UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ VÂNIA MARINHO FERNANDES DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004



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Transcrição:

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ VÂNIA MARINHO FERNANDES DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 São José 2009

VÂNIA MARINHO FERNANDES DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí UNIVALI, como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito. Orientador: Prof. Esp. Roberta Schneider Westphal São José 2009

VÂNIA MARINHO FERNANDES DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 Esta Monogragia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas. Área de Concentração: São José, 17 de novembro de 2009. Prof. Esp. Roberta Schneider Westphal UNIVALI Campus de Orientador Prof. MSc. Nome Instituição Membro Prof. MSc. Nome Instituição Membro

Dedico este trabalho aos meus pais Vânio e Regina pela força e pelo eterno incentivo nessa trajetória fundamental da minha vida.

AGRADECIMENTOS À DEUS pela oportunidade de finalizar com sucesso essa etapa da minha vida. Aos meus pais por toda dedicação incansável e por não medir esforços durante todos esses anos de estudo para que eu conseguisse alcançar meus objetivos. À minha irmã, pessoa muito especial, minha companheira e amiga que amo muito. A minha orientadora Professora MSc Roberta Schneider Westphal que através de seu valioso conhecimento jurídico contribuiu para o desenvolvimento desse trabalho.

TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo. São José, 17 de novembro de 2009. Vânia Marinho Fernandes

RESUMO O presente trabalho tem como objeto a verificação da possibilidade de aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004 e, como objetivos: institucional, produzir uma monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito; investigar, à luz da legislação, da doutrina e da jurisprudência, a possibilidade da aplicação da referida modalidade de intervenção de terceiro na Justiça Especializada; específico, desenvolver um trabalho que abordará, inicialmente, as noções históricas do processo do trabalho e alcançará a Emenda Constitucional n. 45/2004, responsável pela ampliação da competência da Justiça do Trabalho e pelo ressurgimento da discussão acerca do cabimento da denunciação à lide nessa esfera especializada. O tema é atual e merece ser objeto de estudos mais aprofundados, uma vez que a possibilidade de aplicação da denunciação é assunto presente na resolução de conflitos trabalhistas. Ademais, com a edição da Emenda Constitucional n. 45/2004, a matéria passou novamente a ser discutida na doutrina e nas decisões de tribunais na justiça trabalhista. O trabalho foi desenvolvido através do método dedutivo e encontra-se dividido em três capítulos. O primeiro trata do processo do trabalho e suas ramificações; o segundo, das modalidades de intervenção de terceiro, e finalmente, o terceiro, do cabimento da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional n. 45/2004, objeto do trabalho. Palavras chave: Processo do Trabalho, intervenção de terceiro, denunciação à lide, Emenda Constitucional n.45/2004.

ABSTRACT The present paper has as objective verify the possibility of implementing the denunciation to deal in labor process after the constitutional amendment n. 45/2004 and, the following objectives: institutional, producing a monograph for obtaining a bachelor's degree in Law and investigate in the light of legislation, doctrine and jurisprudence, the possibility of implementing this type of intervention of third in the Specialized Justice ; specific, develop a paper that will take a approach, first, the historical notions of labor process and reach the Constitutional Amendment 45/2004, responsible for expanding the competence of the Labor Justice and the resurgence of the discussion of suitability of the denunciation to deal in this specialized sphere. The subject is current and should be object of further study, since the possibility of application of denunciation is subject in the resolution of labor conflicts. Furthermore, in the edition of the Constitutional Amendment n. 45/2004, the matter became again discussed in doctrine and court decisions in labor justice. The paper was developed through the deductive method and is divided into three chapters. The first deals with the labor process and its ramifications; the second, of intervention arrangements of third, and finally, the third, the denunciation to deal in labor process after the constitutional amendment n. 45/2004, the object of this paper. Keywords: Labor Process, intervention of third, denunciation to deal, impleader, Constitutional amendment n.45/2004.

ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS CLT- Consolidação das Leis do Trabalho CPC- Código de Processo Civil CRFB /88- Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 EC- Emenda Constitucional OJ- Orientação Jurisprudencial SDI- Seção Especializada em Dissídios Individuais TRT- Tribunal Regional do Trabalho TST- Tribunal Superior do Trabalho.

ROL DE CATEGORIAS Processo [...] Processo é o caminho para a solução do conflito submetido à jurisdição. Noutro falar, o processo é o ponto de intercessão entre a ação e a jurisdição. 1 Jurisdição [...] É o poder, o dever, e a função estatal de dizer o direito: jus dicere. 2 Competência A competência é uma parcela da jurisdição, dada a cada juiz. [...] É a determinação jurisdicional atribuída pela Constituição ou pela lei a um determinado órgão. 3 Princípios São preposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o legislador na elaboração da norma. [...] Atuam como fonte integradora da norma, suprindo as omissões e lacunas do ordenamento jurídico. 4 Terceiro Terceiro quer dizer estranho à relação processual estabelecida entre autor e réu. 5 Intervenção de terceiro Consiste no ingresso de alguém em processo já existente entre outras partes. 6 1 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 329. 2 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 329. 3 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 91. 4 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. pg 31. 5 DONIZETTI, Elpídio. Curso Didático de Direito Processual Civil. 9. ed. Rio de janeiro: Lumen Juris, 2008. p 75. 6 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 176.

Denunciação à Lide É a demanda com que a parte provoca a integração de um terceiro ao processo pendente, para o duplo efeito de auxiliá-la no litígio com o adversário comum e de figurar como demandado em segundo litígio. 7 7 DINAMARCO, Candido Rangel apud SOUZA, Josyanne Nazareth de. Direito do Trabalho e Direito Processual do Trabalho. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 105.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 14 1. DA TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO... 16 1.1 DO PROCESSO DO TRABALHO - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS... 16 1.2 DO CONCEITO DE PROCESSO DO TRABALHO... 19 1.3 FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO... 21 1.4 PRINCÍPIOS COMUNS AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO... 26 1.4.1 Princípio do dispositivo ou da demanda... 27 1.4.2 Princípio inquisitivo ou do impulso oficial... 27 1.4.3 Princípio da impugnação especificada... 28 1.4.4 Princípio da instrumentalidade... 29 1.4.5 Princípio da estabilidade da lide... 29 1.4.6 Princípio da preclusão... 30 1.4.7 Princípio da eventualidade... 31 1.4.8 Princípio da economia processual, da perpetuatio jurisdictionis e do ônus da prova... 31 1.4.9 Princípio da oralidade... 32 1.4.10 Princípio da imediatidade ou imediação... 33 1.4.11 Princípio da identidade física do juiz... 33 1.4.12 Princípio da concentração... 33 1.4.13 Princípio da irrecorribilidade das decisões interlocutórias... 34 1.4.14 Princípio da lealdade processual... 35 1.5 PRINCÍPIOS PECULIARES DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO... 35 1.5.1 Princípio da proteção... 35 1.5.2 Princípio da conciliação... 36 1.5.3 Princípio da finalidade social... 37 1.6 ORGANIZAÇÃO E COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO... 38 1.6.1 Organização da Justiça do Trabalho... 38 1.6.2 Competência da Justiça do Trabalho... 44 2. DAS PARTES E DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS... 49 2.1 DAS PARTES... 49 2.2 DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS... 52

2.2.1 Assistência... 54 2.2.2 Oposição... 61 2.2.3 Nomeação à autoria... 64 2.2.4 Chamamento ao Processo... 67 3. DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO... 71 3.1 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE... 71 3.2 DA DENUNCIAÇÃO À LIDE NO PROCESSO DO TRABALHO APÓS A EMENDA CONSTITUCIONAL N. 45/2004... 76 CONCLUSÃO... 95 REFERÊNCIAS... 99

INTRODUÇÃO A presente Monografia tem como objeto de estudo verificar a possibilidade de aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a promulgação da Emenda Constitucional nº 45/2004, responsável pela alteração da competência da Justiça Trabalhista. Isto porque alguns juristas entendem que essa modalidade de intervenção de terceiros é incabível na Justiça do Trabalho, visto que, essa não tem competência material para julgar a relação entre denunciante e denunciado. Nesse aspecto, argumenta-se que escapa da competência da justiça especializada a resolução de questões que envolvem terceiros, mormente o direito regressivo. Não bastasse isso, as controvérsias acerca do cabimento do instituto da denunciação à lide na justiça trabalhista, estendem-se às peculiaridades do processo do trabalho, como seus princípios próprios. Nessa esteira, analisa-se se a aplicação do instituto em comento fere ou não os princípios da economia e celeridade processual, próprios da Justiça do Trabalho. Outro fator que ensejou o ressurgimento da discussão diz respeito ao cancelamento da Orientação Jurisprudencial n. 227 da SDI-I do Tribunal Superior do Trabalho. A referida Orientação tratava a respeito da incompatibilidade da denunciação à lide com o processo laboral, logo, o seu cancelamento, decorrente da EC nº 45/2004, motivou novas cizânias doutrinárias e jurisprudenciais acerca do tema ao passo que o próprio TST ao atualizar sua jurisprudência estava adaptandose à reforma da Justiça do Trabalho. De modo geral, são nesses momentos que surgem as controvérsias, ponto de exame da presente pesquisa e alvo de entendimentos divergentes. Tais indagações fizeram refletir sobre a possibilidade de aplicação da denunciação à lide na esfera trabalhista, principalmente após a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004. Dessa forma, o objetivo da pesquisa é estudar, à luz da reforma da Justiça do Trabalho, a possibilidade da aplicação do instituto no processo laboral.

15 Para tanto, o trabalho foi dividido em três capítulos distintos, nos quais, se desenvolverá todo arcabouço teórico pertinente. No primeiro capítulo, discorrer-se-á sobre as noções históricas da justiça do trabalho e do processo do trabalho, seu surgimento, conceito, organização, bem como as fontes e os princípios que norteiam o processo do trabalho. No segundo capítulo analisar-se-á as modalidades de intervenção de terceiros, que podem ser voluntária quando trata-se de assistência e oposição, ou ainda provocada, quando refere-se a nomeação à autoria, chamamento ao processo e denunciação à lide. Já no terceiro capítulo, examinar-se-á mais detalhadamente a possibilidade da denunciação à lide no processo do trabalho após a Emenda Constitucional nº 45/2004. Quanto à metodologia, registra-se que, será utilizado o método dedutivo, que consiste em pesquisas que partirão do conceito de processo do trabalho até a análise acerca da aplicação da intervenção de terceiro na Justiça Trabalhista, em especial, a denunciação à lide. Com efeito, a técnica utilizada é a documental indireta, ou seja, as doutrinas e as legislações referentes ao tema. Também se utilizará à pesquisa documental direta, por meio de análise de entendimentos jurisprudenciais. Enfim, pretende-se com a presente pesquisa, contribuir para o esclarecimento de alguns pontos controvertidos no que tange a possibilidade ou não da aplicação da denunciação à lide no processo do trabalho após a edição da Emenda Constitucional nº 45/2004.

1. DA TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Inicialmente, para melhor compreensão a respeito da evolução da Justiça do Trabalho e possível estudo do processo do trabalho, faz-se necessária abordagem acerca de sua história, conceito, fontes e princípios, organização e sua atual competência. 1.1 DO PROCESSO DO TRABALHO - NOÇÕES INTRODUTÓRIAS A Revolução Industrial ocasionou significativas mudanças no que diz respeito às condições de trabalho, vez que as tarefas desenvolvidas pelos trabalhadores foram substituídas pela utilização de máquinas, gerando com isso o desemprego. O lucro decorrente do funcionamento das máquinas resultou para alguns empresários a riqueza, enquanto para população a pobreza generalizada. 8 A situação fez com que os trabalhadores, através da greve, exigissem dos donos das máquinas melhores salários, redução do horário de trabalho e fornecimento de ambiente menos insalubre. 9 Desse modo, a substituição do trabalho humano pelo funcionamento das máquinas favoreceu de forma significativa as mudanças nas estruturas sociais, na medida em que os conflitos decorrentes dos interesses entre trabalhadores e empresários passaram a tornar-se cada vez mais freqüentes, seguida muitas vezes e violência. 10 Nessa época o Estado liberal não preocupava-se com as relações de emprego. No entanto, face aos prejuízos decorrentes da produção e o 8 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito processual do trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 9 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 10 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399.

17 empobrecimento da nação oriundo da greve, o Estado passou a interferir nos movimentos, buscando solucioná-los através da criação de normas. 11 Segundo o autor Gabriel Saad pouco a pouco o Estado foi abandonando sua posição de simples espectador desses conflitos, e neles passou a interferir. 12 No Estado Liberal, nascido das Revoluções Burguesas que só é reconhecido os direitos civis e políticos, o processo é caracterizado pelo tecnicismo, positivismo jurídico acrítico, formalismo e neutralismo do Poder Judiciário, bem como pelo conceitualismo, onde todos são tratados em juízo como sujeitos de direito, independentemente de suas diferentes condições sociais, econômicas, políticas e morais. 13 Dessa forma, sendo o processo uma série de atos com o objetivo de compor litígios, as primeiras ações de iniciativa do Estado nesse sentido demonstraram o surgimento do Direito Processual do Trabalho. 14 A tentativa de conciliação obrigatória onde as partes, através de seus representantes, buscavam um acordo para o retorno ao trabalho, foi a primeira medida adotada pelo Estado, entretanto, restou frustrada e a mesma foi sucedida pela mediação. Nesse caso, ocorria a intervenção de um representante do Estado para participar das reivindicações trabalhistas com o objetivo de uma solução justa para ambas as partes. 15 No Brasil, os primeiros órgãos responsáveis pela solução dos conflitos trabalhistas foram os Tribunais Rurais, criados em 1922, composto por um juiz togado e por um representante do patrão e outro do empregado. 16 As questões solucionadas pelos Tribunais Rurais relacionavam-se aos conflitos sobre salários e a também a respeito de contratos de serviços agrícolas. 17 11 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 1. 12 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399. 13 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 36. 14 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 2. 15 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, p 2. 16 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399. 17 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 12.

18 As Juntas de Conciliação e Julgamento, bem como as Comissões Mistas de Conciliação foram criadas pelos decretos n. 22.132/1932 e n. 21.396/1932, respectivamente. A primeira tinha competência para resolver dissídios individuais, enquanto a segunda tratava dos dissídios coletivos. Esses órgãos não pertenciam ao Poder Judiciário, e em face disso, as decisões proferidas pelas Juntas de Conciliação e Julgamento eram passíveis de modificação pelo Ministro do Trabalho. 18 A criação de uma Justiça do Trabalho foi mencionada nas Constituições de 1934 e 1937, entretanto, não foi estruturada. Funcionava como órgão administrativo e não integrava o Poder Judiciário. 19 Destaca-se que as primeiras juntas em cidades do interior foram criadas no final de 1943, ano que entrou em vigor a Consolidação 20 das Leis do Trabalho. 21 Por fim, a Justiça do Trabalho passou a integrar efetivamente o Poder Judiciário com a promulgação da Constituição Federal de 1946 22. 23 Além disso, estabeleceu-se sua organização na própria Constituição, organização essa, seguida pelas Constituições seguintes, e prevista atualmente nos artigos 111 a 116 da Constituição da República Federativa de 1988. 24 Portanto, são órgãos da Justiça do Trabalho o Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho. 25 Contudo, realizado um breve estudo acerca da evolução da Justiça do Trabalho no Brasil, bem como as primeiras iniciativas do Estado que caracterizaram o surgimento do processo trabalhista, traz-se nesse contexto o conceito de Processo do Trabalho. 18 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 399-400. 19 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 14. 20 BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 873. Doravante denominada CLT. 21 GIGLIO, Wagner D.; CORRÊA, Claudia Giglio Veltri. Direito Processual do Trabalho. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2007, Pg 4. 22 BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 18 de setembro de 1946. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%c3%a7ao46.htm. Acesso em 24 out. 2009. 23 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 110. 24 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 72. 25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 60.

19 1.2 DO CONCEITO DE PROCESSO DO TRABALHO O processo, no seu sentido judicial, implica em numerosos atos que se sucedem num determinado período de tempo, e este conjunto de procedimentos considerado único tem uma única finalidade, tal qual: a prestação jurisdicional. 26 Sob esta ótica, ensina Cleber Lucio de Almeida: [...] processo é uma série de atos coordenados ao objetivo de solucionar o conflito intersubjetivo de interesses, pela aplicação da norma jurídica ao caso concreto, ou realizar concretamente o direito assegurado em título executivo (processo no sentido dinâmico). 27 Complementa o autor Eduardo Gabriel Saad como relação jurídica que é, vem o processo a ser um conjunto de vinculações que a lei estabelece entre as partes e os órgãos do Poder Judiciário e das partes entre si. 28 Desse modo, é o processo um instrumento pelo qual se efetiva a jurisdição. No entanto, para cada jurisdição há uma espécie de processo: processo militar, processo eleitoral, processo político, processo administrativo, processo penal, processo civil e processo do trabalho. Cumpre ressaltar a importância deste último para o desenvolvimento do tema. 29 Direito Processual do Trabalho, segundo o ensinamento de Sérgio Pinto Martins é o conjunto de princípios, regras e instituições destinado a regular a atividade dos órgãos jurisdicionais na solução de dissídios, individuais ou coletivos, pertinentes à relação de trabalho. 30 Neste sentido manifesta-se Carlos Henrique Bezerra Leite: [..] o direito processual do trabalho brasileiro é o ramo da ciência jurídica, constituído por um sistema de normas, princípios, regras e instituições próprias, que tem por objetivo promover a pacificação justa dos conflitos individuais, coletivos e difusos decorrentes direta e indiretamente das relações de emprego e de trabalho, bem como 26 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 259. 27 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 259. 28 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 37. 29 ALMEIDA, Cleber Lúcio de. Direito Processual do Trabalho. Belo Horizonte: Del Rey, 2006. p 269-270. 30 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 18.

20 regular o funcionamento dos órgãos que compõem a Justiça do Trabalho. 31 Mauro Schiavi afirma que o objetivo do direito processual do trabalho é dar efetividade à legislação trabalhista e social e assegurar o acesso do trabalhador à justiça. 32 No que diz respeito a sua natureza, existem divergências doutrinárias fundamentadas nas teorias monista e dualista. A primeira preconiza que o direito processual é unitário, formado por normas que não justificam a divisão do direito processual do trabalho, penal e civil. No que diz respeito à segunda teoria, por sua vez majoritária, o processo trabalhista possui autonomia frente ao processo comum, uma vez que possui regulamentação própria na Consolidação das Leis do Trabalho, dotado, inclusive, de normas e princípios que o diferenciam do processo civil. É importante salientar que até mesmo a aplicação subsidiária das regras do Código de Processo Civil é determinada pelo texto obreiro, conforme artigo 769. 33 A autonomia do direito processual justifica-se pela jurisdição especial destinada a julgar dissídios individuais, pelo dissídio coletivo econômico, jurídico e de greve, pela existência de lei processual específica, apesar da aplicação subsidiária do processo comum, pela singularidade do tipo de contrato, e por fim, pelo vínculo de trabalho. 34 Sustenta o autor Mauro Schiavi: Estamos convencidos de que, embora o Direito Processual do Trabalho, hoje, esteja mais próximo do Direito Processual Civil e sofra os impactos dos Princípios Constitucionais do Processo, não há como se deixar de reconhecer alguns princípios peculiares do Direito Processual do Trabalho os quais lhe dão autonomia e o distinguem do Direito Processual Comum. 35 A autonomia do Direito Processual do Trabalho evidencia-se também pelo fato de existir no Brasil uma área especializada do Poder Judiciário para resolver 31 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 98. 32 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 75. 33 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 28-29. 34 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 64. 35 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 81.

21 conflitos trabalhistas, bem como, pela existência de lei própria que disciplina o processo laboral (Lei 5.584/70 36 e Lei 7.701/88 37 ). 38 Por fim, realizada uma análise acerca do conceito e autonomia do direito processual do trabalho, seguir-se-á ao estudo das fontes desse ramo do Direito, que por sua vez, conforme ensina Sérgio Pinto Martins pode ter várias acepções, como sua origem, fundamento de validade das normas jurídicas e a própria exteriorização do Direito. 39 1.3 FONTES DO PROCESSO DO TRABALHO Fonte vem do latim fons, com o significado de nascente, manancial. Referese à origem de alguma coisa, de onde provém algo. 40 nota-se: José de Oliveira Ascensão afirma que fonte pode ter vários significados, [...] histórico, considera as fontes históricas do sistema, como o direito romano; instrumental, são os documentos que contêm regras jurídicas, como códigos, leis, etc; sociológico ou material são os condicionamentos sociais que produzem determinada norma; orgânico, são os órgãos de produção das normas jurídicas; técnicojurídico ou dogmático, são os modos de formação e revelação das regras jurídicas. 41 36 BRASIL. Lei n o 5.584, de 26 de junho de 1970, dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho, e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 5.584, de 26 de junho de 1970. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1255). 37 BRASIL. Lei nº 7.701, de 21 de dezembro de 1988, dispõe sobre a especialização de Turmas dos Tribunais do Trabalho em processos coletivos e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7701.htm. > Acesso em: 21 out. 2009. 38 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 81. 39 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29. 40 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29. 41 ASCENSÃO, Jose de Oliveira. apud MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 29.

22 Em relação às fontes do Direito Processual do Trabalho, em regra, estas são classificadas em fontes materiais e formais, e quanto às últimas são divididas em fontes formais diretas, indiretas e de explicitação. 42 Segundo Carlos Henrique Bezerra Leite, as fontes materiais são as fontes potenciais do direito processual do trabalho e emergem do próprio direito material do trabalho. 43 Sérgio Pinto Martins complementa: [...] as fontes materiais são o complexo de fatores que ocasionam o surgimento de normas, envolvendo fatos e valores. São analisados fatores sociais, psicológicos, econômicos, históricos, etc. São os fatores reais que irão influenciar na criação da norma jurídica. 44 As sentenças normativas, oriundas dos dissídios coletivos, bem como os acordos e convenções coletivas de trabalho são exemplos de fontes de direito material do trabalho. 45 No que tange as fontes formais, estas são as formas pelas quais se apresenta o direito 46, são as que conferem ao direito processual do trabalho o caráter de direito positivo e são divididas em fontes formais diretas, indiretas e de explicitação. Fontes formais diretas são os atos normativos e administrativos editados pelo Poder Público, e os costumes; fontes formais indiretas são aquelas retiradas da doutrina e jurisprudência, e por fim, as fontes formais de explicitação são fontes que integram o direito processual, como a analogia 47, os princípios gerais de direito 48 e a equidade 49. 50 42 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50. 43 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50. 44 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2006. p 30. 45 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 71. 46 SAAD, Eduardo Gabriel. SAAD, José Eduardo Duarte. BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 67. 47 É a operação lógica para aplicar à hipótese não prevista na lei norma jurídica semelhante. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 122. 48 Os princípios gerais do direito são idéias fundamentais e informadoras da ordem jurídica. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 122. 49 É o direito material composto de regras de caráter genérico. SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 125. 50 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 50.

23 Hierarquicamente, a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 51 encontra-se no topo das fontes formais do Direito Processual do Trabalho, por ser a Lex Fundamentalis 52 dos ordenamentos jurídicos estatais. Nela contém, além das regras e princípios fundamentais do processo, a estrutura do Poder Judiciário, incluindo a Justiça Trabalhista. 53 Abaixo da Constituição Federal encontram-se as leis complementares, leis ordinárias e leis delegadas, as medidas provisórias, os decretos legislativos e as resoluções do Congresso Nacional, incluindo os decretos-leis, que disponham sobre normas de direito processual. 54 No patamar infraconstitucional, destacam-se as fontes formais diretas do Direito Processual do Trabalho, quais sejam, a Consolidação das Leis do Trabalho; Lei 5584/70 que estabelece normas aplicáveis ao processo do trabalho; Código de Processo Civil 55, aplicado subsidiariamente desde que compatíveis com os princípios do processo trabalhista; Lei n. 6830/80 56 (Lei de Execução Fiscal), aplicada principalmente na execução trabalhista; Lei n. 7701/88, que dispõe sobre organização e especialização dos tribunais em processos coletivos e individuais. 57 No que diz respeito às lacunas do direito processual do trabalho, tem-se que não só o código de processo civil é fonte subsidiária, mas sim toda legislação processual que não confronte os princípios trabalhistas, como é o caso do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8078/90) 58, a Ação Civil Pública (Lei n. 7347/85) 59, etc. 60 51 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1). Doravante denominada CRFB/88. 52 Segundo Carl Schimitt, [...] a Constituição em termos gerais, não preciso quer representar um estatuto fundamental de regulação da convivência civil. A sua doutrina coloca a Constituição como sendo um diploma confeccionado num determinado momento da história, por grupos específicos do conjunto da sociedade, recebendo o caráter de importância singular e única para a manutenção e evolução das regras do contrato social, sendo-lhe atribuído o significado de lei fundamental. Disponível em: < http://jusvi.com/artigos/1686.> Acesso em 21 out. 2009. 53 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 54 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 51. 55 BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 387). Doravante denominado CPC. 56 BRASIL. Lei nº 6.830 de 22 de setembro de 1980, dispõe sobre a cobrança judicial da Dívida Ativa da Fazenda Pública e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1376). 57 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 51. 58 BRASIL. Lei nº 8.078 de 11 de setembro de 1990, dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 801).

24 Os regimentos internos dos tribunais também caracterizam-se como fontes do direito processual do trabalho. Eles versam sobre matérias administrativas e também sobre o funcionamento e procedimento interno da justiça do trabalho. 61 Quanto às fontes formais indiretas, aquelas extraídas da doutrina e jurisprudência, estas cumprem importante papel na interpretação do Direito Processual do Trabalho. 62 No entanto, não há harmonia doutrinária quanto a jurisprudência ser, efetivamente, fonte do direito processual do trabalho. A falta de consenso justifica-se pelo fato do Brasil ter a tradição romano-germânica, no qual, dá-se preferência ao direito positivado. Apesar disso, a Consolidação das Leis do Trabalho reconhece a jurisprudência como fonte do direito processual trabalhista. 63 A uniformidade das jurisprudências faz nascer as súmulas, e estas, conforme ensina Mauro Schiavi constituem o resumo da interpretação pacífica de determinado Tribunal sobre uma matéria jurídica. 64 O autor Carlos Henrique Bezerra Leite faz menção ainda no que tange a súmula vinculante, introduzida pela Emenda Constitucional n. 45/2004 65, que acrescentou o artigo 103-A 66 à Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, afirmando ser ela fonte formal direta, vez que o Supremo Tribunal Federal poderá de ofício ou por provocação, aprovar súmula que, a partir de sua publicação, terá efeito vinculante aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração 59 BRASIL. Lei 7.347 de 24 de julho de 1985, disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO) e dá outras providências. (BRASIL. Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 1401). 60 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 61 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 99. 62 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 52. 63 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 100. 64 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 101. 65 BRASIL. Constituição (1988). Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, altera dispositivos dos arts 5º, 36, 52, 92, 93, 95, 98, 99, 102, 103, 104, 105, 107, 109, 111, 112, 114, 115, 125, 126, 127, 128, 129, 134 e 168 da Constituição Federal, e acrescenta os arts. 103-A, 103B, 111-A e 130-A, e dá outras providências. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 106). 66 CRFB/88, Artigo 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 40).

25 pública direta e indireta (federal, estadual e municipal), e ainda proceder sua revisão ou cancelamento de acordo com a lei. 67 Em relação às fontes integrativas do direito processual, ou seja, fontes formais de explicitação tem-se que o artigo 769 da Consolidação das Leis do Trabalho permite aplicação subsidiária do artigo 126 do Código de Processo Civil, conforme segue: 68 Art. 769- Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título. Art. 126- O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito. Tanto o direito processual civil quanto o direito processual trabalhista utilizam a equidade como fonte subsidiária. Neste último, pode-se verificar o julgamento com equidade no artigo 852-I, único da CLT que diz o juízo adotará em cada caso a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo aos fins sociais da lei e as exigências do bem comum. 69 Há quem afirma que as normas de direito processual podem derivar de costumes e tratados internacionais firmados pelo Brasil. Nota-se que os costumes somente passam a ser fontes normativas quando autorizados pelo ordenamento jurídico. Exemplo de costume como fonte do direito processual trabalhista é o protesto nos autos previsto no caput do artigo 795 70 da Consolidação das Leis do Trabalho. 71 Após a definição a respeito das fontes do processo do trabalho, importante é adentrar-se no estudo dos princípios comuns e peculiares desse ramo, uma vez que, sendo fontes acessórias, os princípios auxiliam na interpretação e na aplicação do Direito. 67 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55. 68 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55. 69 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: LTr, 2009. p 102. 70 CLT, Artigo 795, caput. As nulidades não serão declaradas senão mediante provocação das partes, as quais deverão argüi-las à primeira vez em que tiverem de falar em audiência ou nos autos. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 952). 71 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 55.

26 1.4 PRINCÍPIOS COMUNS AO DIREITO PROCESSUAL CIVIL E AO DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO Inicialmente, fundamental é que se tenha conhecimento a respeito do conceito de princípio. Princípio é uma preposição que se coloca na base das ciências. É um ponto de partida. Um fundamento. 72 Para o autor Renato Saraiva, os princípios são: [...] preposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o legislador na elaboração da norma. Os princípios também atuam como fonte integradora da norma, suprindo as omissões e lacunas do ordenamento jurídico. 73 Os princípios desempenham importante função na medida em que atuam como instrumento orientador na interpretação de determinada norma jurídica. Os princípios exercem, portanto, a função informativa, normativa e interpretativa. 74 A função informativa é voltada ao legislador, criando normas de acordo com os princípios e valores políticos, sociais, éticos e econômicos do ordenamento jurídico. Já a função normativa é destinada ao aplicador do direito. Aqui, os princípios podem ser aplicados na solução dos casos concretos mediante a supressão de uma norma por um princípio, e por meio de integração do sistema nas hipóteses de lacuna. Por fim, a função interpretativa também é voltada ao aplicador do direito, afinal os princípios emergem da compreensão dos significados das normas jurídicas. 75 Destacam-se nesse momento os princípios comuns ao direito processual civil e ao direito processual do trabalho. 76 72 NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2008. p 106. 73 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 31. 74 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 31. 75 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 60. 76 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 70.

27 1.4.1 Princípio do dispositivo ou da demanda Informa o princípio dispositivo que o início do processo deve ocorrer por iniciativa do autor, ficando impossibilitado tanto o juiz quanto o tribunal a conhecer qualquer causa de ofício, conforme apregoa o artigo 2º 77 do CPC. 78 Segundo Ovídio A. Baptista da Silva e Fábio Luiz Gomes o princípio do dispositivo está relacionado com o poder que as partes têm de dispor da causa, seja deixando de alegar ou provar fatos a ela pertinentes, seja desinteressando-se do andamento do processo. 79 Tal princípio impede que o juiz ex officio instaure o processo na justiça trabalhista. 80 O juiz não pode ainda ter iniciativas probatórias, quando as partes desistirem das provas ou daquela prova. O que pode ocorrer é a complementação delas quando o conjunto probatório não convencer o julgador. 81 Contudo, o princípio do dispositivo estabelece um limite no que tange ao poder de julgamento do juiz, não podendo esse julgar de forma extra petita, ultra petita e citra petita. 82 Deve o magistrado limitar-se aos pedidos do autor da ação, ficando impossibilitado de conhecer questões não suscitadas no processo. 83 1.4.2 Princípio inquisitivo ou do impulso oficial De acordo com o princípio inquisitivo o que prevalece é a iniciativa do magistrado, seja no andamento do processo, seja na formação do conjunto 77 CPC, Artigo. 2º. Nenhum juiz prestará a tutela jurisdicional senão quando a parte ou o interessado a requerer, nos casos e forma legais. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 387). 78 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 162. 79 SILVA, Ovídio A. Baptista da.; GOMES, Fávio Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p 49. 80 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 32. 81 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 163. 82 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2007. p 99. 83 SILVA, Ovídio A. Baptista da.; GOMES, Fávio Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p 50.

28 probatório, ainda que de forma excepcional. 84 Uma vez demandada a ação desenvolve-se por impulso oficial até o final. 85 No âmbito do direito processual do trabalho, o artigo 765 da Consolidação das Leis do Trabalho reforça a idéia de que o juiz é competente para impulsionar o processo ao afirmar que Os Juízos e Tribunais do Trabalho terão ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária ao esclarecimento delas. 86 Além disso, dispõe o artigo 878 87 da CLT que a execução poderá ser impulsionada ex officio pelo juiz. 88 1.4.3 Princípio da impugnação especificada O princípio da impugnação específica está previsto no artigo 302 do CPC, segundo o qual cabe também ao réu manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na petição inicial. 89 Renato Saraiva complementa pelo princípio da impugnação especificada, o reclamado deve manifestar-ser, precisa e especificamente, sobre os fatos narrados na petição inicial, não se admitindo a defesa por negação geral. 90 Não sendo manifestados pelo réu, presumir-se-ão verdadeiros os fatos alegados pelo autor, salvo, se não for admissível, a seu respeito, a confissão; se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar 84 OLIVEIRA, Francisco Antonio. Manual de Processo do Trabalho. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p 163. 85 SCHIAVI, Mauro. Manual de Direito Processual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2008. p 70. 86 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 87 CLT, artigo 878. A execução poderá ser promovida por qualquer interessado, ou ex officio pelo próprio Juiz ou Presidente ou Tribunal competente, nos termos do artigo anterior. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 959). 88 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 28. ed. São Paulo: Atlas S.A, 2008. p 44. 89 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 73. 90 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 45.

29 da substância do ato; e se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto (incisos do artigo 302 91 CPC). 92 1.4.4 Princípio da instrumentalidade O processo é o meio pelo qual se busca a tutela jurisdicional do Estado. É o instrumento que tem por escopo à garantia dos direitos e justiça entre os jurisdicionados. 93 Segundo Ives Gandra da Silva Martins Filho as formalidades processuais são meio e não fim do processo, razão pela qual os atos serão considerados válidos se atingida a finalidade a que se destinavam, ainda que realizados por forma distinta. 94 O princípio da instrumentalidade está consagrado nos artigos 154 95 e 244 96 do Código de Processo Civil. 97 1.4.5 Princípio da estabilidade da lide Determina o princípio da estabilidade da lide que se o autor já pleiteou seus direitos através da ação, e se o réu já foi citado para se manifestar, não poderá 91 CPC, Artigo 302, I, II e III.Presumem-se verdadeiros os fatos não impugnados, salvo: I - se não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público que a lei considerar da substância do ato; III - se estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 409). 92 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 73. 93 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 72. 94 FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Manual Esquemático de Direito e Processo do Trabalho. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p 162. 95 CPC, Artigo 154. Os atos e termos processuais não dependem de forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe preencham a finalidade essencial. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 398). 96 CPC, Artigo 244. Quando a lei prescrever determinada forma, sem cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar a finalidade. (BRASIL. Código de Processo Civil. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 404). 97 SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 4. ed. São Paulo: Método, 2007. p 50.

30 aquele alterar os pedidos na inicial sem antes ter a anuência deste, ultrapassado o prazo de defesa nem com o consentimento das partes os pedidos da petição inicial serão modificados. 98 Tal princípio está consagrado no plano subjetivo e objetivo. O critério subjetivo fundamenta-se no artigo 41 que informa que só é permitida, no curso do processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei, e o critério objetivo no artigo 294 do CPC, segundo o qual antes da citação, o autor poderá aditar o pedido, correndo à sua conta as custas acrescidas em razão dessa iniciativa. 99 1.4.6 Princípio da preclusão Preclusão é a perda da faculdade de praticar um ato por haver passado o momento processual ou expirado o prazo determinado em lei. Assim define Eduardo Gabriel Saad. 100 O princípio da preclusão está inserido artigo 473 do CPC, segundo o qual é defeso à parte discutir, no curso do processo, as questões já decididas, a cujo respeito se operou a preclusão. 101 Na esfera trabalhista o princípio em estudo está previsto expressamente no artigo 879 102, 2º e 3º da CLT. 103. A preclusão é classificada da seguinte forma: preclusão temporal, ocorre quando a parte não pratica determinado ato processual no prazo previsto em lei; preclusão lógica, opera-se quando não existe a possibilidade da prática de um ato, 98 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 74. 99 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 74. 100 SAAD, Eduardo Gabriel.; SAAD, José Eduardo Duarte.; BRANCO, Ana Maria Saad Castello. Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 116. 101 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 76. 102 CLT, Artigo 879, 2º. Elaborada a conta e tornada líquida, o juiz poderá abrir às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão. 3º. Elaborada a conta pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz procederá a intimação da União para manifestação no prazo de dez dias, sob pena de preclusão. (BRASIL. Consolidação das Leis do Trabalho. Lex: Vade Mecum Saraiva, 7. ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 959). 103 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008. p 76.