadas e utilizadas técnicas que nem sempre atendem com plena satisfação todos os envolvidos em cada empreendimento. A Hidrofresa é uma ferramenta agora realista que já está em plena utilização em projetos pelo Brasil pode atender à demanda evolutiva dos serviços de perfurações profundas com a satisfação pretendida. O objetivo principal deste trabalho é a descrição e a aplicação desta nova técnica executiva para estacas barrete e paredes diafragma demonstrando da forma mais sucinta e clara possível a metodologia executiva desta tecnologia bem como a apresentação do primeiro empreendimento concluído em parede diafragma estrutural e estacas tipo barrete no Brasil. O objetivo secundário é já abrir uma linha de discussão quanto a parâmetros e conceitos normativos hoje empregados no Brasil em relação aos possíveis avanços que se possa obter com esta nova tecnologia. 2 DESCRITIVO TÉCNICO X CONCEITUAL DE PAREDE DIAFRAGMA E ESTACAS BARRETE 2.1 Situação pré hidrofresa NBR 122/2010 As paredes diafragma são elementos estruturais concebidos para contenção de grandes escavações que auferem empuxos de terra, água e sobrecargas de utilização nestas estruturas. São construídas em segmentos tangentes de forma a caracterizar um muro contínuo de excelente desempenho estrutural a longo prazo. Paredes diafragma convencionais em concreto armado moldado in loco são projetadas com limitação de fck de projeto em 20 MPa e fatores de minoração de resistência altos, 1,9. As estacas barrete são elementos ou lamelas isoladas de parede diafragma projetadas para receber grandes cargas axiais, horizontais e momentos no seu topo. Assim como para os estacões, são dimensionadas para absorver 80% da carga em seu atrito lateral, impostos pelo seu processo executivo convencional.
2.2 Situação hidrofresa - desenvolvimento A técnica executiva da hidrofresa, por suas avançadas e conseqüentemente mais confiáveis técnicas executivas na fabricação destes produtos, como a introdução de juntas secantes, uso de lama permanentemente reciclada e limpa e alta precisão nas perfurações, aspiração ou limpeza eficaz da ponta do furo, entre outros benefícios, poderá quem sabe, criar avanços importantes para tais premissas conceituais de projeto, tornando-as mais otimistas e arrojadas. Abri-se, para tanto, uma linha de discussão entre projetistas e executores sobre as melhorias qualitativas e as conseqüentes resultados econômicos que podem ser atingidos com esta técnica. O avanço qualitativo no uso desta ferramenta é realista e palpável, assim este será amplamente discutido neste trabalho inclusive com a apresentação de um estudo de caso. 3 EQUIPAMENTOS QUE COMPÕEM UMA FRENTE DE ESCAVAÇÃO COM HIDROFRESA Uma frente de serviço de parede diafragma ou estacas barrete com uso de hidrofresa concebe os mesmos ferramentais já utilizados nas paredes diafragma convencionais agregando ainda novos e cruciais componentes de reforço. 3.1 Hidrofresa O equipamento consiste em uma estrutura de aço rígido, dois motores hidráulicos instalados na parte inferior da estrutura que giram alinhados no sentido horizontal e em direções opostas e uma bomba hidráulica de alta capacidade de sucção ( 400m³/h). A ferramenta é montada em guindaste sobre esteiras de grande porte e com propulsor movido a diesel de potência adequada. Pode também ser acionada por unidade hidráulica instalada na parte anterior do guindaste aferindo maior versatilidade em sua utilização. Os motores hidráulicos acionam as ferramentas de corte rotativas da extremidade inferior da ferramenta com auxílio do movimento de correntes à alta velocidade. As ferramentas de corte, bem como as correntes, são dotadas de extremidades de corte (bits ou picos de tungstênio e/ou vídea) capazes de desagregar e escarificar materiais de alta resistência, terrosos ou rochosos. Estas extremidades de corte podem ser substituídas de acordo com o material a ser escavado e para as demandas de projeto. Solo e rocha são triturados pelas rodas de corte e correntes, ficam em suspensão no fluido estabilizante da perfuração e são imediatamente e continuamente direcionados até a abertura central do equipamento onde são aspirados à altíssima a velocidade pela bomba hidráulica. Ao contrário das metodologias convencionais esta ferramenta só é retirada do furo quando é atingida a cota de ponta estipulada em projeto. Isto devido ao seu princípio de funcionamento, conhecido como circulação reversa. Para tanto o maquinário convencional, clam shell, é utilizado para realizar a perfuração introdutória prévia a escavação via hidrofresa. Esta perfuração é necessária, pois propicia a condição de submersão da ferramenta principal para o funcionamento da circulação reversa. Os detritos da escavação em suspensão ao fluido estabilizante são transportados à central de tratamento de fluidos. Nesta etapa, os detritos são separados do fluido estabilizante, que por sua vez, retorna ao furo reciclado e limpo via conjunto de bombas e se inicia um novo ciclo. Figura 1. Esquemático da Circulação da Lama. Figura 2. Detalhes da composição da ferramenta e descritivo.
A estação de tratamento utilizada na técnica da Hidrofresa é similar à utilizada em tratamentos de rejeitos e desassoreamentos de canais e rios. Conta com diversas etapas de separação dos detritos em suspensão no fluido estabilizante até torná-lo totalmente reciclado e apto ao uso. Primeiramente o produto da escavação lançado numa caixa de amortecimento cinético e cai na peneira de malha grossa com inclinação negativa ao fluxo e vibratória de separação de material de granulometria grossa como pedregulhos de até 5cm de diâmetro a pedriscos (brita 0). Figuras 10 e 11. Material rochoso separado do fluido pela primeira fase do processo de limpeza. Figuras 3, 4, 5 e. Conjuntos de clam shell mecânico de alta precisão, hidráulico compacto, hidrofresa acoplada à guindaste de alta potência e vista frontal do equipamento principal. 3.3 Central de Tratamento de Fluidos A central de tratamento de fluidos é dotada de desarenador de alta capacidade de vazão. Vazão esta compatível com a bomba da hidrofresa para se obtenha a circulação contínua dos fluidos. Caixas de reservatório de fluidos dimensionadas para atender a demanda das escavações da obra com sobre-reserva de 50% dos volumes teóricos dos furos em escavação, bombas, pulmões e tubulações semi-rígidas para circulação de fluido também compões esta central. O material passante nesta peneira (fluido estabilizante + solo (areias, siltes e argilas)) é transferido ao primeiro tanque de decantação por gravidade e localizado logo abaixo da peneira grossa. Com auxílio de bomba de circulação interna o material inserido neste tanque, é lançado diretamente no ciclone desarenador principal da estação de tratamento. Pelo auxílio da força centrífuga, neste ciclone as partículas de areia mais pesadas (areias grossas e médias) são separados do fluido estabilizante que por sua vez é transferido a um novo tanque de decantação. O rejeito deste processo é despejado numa segunda trama de peneiras vibratórias e é descartado de maneira análoga à anterior. O fluido estabilizante com areia fina, siltes e argilas que está inserido no segundo tanque de decantação, é novamente succionado e encaminhado ao grupo de ciclones secundários. Nesta etapa toda a areia remanescente, os siltes e as argilas incorporados ao fluido são separados e descartados. Figuras 7, 8 e 9. Vistas de uma central de tratamento para três frentes de serviço concomitantes
Mureta de Concreto Isolamento do Material de Descarte i = 45 Plataforma de Descarte 1 i = 45 Plataforma de Descarte 2 i = 45 Plataforma de Descarte 3 Tubulação de Comunicação Válvula Abre x Fecha - Flexibilidade de Uso Retorno - Fresas x Desarenadores Agitador Agitador A gitador Alimentação Lama Reciclada Ponto de Subida da Tubulação A gitador Agitador Agitador Bomba Alimentação 1 Bomba Alimentação 2 Bomba Alimentação 3 Bomba Alimentação 4 Bomba Alimentação 5 Tubulação para Fechamento de Micro-Circulação (segurança) Válvula Abre x Fecha - Flexibilidade de Uso Alimentação - Fresas x Desarenadores Válvula de Separação de Fluxos Fresas 1 e 2 Válvula Abre x Fecha - Flexibilidade de Uso Fresas x Desarenadores Tubulação de Micro-Circulação (segurança) Tubulação de Retorno FD30 Alimentação Fresa FD 30 Alimentação Fresa FD 0 Tubulação de Retorno FD0 Tubulação de Retorno Concretagens 3.4 Instrumentação e Controle Eletrônico Em complemento ao ferramental descrito, a hidrofresa conta com completo sistema de instrumentação informativa de bordo. Sensores eletrônicos incorporados ao corpo da ferramenta registram todas as informações pertinentes à escavação que está sendo realizada como: 3.4.1 Torque do Motor e Velocidade de Avanço Figuras 12, 13, 14 e 15. Ciclone desarenador primário e material médio de descarte, conjunto de ciclones secundários e material de descarte fino. O fluido estabilizante remanescente, totalmente reciclado e livre de impurezas é bombeado novamente à perfuração que está sendo realizada num ciclo contínuo. O material de descarte, tanto solo quanto rocha, é rejeitado pela central de tratamento através das rampas de descarte. Este material pode ser descartado tanto ao chão para posterior retirada por retro-escavadeiras pequenas e caminhões basculantes quanto diretamente sobre caminhões basculantes. Com este registro é possível identificar, com base em sondagens existentes, a natureza e dureza do material atravessado em tempo real. Com isso a paralisação ou continuidade das perfurações podem ser re-avaliadas à medida que as lamelas ou estacas vão sendo executadas. 3.4.2 Registro e Controle de Verticalidade É utilizado o sistema TARALOG da marca Jean Lutz, ferramenta esta de extrema valia em paredes diafragma e estaqueamentos. Com esta tecnologia é possível avaliar, controlar e corrigir possíveis desaprumos ou perdas de verticalidade da escavação em tempo real. Reservatório Água 1 Reservatório Água 2 Reservatório 1 de Hidratação de Lama Nova Reservatório 2 de Hidratação de Lama Nova Área Coberta para Estoque de Bentonita em Sacos Alimentação Água Potável Misturador de Lama cap. 2500 l Compressor de Ar Cap. 750pcm à 8 Bar Concreto Magro Esp. 15cm Reservatório Lama 1 Reservatório Lama 2 ~35,0m Desarenador 1 - D300 Cap. 300m³/h Reservatório Lama 3 ~11,0m Plataforma de Manobra de Caminhões Basculante e BobCat Desarenador 2 - D250 Cap. 250m³/h Reservatório Lama 4 5 Desarenador 3 - D250 Cap. 250m³/h Reservatório Lama 5 Reservatório Lama Coletor e Distribuidor de Fluido Ø 10" Figuras 17, 18, 19 e 20. Display multifuncional touchscreen, cabine de operação, display multifuncional do controle e registro da perfuração on time. ~18,50m ~20,50m Figura 1. Planta de uma central de tratamento compatível com três frentes de perfuração simultâneas. Detectado o desvio da ferramenta, ajusta-se a velocidade de rotação dos motores, controlando um isoladamente ao outro e assim retoma-se ou afere-se a verticalidade sempre almejada. Uma outra inovação nos equipamentos mais recentes
de origem italiana, é a existência de um dispositivo hidráulico (pistões suplementares com esquis ou flaps ) no próprio corpo da Hidrofresa, que podem ser acionados ao longo da perfuração, escorando o corpo da ferramenta no furo e retomando o prumo da perfuração. As amaduras de painéis podem ser projetadas com menores distâncias da face de escavação, 15cm ante os 30cm típicos atuais, aferindo melhor desempenho estrutural aos elementos. Assim, projetos em parede diafragma com uso de hidrofresa concebem painéis apenas de abertura e fechamento (primários e secundários) eliminando os painéis seqüentes utilizados quando de metodologias convencionais. 5 ESTUDO DE CASO CONTENÇÕES DE ESTRUTURA MINERALEIRA Figuras 21 e 22. Imagem geral e detalhe dos dispositivos de escoramentos e retomada de prumo. 4 AVANÇOS METODOLÓGICOS Outro grande diferencial deste equipamento para projeto, em relação ao que se tem hoje no Brasil, é a confecção de juntas secantes entre painéis sem a necessidade de instalação de chapas juntas totais entre painéis ou lamelas adjacentes. Sendo assim, o concreto da lamela adjacente é escarificado tendo como produto uma superfície rugosa conferindo excelente qualidade no contato concreto fresco e endurecido entre painéis minimizando possíveis percolações de água entre juntas e melhorando o desempenho estrutural da contenção, pois ao escarificar o concreto todo resíduo de solo aderido à junta é eliminado pelo processo. Além disto, as hidrofresas italianas utilizadas no Brasil, contam ainda com outro diferencial para confecção de juntas. Trata-se da confecção de um trilho longitudinal de concreto escarificado aos painéis adjacentes préexecutados, auferido pelo afastamento longitudinal das correntes do corte. Entre 2010 e 2011 fora executada e concluída a obra de contenção dos quatro novos viradores de vagões da Ampliação do Terminal Marítimo de Ponta da Madeira em São Luis/MA. A estrutura dos quatro novos viradores de São Luis/MA trata-se do primeiro empreendimento brasileiro a conceber em projeto uma parede diafragma estrutural penetrando em horizontes de rochas sedimentares com uso da tecnologia concebida pela Hidrofresa. Esta obra contemplou ainda peças estruturais não convencionais e arrojadas em relação à nossa rotina brasileira como lamelas em forma de T com 1,00m de espessura e até 51,ml de profundidade e gaiolas de aço em único elemento atingindo 43,0 ton de massa. 5.1 Características Geológico x Geotécnicas da obra: O subsolo local é formado basicamente por uma camada superficial de solo granular composto predominantemente por areia fina e média pouco argilosa que se estende até medianamente 4,0m da superfície do terreno. Nesta camada encontra-se o nível d água freático. Abaixo desta camada encontra-se espessa camada de argila dura, intercalada por formações rochosas compostas por argilitos vermelhos e acinzentados extremamente expansivos. Figuras 23, 24 e 25. Detalhe das correntes alargadas e guias, junta secante plana e dotada de trilho.
Assim o uso da Hidrofresa e conseqüentemente a parede diafragma ou estrutura de contenção permanente, recém introduzida no mercado brasileiro, foi sugerida, posteriormente aprovada e tomada como solução para o empreendimento. Após diversas análises técnicas e econômicas bem como de avanços físicos, a Costa Fortuna juntamente com a Engenharia da Aliança, formada por Camargo Corrêa e Vale, e contando com o corpo técnico da empresa projetista Progen representada pelo corpo geotécnico da MG&A, fora concebida a solução em parede diafragma com uso de contrafortes com 1,0m de espessura para a contenção dos viradores e os túneis de transporte de minério. Os apoios intermediários da estrutura, onde são descarregados os trens de minérios foram confeccionados em estacas/pilares barrete em cruz atingindo 51,0m de profundidade e horizontes de rochas duras. As dimensões internas das contenções dos quatro viradores são de 71,85m x 47,85m, totalizando 3.438m² de área de escavação contida por 85 lamelas de diafragma com contrafortes e 4 cantos em L. O túnel ou galeria dos transportadores é contido por duas paredes paralelas de 144,50ml cada composta por 104 lamelas de diafragma com e sem contrafortes. Ambas estruturas possuem travamentos de topo com estroncas e vão livres até a laje de fundo. Figuras 2, 27 e 28. Sondagem mista característica da área da parede diafragma. 5.2 Concepção Alternativa de Projeto Fora elaborada pela empresa executora de fundações juntamente com empreiteira de mão de obra e projetista geotécnico, uma alternativa de projeto em paredes diafragma com uso da hidrofresa ante a uma solução já consagrada de contenções provisórias em estacões justapostos e parede interna moldada in loco. Figura 29. Planta e corte da solução de projeto em diafragma em rocha com contrafortes. Os vãos livres da estrutura atingem mais de 24,00m, sendo as peças estruturais de diafragma
dimensionadas para absorverem por si só tais empuxos e resultantes de momentos fletores. 5.4 Características e Instalação das Armaduras Pelo controle do processo de escavação desta tecnologia executiva pode-se ter a confiabilidade necessária para se garantir a verticalidade precisa do furo. Para tanto as gaiolas de aço foram montadas num único elemento, ou seja, face e contraforte unidos em T. Nesta obra as gaiolas de aço atingiram até 43,20m de extensão e chegaram a pesar até 43,0 toneladas, sendo quase 30% deste peso devido a reforços para sua manipulação. A taxa de armação desta obra girou em torno de 180kg/m³, composta esta por até 4 camadas de barras de aço ф 32mm nos pontos onde ocorreram os maiores vão livres e conseqüentemente os momentos máximos de cálculo da estrutura. Assim, foram utilizados na obra dois guindastes de alta capacidade para a operação de içamento e posicionamento da ferragem no furo, um principal cargueiro de 250 ton e um auxiliar leve para 110 ton. 315 245 250 Painel Primário Painel Secundário Dimensions in centimeters P 88 100 315 295 S 88 100 35 10 10 250 88 100 88 100 Figuras 30 e 31. Corte típico da situação e seção transversal típica dos painéis primários e secundários. 5.3 Metodologia e Seqüência Executiva da Obra O sistema Hidrofresa de confecção de paredes diafragma estruturais em solo e rocha demanda uma série de atividades prévias e maquinário específico para cada processo que envolve a confecção de um painel propriamente dito. É importante o preparo do terreno para receber sobrecargas de operação da ordem 1,5 kgf/cm², confecção de mureta guia adequada às condições locais e planejamento e montagem das redes hidráulicas entre central de tratamento e furos. A escavação é iniciada pelas aberturas ou painéis primários de acordo com o plano de ação para posteriormente serem fechados de forma secante pelos painéis secundários. Figuras 32, 33, 34 e 35. Balancim especial montado, esquema do içamento e gaiola verticalizada. 5.5 Concretagem O sistema de concretagem utilizado na execução da parede diafragma é o submerso, ou seja, aquele executado de baixo para cima de modo contínuo e uniforme. Tal processo consiste na aplicação de concreto por gravidade através de um tubo (tremie), central ao furo, munido de uma tremonha de alimentação (funil) cuja extremidade, durante a concretagem deve
0 5 10 15 20 25 30 35 0,000% 0,050% 0,100% 0,150% 0,200% 0,250% 0,300% Precisão Componente - HIP estar conveniente imersa no concreto ao menos 1,5m. No caso da obra em questão, como os elementos a serem preenchidos tem formato de T foram utilizadas duas tubulações tremie e duas tremonhas, conforme esquema abaixo: Painel 80P - Contraforte Precisão Componente - HIP Figuras 39, 40 e 41. Registro dos dados de verticalidade e rotação das perfurações e gráfico de análise. Figuras 37 e 38. Esquema da montagem das tubulações e painel sendo concretado. As concretagens deste empreendimento atingiram volumes de até 235m³ e se estenderam por um período de aproximadamente 5,0 horas, necessitando de alta tecnologia no concreto fornecido. O concreto utilizado em projeto tem resistência à compressão simples aos 28 dias, fck de inovadores 30,0 MPa. ANÁLISE DOS RESULTADOS DE CAMPO DISPONIBILIZADOS Todas as perfurações da obra foram integralmente monitoradas eletronicamente em todas as suas etapas construtivas. Assim, perfurações de contrafortes, faces, retíficas e limpezas foram monitoradas quanto à verticalidade e prumo nos eixos longitudinais, transversais e giro das ferramentas durante o atravessamento das camadas terrosas e rochosas da obra. Contudo vasto banco de dados fora disponibilizado pelas escavações deste empreendimento. Abaixo se demonstra registro de saída do software utilizado e os gráficos de análise das resultantes de excentricidade a cada metro de perfuração. Assim os desvios assinalados nos gráficos referem-se sempre à profundidade correspondente do painel. Pelo exemplo citado acima, pode-se verificar a eficácia do sistema de auto-correção ou retomada da vertical proporcionada pelo equipamento Hidrofresa com operações de manipulação da rotação dos motores hidráulicos bem como o uso dos flaps laterais de escora do corpo da ferramenta é possível até inverter a tendência de um desvio da ferramenta em avanço de perfuração. Abaixo se relacionam as médias globais atingidas de precisão no empreendimento, antes e após as retíficas de furo. Tabela 1. Médias dos Desvios Percentuais da Hidrofresa. Médias dos Desvios Percentuais da Obra Global Desvios Escavação Face Contraforte Média Global Máximos 0,212% 0,217% 0,214% Mínimos 0,031% 0,03% 0,033% Médios 0,091% 0,102% 0,09% Em resumo a precisão média da obra fora de 0,1%, ou seja, a cada metro escavado a ferramenta desviava 1,0mm. Marca esta muito expressiva e de avanço realmente notório..1 Problemática Encontrada Deparou-se nas primeiras escavações que os sedimentos argilosos da região eram extremamente expansivos e ocasionava grande viscosidade à lama de perfuração. Neste sentido os equipamentos de tratamento de fluido inicialmente utilizados não conseguiam obter satisfatoriedade, no prazo necessário e tiveram de ser substituídos ao longo da obra por equipamentos mais adequados à esta condição especial local. Contudo fora utilizado ainda dosagens especiais de mistura e aditivos químicos diferenciados homogeneizados ao fluido estabilizante bentonítico de forma a tornar sua limpeza mais fácil e rápida
proporcionando as condições de concretagem necessárias. Felizmente o resultado se mostrou satisfatório e a problemática fora solucionada..2 Ensaios de Compressão Simples Não Confinada Corpos de prova foram extraídos diretamente das paredes diafragma e ensaiados à compressão simples. A média simples dos resultados atingiram fck 35,33MPa, confirmando as premissas de projeto..3 Volumes de sobre-consumo de concreto O sistema hidrofresa se mostrou ainda mais vantajoso que sistemas convencionais de perfurações com fluido estabilizante. Por conta do pequeno distúrbio causado às paredes da escavação durante seu processo de perfuração os sobre-consumos percentuais da obra ficaram abaixo ainda dos esperados, obtendo médias globais de 8,3%, para os mais de 30.000m² escavados na obra..4 Produtividade Após conclusão da montagem dos conjuntos de equipamentos disponibilizados a campo e resolução das problemáticas do fluido já citadas produtividades acima dos almejados puderam ser conquistadas. A média global da obra atingiu o recorde de seis concretagens semanais de painéis com contrafortes o que representou 1.288m² escavados em uma semana. No mês fora obtida marca de 5.00m² escavados totais ou 1.8m² por conjunto de equipamentos. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS A obra como um todo obteve bom resultado quanto a produtividade e eficiência do sistema de escavação em rochas sedimentares. A obra já se encontra escavada em sua cota de fundo, com o vão livre de 24,55m em plena atividade e demonstra excelente desempenho estrutural. A Hidrofresa dispõe ao mercado grandes avanços qualitativos aos produtos de parede diafragma e estacas barrete, tais como: Alta precisão na verticalidade e prumo das perfurações, menores volumes de sobreconsumo de concreto, juntas secantes de superior estanqueidade, condições melhores para concretagem, Assim, o avanço que esta ferramenta proporciona pode mudar alguns conceitos normativos em vigência tais como: Pela excelente limpeza do furo e principalmente do fundo das escavações propicia contatos de ponta entre concreto e substrato natural e não deformado e assim pode se pensar em projetar estacas barrete ou lamelas para absorção de percentuais de carga superiores aos usuais 20%. Planeja-se a execução de provas de carga estáticas instrumentadas para aferição desta suposição. Sugere-se que se abra esta linha de discussão para introdução de nova pasta em norma e especificações para escavações com uso de hidrofresa, o que já é realizado hoje na América do Norte e Europa. REFERÊNCIAS ALPHAGEOS TECNOLOGIA APLICADA S.A. Relatório de análise de testemunhos de estrutura de concreto (NBR-780-2007) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE ENGENHARIA DE FUNDAÇÔES E GEOTECNIA - ABEF - Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos. PINI, São Paulo 2004, 3 edição. 410p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABNT NBR122; Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro: ABNT, 2010. 90p CONSTRUÇÕES E COMÉRCIO CAMARGO CORRÊA S.A. Relatórios de Ensaios de Concreto. COSTA FORTUNA Fundações e Construções Ltda. Relatórios As Built Parede Diafragma. n 01 a n 15 COSTA FORTUNA Fundações e Construções Ltda. Acervo técnico e fotográfico 200 2011. HACHICH, W. et al Fundações Teoria e Prática. Ed. Pini, São Paulo, 2 Edição - 1998. MG&A CONSULTORES DE SOLOS S/S E PROGEN PROJETOS, GERENCIAMENTO E ENGENHARIA Projetos e detalhamentos diversos. São Luis. 2009-2010 TEIXEIRA, A. H. AHTE Consultoria e Projetos - Relatórios geotécnicos preliminares. 2008. 8p.