LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA HISTÓRIA, SOCIEDADE E CULTURA. Inara de Oliveira Rodrigues Paulo Roberto Alves dos Santos



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Letras Vernáculas. Módulo 4. Volume 4 drerit libero aliquam. Nulla facilisis arcu quis mi sodales tempor. Suspendisse vehicu sa id blandit rutrum, lorem orci dictum ligula, eget fermentum mauris arcu placerat erat. In a urna nisi. Nulla pretium cursus massa, non dapibus libero elementum non. Etiam rhonc purus. Integer ac lectus velit, mattis cursus elit. Sed eget magna metus, non auctor lore m sociis natoque penatibus et magnis dis parturient montes, nascetur ridiculus mus. Null gnissim tellus. In nec nibh eros, sed fermentum nisl. Cras id sapien a magna venenatis matt am accumsan sem at eros malesuada pharetra. In ac nulla diam. Morbi ultrices tempor maur tpat aliquet ligula vehicula in. Maecenas et erat in nunc lobortis congue. d posuere, odio at cursus hendrerit, sem lorem placerat magna, quis varius velit arcu sed nu nec in lorem justo. Nulla eget dui nulla. Nulla ultricies, risus vitae laoreet mattis, felis an modo lectus, nec convallis neque quam ac sapien. Proin lectus ipsum, consequat quis lacin cus, elementum ac magna. Sed non auctor nisi. Integer in lorem lectus, laoreet consectetur el quam malesuada libero eu turpis mattis sit amet lacinia velit blandit. Nulla eu accumsan vel am tincidunt tortor neque. Donec tincidunt blandit mauris, eu rhoncus sem adipiscing vamus id eros a orci sodales vulputate. Nulla pharetra viverra sapien elementum sodales. N la magna, fringilla ac fringilla in, blandit ut sapien. vamus varius sem vel enim tempus quis aliquam quam gravida. Curabitur nibh diam, adip g vel luctus nec, fringilla id magna. Donec in felis massa, a venenatis lorem. Aliquam tinc convallis congue. Quisque sit amet orci et elit sodales semper. Aliquam ut leo ut turp drerit tincidunt et eget sapien. Donec porttitor massa nec metus sodales sodales. Donec uam ante. Quisque laoreet, libero ut rhoncus ultricies, eros tortor sodales augue, eget hendre magna eget risus. Phasellus pellentesque mi ac ante sodales at cursus sapien aliquet. Ph I LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA HISTÓRIA, SOCIEDADE E CULTURA Inara de Oliveira Rodrigues Paulo Roberto Alves dos Santos Ilhéus, 2012 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 1 25/07/2012 14:07:52

Universidade Estadual de Santa Cruz Reitora Profª. Adélia Maria Carvalho de Melo Pinheiro Vice-reitor Prof. Evandro Sena Freire Pró-reitor de Graduação Prof. Elias Lins Guimarães Diretor do Departamento de Letras e Artes Prof. Samuel Leandro Oliveira de Mattos Ministério da Educação LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 3 25/07/2012 14:07:54

Letras Vernáculas Módulo 4 Volume 4. Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura 1ª edição Junlo de 2012 462 exemplares Copyright by EAD-UAB/UESC Todos os direitos reservados à EAD-UAB/UESC Obra desenvolvida para os cursos de Educação a Distância da Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC (Ilhéus-BA) Campus Soane Nazaré de Andrade - Rodovia Ilhéus- Itabuna, Km 16 - CEP 45662-000 - Ilhéus-Bahia. www.nead.uesc.br uabuesc@uesc.br (73) 3680.5458 Projeto Gráfico e Diagramação Jamile Azevedo de Mattos Chagouri Ocké João Luiz Cardeal Craveiro Capa Sheylla Tomás Silva Impressão e acabamento JM Gráfi ca e Editora Ficha Catalográfi ca R696 Rodrigues, Inara de Oliveira. Literaturas de língua portuguesa : história, sociedade e cultura / Inara de Oliveira Rodrigues, Paulo Roberto Alves dos Santos. Ilhéus, BA: Editus, 2012. 374p. : il. (Letras - módulo 4 volume 4 EAD) ISBN: 978-85-7455-283-5 1. Literatura História e crítica. 2. Literatura brasileira. 3. Literatura portuguesa. 4. Literatura africana. 5. Literatura e Sociedades. 6. Língua portuguesa. I. Santos, Paulo Roberto Alves dos. II. Título. III. Série. CDD 869.09 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 4 25/07/2012 14:07:56

EAD. UAB UESC Coordenação UAB UESC Profª. Drª. Maridalva de Souza Penteado Coordenação Adjunta UAB UESC Profª. Drª. Marta Magda Dornelles Coordenação do Curso de Letras Vernáculas (EAD) Profª. Ma. Eliuse Sousa Silva Elaboração de Conteúdo Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues Prof. Dr. Paulo Roberto Alves dos Santos Instrucional Design Profª. Ma. Marileide dos Santos de Oliveira Profª. Ma. Cibele Cristina Barbosa Costa Profª. Ma. Cláudia Celeste Lima Costa Menezes Revisão Prof. Me. Roberto Santos de Carvalho Coordenação Fluxo Editorial Me. Saul Edgardo Mendez Sanchez Filho LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 5 25/07/2012 14:07:56

PARA ORIENTAR SEUS ESTUDOS PARA CONHECER Aqui você será apresentado a autores e fontes de pesquisa a fi m de melhor conhecê-los. SAIBA MAIS Aqui você terá acesso a informações que complementam seus estudos a respeito do tema abordado. São apresentados trechos de textos ou indicações que contribuem para o aprofundamento de seus estudos. VERBETE Signifi cado ou referência de uma palavra utilizada no texto que seja importante para sua compreensão. LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 6 25/07/2012 14:07:56

DISCIPLINA LITERATURAS DE LÍNGUA PORTUGUESA História, Sociedade e Cultura Profª. Drª. Inara de Oliveira Rodrigues Prof. Dr. Paulo Roberto Alves dos Santos EMENTA Estudo das Literaturas de Língua Portuguesa a partir da análise crítico-refl exiva de autores e obras singulares e fundamentais. Carga Horária: 60 horas LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 7 25/07/2012 14:07:56

OS AUTORES Inara de Oliveira Rodrigues Possui graduação em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1987), mestrado em Letras (Teoria da Literatura) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1996) e doutorado em Letras (Teoria da Literatura) pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2000). Atualmente é professora do curso de Letras da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC - Ilhéus-BA) e Vice-coordenadora do PPGL Mestrado em Linguagens e Representações. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Outras Literaturas Vernáculas, atuando principalmente nos seguintes temas: Literatura e História, Literatura Portuguesa, Identidade, Literatura Brasileira, Leitura. Paulo Roberto Alves dos Santos Possui graduação em Letras pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras (1987), mestrado em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1996) e doutorado em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2005). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Teoria Literária, atuando principalmente nos seguintes temas: crítica literária, literatura brasileira, história da literatura, crítica feminina e literatura sul-rio-grandense. LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 8 25/07/2012 14:07:56

APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Cara aluna, caro aluno, A literatura, assim como qualquer outra manifestação artística, é expressão de uma coletividade e como tal se vincula a fenômenos socioculturais do grupo no qual se origina. A percepção de uma obra literária está diretamente relacionada à familiaridade que temos com a realidade histórica e o ambiente cultural que a gerou. Por isso, para estudarmos as literaturas de língua portuguesa, são importantes as informações a respeito da formação de Portugal, das grandes navegações realizadas pelos portugueses, da colonização do Brasil e dos cinco Países Africanos de Língua Ofi cial Portuguesa (os PALOP) - Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau - bem como dos processos subsequentes relacionados às independências desses países. A partir do reconhecimento desses fatos e de diferentes contextos histórico-culturais, você terá condições de desenvolver leituras críticas sobre as mais relevantes expressões artístico-literárias que, do passado ao presente, constituem-se em um legado sempre atualizado pelos novos olhares e refl exões que propiciam. Bom trabalho! Inara de Oliveira Rodrigues Paulo Roberto Alves dos Santos LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 9 25/07/2012 14:07:56

SUMÁRIO UNIDADE 1 AULA 1 - PORTUGAL: PRÁTICA, CULTURA E LÍNGUA 1 INTRODUÇÃO...17 2 A FORMAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS...18 2.1 A Idade Média: definição de território e organização de um Estado...18 2.2 As atividades econômicas...22 2.3 A formação cultural de Portugal...23 3 A LÍNGUA PORTUGUESA...27 ATIVIDADES...32 RESUMINDO...36 REFERÊNCIAS...37 AULA 2 - LITERATURA MEDIEVAL 1 INTRODUÇÃO...41 2 A PROSA MEDIEVAL...41 3 O TROVADORISMO E AS CANTIGAS...44 3.1 Os cancioneiros...45 3.2 As cantigas e suas modalidades...46 3.3 A decadência do Trovadorismo...61 ATIVIDADES...63 RESUMINDO...65 REFERÊNCIAS...65 AULA 3 - O HUMANISMO 1 INTRODUÇÃO...69 2 O HUMANISMO EM PORTUGAL...69 2.1 As mudanças: do ensino à percepção do mundo...69 2.2 As crônicas de Fernão Lopes...74 3 GIL VICENTE: O VELHO E O NOVO COMO PRENÚNCIO DE OUTRA ERA...79 3.1 O teatro medieval português...79 3.2 O teatro de Gil Vicente...81 ATIVIDADES...92 RESUMINDO...93 REFERÊNCIAS...93 AULA 4 - O RENASCIMENTO 1 INTRODUÇÃO...99 2 O RENASCIMENTO EM PORTUGAL...99 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 11 25/07/2012 14:07:57

3 A POESIA LÍRICA DE LUÍS DE CAMÕES...102 4 A POESIA ÉPICA DE CAMÕES...108 4.1 Os Lusíadas...112 4.1.2 A estrutura da epopeia camoniana...116 5 O LEGADO DE OS LUSÍADAS...121 6 QUADROS-SÍNTESE DE OS LUSÍADAS...122 ATIVIDADES...123 RESUMINDO...126 REFERÊNCIAS...126 AULA 5 - CONCERTOS BARROCOS 1 INTRODUÇÃO...131 2 BRASIL: A TERRA MUITO CHÃ E MUITO FORMOSA...132 3 SEMENTES LANÇADAS AOS ECOS DE GIL VICENTE E CAMÕES...134 4 DISSONÂNCIAS E NOTAS VARIADAS DO BARROCO NO BRASIL E EM PORTUGAL...138 4.1 Padre Antônio Vieira...138 4.2 Gregório de Matos...143 4.3 Duas vozes relevantes com diapasões diferentes...150 ATIVIDADES...152 RESUMINDO...156 REFERÊNCIAS...157 UNIDADE 2 AULA 6 - ACORDES ÁRCADES E ECOS CAMONIANOS NO BRASIL 1 INTRODUÇÃO...163 2 ECOS DE CAMÕES NAS MONTANHAS MINEIRAS...164 3 HERANÇA DE CLÁUDIO MANUEL: O PARDO DE VERGONHAS DESCOBERTAS COMO HERÓI... 171 3.1 Basílio da Gama: criador de belas imagens do índio e da natureza...172 3.2 Santa Rita Durão: conhecimento sobre a vida do índio...178 3.3 Os fundadores do indianismo...186 ATIVIDADES...190 RESUMINDO...191 REFERÊNCIAS...192 AULA 7 - A FORMAÇÃO DAS LITERATURAS DOS PAÍSES AFRICANOS DE LÍNGUA OFICIAL PORTUGUESA (PALOP) 1 INTRODUÇÃO...197 2 A FORMAÇÃO DAS LITERATURAS DOS PALOP...197 2.1 O processo de dominação portuguesa na África...197 2.2 Momentos iniciais das literaturas nos PALOP...200 2.2.1 Como devemos chamar as literaturas dos PALOP?...201 2.2.2 Qual a importância da oralidade para as literaturas dos PALOP?...202 2.2.3 Qual é a situação do português e das línguas nacionais nessas literaturas?... 204 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 12 25/07/2012 14:07:57

2.2.4 Como se formaram os atuais sistemas literários dos PALOP?...208 3 DA ÉPOCA COLONIAL AOS ANOS DE 1960...210 3.1 Cabo Verde...210 3.2 São Tomé e Príncipe...212 3.3 Angola...215 3.4 Moçambique...217 3.5 Guiné-Bissau...220 ATIVIDADES...222 RESUMINDO...227 REFERÊNCIAS...227 UNIDADE 3 AULA 8 - O ROMANTISMO E A AFIRMAÇÃO DA NACIONALIDADE 1 INTRODUÇÃO...233 2 NOVOS CONTEXTOS, NOVAS HISTÓRIAS...233 3 A ESTÉTICA ROMÂNTICA EM PORTUGAL...236 3.1 A prosa de Almeida Garrett...236 3.2 Outros autores relevantes...243 4 O ROMANTISMO NO BRASIL...247 4.1 José de Alencar e a atualidade do passado...252 ATIVIDADES...257 RESUMINDO...266 REFERÊNCIAS...266 AULA 9 - REALISMO, NATURALISMO, PROGRAMAS E RUPTURAS 1 INTRODUÇÃO...271 2 O REALISMO/NATURALISMO EM PORTUGAL...272 2.1 A proposta estético-política de Eça de Queirós...279 3 O REALISMO E O NATURALISMO NO BRASIL...285 3.1 A singularidade da obra de Machado de Assis...287 ATIVIDADES...296 RESUMINDO...303 REFERÊNCIAS...303 AULA 10 - MODERNISMOS 1 INTRODUÇÃO...309 2 DO SÉCULO XIX AO XX: TRANSFORMAÇÕES E DESAFIOS...310 3 OS MODERNISMOS...311 3.1 O grupo Orpheu: heranças e rupturas...311 3.1.1 A poética de Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro...319 3.2 A antropofagia brasileira: para além da Semana de 22...326 ATIVIDADES...333 RESUMINDO...337 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 13 25/07/2012 14:07:57

REFERÊNCIAS...339 AULA 11 - PERCURSOS CONTEMPORÂNEOS 1 INTRODUÇÃO...343 2 LITERATURA E ENGAJAMENTO...343 2.1 Contextos conturbados...343 2.2 O Neorrealismo e a obra de Alves Redol...346 2.3 A arte engajada de Jorge Amado...350 3 NOVOS CENÁRIOS, NOVOS ATORES...357 3.1 Perspectivas contemporâneas na cena brasileira...358 3.2 As literaturas dos PALOP: problematizações da memória e da história...361 3.3 A literatura portuguesa entre a retomada da história e novos rumos...364 ATIVIDADES...367 RESUMINDO...373 REFERÊNCIAS...373 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 14 25/07/2012 14:07:57

1ª unidade AULA 1 PORTUGAL: PRÁTICA, CULTURA E LÍNGUA OBJETIVOS Possibilitar o reconhecimento das inter-relações entre história e literatura, sociedade e cultura, a partir do estudo da formação do Estado português, do conceito de pátria e dos principais aspectos relacionados à língua portuguesa. LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 15 25/07/2012 14:07:57

Portugal: prática, cultura e língua Unidade 1. Aula 1 1 INTRODUÇÃO Para início de conversa, convidamos você a nos acompanhar em um breve passeio pelo passado de Portugal, para conhecer um pouco sobre sua formação enquanto Estado, a evolução da língua, o surgimento da literatura, entre outros aspectos. Para fazermos esse percurso, recorreremos à História, pois é importante que você perceba um fato importante, sobre o qual chamaremos sua atenção constantemente: para o estudo de Literatura, portanto de qualquer texto literário, precisamos levar em consideração a série de fatores de ordem econômica, social, moral, cultural, religiosa, política, entre outros, com os quais ela se vincula. Por isso, devemos buscar na História informações que podem contribuir significativamente para a compreensão de um conto, de um romance ou de um poema, pois o aparecimento da obra é sempre uma forma de diálogo com o meio em que ela se insere. Essa é a razão que justifica nossa viagem pelo tempo, pois assim poderemos compreender melhor a literatura produzida na língua que falamos nós, os brasileiros, os portugueses, os angolanos, os moçambicanos, os caboverdianos, os guineenses e os são-tomenses. UESC Módulo 4 I Volume 4 17 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 17 25/07/2012 14:07:57

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura 2 A FORMAÇÃO DO ESTADO PORTUGUÊS 2.1 A Idade Média: definição de território e organização de um Estado O início de nossa viagem é pelo ponto mais distante, situado lá na Idade Média, mais exatamente o século XII. Na época, a ideia de país era diferente da que temos nos dias atuais, e a Europa se dividia de outra maneira. Inicialmente, devemos levar em conta as diferentes definições para povo e pátria. Estes termos passaram a ser empregados na acepção que hoje conhecemos a partir do século XIX, quando o conceito de nação adquiriu o sentido que usamos. No texto a seguir, a professora e filósofa Marilena Chauí esclarece que: Antes da invenção histórica da nação, como algo político ou Estado-nação, os termos políticos empregados eram povo (em referência a um grupo de indivíduos organizados institucionalmente, que obedecia a normas, regras e leis comuns) e pátria. Essa palavra também deriva de um vocábulo latino, pater, pai. Não se trata, porém, do pai como genitor de seus filhos - nesse caso, usava-se genitor - mas de uma figura jurídica, definida pelo antigo direito romano. Pater é o senhor, o chefe, que tem a propriedade privada absoluta e incondicional da terra e de tudo o que nela existe, isto é, plantações, gado, edifícios ( pai é o dono do patrimonium), e o senhor, cuja vontade pessoal é lei, tendo o poder de vida e morte sobre todos os que formam seu domínio (casa, em latim, se diz domus, e o poder do pai sobre a casa é o dominium), e os que estão sob seu domínio formam a família (mulher, filhos, parentes, clientes e escravos). Pai se refere, portanto, ao poder patriarcal e pátria é o que pertence ao pai e 18 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 18 25/07/2012 14:07:57

Portugal: prática, cultura e língua está sob seu poder. É nesse sentido jurídico preciso que, no latim da Igreja, Deus é Pai, isto é, senhor do universo e dos exércitos celestes. É também essa a origem da expressão jurídica pátrio poder, para referir-se ao poder legal do pai sobre filhos, esposa e dependentes (escravos, servos, parentes pobres). Se patrimônio é o que pertence ao pai, patrício é o que possui um pai nobre e livre, e patriarca é a sociedade estruturada segundo o poder do pai. Esses termos designavam a divisão social das classes em que patrícios eram os senhores da terra e dos escravos, formando o Senado romano, e povo eram os homens livres plebeus, representados no Senado pelo tribuno da plebe (CHAUÍ). 1 Unidade 1. Aula Assim, compreendemos que é nesse contexto de formação da sociedade patriarcal que se constitui o Estado português. No caso da Península Ibérica, existiam ali vários reinos, entre eles Castela, Leon, Galícia e Aragon, ocupando o território em que hoje se situam Portugal e Espanha. Se você pesquisar sobre a história de Portugal, verá que, desde o final do século IX, há referências a um local chamado Condado Portucalense. Foi, porém, a partir do século XII que esse território se transformou em Estado independente. Quando se fala em independência, nós pensamos no Brasil, onde a emancipação ficou marcada por um ato. Com Portugal aconteceu diferente e todo o processo durou décadas, ao longo das quais se sucederam vários fatos: os acontecimentos marcantes foram a revolta liderada por Afonso Henriques (1109-1185) e a conquista do Condado em 1128; a paz de Tui, de 1137; a conferência de Samora e a enfeudação do Papa em 1143; o desaparecimento do título de Imperador com a morte de Afonso VII (1105-1157) e a Bula Papal de 1179, reconhecendo a nova monarquia (SARAIVA, 1996). A chamada Revolta de Afonso Henriques teve UESC Módulo 4 I Volume 4 19 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 19 25/07/2012 14:07:57

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura Figura 1.1.1 - Afonso Henriques Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/ Ficheiro:AfonsoI-P.jpg grande importância, porque, a partir de então, a autonomia do Condado Portucalense começou a se consolidar, apesar de provocar uma sucessão de guerras com Castela e Leon, os reinos próximos. A intervenção do Papa, receoso de que os mouros se aproveitassem da fragilidade dos reinos que lutavam entre si e atacassem a Península Ibérica, encerrou os conflitos. Mesmo assim, a concessão definitiva do Condado a Afonso Henriques demorou cerca de vinte anos por causa da preocupação das autoridades da Igreja em evitar embaraços nas relações com os reinos vizinhos. Desse modo, o governante português passou a ser tratado como rei somente a partir de 1179. Os vinte e poucos anos consumidos para o reconhecimento do reinado, ou seja, para que a existência política de Portugal fosse admitida, foi um tempo curto se comparado ao período decorrido para a definição do território. Foram cem anos, ao longo dos quais se deram muitas lutas, iniciadas com a conquista de Santarém e de Lisboa, em 1147. Para expandir suas fronteiras, os portugueses enfrentaram os reinos ibéricos e os mouros, obtendo mais vitórias do que derrotas e aumentando seu território até a fixação dos limites atuais, o que ocorreu em 1271(SARAIVA, 1996). A formação de Portugal se desenvolveu sob a orientação política e econômica do Feudalismo. Você deve lembrar que o Feudalismo foi um sistema político em que a origem de nascimento do indivíduo determinava sua função social. Dentro de tal estrutura, as classes privilegiadas eram a nobreza e o clero, sustentadas pelos servos. O clero formava categoria social à parte, dispondo de hierarquia e direitos próprios. A Igreja era a representação divina no mundo e seu poder tinha natureza diferente em relação ao exercido pelos reis porque emanava diretamente de Deus. Por isso, as decisões dos religiosos não sofriam contestações. Daí a visão de mundo teocêntrica ou o 20 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 20 25/07/2012 14:07:57

Portugal: prática, cultura e língua Teocentrismo, segundo a qual Deus é o centro do mundo, que vigorou em Portugal e na Europa até o século XIV. A explicação das ações do homem como consequência da intervenção de forças divinas revela a ignorância em relação ao pensamento lógico e racional, bem como estimulava as práticas religiosas e a busca de santificação, com a pregação do amor e da humildade. A convergência de interesses fez com que Igreja e nobreza agissem conjuntamente no controle do conhecimento e, assim, formavam o único segmento com domínio da escrita e da leitura, por isso somente os indivíduos oriundos dessas duas classes tinham acesso à cultura letrada. O conhecimento escrito se restringia ao âmbito dos mosteiros e circulava em latim, a língua de todo o mundo cristão, porque estava acima dos reinos, mas escrita e falada unicamente por quem tinha estudo. Os clérigos exerciam a função de difusão da fé e do ensino das práticas do catolicismo e, assim, ocupavam papel importante para a divulgação do conhecimento. Você deve ter ideia de que eram grandes as dificuldades de comunicação e de transporte durante a Idade Média. Os livros eram reproduzidos em cópias manuscritas e predominava o analfabetismo tanto em Portugal quanto na Europa, de um modo geral. Sendo praticamente o único segmento letrado, o clero monopolizava a instrução, passando a existir ensino fora dos conventos apenas no último período da era medieval. Os mestres ensinavam o que se chamava Estudo Geral porque se distinguia daquele destinado à formação de clérigos (SARAIVA, 1996). A expansão do Estudo Geral provocou o surgimento da universidade, criada e organizada pela Igreja. A primeira a ser reconhecida foi a de Paris, em 1215. Dom Dinis (1279-1325) obteve autorização do Papa para criar uma universidade em Portugal no ano de 1290. Fundada com o nome de Estudo Geral de Lisboa, tinha por objetivo facilitar a formação de indivíduos para a carreira religiosa. Figura 1.1.2 - Copistas Fonte: http://sumateologica.files. wordpress.com/2011/02/monge_ escriba_medieval.jpg Figura 1.1.3 - Manuscritos da Bíblia Fonte: http://www.reporternet.jor. br/wp-content/uploads/2009/04/ codex_sinaiticus1.jpg 1 Unidade 1. Aula UESC Módulo 4 I Volume 4 21 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 21 25/07/2012 14:07:58

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura 2.2 As atividades econômicas A base inicial da economia foi a agricultura com o cultivo do trigo e de videiras, complementada por atividades como a caça, a pesca e a tecelagem, exercidas por mulheres. A ferraria também era bastante praticada porque se destinava à fabricação de utensílios essenciais para o uso cotidiano e agrícola. Paralelamente, o comércio se desenvolveu com certa rapidez e isso se deveu a vários fatores. Um deles foi a presença de judeus, povo de longa tradição comercial, em cidades conquistadas nas lutas contra os mouros. Outro fato foram os indícios de que, no século XII, já ocorriam navegações pela costa com caráter mercantil. Há documentos da concessão de salvo-condutos a portugueses pelo rei da Inglaterra, numa comprovação de que as relações comerciais com outros reinos por via marítima se intensificaram no século XIII. Por fim, são fartas as informações de mercadores ambulantes que faziam o comércio interno, levando seus produtos a todos os lugares, adquirindo gêneros dos agricultores para vendêlos nas povoações. As crônicas de Fernão Lopes, que estudaremos mais adiante, trazem notícias sobre essas feiras para a comercialização de produtos agrícolas. As atividades mercantis tomaram impulso e o crescimento da economia trouxe consequências para a organização social na medida em que propiciou o surgimento e o fortalecimento de um novo grupo, os comerciantes, tornando-se a causa para conflitos de interesses. As divergências nasceram da valorização de produtos como o vinho e o azeite no mercado externo, que exigiam a disponibilidade de mais terras para o plantio de videiras e oliveiras, em detrimento dos cereais (SARAIVA, 1996). O aparecimento de gêneros exportáveis criou nova realidade, na qual o cultivo da terra assumia outra função, perdendo seu caráter de simples meio de sobrevivência para 22 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 22 25/07/2012 14:07:58

Portugal: prática, cultura e língua se transformar em fonte de lucro. Além disso, sua exploração começou a se submeter aos desígnios do mercador, criando outro problema: o aumento de preços. O comprador estipulava o valor do produto, tomando por referência a cotação externa, incluindo amplas margens para cobrir os riscos do transporte marítimo e o lucro do mercador. O produtor, por sua vez, via-se forçado a baratear seu produto e a aviltar a mão de obra. A mais-valia da agricultura ficava com o homem da cidade, aquele que não tinha ação direta no cultivo, dando origem a um capitalismo urbano de raiz rural, com reflexos na estrutura social (ABDALA JÚNIOR; PASCHOALIN, 1990). No embate entre esses dois grupos, prevaleceu a posição de quem defendia a atividade mercantil externa, como se percebe pelo ciclo das grandes navegações dos séculos XV e XVI. Mais adiante, quando estudarmos Os Lusíadas, veremos que Camões abordou o problema, representado, principalmente, no episódio do Velho do Restelo, uma das passagens significativas da obra. 1 Unidade 1. Aula 2.3 A formação cultural de Portugal Até aqui, fizemos uma breve apresentação de acontecimentos ocorridos no período de formação de Portugal. Mencionamos como o Condado Portucalense se transformou em reino, tratamos da expansão e da delimitação territorial, falamos da organização social e da economia. Verificaremos, agora, como esses elementos contribuíram para o surgimento de uma literatura de língua portuguesa. Lembre-se de que nosso percurso se desenvolve a partir de uma retrospectiva histórica, ou seja, por meio da rememoração de acontecimentos importantes para o surgimento e a consolidação de Portugal como estado independente. UESC Módulo 4 I Volume 4 23 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 23 25/07/2012 14:07:58

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura O primeiro estágio do processo de formação de Portugal aconteceu num momento em que o Feudalismo começava a entrar em crise. A Idade Média chegava ao final e se inaugurava outro período histórico em que a economia, a organização social e a visão de mundo passavam por profundas transformações. A sociedade se reestruturava, nasciam vilas, povoados e cidades, formando um mercado consumidor para os produtos de origem agrícola. Com isso, apareceu o segmento intermediário entre o proprietário e o servo, que atuava no cultivo da terra. Nas ocupações urbanas, apareceram os indivíduos cujo negócio era o dinheiro. As Cruzadas haviam favorecido o crescimento de aglomerações humanas situadas em sua rota de deslocamento. saiba mais De 1096 a 1270, expedições foram formadas sob o comando da Igreja, a fim de recuperar Jerusalém (que se encontrava sob domínio dos turcos seldjúcidas) e reunificar o mundo cristão, dividido com a Cisma do Oriente. Essas expedições ficaram conhecidas como Cruzadas. A Europa do século XI prosperava. Com o fim das invasões bárbaras, teve início um período de estabilidade e um crescimento do comércio. Consequentemente, a população também cresceu. No mundo feudal, apenas o primogênito herdava os feudos, o que resultou em muitos homens para pouca terra. Os homens, sem terra para tirar seu sustento, lançaram-se na criminalidade, roubando, Figura 1.1.5 - Cruzadas. Fonte: http://www.fsspx.com.br/exe2/ wp-content/uploads/2010/10/cruzadas01.jpg saqueando e sequestrando. Algo precisava ser feito. Como foi dito anteriormente, o mundo cristão se encontrava dividido. Por não concordarem com alguns dogmas da Igreja Romana (adoração a santos, cobrança de indulgências etc.) os católicos do Oriente fundaram a Igreja Ortodoxa. Jerusalém, a Terra Santa, pertencia ao domínio árabe e até o século XI eles permitiram as peregrinações cristãs à Terra Santa. Mas no final do século XI, povos da Ásia Central, os turcos seldjúcidas, tomaram Jerusalém. Convertidos ao islamismo, os seldjúcidas eram bastante intolerantes e proibiram o acesso dos cristãos a Jerusalém. Em 1095, o papa Urbano II convocou expedições com o intuito de retomar a Terra Sagrada. Os cruzados (como ficaram conhecidos os expedidores) receberam este nome por carregarem uma grande cruz, principal símbolo do cristianismo, estampada nas vestimentas. Em troca da participação, ganhariam o perdão de seus pecados. A Igreja não era a única interessada no êxito dessas expedições: a nobreza feudal tinha interesse na conquista de novas terras; cidades mercantilistas como Veneza e Gênova se deslumbravam com a possibilidade de ampliar seus negócios até o Oriente e todos estavam interessados nas especiarias orientais, pelo seu alto valor, como: pimenta-do-reino, cravo, noz-moscada, canela e outros. Movidas pela fé e pela ambição, entre os séculos XI e XIII, partiram para o Oriente oito Cruzadas. Fonte: Cruzadas. Equipe Brasil Escola. Disponível em:http://www.brasilescola.com/historiag/cruzadas.htm. Acesso em mar. 2011. 24 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 24 25/07/2012 14:07:59

Portugal: prática, cultura e língua Mesmo diante de tais mudanças, a circulação da cultura escrita se restringia praticamente ao clero e à nobreza. A reprodução de cópias de livros em folhas de pergaminho era demorada e cara e exigia condições de trabalho existentes apenas nos conventos. Assim, a escrita permanecia como veículo secundário de transmissão cultural que se dava prioritariamente pela oralidade, pelos jograis, pelos cantores e músicos ambulantes. A divulgação ocorria nas feiras, nos castelos, nas cidades, por meio de um repertório musical e literário. A cultura escrita permanecia em poder dos padres e, pelas razões mencionadas anteriormente, eles faziam a mediação entre o saber dos livros e o saber popular. Surgiram, assim, duas literaturas a escrita e a oral apresentando características e especificidades distintas. Os livros reproduzidos nos conventos destinavam-se à preparação dos clérigos e ao serviço religioso, consistindo basicamente de obras de devoção e tratados escritos em latim. A literatura oral dos jograis tinha como alvo o público iletrado composto por vilões, burgueses e parte da nobreza. Seu conteúdo tomava como inspiração a vida e o interesse desse público, consistindo em poemas e narrativas na forma de verso (SARAIVA, 1996). A morosidade e o preço elevado das reproduções de cópias manuscritas de livros impediam a disseminação mais ampla da cultura escrita, restringindo-a aos religiosos, tanto que a palavra clérigo se tornou sinônimo de letrado. Em contrapartida, a cultura transmitida oralmente fixava os padrões de vida, a visão de mundo, os princípios e valores éticos, o patrimônio literário e a sabedoria popular. A expressão característica do Feudalismo na literatura foram os cantares épicos, como os dos Nibelungos, os da mitologia nórdica, as canções de gesta francesas. Na Península Ibérica, o interesse pela literatura heroica se manteve por mais tempo em razão da longa duração da mentalidade belicosa, estimulada pelas lutas contra os árabes. 1 Unidade 1. Aula UESC Módulo 4 I Volume 4 25 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 25 25/07/2012 14:07:59

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura saiba mais As epopeias medievais, ou canções de gesta, são longos poemas, em versos de oito, dez ou doze sílabas, reunidos em estrofes de extensão desigual, cada uma delas terminando por assonância numa vogal, em vez de rima. Era cantada diante de um auditório acompanhada de um instrumento de cordas semelhante à viola. O termo gesta é um neutro plural latino que significa coisas feitas, mas, posteriormente, tornou-se um feminino singular com o sentido de história. Trata-se de um poema ou conjunto de poemas cujos temas referem-se a um mesmo grupo de eventos lendários ou de protagonistas. O assunto se desenvolve em torno de personagem ou acontecimento real, modificado pela lenda e pela transmissão oral, o que se atesta pelas inúmeras versões de cada história. Os acontecimentos se dão na Alta Idade Média com invasões e lutas pela conquista de territórios. Inicialmente as histórias são contadas oralmente e, depois, escritas em versos, e ganham versões em prosa após alguns séculos. Entretanto, não devemos considerar, nesse gênero, a oposição verso/prosa, pois ela não havia naquele tempo, quando toda literatura, narrativa ou não, era feita em versos. As epopeias medievais exaltam as proezas de um herói, num período em que os estados nacionais ainda estão em formação. Mostram um mundo masculino, de batalhas, lutas por poder e combates a serviço de Deus. Há três grandes epopeias desta época: a Canção de Rolando, francesa; o Cantar de Mio Cid, espanhola e Canção dos Nibelungos, germânica. Fonte: disponível em: http://pt.shvoong.com/humanities. Acesso em: nov. 2010. para conhecer O Cantar de Mio Cid trata dos feitos de Ruy Diaz de Vivar ou Rodrigo Diaz de Vivar, que esteve à frente de lutas ocorridas na Península Ibérica, no século XI, contra a autoridade do rei. O poema se compõe de mais de 3700 versos, distribuídos em estrofes irregulares. A Canção de Rolando narra o heroísmo do conde Rolando, sobrinho de Carlos Magno, que morre na batalha de Roncesvales, ocorrida no século VIII. Alguns fatos e personalidades históricos sofrem alterações, adequando-se ao ambiente do século XI, época em que o poema apareceu e que também foi o período das Cruzadas e da reconquista da Península Ibérica pelos cristãos. A Canção dos Nibelungos é um conjunto de poemas épicos da literatura medieval alemã, de autoria individual ou coletiva anônima, cuja narrativa gira em torno do amor de uma mulher por seu marido, misturando ingredientes como traição, vingança e a decadência de um reinado. Essas canções estão disponíveis no site: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/ PesquisaObraForm.jsp 26 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 26 25/07/2012 14:07:59

Portugal: prática, cultura e língua Segundo Benjamin Abdala Júnior e Paschoalin (1990), contrastando com o sentimento hierárquico e rude das canções de gesta, cuja temática remetia aos horrores dos combates, existia a poesia lírica, de origem provençal. A Provença, região situada ao sul da França, teve papel comercial relevante durante o período das Cruzadas e seus trovadores serviram de modelo para a poesia medieval posterior. De conformação mais individualizada, essas poesias tematizam, entre outros assuntos da época, a superação da distância social pelo amor, a transposição das relações políticas entre as classes pela vassalagem para o plano da submissão amorosa do amante, a descrição da mulher como objeto amoroso, marcado pela delicadeza, a sutileza e a suavidade um claro processo de idealização amorosa. O surgimento e a propagação do lirismo provençal estão vinculados ao desenvolvimento da vida cortesã, que se concentrava nos palácios, em torno dos reis e dos nobres, refletindo sua adaptação à vida sedentária, que exigiu a criação de distrações como forma de ocupar o tempo ocioso. 1 Unidade 1. Aula 3 A LÍNGUA PORTUGUESA A língua portuguesa possui uma longa história e, como encontramos no site do Instituto Camões, não se esgota na descrição do seu sistema linguístico: uma língua como esta vive na história, na sociedade e no mundo. Ao contrário, tem uma existência que é motivada e condicionada pelos grandes movimentos humanos e, imediatamente, pela existência dos grupos que a falam. Desse modo, o português falado em Portugal, no Brasil, na África e, ainda que com menor registro, na Ásia pode continuar a ser sentido como uma única língua enquanto os povos dos vários países lusofalantes sentirem necessidade de laços que os unam. A língua é, porventura, o mais poderoso desses laços (http://cvc.instituto-camoes.pt/ hlp/brevesum/index.html). UESC Módulo 4 I Volume 4 27 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 27 25/07/2012 14:08:00

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura Com relação ao desenvolvimento do português na Europa, na época da criação do Estudo Geral de Lisboa, Portugal vivia um fenômeno linguístico peculiar. Como já vimos, o latim era a língua usada para as relações entre os reinos e pelos segmentos sociais escolarizados. O povo se comunicava empregando uma variante, o galego-português, originada do latim falado. Diante de tal situação, os letrados sentiram necessidade de aproximar as duas modalidades porque precisavam se comunicar com o povo, a fim de transmitir os sermões e as tradições pela oralidade, com o objetivo de controlar a formação dos indivíduos. Uma das medidas de aproximação entre a língua das pessoas escolarizadas e aquela de uso popular foi responsável pelo desenvolvimento do português que nós conhecemos hoje. Em decreto de 1179, Dom Dinis determinou a adoção oficial da língua portuguesa, contribuindo para que nosso idioma começasse a adquirir a forma dos dias atuais. Datam dessa época os primeiros documentos escritos, nos quais se observa a mescla do português com o galego. Embora o vocabulário e as regras de uso já estivessem definidos desde o século XII, foi durante a Dinastia de Avis (1383 a 1582) que a língua portuguesa se firmou. Já com relação ao português falado no Brasil, de acordo com Rosa Virgínia Mattos e Silva: leitura recomendada Para conhecer mais sobre esse assunto o português falado em nosso país leia o texto completo de Rosa Virgínia Mattos e Silva, História da Língua portuguesa no Brasil, disponível em: http://cvc. instituto-camoes.pt/hlp/ hlpbrasil/index.html. Pode-se afirmar [...] que até meados do século XVIII o multilinguismo generalizado caracteriza o território brasileiro [e] perdura: ainda hoje, apesar de a língua portuguesa ser a língua oficial majoritária no Brasil, persistem cerca de 180 línguas indígenas, com a média de 200 falantes por língua, faladas por 300.000 a 500.000 índios (estimativas de 2000), perfazendo 0,2% da população brasileira. Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/hlpbrasil/index. html. Acesso em nov. 2010. 28 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 28 25/07/2012 14:08:00

Portugal: prática, cultura e língua Com o tráfico de escravos, o multilinguismo brasileiro se enriqueceu e, segundo Jorge Couto (citado pela professora Rosa Virgínia no texto referido), nos finais de Quinhentos, a presença africana (42%) já se estendia a todas as capitanias, ultrapassando no conjunto, qualquer dos outros grupos portugueses (30%) e índios (28%) - apresentando um crescimento espetacular nas capitanias de Pernambuco e Bahia, esta última sextuplicando seus habitantes negros. Deve-se considerar, ainda, que o quadro geral do multilinguismo de nosso país completa-se com a chegada dos emigrantes europeus e asiáticos, sobretudo a partir do século XIX. Com relação ao português falado nos países africanos e asiáticos, deve-se considerar, no caso de Angola e Moçambique, que: 1 Unidade 1. Aula O português reparte a sua influência com numerosas línguas nacionais e é falado como língua materna por uma parte não majoritária da população. Nesses dois grandes países, a sua importância e as suas perspectivas de futuro vêm-lhe do papel como língua de administração, cultura e ensino, como língua de relação internacional e, principalmente, como língua de relação interétnica, papel que, na Guiné- Bissau, por exemplo, cabe ao crioulo. Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/brevesum/onde. html. Acesso em nov. 2010. saiba mais Os crioulos são línguas naturais, de formação rápida, criadas pela necessidade de expressão e comunicação plena entre indivíduos inseridos em comunidades multilingues relativamente estáveis. Procurando superar a pouca funcionalidade das suas línguas maternas, estes recorrem ao modelo imposto (mas pouco acessível) da língua socialmente dominante e ao seu saber linguístico para constituir uma forma de linguagem veicular simples, de uso restrito, mas eficaz, o pidgin, que posteriormente é gramaticalmente complexificada e lexicalmente expandida, em particular pelas novas gerações de crianças que a adquirem como língua materna, dando origem ao crioulo. UESC Módulo 4 I Volume 4 29 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 29 25/07/2012 14:08:00

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura Chamam-se de base portuguesa os crioulos cujo léxico é, na sua maioria, de origem portuguesa. No entanto, do ponto de vista gramatical, os crioulos são línguas diferenciadas e autônomas. Sendo a línguabase aquela que dá o léxico, podemos encontrar crioulos de diferentes bases: de base inglesa (como o Krio da Serra Leoa), de base francesa (como o crioulo das Seychelles), de base árabe (como o Kinubi de Uganda e do Quénia) ou outra. Os crioulos de base portuguesa são habitualmente classificados de acordo com um critério de ordem predominantemente geográfica embora, em muitos casos, exista também uma correlação entre a localização geográfica e o tipo de línguas de substrato em presença no momento da formação. Na África formaram-se os Crioulos da Alta Guiné (em Cabo Verde, Guiné-Bissau e Casamansa) e os do Golfo da Guiné (em S. Tomé, Príncipe e Ano Bom). [...] Na Ásia surgiram ainda crioulos de base portuguesa na Malásia (Malaca, Kuala Lumpur e Singapura) e em algumas ilhas da Indonésia (Java, Flores, Ternate, Ambom, Macassar e Timor) conhecidos sob a designação de Malaio-portugueses.Os crioulos Sino-portugueses são os de Macau e Hong-Kong. Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/crioulosdebaseport.html. Acesso em nov. 2010. Veja a seguir o mapa indicando os países em que a língua oficial é o português, salientando que Macau é uma região administrativa da China. Figura 1.1.5 Fonte: http://cvc.instituto-camoes.pt/hlp/geografia/index.html. Acesso em nov. 2010. LEGENDA: Países ou territórios com o português como língua materna e/ ou língua oficial: 1 Crioulos da Alta Guiné; 2 Crioulos do Golfo da Guiné; 3 Crioulos Indo-portugueses; 4 Crioulos Malaio-portugueses; 5 Crioulos Sino-portugueses; 6 Crioulos do Brasil 30 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 30 25/07/2012 14:08:00

Portugal: prática, cultura e língua Por fim, não se pode perder de vista a diversidade linguística que o português apresenta em todo seu grande território, espalhado por quatro continentes. Os linguistas divergem a respeito dessa diversidade. Para alguns, os atuais português de Portugal (PE) e o português do Brasil (PB) são línguas diferentes, enquanto outros, porém, constituem variedades bastante distanciadas dentro de uma mesma língua. No site do Instituto Camões, você pode acessar o Fórum dos Linguistas e ampliar seus conhecimentos sobre esse tema. 1 Unidade 1. Aula atenção Nestas nossas aulas, você deve observar que mantivemos a grafia do português de Portugal nos originais que selecionamos para as citações: já antes do Acordo Ortográfico (2012), os portugueses não colocavam acento circunflexo em leem, creem, etc., não acentuavam ditongos como ideia, epopeia, entre outros, nem usavam a trema, mas usavam o c, com valor de oclusiva velar, em palavras como afecto, acto, por exemplo, além de outras regras que foram alteradas pelo novo Acordo. Fora das citações originais, entretanto, seguimos as novas regras ortográficas em vigor. UESC Módulo 4 I Volume 4 31 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 31 25/07/2012 14:08:01

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura ATIVIDADES ATIVIDADES 1. Segundo Abdala Júnior e Paschoalin, (1990, p. 12), não haveria teocentrismo sem existir o feudalismo e viceversa, afinal um está a serviço do outro da mesma forma que não haveria o nobre ocioso se não houvesse o servo trabalhador. Explique essa afirmação, apresentando os principais aspectos da formação de Portugal. 2. Como afirma Marilena Chauí, no texto que citamos no início do capítulo, Se patrimônio é o que pertence ao pai, patrício é o que possui um pai nobre e livre, e patriarcal é a sociedade estruturada segundo o poder do pai. Esses termos designavam a divisão social das classes em que patrícios eram os senhores da terra e dos escravos, formando o Senado romano, e povo eram os homens livres plebeus, representados no Senado pelo tribuno da plebe. Retomando essa afirmativa, e sabendo-se que o patriarcalismo persistiu durante o feudalismo (assim como nas sociedades capitalistas, posteriormente), explique as principais relações de poder econômicas e sociais desse contexto histórico, destacando a situação portuguesa. 3. Pesquise em diversas fontes (sites, livros) e selecione trechos de pelo menos dois textos literários que corresponderam às expressões artístico-culturais da época de formação do Estado português. 4. Leia o poema Língua portuguesa, de Olavo Bilac, e descreva de que modo o poeta brasileiro representa a nossa língua. Justifique sua descrição, destacando e comentando versos do texto poético. 32 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 32 25/07/2012 14:08:01

Portugal: prática, cultura e língua Língua portuguesa Olavo Bilac Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela... 1 Unidade 1. Aula Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, em que da voz materna ouvi: meu filho!, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! [http://www.releituras.com/olavobilac_lingua.asp] 5. A partir da leitura da letra da música Língua, de Caetano Veloso, transcrita a seguir (não deixe de ouvir/assistir a um dos vídeos disponibilizados pelo youtube): a. destaque a forma como o autor percebe os vários usos da língua portuguesa; b. descreva a maneira como o texto apresenta a nossa língua em relação aos seus usuários e ao restante do mundo, de modo geral. Língua Caetano Veloso Gosto de sentir a minha língua roçar a língua de Luís de Camões Gosto de ser e de estar E quero me dedicar a criar confusões de prosódia E uma profusão de paródias Que encurtem dores E furtem cores como camaleões Gosto do Pessoa na pessoa Da rosa no Rosa UESC Módulo 4 I Volume 4 33 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 33 25/07/2012 14:08:01

Literatura de Língua Portuguesa - história, sociedade e cultura E sei que a poesia está para a prosa Assim como o amor está para a amizade E quem há de negar que esta lhe é superior? E deixe os Portugais morrerem à míngua Minha pátria é minha língua Fala Mangueira! Fala! Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode esta língua? Vamos atentar para a sintaxe dos paulistas E o falso inglês relax dos surfistas Sejamos imperialistas! Cadê? Sejamos imperialistas! Vamos na velô da dicção choo-choo de Carmem Miranda E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate E xeque-mate explique-nos Luanda Ouçamos com atenção os deles e os delas da TV Globo Sejamos o lobo do lobo do homem Lobo do lobo do lobo do homem Adoro nomes Nomes em ã De coisas como rã e ímã imã ímã ímã ímã ímã ímã ímã ímã Nomes de nomes Como Scarlet Moon de Chevalier, Glauco Mattoso e Arrigo Barnabé e Maria da Fé Flor do Lácio Sambódromo Lusamérica latim em pó O que quer O que pode esta língua? Se você tem uma idéia incrível é melhor fazer uma canção Está provado que só é possível filosofar em alemão Blitz quer dizer corisco Hollywood quer dizer Azevedo E o Recôncavo, e o Recôncavo, e o Recôncavo meu medo A língua é minha pátria E eu não tenho pátria, tenho mátria E quero frátria Poesia concreta, prosa caótica Ótica futura Samba-rap, chic-left com banana ( Será que ele está no Pão de Açúcar? Tá craude brô 34 Letras Vernáculas EAD LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 34 25/07/2012 14:08:01

Portugal: prática, cultura e língua Você e tu Lhe amo Qué queu te faço, nego? Bote ligeiro! Ma de brinquinho, Ricardo!? Teu tio vai ficar desesperado! Ó Tavinho, põe camisola pra dentro, assim mais pareces um espantalho! I like to spend some time in Mozambique Arigatô, arigatô!) Nós canto-falamos como quem inveja negros Que sofrem horrores no Gueto do Harlem Livros, discos, vídeos à mancheia E deixa que digam, que pensem, que falem 1 Unidade 1. Aula As indicações são apenas sugestões de recursos que você pode usar para tomar contato com alguns dos assuntos tratados na aula. Os filmes e os livros têm caráter ficcional, porém podem contribuir para o conhecimento sobre a vida na Idade Média, pois fazem referência a acontecimentos e figuras históricas, bem como a situações do cotidiano durante aquele período. A exceção é o filme Língua: vidas em português, porque se trata de um documentário. Quanto aos sites, recomendamos aqueles cujas informações são confiáveis porque estão ligados a instituições reconhecidas e em alguns os autores dos textos são identificados, permitindo que saibamos o quanto são experientes diante do assunto sobre o qual escrevem. filmes As cruzadas (2005), direção de Ridley Scott As cruzadas: a meia lua e a cruz (2005), direção de Stuart Elliot e Mark Lewis Coração Valente (1995), direção de Mel Gibson El Cid (1961), direção de Anthonny Mann Em nome de Deus (1988), direção de Clive Donner Excalibur (1981), direção de John Boorman Língua: vidas em português (2004), direção de Victor Lopes O nome da rosa (1986), de Jean-Jacques Annaud Robin Hood: o príncipe dos ladrões (1991), direção de Kevin Reynolds UESC Módulo 4 I Volume 4 35 LETRAS - MOD 4 - VOL 4 - Literatura de Língua Portuguesa - História, Sociedade e Cultura2.indd 35 25/07/2012 14:08:01