Violação à Convenção nº 98 da OIT: O Brasil deve permanecer na lista curta? LUCIANA PAULA CONFORTI Diretora de Formação e Cultura e membro da Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da ANAMATRA lucianapaulaconforti@gmail.com
APRESENTAÇÃO - A Reforma Trabalhista completou 18 meses de vigência e mesmo antes da sua aprovação foi inserida nas discussões da OIT; - A principal violação detectada foi com relação à Convenção nº 98 da OIT, que trata da negociação coletiva, principal mote da Reforma Trabalhista; - A ideia é a de abordar breve histórico das discussões na OIT sobre o tema, a partir de 2017 e as perspectivas para a próxima Conferência Internacional do Trabalho, em 2019.
COMISSÃO ESPECIAL DESTINADA A PROFERIR PARECER AO PROJETO DE LEI Nº 6.787, DE 2016 (ALTERA O DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943) Presidente: Deputado DANIEL VILELA Relator: Deputado ROGÉRIO MARINHO Justificativa do Projeto de Lei aprimorar as relações do trabalho no Brasil, por meio da valorização da negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores, atualizar os mecanismos de combate à informalidade da mão-de-obra no país, regulamentar o art. 11 da Constituição Federal, que assegura a eleição de representante dos trabalhadores na empresa, para promover-lhes o entendimento direto com os empregadores, e atualizar a Lei n.º 6.019, de 1974, que trata do trabalho temporário (grifei).
- Logo após a vigência da Reforma Trabalhista houve demissões em massa, com sinalizações de contratações de trabalhadores como intermitentes ou autônomos. Em abril de 2019, houve a criação de 129.601 vagas de empregos formais, encontrando-se nesse número 5.422 vagas de trabalho intermitente e 2.827 na modalidade de trabalho parcial. <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/05/24/brasil-cria-129-mil-vagas-de-empregoformal-no-melhor-mes-de-abril-em-6-anos.ghtml>. Acesso em 25 mai.2019. - Desemprego sobe para 12,7% em março e atinge 13,4 milhões de brasileiros. Trata-se da maior taxa desde o trimestre terminado em maio de 2018. Segundo o IBGE, número de subutilizados atingiu o recorde de 28,3 milhões de pessoas. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/04/30/desemprego-sobepara-127percent-em-marco-diz-ibge.ghtml>. Acesso em: 25 mai.2019.
INCENTIVO ÀS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS? Dados de 2018 A arrecadação dos Sindicatos, inclusive dos patronais, com o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, representou déficit 80% e houve queda das negociações coletivas, no percentual de 44% em relação ao período anterior à aprovação da nova lei. Disponível em: <http://www.valor.com.br/brasil/5410513/entidades-patronais-perdemcerca-de-80-do-imposto-sindical> Acesso em 16 mai.2018. Disponível em: <http://www.redebrasilatual.com.br/trabalho/2018/04/numero-deacordos-e-convencoes-coletivas-reduz-apos-reforma-trabalhista> Acesso em 16 mai.2018.
INCENTIVO ÀS NEGOCIAÇÕES COLETIVAS? Dados de 2019 Em 2018 a sindicalização teve o seu menor índice no período de 6 anos e após a vigência da Reforma Trabalhista, houve a redução de 45,2% no número de Convenções Coletivas de Trabalho e de 34% dos Acordos Coletivos de Trabalho redução média de 39,6% de negociações coletivas. Disponível em: <https://extra.globo.com/noticias/economia/numero-de-acordos-em-convencoescoletivas-tem-queda-de-45-apos-reforma-trabalhista-22968277.html>. Acesso em 26 mai.2019. Disponível em: <https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,sindicatos-perdem-90-dacontribuicao-sindical-no-1-ano-da-reforma-trabalhista,70002743950>. Acesso em: 26 mai.2019.
Desde a Conferência Internacional do Trabalho de 2017, a OIT vinha alertando o Brasil de que a então proposta legislativa feria às Convenções nº 98, nº 151 e nº 154 da OIT; Na Conferência Internacional do Trabalho de 2018, o tema voltou a ser discutido, uma vez que o Projeto de Lei não teve qualquer alteração no Parlamento - O Brasil adotou postura diplomática reprovável, desqualificando os Peritos da OIT e a Comissão de normas do Organismo Internacional a discussão foi adiada, para que o Brasil prestasse novas informações até outubro/novembro/2018 Na Conferência Internacional de 2019, o tema voltará a ser discutido.
RESUMO DO RELATÓRIO DOS PERITOS PARA A CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE 2019 O objetivo geral das Convenções nº 98, nº 151 e nº 154 da OIT é a promoção de negociação coletiva que resulte em condições de trabalho mais favoráveis do que as previstas na legislação. As convenções e acordos coletivos prevalecem sobre a lei em 14 temas (Art. 611 A da CLT); tais temas relacionam-se com diversos aspectos da relação laboral e compõem lista não taxativa de matérias, o que possibilita a derrogação, por meio de negociação coletiva, de todas as disposições legais, com a única exceção dos direitos laborais consagrados na Constituição, de acordo com a previsão do Art. 611-B da CLT, o que fere o Art. 4º da Convenção 98 da OIT.
- Discussões sobre o art. 611 da CLT e violação do Art. 4º da Convenção nº 98 da OIT - A Comissão solicita que o Governo revise os artigos 611-A e 611-B, a fim de que fiquem mais claras as situações em que a negociação coletiva poderá prevalecer sobre a legislação e com que alcance. Solicita, ainda, que preste informações a respeito do avanço das negociações coletivas no país e sobre quais exceções à legislação foram incluídas nessas negociações.
Com relação aos altos empregados (art. 444 da CLT diploma de ensino superior e salário de R$ 11.000,00), a comissão solicita a revisão do dispositivo, para que seja adaptado à Convenção nº 98 da OIT; Sobre os trabalhadores autônomos, a comissão observou que as disposições da CLT também ferem o art. 4º da Convenção nº 98, por não propiciarem negociação livre para a melhoria das respectivas condições de trabalho.
A comissão reiterou para que o Governo envie informações acerca dos impactos da Reforma Trabalhista, sobre: i) proteção adequada contra discriminação antissindical; ii) iii) negociação livre e voluntária; direito de negociação coletiva no setor público; iv) submissão das Convenções Coletivas à politica econômica/financeira. - Possível violação à Convenção nº 122 da OIT, que trata da Política de Emprego, considerando o incentivo à pejotização ou à informalidade, inclusive com danos à Previdência Social, segundo especialistas.
DIANTE DE TAL QUADRO E DA VIOLAÇÃO DA CONVENÇÃO Nº 98 DA OIT, O BRASIL DEVERÁ PERMANECER NA LISTA CURTA? Obs: lista dos 24 países com piores violações à Convenções Internacionais do Trabalho a lista ampliada contém 40 países
As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Quando Carlos Drumond de Andrade falou os lírios não nascem das leis, quis expressar que a lei não traz felicidade e que depende da ação de homens e mulheres. Caberá à sociedade civil, assim, reconquistar direitos históricos violados, além de alcançar outros. OBRIGADA! lucianapaulaconforti@gmail.com