EFEITO DO GESSO NA PRODUTIVIDADE DO ALGODOEIRO E NA DINÂMICA DE MACRONUTRIENTES EM SOLO DE TEXTURA MÉDIA DO CERRADO DO OESTE BAIANO ( * )

Documentos relacionados
CALAGEM E GESSAGEM DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

CORREÇÃO DA ACIDEZ SUPERFICIAL E SUBSUPERFICIAL DO SOLO PARA O CULTIVO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE RORAIMA 1

COMPONENTES DE PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM FUNÇÃO DE CALAGEM E GESSAGEM NO CERRADO DE RORAIMA 1

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1656

Termos para indexação: Algodão, qualidade de fibra, nutrição de plantas, Neossolo Quartzarênico, fertilidade do solo.

Termos para indexação: Algodão, nutrição de plantas, diagnose foliar, Neossolo Quartzarênico, fertilidade do solo.

EFEITO DO CALCÁRIO E GESSO NA ACIDEZ E LIXIVIAÇÃO DE CÁTIONS DO SOLO SOB CAFEEIROS NA BAHIA 1

CALAGEM SUPERFICIAL E INCORPORADA E SUA INFLUÊNCIA NA PRODUTIVIDADE DO MILHO SAFRINHA AO LONGO DE CINCO ANOS

EFEITO DE DOSES DE POTÁSSIO NA PRODUÇÃO E NOS TEORES FOLIARES DE K + DO ALGODOEIRO NO OESTE BAIANO, SAFRA 2004/2005 *

Adubação na Cultura de Milho

EFICIÊNCIA AGRONÔMICA DE UM POLIFOSFATO SULFORADO (PTC) NO ALGODOEIRO EM SOLO DE GOIÂNIA-GO *

AGRISUS - RELATÓRIO MARÇO DE 2012

EFEITO DA INTERAÇÃO ENTRE CALAGEM E GESSAGEM EM ATRIBUTOS QUÍMICOS DE SOLO CULTIVADO COM ALGODÃO NO CERRADO DE GOIÁS *

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1451

A Cultura do Algodoeiro

AVALIAÇÃO DE LINHAGENS AVANÇADAS DE FIBRA COLORIDA NOS MUNICÍPIOS DE ANGICAL E WANDERLEY-BA 1

Gestão da fertilidade do solo no sistema soja e milho

DOSES DE NITROGÊNIO E POTÁSSIO PARA MÁXIMA EFICIÊNCIA ECÔNOMICA NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO BAIANO, SAFRA 2004/2005 *

Recomendação de Correção de Solo e Adubação de Feijão Ac. Felipe Augusto Stella Ac. João Vicente Bragança Boschiglia Ac. Luana Machado Simão

RESPOSTA DO ALGODOEIRO A DOSES E MODOS DE APLICAÇÃO DE FÓSFORO EM SISTEMAS DE PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL NO CERRADO (*)

Adubação de plantio para Eucalyptus sp.

ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO: RESULTADOS DE PESQUISA EM GOIÁS E BAHIA 1

LEANDRO ZANCANARO LUIS CARLOS TESSARO JOEL HILLESHEIM LEONARDO VILELA

ADUBAÇÃO NPK DO ALGODOEIRO ADENSADO DE SAFRINHA NO CERRADO DE GOIÁS *1 INTRODUÇÃO

XXXII Congresso Brasileiro de Ciência do Solo "Gessagem para o algodoeiro cultivado sob sistema integração lavoura-pecuária no Cerrado da Bahia"

18 PRODUTIVIDADE DA SOJA EM FUNÇÃO DA

EFEITO DA CALAGEM E ADUBAÇÃO COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO CERRADO DE GOIÁS (*)

15 AVALIAÇÃO DOS PRODUTOS SEED E CROP+ EM

Balanço de nutrientes em sistemas de produção soja-milho* Equipe Fundação MT Leandro Zancanaro

Piracicaba SP / 09 de Junho de 2016

ADUBAÇÃO CORRETIVA E DE MANUTENÇÃO COM POTÁSSIO NA CULTURA DO ALGODÃO NO CERRADO DE RORAIMA 1 INTRODUÇÃO

A EXPERIÊNCIA DO AGRICULTOR/ PESQUISADOR NA BUSCA DA ALTA PRODUTIVIDADE

Fertilidade de Solos

16 EFEITO DA APLICAÇÃO DO FERTILIZANTE FARTURE

Recomendação de adubação e correção de solo para cultura da Cana-de-açúcar

Protocolo Gessagem. Doses de gesso agrícola e seu residual para o sistema de produção soja/milho safrinha

Calagem no Sistema Plantio Direto para Correção da Acidez e Suprimento de Ca e Mg como Nutrientes

17 EFEITO DA APLICAÇÃO DE MICRONUTRIENTES NA

Prof. Francisco Hevilásio F. Pereira Cultivos em ambiente protegido

ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO E PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA EM FUNÇÃO DA CALAGEM, ADUBAÇÃO ORGÂNICA E POTÁSSICA 1

BPUFs para milho em Mato Grosso do Sul informações locais. Eng. Agr. M.Sc. Douglas de Castilho Gitti

A CULTURA DO MILHO: CORREÇÃO, ADUBAÇÃO E ESTUDO DE CASO

Protocolo. Boro. Cultivo de soja sobre doses de boro em solo de textura média

13 AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO VIA

Café. Amostragem do solo. Calagem. Gessagem. Produtividade esperada. Espaçamento (m)

Recomendação de correção e adubação para tomate de mesa. Giulia Simioni Lívia Akasaka Patrick Oliveira Samara Barbosa

Experimento Correção de P (safra 2010/11 a 2015/16)

ESTRATÉGIAS DE APLICAÇÃO E FONTES DE FERTILIZANTES NA CULTURA DA SOJA 1

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

ADUBAÇÃO DE CULTURAS ANUAIS EM SOLOS ARENOSOS. Heitor Cantarella

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1663

Continente asiático maior produtor (80%) Arroz sequeiro perdendo área para milho e soja

MILHO PARA OS DIFERENTES NÍVEIS TECNOLÓGICOS

431 - AVALIAÇÃO DE VARIEDADES DE MILHO EM DIFERENTES DENSIDADES DE PLANTIO EM SISTEMA ORGÂNICO DE PRODUÇÃO

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

Rafael de Souza Nunes, Embrapa Cerrados Djalma Martinhão G. de Sousa, Embrapa Cerrados Maria da Conceição S. Carvalho, Embrapa Arroz e Feijão

Recomendação de correção e adubação para a cultura do milho

AVALIAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS EM GRÃOS DE SOJA E FEIJÃO CULTIVADOS EM SOLO SUPLEMENTADO COM LODO DE ESGOTO

Construção de Perfil do Solo

Adubação de pastagens HAMILTON SERON PEREIRA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLANDIA

EFEITO DO GESSO AGRÍCOLA NA FERTILIDADE DO SOLO, NUTRIÇÃO E PRODUTIVIDADE DO CAFEEIRO.

6 CALAGEM E ADUBAÇÃO

DESENVOLVIMENTO RADICULAR DA SOJA EM CAMADAS SUBSUPERFICIAIS DO SOLO SOB APLICAÇÃO DE HIDRÓXIDO DE CÁLCIO. Apresentação: Pôster

Pesquisas com Correção do Solo e Adubação para o Algodoeiro no Cerrado do Oeste Baiano, sob Diferentes Sistemas de Cultivo Safra 2007/2008

EQUILÍBRIO QUÍMICO DO SOLO EM PROFUNDIDADE. Eng. Agr. Dr. Nelson Harger Coordenador Estadual/Emater

DISPONIBILIDADE DE MACRONUTRIENTES EM LATOSSOLO APÓS O USO DE ADUBAÇÃO VERDE

CRESCIMENTO E PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO EM FUNÇÃO DA ADUBAÇÃO COM FÓSFORO, POTÁSSIO E MAGNÉSIO NO CERRADO BAIANO, SAFRA 2003/2004 *

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

A cultura da soja. Recomendação de correção e adubação

DESEMPENHO DE VARIEDADES COMERCIAIS DE ALGODÃO SUMETIDAS A DIFERENTE NIVEIS DE ADUBAÇÃO NO OESTE DA BAHIA, SAFRA 2004/2005

EFICIÊNCIA DO PARCELAMENTO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA SOBRE A PRODUTIVIDADE DO ALGODOEIRO NO OESTE DA BAHIA, SAFRA 2004/2005 *

Densidade populacional de Pratylenchus brachyurus na produtividade da soja em função de calagem, gessagem e adubação potássica

RESPOSTA DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO À ADUBAÇÃO POTÁSSICA NO CERRADO DE GOIÁS (*)

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 593

Palavras chave: doses de calcário, ph do solo, formas de manejo, produção.

BOLETIM TÉCNICO SAFRA 2014/15

PP = 788,5 mm. Aplicação em R3 Aplicação em R5.1. Aplicação em Vn

OBJETIVO SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DA ADUBAÇÃO NPKS MINERAL (QUÍMICA) POR ORGÂNICA COM E. GALINHA MAIS PALHA DE CAFÉ

AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE LINHAGENS FINAIS DE ALGODÃO PARA LANÇAMENTO DE CULTIVARES, SAFRA 2008/09. 1 INTRODUÇÃO

8º Congresso Brasileiro de Algodão & I Cotton Expo 2011, São Paulo, SP 2011 Página 1687

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO ORGÂNICA E MATERIAL HÚMICO SOBRE A PRODUÇÃO DE ALFACE AMERICANA

RESPOSTAS DE ADUBAÇÕES COM MICRONUTRIENTES NA PRODUÇÃO DO ALGODOEIRO NO OESTE DA BAHIA

ADUBAÇÃO DO SISTEMA SOJA-MILHO- ALGODÃO

NUTRIÇÃO DA MAMONEIRA CONSORCIADA COM FEIJÃO COMUM EM FUNÇÃO DO PARCELAMENTO DA ADUBAÇÃO NITROGENADA

Para os silicatos as condições são brandas!

Comunicado Técnico 43

CALAGEM SUPERFICIAL E GESSAGEM EM PLANTIO DIRETO

Unidade IX. José Ribamar Silva

Resposta da Cultura do Milho Cultivado no Verão a Diferentes Quantidades de Calcário e Modos de Incorporação

Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010)

ADUBAÇÃO DO ALGODOEIRO COM NPK EM SISTEMA PLANTIO DIRETO NO CERRADO (1)

Manejo da Fertilidade do Solo para implantação do sistema ILP

5. INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DAS ANÁLISES DE SOLOS

11 EFEITO DA APLICAÇÃO DE FONTES DE POTÁSSIO NO

Vanderson Modolon DUART 1, Adriana Modolon DUART 2, Mário Felipe MEZZARI 2, Fernando José GARBUIO 3

Condicionadores de solo - Uso eficiente do gesso agrícola

ADUBAÇÃO DA MAMONEIRA DA CULTIVAR BRS ENERGIA.

MANEJO DE NUTRIENTES EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO MANEJO DE NUTRIENTES EM SISTEMAS DE PRODUÇÃO. Manejo de nutrientes no algodoeiro nos solos de Mato Grosso

TÍTULO: EFEITO DO ESTERCO DE GALINHA APLICADO EM COBERTURA NO SOLO CULTIVADO COM ABACAXI.

Transcrição:

EFEITO DO GESSO NA PRODUTIVIDADE DO ALGODOEIRO E NA DINÂMICA DE MACRONUTRIENTES EM SOLO DE TEXTURA MÉDIA DO CERRADO DO OESTE BAIANO ( * ) Flávia Cristina dos Santos (Embrapa Cerrados - UEP-TO / flavia@cpac.embrapa.br), Rodrigo Véras da Costa (Embrapa Milho e Sorgo), Gilvan Barbosa Ferreira (Embrapa Roraima), Manoel Ricardo de Albuquerque Filho (Embrapa Cerrados/UEP-TO), Celito Eduardo Breda (Círculo Verde Assessoria Agronômica), Alexandre Merlin (FCA/UNESP- Campus de Botucatu), João Luiz da Silva Filho (Embrapa Algodão), Murilo Barros Pedrosa (Fundação Bahia), João Batista dos Santos (EBDA) RESUMO Com o objetivo de verificar o efeito do uso de gesso na produtividade do algodoeiro e na dinâmica de macronutrientes em solo de textura média do cerrado do oeste baiano foi instalado um ensaio no município de São Desidério-BA. Utilizou-se o delineamento estatístico de blocos ao acaso, com três repetições e duas fontes de gesso (fosfogesso e gesso de Araripina-PE) nas doses de 0, 500, 1.000, 2.000 e 4.000 kg ha -1. Coletaram-se amostras de solo nas camadas de 20 cm até 100 cm e de folhas, aos 95 DAE, para análise de macronutrientes. Determinou-se a produtividade em todos os tratamentos. Não houve resposta do algodoeiro em produtividade à aplicação das fontes e doses de gesso. Houve efeito significativo das doses de gesso no aumento dos teores foliares de Ca, Mg e S.As fontes e doses de gesso também afetaram a dinâmica dos macronutrientes no solo. Os teores disponíveis de Ca, Mg e S aumentaram e os de Al e K diminuíram no perfil de solo com as aplicações de gesso. Houve perda média máxima de 30 % da reserva total de K2O nesse solo, considerando o perfil amostrado. Palavras-chave: Gossypiium hirsutum, gessagem, fosfogesso, análise foliar. INTRODUÇÃO As pesquisas em manejo da fertilidade do solo têm objetivado manter ou aumentar os altos níveis de produtividade do algodoeiro observados em algumas regiões do cerrado, diminuir custos e eleger práticas e variedades efetivas no aproveitamento dos insumos, com o intuito de tornar a atividade agrícola cada vez mais sustentável. Os solos do oeste da Bahia, pertencentes ao bioma Cerrado, são, em geral, ácidos e pobres em nutrientes em subsuperfície e a região está sujeita a veranicos constantes que podem comprometer, ainda mais, o rendimento do algodoeiro. Para melhorar a fertilidade do solo nessa camada, o gesso pode ser uma alternativa viável. Por se tratar de um sal solúvel, sua penetração no perfil ocorre com as águas de percolação, carreando nutrientes catiônicos como o K, embora haja certa permanência do insumo logo abaixo da camada arável (FARINA e CHANNON, 1988). Com isso, o gesso pode contribuir para melhorar as características químicas do perfil do solo, principalmente pelo aumento do Ca e do S, e favorecer o crescimento radicular da planta em profundidade, o que permite maior exploração de volume de solo para absorção de água e nutrientes. ( * ) Projeto financiado com recursos do FUNDEAGRO. Parceria da Fundação Bahia, Embrapa, EBDA e Círculo Verde Assessoria Agronômica.

A quantidade de gesso a ser aplicada depende do teor de argila e do custo com o transporte, visto que nem sempre o uso de gesso resulta em aumento de produtividade, embora proporcione maior absorção de água e nutrientes e torne a cultura mais resistente ao estresse hídrico, durante a ocorrência de períodos de estiagem (CARVALHO et al., 2006). Se mal manejada, a técnica da gessagem pode provocar perdas acentuadas de bases trocáveis, principalmente potássio, através do perfil de solo, que pode ser potencializada em solos com texturas mais grosseiras. Esse trabalho objetivou verificar o efeito do uso de gesso na produtividade do algodoeiro e na dinâmica de macronutrientes em solo de textura média do cerrado do oeste baiano. MATERIAL E MÉTODOS O ensaio foi instalado na Fazenda Mineira, município de São Desidério-BA, em solo de textura média (33 % de argila) e características químicas definidas na Tabela 1, com utilização da variedade Delta Opal no espaçamento de 0,76 m entre linhas e 7-9 plantas m -1. Utilizou-se o delineamento em blocos ao acaso, com três repetições e parcelas de 12 x 8,36 m (11 linhas), com duas fontes de gesso (fosfogesso, oriundo da fabricação de fosfato, e gesso mineral, de Araripina - PE) nas doses de 0, 500, 1.000, 2.000 e 4.000 kg ha -1. O gesso foi aplicado na superfície, manualmente, e incorporado com grade leve, antes do plantio. Foram aplicados 440 kg ha -1 de superfosfato triplo (em pré-plantio), 294 kg ha -1 de KCl e 30 kg ha -1 de borogran (a lanço, aos 15 dias do plantio) e 240 kg ha -1 de uréia (incorporado com plantadeira na entrelinha). Durante o ciclo da cultura, foram aplicados: MAP purificado (uma pulverização com 9 kg ha -1 ), cobre (0,5 L ha -1, em uma pulverização), manganês (2,9 L ha -1, em 3 pulverizações), boro (1,05 L ha -1, em três pulverizações) e zinco (0,65 L ha -1, em três pulverizações). Aos 95 dias da emergência, foram coletadas amostras de folhas e enviadas para a Universidade de Botucatu-SP para análises. No final do ciclo, coletaram-se amostras de solo no perfil nas camadas de 0-20, 20-40, 40-60, 60-80 e 80-100 cm, que foram enviadas para análises no mesmo laboratório. Foram colhidas as quatro linhas centrais de 40 m como parcela útil para estimativa da produtividade. Os dados foram submetidos às análises de variância e regressão. Tabela 1. Análise de solo das parcelas testemunha, safra 2005/2006 Prof. ph M.O. P* S-SO4 2- Al 3+ H+Al K + Ca 2+ Mg 2+ cm CaCl2 dag kg -1 ------mg dm -3 ------- ----------------------------cmolc dm -3 ------------------------ 00-20 5,35 1,81 11,22 7,67 0,04 2,68 0,30 2,20 0,89 20-40 4,95 1,69 3,17 30,88 0,14 3,06 0,17 1,31 0,72 40-60 4,60 1,40 1,94 54,27 0,30 3,11 0,09 0,77 0,44 60-80 4,55 1,11 1,29 22,79 0,30 3,03 0,08 0,58 0,31 80-100 4,45 0,90 1,21 13,02 0,30 2,86 0,08 0,51 0,27 SB t T V m Ca 2+ na t ------------cmolc dm -3 ----------- ------------------%------------------- 00-20 3,40 3,46 6,07 55,84 1,40 63,76 20-40 2,20 2,34 5,26 41,40 7,18 55,07 40-60 1,30 1,60 4,41 29,37 19,47 47,70 60-80 0,97 1,28 4,01 24,13 24,66 45,21 80-100 0,86 1,16 3,72 23,16 26,23 43,28 * Método da Resina de Troca Aniônica

RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise de fertilidade feita nas parcelas testemunha, sem aplicação de gesso, mostra que, em geral, o solo usado tem teores baixos de P e Al; médios de ph, S e Cu e alto, dos demais nutrientes (Tab. 1). O valor de saturação por bases (V) está adequado na camada arável e abaixo do adequado (50-60 %) nas demais camadas do solo. Pelas características do solo (Ca 2+ > 0,5 cmolc dm -3 e saturação por Al 3+ < 20 % na profundidade de 20-40 cm) não seria recomendado aplicar gesso nesse solo (SOUSA & LOBATO, 2004). Entretanto, pelo critério que considera a saturação de Ca 2+ na CTC efetiva inferior a 60 % na mesma profundidade, o gesso seria recomendado em dose de cerca de 1.200 kg ha -1 (EMBRAPA, 2003). Teores de Ca 2+ superiores a 0,5 cmolc dm -3 tornam viáveis o crescimento radicular em profundidade, especialmente se os teores de Al 3+ estiverem abaixo de 0,5 cmolc dm -3. Os altos teores de S-SO4 2- em profundidade (54,27 mg dm -3 na camada de 40-60 cm) demonstram o efeito residual ainda presente da gessagem anterior feita na área. Do mesmo modo, a redução de K trocável em profundidade, atingindo 31,2 mg dm -3 na camada de 80 a 100 cm, evidencia lixiviação de K e enriquecimento do perfil. Pela análise de variância realizada, não houve resposta em produtividade do algodoeiro à aplicação das doses e fontes de gesso; entretanto, houve efeito linear e significativo das doses de gesso no aumento dos teores foliares de Ca, Mg e S (Tabela 2). Não houve diferenças significativas entre os teores foliares dos macronutrientes em relação às fontes de gesso utilizadas, exceção para o K, que apresentou maior teor médio na folha com a utilização do fosfogesso (Tab. 2). A falta de resposta do algodão em produtividade pode ser atribuída, entre outros, aos teores de K, Ca, Mg e S presentes no solo utilizado (Tab. 1). Os teores médios dos nutrientes, exceto de N, K e S, estão dentro da faixa adequada para a cultura (SILVA, 1999);os teores de N e S estão abaixo e o de K,ligeiramente acima, pois, segundo (SILVA, 1999), os valores deveriam variar entre 3,5 a 4,3, 0,4 a 0,8 e 1,5 a 2,5 dag kg -1, respectivamente (Tab. 2). Quando se aplicou gesso ao solo, cujos teores de S em subsuperfície eram adequados(tab. 1), observou que eles aumentaram com as doses de gesso (Tab. 1 e Fig. 1A), mas os teores de S nas folhas foram baixos. Isso pode ser atribuído ao efeito de diluição, ou seja, o maior crescimento da planta resultou em diluição no teor foliar de S (MARSCHNER, 1995). Tabela 2. Médias de produtividade, (PD), em caroço, e dos teores foliares dos macronutrientes N, P, K, Ca, Mg e S, como variáveis do gesso usado (ARAR gesso mineral de Araripina e FFG fosfogesso), safra 2005/2006 Gesso PD N P K Ca Mg S @ ha -1 --------------------------------------dag kg -1 ----------------------------------------------------- ARAR 221,2 2,80 0,36 2,69b* 2,56 0,61 0,23 FFG 223,8 2,75 0,36 3,01a* 2,48 0,60 0,23 Média 222,5 2,78 0,36 2,85 2,52 0,60 0,23 * Médias diferentes estatisticamente pelo teste F (p<0,05) Com relação à dinâmica dos macronutrientes no solo, verificou-se, em geral, maior efeito da dose do que da fonte de gesso, com pouca interação entre esses fatores em estudo (Tab. 3). Não houve efeito da fonte nem da dose de gesso sobre o ph e os teores de matéria orgânica, Al trocável, saturação de Al na CTC efetiva, H + Al (Tab. 3). A aplicação do gesso aumentou linearmente os teores de Ca, seus índices relacionados (saturação por Ca na CTC efetiva e t) e os teores de S em, praticamente, todas as camadas do solo (Tab. 3) e reduziu linearmente os teores de K e Mg na camada arável.

Isto indica que as fontes se comportaram de modo semelhante sobre os diversos índices medidos, não havendo diferença estatística entre elas, para a maior parte dos indicadores químicos do solo analisados. Apenas o fósforo disponível diferiu dos demais, sendo o fosfogesso sistematicamente superior ao gesso mineral de Araripina. O efeito de fontes foi evidente até a profundidade de 100 cm e houve efeito linear positivo de dose nas camadas 0-20 e 60-80 cm. Isto indica que não houve lixiviação, mas houve deslocamento do P adsorvido na superfície das partículas pela alta concentração de S- SO4 2- em profundidade, que foi maior com uso de fosfogesso e aumentou com as doses de gesso usadas. De acordo com Dias et al. (1994), o íon H2PO4 - compete com o SO4 2- pela superfície de troca nos colóides do solo e o primeiro, apesar de ter preferência de adsorção por troca de ligante e desta ser mais forte, pode ser deslocado pelo excesso do segundo. Tabela 3. Significância e ajustes dos efeitos testados de fonte de gesso (FG), dose de gesso aplicada (DG) e interação entre esses fatores, nos diversos indicadores químicos do solo, safra 2005/2006 Prof. FG DG FG*DG Prof. FG DG FG*DG Prof. FG DG FG*DG cm --------ph em água------- cm --------Al 3+ trocável------- cm -------Ca 2+ trocável------ 00-20 ns ns ns 00-20 ns ns ns 00-20 ns EL ** ns 20-40 ns ns ns 20-40 ns ns ns 20-40 ns EL ** ns 40-60 ns ns ns 40-60 ns ns ns 40-60 ns EL * ns 60-80 ns ns ns 60-80 ns ns ns 60-80 ns EL * ns 80-100 ns ns ns 80-100 ns ns ns 80-100 ** EL * ns -------Mg 2+ trocável------ --------K + trocável-------- -------------H+Al----------- 00-20 ns EL* ns 00-20 ns EL*** ns 00-20 ns ns ns 20-40 ns ns ns 20-40 * ns ns 20-40 ns ns ns 40-60 ns ns ns 40-60 ns ns ns 40-60 ns ns ns 60-80 ns EL* ns 60-80 * ns 0 60-80 ns ns ns 80-100 ns ns ns 80-100 ns ns ns 80-100 ns ns ns -----Matéria orgânica---- -P disponível (Resina)- ---S-SO 2-4 disponível--- 00-20 ns ns ns 00-20 *** EL** ns 00-20 ns * ns 20-40 ns ns ns 20-40 * ns ns 20-40 ns EL* ns 40-60 ns ns ns 40-60 ** ns ns 40-60 * EL** ns 60-80 ns ns ns 60-80 *** EL*** ** 60-80 ns EL** ns 80-100 ns ns ns 80-100 ** ns ns 80-100 ns EL** ns -Saturação de Ca na t- --------------m-------------- ---------------t-------------- 00-20 ** EL*** ** 00-20 ns ns ns 00-20 ns EL 0 ns 20-40 0 EL* ns 20-40 ns ns ns 20-40 ns EL* ns 40-60 ** EL** ns 40-60 ns EL 0 ns 40-60 ns EL* ns 60-80 0 EL 0 ns 60-80 ns ns ns 60-80 ns EL** ns 80-100 * EL* ns 80-100 ns ns ns 80-100 ** EL* ns ns não significativo; 0, *, ** e *** - significativo a 10, 5, 1 e a,1 % de probabilidade pelo teste F. EL efeito linear As concentrações de S, K, Ca, Mg e Al, no perfil do solo, e a saturação de Ca e Al, na CTC efetiva, podem ser vistas nas Figuras 1A-F. Observa-se que a maior parte do S-SO4 2- foi encontrada na camada de 40-60 cm, embora os teores na camada mais profunda tenham sido crescentes com as doses de gesso usadas. Os teores de Mg e, principalmente, os de K, foram reduzidos nas camadas superficiais, havendo ligeiro acúmulo ou pouca modificação, respectivamente, desses nutrientes em profundidade. Os teores e saturação dos cátions nitidamente seguiram um padrão inverso ao observado para o Al trocável. As perdas máximas foram de 273 e 146 kg ha -1 de K2O para o gesso mineral e fosfogesso, respectivamente, o que corresponde a 37 e 23 %, respectivamente, da reserva total estimada no perfil estudado (Tab. 4). Verifica-se que a aplicação do gesso tem um custo indireto muito grande devido ao potássio. Como não houve resposta em produção, a renda líquida negativa

promovida pelo uso do gesso nas condições do solo da Fazenda Mineira foi elevada (custo de gesso e de KCl, sem receita de algodão adicionalmente produzido). Com o custo regional de R$ 15,50/t de gesso e R$ 550,00/t de KCl, as perdas máximas estimadas provocaram perdas de renda líquida estimada, respectivamente, para o gesso mineral, fosfogesso e média, em R$ 230,08, R$ 143,92 e R$ 180,58, por hectare, apenas com o potássio, mais R$ 46,50, R$ 31,00 e R$ 37,20, por hectare, pelo gesso aplicado, totalizando perdas de R$ 276,58, R$ 174,92 e R$ 217,78, por hectare. Esses valores não consideram as despesas com transporte e aplicação dos produtos. Figura 1. Teores de S dispnível (A), K (B), Ca (C), Mg (D) e Al (E) trocáveis e saturação de Ca na CTC efetiva (F) no perfil de solo, como variáveis das doses de gesso aplicadas, safra 2005/2006. Na média, o solo usado da Fazenda Mineira tinha 678 kg ha -1 de K2O armazenados no perfil de 0-100 cm de profundidade e cerca de 41 % da reserva total disponível se encontra na camada de 0-20 cm, a mais afetada pela aplicação de gesso (Tab. 4). A aplicação do gesso Araripina provocou perda máxima de 273 kg ha -1 de K2O, ao passo que a do fosfogesso, de 146 kg ha -1. Tabela 4. Quantidade de K2O por camada no perfil do solo e balanço (diferença com o menor valor total encontrado) e perda estimada na camada de 0-100 cm de profundidade, como variáveis das doses e fontes de gesso aplicadas, safra 2005/2006 Prof. ----Gesso mineral de Araripina---- -----------------Fosfogesso--------------- -------------------Média--------------------- 0 t 0,5 t 1 t 2 t 4 t 0 t 0,5 t 1 t 2 t 4 t 0 t 0,5 t 1 t 2 t 4 t cm -------------------------------------------------------------kg ha -1 de K2O--------------------------------------------------------------------------- 00-20 288 218 187 166 167 272 216 204 162 216 280 217 196 164 192 20-40 187 132 185 105 140 125 123 91 107 119 156 128 138 106 130 40-60 94 123 129 76 90 82 84 82 97 99 88 104 106 87 95 60-80 94 76 91 60 68 53 41 58 53 88 74 59 75 57 78 80-100 66 80 84 49 51 93 76 56 60 90 80 78 70 55 71 Total 729 629 676 456 516 625 540 491 479 612 678 586 585 469 566 Balanço 273 173 220 0 60 146 61 12 0 133 209 117 116 0 97 Perda 0 100 53 273 213 0 85 134 146 13 0 92 93 209 112

CONCLUSÕES Não houve resposta significativa do algodoeiro em produtividade às doses de gesso aplicadas, nas condições desse trabalho. Contudo, a melhor nutrição mineral da planta com o uso do gesso torna as plantas mais resistentes a estresses. Além disso, o efeito do gesso na dinâmica dos nutrientes, principalmente do K, evidencia a necessidade de estudos em médio e longo prazos para o manejo mais adequado da técnica da gessagem, principalmente em solos com texturas mais grosseiras. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO A definição de doses de gesso para uso em solos de texturas mais arenosas do cerrado é de extrema importância, por ser comum nessa região a ocorrência de veranicos que resultam em queda na produtividade do algodoeiro. O uso de gesso pode minimizar esse efeito, por permitir maior desenvolvimento do sistema radicular e maior acesso à água no perfil de solo, além de maior absorção de nutrientes. Estudos visando o manejo adequado da gessagem podem evitar desequilíbrios de nutrientes no solo, provocados pela lixiviação de bases trocáveis, principalmente do K, minimizando perdas econômicas e riscos ambientais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARVALHO, M.C.S.; OLIVEIRA JÚNIOR, J.P.; LEANDRO, W.M. ; BARBOSA, K.A. Calagem e gessagem para o cultivo do algodoeiro no Estado de Goiás. Campina Grande: Embtrapa Algodão, 2006. 4p. (Comunicado Técnico, 270). DIAS, L.E.; ALVAREZ V., V.H.; COSTA, L.M. ; NOVAIS, R.F. Dinâmica de algumas formas de enxofre em colunas de solos tratadas com diferentes doses de fósforo e gesso. R. Bras. Ci. Solo, v.18, p.373-380, 1994. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa do Algodão. Cultura do algodão no Cerrado. Campina Grande: Embrapa Algodão, 2003. (Sistema de Produção, 2). Disponível em: <http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/fonteshtml/algodao/algodaocerrado/adubacao.htm > Acesso em: 04 mai. 2007. FARINA, M.P.W. e CHANNON, P. Acid-subsoil amelioration. II. Gypsum effects on growth and subsoil chemical properties. Soil Sci. Soc. Am. J., v.52, p.175-180, 1988. SILVA, N.M. Nutrição mineral e adubação do algodoeiro no Brasil. In: Cultura do Algodoeiro. CIA, E.; FREIRE, E.C.; SANTOS, W.J. dos. (Eds). Piracicaba, SP: Potafos, 1999. 286p. MARSCHNER, H. Mineral nutrition of higher plants. 2 ed. San Diego, CA: Academic Press, 1995. 902 p.sousa, D.M.G. & LOBATO, E. Correção da acidez do solo. In: SOUSA, D.M.G.DE; LOBATO, E. (Eds).Cerrado: correção do solo e adubação. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. 416p.