XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Documentos relacionados
BIODIVERSIDADE DAS ESPÉCIES TOXIGÊNICAS DE ASPERGILLUS NO BRASIL: OCORRÊNCIA, TAXONOMIA POLIFÁSICA E DISTRIBUIÇÃO

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Prof Luís Roberto Batista - UFLA

EFEITO DA CAFEÍNA SOBRE O CRESCIMENTO MICELIAL DE FUNGOS ASSOCIADOS AO CAFÉ E PRODUÇÃO DE TOXINAS

Contaminantes microbianos do cacau: aspectos de saúde pública do cacaueiro até o chocolate

10ºCongresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2016 Campinas, São Paulo ISBN

XIX CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA 27 de setembro a 01 de outubro de 2010

Micoflora das uvas e micotoxinas

Orientadora: Pesquisadora, CCQA-MICROBIOLOGIA/ITAL, Campinas-SP. Colaborador: Pós-graduando, CCQA-MICROBIOLOGIA/ITAL, Campinas-SP.

11º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 04 de agosto de 2017 Campinas, São Paulo ISBN

IDENTIFICAÇÃO MOLECULAR DOS FUNGOS ASPERGILLUS NIGER E ASPERGILLUS CARBONARIUS ENCONTRADOS EM UVAS VENDIDAS NO COMÉRCIO NA CIDADE DE MARINGÁ-PR

MICHELLE FERREIRA TERRA FUNGOS TOXIGÊNICOS EM SOLOS DE VINHAS, UVAS E MOSTOS E OCRATOXINA A EM VINHOS E SUCOS DO VALE DO SUBMÉDIO SÃO FRANCISCO

INSTITUIÇÃO: CENTRO UNIVERSITÁRIO DAS FACULDADES METROPOLITANAS UNIDAS

MONITORAMENTO DE FUNGOS POTENCIALMENTE TOXIGÊNICOS EM CAFÉS COM PERMANÊNCIA PROLONGADA NA PLANTA E EM CONTATO COM SOLO.

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO POR OCRATOXINA A EM SUCO DE UVA INTEGRAL E NÉCTAR DE UVA COMERCIALIZADOS NO BRASIL EM 2014

ANÁLISE MOLECULAR DE ESPÉCIES DE Aspergillus CONTAMINANTES DE UVAS VENDIDAS NO COMÉRCIO DE MARINGÁ-PR

OCORRÊNCIA E DESENVOLVIMENTO DE UM MODELO PREDITIVO PARA A INCIDÊNCIA DE Aspergillus Seção Nigri E OCRATOXINA A EM REGIÕES VITÍCOLAS DO BRASIL

POTENCIAL ENZIMÁTICO E TOXIGÊNICO DE FUNGOS ISOLADOS DE GRÃOS DE CAFÉ ENZYMATIC AND TOXIGENIC POTENTIAL OF FUNGI ISOLATED FROM COFFEE BEANS

OCRATOXINA A EM DEFEITOS DE CAFÉS, CINÉTICA DE DESTRUIÇÃO DA TOXINA E AVALIAÇÃO DAS BEBIDAS PELO USO DA LÍNGUA ELETRÔNICA

DETECÇÃO MOLECULAR DE FUNGOS COM POTENCIAL TOXIGÊNICO EM AMOSTRAS DE AMENDOIM VENDIDAS NO COMÉRCIO VAREJISTA DE MARINGÁ/PR, BRASIL

INFLUÊNCIA DE Bacillus spp. ISOLADOS DA REGIÃO AMAZÔNICA SOBRE O CRESCIMENTO DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E PRODUÇÃO DE OCRATOXINA A

FUNGOS TOXIGÊNICOS E AFLATOXINAS EM LEVEDURA SECA. Instituto de Tecnologia de Alimentos, Microbiologia/CCQA, Campinas/SP Nº 13235

OCRATOXINA A EM VINHOS CULTIVADOS NO VALE DO SÃO FRANCISCO BRASIL

AVALIAÇÃO DE SUBSTRATOS VEGETAIS DESTINADOS À ALIMENTAÇÃO ANIMAL COMO SUPORTES PARA A PRODUÇÃO DE OCHRATOXINA A POR ESPÉCIES DO GÊNERO Aspergillus FR.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

FUNGOS NA MASSA PARA PREPARO DE FISHBURGER E SEUS INGREDIENTES

EFEITO DA CAFEÍNA E DO ÁCIDO CAFEICO SOBRE O DESENVOLVIMENTO DE FUNGOS E SÍNTESE DE MICOTOXINAS EM CAFÉ (Coffea arabica L.)

Larissa Compri 1, Ligiane Aparecida Florentino 2, Rosane Micaela Veiga 3, Adriano Bortolotti da Silva 4, José Messias Miranda 5

Índice. Introdução...1. Capítulo 1. Micotoxicologia O que são micotoxinas Produção de micotoxinas e sua presença em alimentos...

Biodegradação de ochratoxina A por Pediococcus parvulus. Luís Abrunhosa

AVALIAÇÃO MICOLÓGICA E MICOTOXICOLÓGICA DO PÓLEN DA ABELHA JATAÍ (Tetragonisca angustula) PROVENIENTE DE ILHA GRANDE, ANGRA DOS REIS, RJ*

AVALIAÇÃO DO COMPORTAMENTO DA OCRATOXINA A DURANTE A ELABORAÇÃO DE SUCO DE UVA PELO MÉTODO DE ARRASTE A VAPOR

TÍTULO: OBTENÇÃO E QUANTIFICAÇÃO DA FORMAÇÃO DE (-)-HINOQUININA A PARTIR DA BIOTRANSFORMAÇÃO FÚNGICA DA (-)-CUBEBINA POR ASPERGILLUS TERREUS

BIODIVERSIDADE DE FUNGOS FILAMENTOSOS ISOLADOS EM GRÃOS DE CAFÉ (Coffea arabica)

Comportamento produtivo de cultivares de uva para suco em diferentes porta-enxertos

QUANTIFICAÇÃO DE LEVEDURAS EM AMOSTRAS DE QUEIJOS COLONIAIS PRODUZIDOS PELA AGOINDUSTRIA FAMILIAR DA REGIÃO DE TEUTÔNIA - RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

Fungos Isolados a Partir de Rações Para Roedores Comercializadas na Cidade de Fortaleza Ceará

(Coffea arabica L.): BÓIA, MISTURA E VARRIÇÃO APÓS SECAGEM EM TERREIROS DE TERRA, ASFALTO E CIMENTO

DISCIPLINA MICOTOXICOLOGIA DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA VETERINÁRIA

COMPARAÇÃO ENTRE OS MEIOS DE CULTURA PARA CONTAGEM DE FUNGOS NO CONTROLE MICROBIOLÓGICO DE ERVA MATE

12º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica CIIC a 03 de agosto de 2018 Campinas, São Paulo ISBN

OCORRÊNCIA DE FUNGOS FITOPATOGÊNICOS EM MUDAS DE VIDEIRAS DA SERRA GAÚCHA

AVALIAÇÃO SANITÁRIA DAS SEMENTES DE Piptadenia stipulacea (Benth.) E Amburana cearensis (Allemão) A. C. Smith

COMPORTAMENTO DE DIFERENTES GENÓTIPOS DE MAMONEIRA IRRIGADOS POR GOTEJAMENTO EM JUAZEIRO-BA

Isolamento e identificação de colônias do fungo Alternaria dauci obtidas de lesões de Requeima da cultura da cenoura

Eficiência do gás ozônio na desinfecção microbiológica de grãos de milho armazenado 1

BRENO RAFAEL DE PAIVA NUNES MICOTOXINAS EM RAÇÕES A GRANEL REALIDADE E CONSEQUÊNCIAS

AS MICOTOXINAS E O VINHO

Coordenadores deste número especial do Brasil - Ivanira Falcade UCS - Rosa Maria Vieira Medeiros UFRGS - Jorge Tonietto Embrapa Uva e Vinho

o tratamento de sementes constitui uma das maneiras mais

AVALIAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DOS GRÃOS DE MILHO E DE SOJA ARMAZENADOS EM SILOS BAG

IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E SUAS RESPECTIVAS TOXINAS EM UVAS PASSAS ESCURAS COMERCIALIZADAS EM VOTUPORANGA-SP

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Tecnologia Agroindustrial de Alimentos

Identificação de aflatoxinas em paçocas de amendoim comercializadas na cidade de Lavras-MG

ANÁLISE DE AFLOTOXINA EM FARELO DE MILHO. PAIVA, Maria. Victória.¹; PEREIRA, Camila. Mello.²

APLICAÇÃO DA FOTOCATÁLISE HETEROGÊNEA NO TRATAMENTO DE AFLATOXINA PROVENIENTE DE RESÍDUOS DE LABORATÓRIOS

AVALIAÇÃO DE GENÓTIPOS DE MAMONA CULTIVADOS NO SEMI-ÁRIDO BAIANO

Fabiana Aparecida Couto¹, Mônica Cristina Pereira Monteiro 2, Daiani Maria da Silva 3, Marcelo Ângelo Cirillo 4, Luis Roberto Batista 5

C. Soares 1, L. Abrunhosa 1, A. Venâncio 1 *

1.1. Enquadramento INTRODUÇÃO

Fungos xerofílicos: métodos para isolamento e enumeração

QUANTIFICAÇÃO DE GIBERELA NA PRÉ-COLHEITA E EM ETAPAS DO BENEFICIAMENTO DE SEMENTES DE TRIGO

IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS SOBRE A DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA PODRIDÃO DA UVA MADURA EM VIDEIRA

Caracterização fenológica de cultivares de uvas para elaboração de vinhos no Vale do São Francisco na safra do primeiro semestre de 2015

INCIDENCIA DE FUNGOS TOXIGÊNICOS E AFLATOXINAS EM ARROZ

TÍTULO: ANÁLISE MICROBIOLÓGICA DE ESPONJAS UTILIZADAS NA HIGIENIZAÇÃO DE UTENSÍLIOS DE COZINHA DE RESTAURANTES DO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS-GO

AVALIAÇÃO DA QUALIDADE MICROBIOLÓGICA DE MILHOS BRANCO E AMARELO PARA PRODUÇÃO DE RAÇÃO ANIMAL

Palavras-chave: feijão, qualidade dos grãos, contaminação, micotoxinas.

A IMPORTÂNCIA DAS OPERAÇÕES DE PÓS-COLHEITA NA OCORRÊNCIA DE FUNGOS PRODUTORES DE OTA E NA QUALIDADE DO CAFÉ

DE AMENDOIM IN NATURA E PAÇOCAS

Densidade de brotos e de cachos em cultivares de uvas sem sementes no Submédio do Vale do São Francisco

Microbilogia de Alimentos I - Curso de Engenharia de Alimentos Profª Valéria Ribeiro Maitan

Produção e Características Físico-Químicas de Uvas sem Sementes Durante o Terceiro Ciclo de Produção

Mestrado integrado em Engenharia Biológica (Ramo Tecnologia Química e Alimentar) na Universidade do Minho

SISTEMA DE PLANTIO E PRODUTIVIDADE DA MAMONEIRA CULTIVADA EM ÁREA DE SEQUEIRO NO MUNICÍPIO DE CASA NOVA-BA

EFEITO DO CONTATO DOS FRUTOS DO CAFEEIRO COM O SOLO DA LAVOURA EM SUA QUALIDADE FINAL

Identificação de fungos produtores de micotoxinas cancerígenas em pães de sanduíches vendidos no centro comercial de Macapá-AP

IDENTIFICAÇÃO DE FUNGOS PATOGÊNICOS EM GRÃOS DE AMENDOIM E MILHO PROVENIENTES DA INDÚSTRIA E DA FEIRA LIVRE DE CARUARU/ PE

Comparação de metodologias para detecção de fungos em arroz irradiado

EFEITO DA TEMPERATURA E DO FOTOPERÍODO NO DESENVOLVIMENTO in vitro E in vivo DE Aspergillus niger EM CEBOLA

CONTAGEM DE FUNGOS NO CONTROLE DE QUALIDADE DA ERVA- MATE (Ilex paraguariensis St. Hil) E ISOLAMENTO DE GÊNEROS POTENCIALMENTE MICOTOXIGÊNICOS

AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO FÚNGICA EM ALIMENTOS DISTRIBUÍDOS NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE CAMPOS GERAIS, MINAS GERAIS.

IV Congresso Brasileiro de Mamona e I Simpósio Internacional de Oleaginosas Energéticas, João Pessoa, PB 2010 Página 1573

6º Congresso Interinstitucional de Iniciação Científica - CIIC a 15 de agosto de 2012 Jaguariúna, SP

DETERMINAÇÃO DE AFLATOXINAS EM AMOSTRAS DE LEITE E AMENDOIM CONSUMIDAS NA CIDADE DE BELÉM-PARÁ 1.

Influência dos sistemas de condução e porta-enxertos na produtividade e vigor da videira Chenin Blanc durante dois ciclos de produção

Caracterização Fenológica de Cinco Variedades de Uvas Sem. Sementes no Vale do São Francisco [1] Introdução

Controlo da Qualidade em Vinhos

Deterioração fúngica em indústria de queijo tipo tropical

COMPORTAMENTO DE GENÓTIPOS DE MAMONEIRA EM TERESINA PIAUÍ EM MONOCULTIVO E CONSORCIADOS COM FEIJÃO-CAUPI*

Congresso de Inovação, Ciência e Tecnologia do IFSP BIOTRANSFORMAÇÃO DO GLICEROL POR ESPÉCIE DE ASPERGILLUS 1

CARACTERÍSTICAS ANALÍTICAS DE VINHOS BRANCOS DAS VARIEDADES ARINTO E FERNÃO PIRES ELABORADOS NO NORDESTE BRASILEIRO

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE DOENÇAS E VARIAÇÃO DA TEMPERATURA NA VIDEIRA CULTIVAR NIÁGARA ROSADA NO SISTEMA LATADA COM E SEM COBERTURA PLÁSTICA RESUMO

OCORRÊNCIA DE OCRATOXINA A EM CAFÉ (Coffea arábica L.) MOÍDO, TIPO FORTE E TRADICIONAL EMBALADO A VÁCUO

AVALIAÇÃO DE LINHAGENS DE PORTE BAIXO DE MAMONA (Ricinus communis L.) EM CONDIÇÕES DE SAFRINHA EM TRÊS MUNICÍPIOS NO ESTADO DE SÃO PAULO

TÉCNICAS DE SEMEADURA E ISOLAMENTO DE MICRORGANISMOS

Ocorrência de Aflatoxinas em Amendoim e Produtos Derivados

Comparação Físico-Química de Vinhos da Variedade Syrah (Vitis vinifera L.) Elaborados em Dois Ciclos no Mesmo Ano, em Região Semiarida Tropical

QUALIDADE SANITÁRIA DE SEMENTES DE MAMONA, CULTIVARES NORDESTINA E PARAGUAÇU.

Transcrição:

ASPERGILLUS OCRATOXIGÊNICOS EM UVAS E NO SOLO DE CULTIVO DA VARIEDADE SAUVIGNON BLANC DO NORDESTE BRASILEIRO MICHELLE FERREIRA TERRA 1, THAÍS HEGENBERG OTERO 2, LUÍS ROBERTO BATISTA 3, GUILHERME PRADO 4, GIULIANO PEREIRA 5 RESUMO A ocratoxina A (OTA) é um metabólito secundário de fungos freqüentemente encontrado como contaminante de uvas, vinhos e suco de uva, sendo considerada uma das micotoxinas mais prejudiciais para a saúde humana. Este estudo teve como objetivo avaliar a incidência de Aspergillus ocratoxigênicos em uvas e no solo de cultivo da variedade Sauvignon Blanc utilizada para produção de vinho no nordeste brasileiro. As amostras de uva e de solo foram coletadas em uma região vitivinícola do Submédio São Francisco (Casa Nova, Bahia). Para o isolamento de fungos das uvas e sementes utilizou-se a Técnica de Plaqueamento Direto em meio de cultura DRBC (Dicloran Rosa Bengal Cloranfenicol); para a amostra de solo foi utilizada a técnica de espalhamento superficial, em DG 18 (Dichloran 18% Glycerol Agar), a partir de diluições seriadas. Selecionou-se para obtenção de culturas puras apenas os fungos do gênero Aspergillus que foram identificados por características morfológicas e avaliados, quanto à produção de OTA, pelo Método Plug Agar. Das uvas foram isoladas e identificadas as seguintes espécies A. foetidus, A. tubingensis e A. sp.. Destes isolados nenhum foi ocratoxigênico. Dos vinte e nove isolados obtidos do solo, quatro foram ocratoxigênicos (A. niger agregado (1), A. carbonarius agregado (2) e A. carbonarius (1)), o que realça a importância de evitar durante a colheita o contato das uvas com o solo, visto que este pode representar uma fonte de contaminação com esta micotoxina para as uvas e vinhos. Palavras-chaves: Fungos ocratoxigênicos, Uvas, Aspergillus, Ocratoxina A, Solo, Sauvignon Blanc INTRODUÇÃO Os fungos filamentosos podem causar a deterioração de uvas e/ou contaminá-las com metabólitos secundários tóxicos, denominados de micotoxinas (Bennett & Klich, 2003). Dentre elas, a OTA é hoje a principal micotoxina encontrada como contaminante de vinhos, sendo considerada uma das mais prejudiciais para a saúde humana (Cast, 2003). Em estudos com animais, a OTA tem demonstrado efeitos carcinogênicos, mutagênicos, teratogênicos, imunossupressores, genotóxicos e neurotóxicos (Balasaheb et al., 2007). Em países de clima tropical, as principais espécies produtoras de OTA em alimentos pertencem ao gênero Aspergillus, que são fungos de solo capazes de produzir esta micotoxina em uma ampla faixa de temperatura. As espécies A. brasiliensis, A. ibericus e A. foetidus são ocasionalmente encontradas em uvas, e as mais frequentes são: A. niger, A. tubingensis, A. japonicus e A. carbonarius (Oliver et al., 2008). A ocorrência de OTA nas uvas e posteriormente nos mostos, vinhos e sucos de uva deve-se principalmente as condições fitossanitárias da lavoura, uma vez que esta micotoxina é produzida principalmente por espécies de Aspergillus que aumentam sua incidência de colonização quando os frutos apresentam algum rompimento da sua película, e durante a maturação (Leong et al., 2006). 1 Mestranda em Microbiologia Agrícola; DBI/UFLA; terramichelle@bol.com.br 2 Graduanda em Engenharia de Alimentos; DCA/UFLA; thais.otero@hotmail.com 3 Professor, DCA/UFLA, luisrb@dca.ufla.br 4 Analista de Saúde e Tecnologia; Funed/MG; gui@funed.mg.gov.br 5 Pesquisador, Embrapa Semi Árido/PE; gpereira@cnpuv.embrapa.br

A contaminação de uvas com OTA pode ocorrer em campo, enquanto as uvas ainda estão na vinha (Serra et al., 2004). Portanto, torna-se importante verificar a incidência de fungos ocratoxigênicos nas uvas e no solo de cultivo das videiras, além de outras etapas da cadeia produtiva do vinho a fim de definir os pontos críticos de controle para adoção de medidas preventivas contra a contaminação deste produto com OTA (Serra et al., 2006). Deste modo, o objetivo deste trabalho foi avaliar a incidência de Aspergillus ocratoxigênicos em uvas e no solo de cultivo da variedade Sauvignon Blanc utilizada para produção de vinho no nordeste brasileiro. MATERIAL E MÉTODOS Amostras Para este estudo foram coletadas amostras de uva e solo de cultivo da variedade Sauvignon Blanc utilizada para a elaboração de vinho fino branco em uma região vitivinícola do Submédio São Francisco, localizada no município de Casa Nova, Bahia. O Vale do Submédio São Francisco está situado em áreas dos Estados da Bahia e Pernambuco no nordeste brasileiro. Nessa região, a altitude varia de 200 a 800 m e o clima é caracterizado como tropical semi-árido. A precipitação média anual é de 350 mm e a temperatura média anual é de 27 ºC. A amostra de uva foi coletada na vinha na mesma época da colheita local para elaboração do vinho, sendo composta por 3 kg de cachos de uva. Foram colhidos cachos para análise sem podridão aparente, representativos do estado observado na vinha. A colheita foi realizada de forma a tocar o mínimo possível nas bagas. Foi coletada amostra de solo representativa da parcela correspondente a variedade de uva vinífera analisada. Com o auxílio de um trado, retirou-se três subamostras de solo na profundidade de 0-20 cm, resultando num total aproximado de 300 g de solo. Devido ao tratamento homogêneo do solo na parcela, a amostragem foi realizada de forma aleatória. As subamostras foram homogeneizadas em sacos plásticos estéreis e mantidas sob refrigeração durante o transporte para o Laboratório de Micologia e Micotoxinas da Universidade Federal de Lavras, onde foram realizadas as análises microbiológicas. Isolamento e identificação de fungos filamentosos Para o isolamento de fungos das uvas utilizou-se a Técnica de Plaqueamento Direto em meio de cultura Agar Dicloran Rosa de Bengala Cloranfenicol (DRBC), conforme descrito por Samson et al. (2000). Foram selecionadas 100 bagas ao acaso e as demais foram utilizadas para extração de sementes. As bagas e sementes foram submetidas ao procedimento de desinfecção superficial, de acordo com o descrito por Samson et al. (2000). Um total de 100 bagas e 100 sementes foram plaqueadas e incubadas no escuro por 5 a 7 dias à 25 C Para a amostra de solo utilizou-se a técnica de espalhamento superficial a partir de diluições seriadas. Para isto, 10g de solo foi homogeneizada com 90 ml de água peptonada 0,1% estéril, seguindo-se da agitação em shaker a 130 rpm por 30 minutos. Pelo método de semeadura em superfície transferiu-se, em triplicata, 0,1 ml da suspensão de cada uma das diluições utilizadas (1:10, 1:100, 1:1000) por placa de Petri estéril contendo o meio de cultura Agar Dicloran Glicerol a 18% (DG18). As placas foram incubadas no escuro por 5-7 dias a 25 C. Dentre os fungos filamentosos que cresceram sobre as bagas e sementes e nas placas com as diluições do solo, foram selecionados para obtenção das culturas puras apenas os fungos do gênero Aspergillus pertencentes a Seção Nigri, conforme aspectos morfológicos característicos das colônias. Para a purificação das colônias fúngicas utilizou-se o meio de cultura Agar Malt a 2% (MA). Os fungos em cultura pura foram incubados em meios e temperaturas padronizados e identificados de acordo com Klich (2002). Detecção da produção de OTA pelas linhagens fúngicas Todos os fungos identificados foram testados quanto à produção de OTA pelo método Plug Agar (Bragulat et al., 2001). Para isto, os isolados foram inoculados no meio de cultura Czapek Yeast Agar (CYA), sendo incubados por 7 dias a 25 C, conforme descrito por Filtenborg & Frisvad (1980). Posteriormente, 1 disco da colônia pura de cada isolado foi colocado, em pontos eqüidistantes, na Placa de Cromatografia de Camada Delgada. Para cada teste utilizou-se 10 µl de solução padrão de

ocratoxina A (Sigma-Aldrich) e uma fase móvel composta por Tolueno, Acetato de Etila e Ácido Fórmico 90% (50:40:10). Após a eluição, as placas foram secas em capela de fluxo laminar. A confirmação quanto à produção de OTA foi efetuada sob luz ultravioleta de ʎ 366 nm em Cromatovisor CAMAG (UF-BETRACHTER). Os isolados considerados produtores de OTA apresentaram um RF (fator de retenção) e um spot de fluorescência semelhante ao do padrão da micotoxina. RESULTADOS E DISCUSSÃO Das uvas analisadas um isolado foi obtido a partir das bagas, sendo identificado em A. foetidus e quinze isolados foram obtidos das sementes que foram identificados nas seguintes espécies A. foetidus (60,0%), A. tubingensis (20,0%) e 20,0% foram considerados como A. sp. por não ser possível identificá-los em nível de espécie através das características morfológicas avaliadas. Destes isolados obtidos nenhum foi considerado como potencialmente ocratoxigênico (Tabela 1), o que era esperado visto que na literatura estas espécies não são relatadas como produtoras de OTA. A ocorrência de apenas um isolado de Aspergillus nas bagas pode estar relacionado com a ausência de danos na superfície destas, o que está de acordo com estudos de Leong et al. (2006) que afirmam sobre a maior incidência de colonização das uvas por Aspergillus quando estas apresentam algum rompimento em sua película. Além disso, Zimmerli & Dick (1996) sugerem outros fatores que podem influenciar na incidência de fungos nas uvas, como diferentes práticas usadas no cultivo de uvas, como, por exemplo, uso de praguicidas, os tipos de variedades cultivadas, além das condições climáticas da região vitivinícola. Da amostra de solo foram obtidos vinte e nove isolados, sendo identificadas as espécies A. tubingensis (34,48%), A. niger agregado (31,03%), A. aculeatus (13,79%), A. niger (10,34%), A. carbonarius agregado (6,90%) e A. carbonarius (3,45%). Conforme mostra a Tabela 1, um isolado de A. niger agregado, dois de A. carbonarius agregado e um de A. carbonarius foram ocratoxigênicos. Tabela 1 - Resultado do teste de avaliação do potencial ocratoxigênico das espécies de Aspergillus isoladas e identificadas das bagas, sementes e do solo de cultivo da variedade vinífera Sauvignon Blanc Espécies de Aspergillus Número de isolados Isolados produtores de OTA Bagas A. foetidus 01 - Sementes A. foetidus 09 - A. tubingensis 03 - A. sp. 03 - Solo A. tubingensis 10 - A. niger agregado 09 01 A. aculeatus 04 - A. niger 03 - A. carbonarius agregado 02 02 A. carbonarius 01 01 TOTAL 45 04 De acordo com a Tabela acima é possível observar que todas as espécies obtidas a partir das amostras da variedade Sauvignon Blanc são encontradas como contaminantes de uvas, conforme relata a literatura (Oliver et al., 2008). Além disso, os isolados considerados como potencialmente produtores de OTA são espécies de Aspergillus relatadas como as maiores fontes de OTA em vinho, uva e derivados da uva (Frisvad et al., 2007). Os três isolados da espécie A. carbonarius obtidos foram potencialmente ocratoxigênicos, o que está de acordo com a literatura que considera esta espécie de Aspergillus como uma das mais relevantes em termos de produção de OTA, principalmente nas uvas (Tabela 1) (Bellí et al., 2004; Oliver et al., 2008).

A presença de isolados ocratoxigênicos apenas no solo de cultivo desta variedade não indica que as uvas utilizadas para elaboração do vinho estarão livres desta micotoxina, pois se não forem tomados os cuidados para evitar o contato das uvas com o solo durante a colheita, estas podem ser contaminadas por fungos ocratoxigênicos presentes no solo, comprometendo o produto final. CONCLUSÃO Das uvas da variedade Sauvignon Blanc foram isoladas e identificadas as seguintes espécies A. foetidus, A. tubingensis e A. sp.. Destes isolados nenhum foi considerado ocratoxigênico. A partir do solo vinte e nove isolados foram obtidos, sendo identificadas as espécies A. tubingensis, A. niger agregado, A. aculeatus, A. niger, A. carbonarius agregado e A. carbonarius. Os isolados potencialmente toxigênicos foram A. niger agregado (1), A. carbonarius agregado (2) e A. carbonarius (1), sendo espécies de Aspergillus relatadas como as maiores fontes de OTA em vinho, uva e derivados da uva. A detecção de fungos ocratoxigênicos em solo de vinhedo realça a importância de evitar durante a colheita o contato das uvas com o solo, visto que este pode representar uma fonte de contaminação com esta micotoxina para as uvas e vinhos. REFERÊNCIAL BIBLIOGRÁFICO BALASAHEB, W.P.; SINHA, N.; DWIVEDI, P.; SHARMA, A. K.. Teratogenic effects of ochratoxin A and aflatoxin B1 alone and in combination on postimplantation rat embryos in culture. Journal of the Turkish German Gynecology Association, Ártemis, v.8, n.4, p. 357-364, 2007. BELLÍ, N.; PARDO, E.; MARÍN, S.; FARRÉ, G.; RAMOS, A. J.; SANCHIS, V. Occurrence of ochratoxin A and toxigenic potential of fungal isolates from Spanish grapes. Journal of the Science of Food and Agriculture, London, v.84, p.541-546, 2004. BENNETT, J.W.; KLICH, M.A. Mycotoxins. Clin. Microbiol. Rev., v.16, p.497 516, 2003. BRAGULAT, M.R.; ABARCA, M.L.; CABAÑES, F.J. An easy screening method for fungi producing ochratoxin A in pure culture. Int. J. Food Microbiol., 71:139-144, 2001. CAST - Council for agricultural science and technology. Mycotoxins: risks in plants, animal and human systems, Report No. 139, CAST, Ames, 2003. FRISVAD, J. C.; LARSEN, T. O.; VRINES, R.; MEIJER, M.; HOUBRAKEN, J.; CABAÑES, F. J.; EHRICH, K.; SAMSON, R. A. Secondary metabolite profiling, growth profiles and other tools for species recognition and important Aspergillus mycotoxins. Studies in Mycology, v. 59, p. 31-37, 2007. FILTENBORG, O.; FRISVAD, J. C. A simple screening method for toxigenic moulds in pure cultures. Lebensmittel Wissenschaft und Technologie, London, v. 13, p. 128-130, 1980. KLICH, M. A. Identification of Common Aspergillus species. The Netherlands: Centraalbureau voor Schimmelculture, 2002. LEONG, S.L; HOCKING, A. D.; PITT, J. I.; KAZI, B. A.; EMMETT, R. W.; SCOFF, E. S. Australian research on ochratoxigenic fungi and ochratoxin A. International Journal of Food Microbiology, Amsterdam, v.111, n.s1, p.s10-s17, 2006. OLIVER, C.; TORTA, L.; CATARA, V. A polyphasic approach to the identification of ochatoxin A- producing black Aspergillus isolates from vineyards in Sicily. International Journal of Food Microbiology, v.127, p. 147-154, 2008.

SAMSON, R. A.; HOEKSTRA, E. S.; FRISVAD, J. C.; FILTENBORG, O. Introdution to foodborne fungi. 4. ed. Centraalbureau: Voor Schimmelcultures Baarn Delft, 2000. SERRA, R.; MENDONCA, C.; ABRUNHOSA, L.; PIETRI, A.; VENÂNCIO, A. Determination of ochratoxin A in wine grapes: comparison of extraction procedures and method validation. Anal. Chim. Acta, v. 513, p. 41 47, 2004. SERRA, R.; MENDONÇA, C.; VENÂNCIO, A. Fungi and ochratoxin A detected in healthy grapes for wine production. Letters in Applied Microbiology, v. 42, p. 42 47, 2006. ZIMMERLI, B.; DICK, R. Ochratoxin A in table wine and grape-juice: occurrence and risk assessment. Food Additives and Contaminants, v. 13, p. 655-68, 1996.