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(Sumário elaborado pela Relatora) Acordam os Juízes no Tribunal da Relação de Lisboa:

senhoria operou-se no fim do prazo estabelecido (caducidade do contrato); do estabelecimento comercial em causa outro se extinguiu;

Transcrição:

ECLI:PT:TRP:2008:0722737.12 http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ecli:pt:trp:2008:0722737.12 Relator Nº do Documento Canelas Brás rp200806030722737 Apenso Data do Acordão 03/06/2008 Data de decisão sumária Votação unanimidade Tribunal de recurso Processo de recurso Data Recurso Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público Meio Processual Decisão Apelação. confirmada a decisão. Indicações eventuais Área Temática Livro 276 - Fls 62.. Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores aval; pacto de preenchimento; relações imediatas; Página 1 / 6

Sumário: O avalista pode invocar perante o portador de uma livrança, inicialmente em branco, a violação do pacto de preenchimento respectivo, se estiver ainda no âmbito das relações imediatas, designadamente porque tanto esse portador como o avalista fora outorgantes no pacto de preenchimento da livrança. Decisão Integral: RECURSO Nº. 2737/2007-2 APELAÇÃO (PORTO) Acordam os juízes nesta Relação: A recorrente B., S.A., com sede na Rua., n.º., em Lisboa, vem interpor recurso da douta sentença proferida nos Juízos de Execução do Porto, nos autos de oposição à execução que aí lhe foram instaurados pelo executado, opoente e recorrido C., residente na Rua., n.º..,., Cantanhede, intentando ver revogada essa decisão da 1.ª instância que julgou totalmente procedente tal oposição e ordenou a extinção dessa execução quanto ao opoente (com o fundamento invocado na douta sentença recorrida de que a livrança dada à execução havia sido preenchida pela exequente com data de vencimento para lá da que fora estipulada no pacto de preenchimento, com violação, pois, desse pacto), alegando, para tanto e em síntese, que não pode a ora apelante conformar-se de modo algum com a decisão proferida pelo tribunal a quo, já que dadas as características da literalidade, abstracção e autonomia da obrigação cambiária, o pagamento do montante titulado pela livrança dada à execução decorre da circunstância de ser sua legítima portadora, uma vez que aquela já se encontra vencida. Dessarte, não pode o opoente vir invocar sequer a violação do pacto de preenchimento celebrado, pois que quem subscreve uma livrança em branco acompanhada de um contrato de preenchimento concede àquele a quem a entrega o direito de a preencher nos termos acordados. Sucede que o apelado figura na livrança dada à execução como avalista e encontra-se, portanto, relativamente à apelante, no domínio das relações mediatas, não é sujeito cambiário imediato, mas só garante da obrigação cambiária, não lhe assistindo, então, o direito de invocar as excepções que deduziu, exceptuada a do pagamento, o qual se não verificou. Na verdade, a própria lei, afastando as características da literalidade e da abstracção das letras e livranças, só permite opor ao seu portador mediato excepções alicerçadas em relações extracartulares estabelecidas com outrem, quando seja alegado e provado que o portador, ao adquirir a letra, para além de conhecer o vício anterior, tenha agido por tal facto de aquisição, com consciência de causar prejuízo ao devedor, o que nem vem sequer alegado. Termos em que deverá ser dado, pois, provimento ao recurso, a oposição julgada totalmente improcedente e sendo, por via disso, determinado o prosseguimento da execução. Responde o recorrido C. para dizer, também em síntese, que a recorrente não tem razão, pois que os intervenientes originários num título de crédito podem opor entre si qualquer excepção que tenha como suporte a relação jurídica subjacente. Com efeito, se o portador da livrança for o beneficiário originário e o avalista for o da relação causal, é óbvio que estamos no domínio das relações imediatas, o que torna possível a discussão das excepções que poderiam opor-se ao devedor avalizado e isto porque nunca se saiu da relação jurídica subjacente que deu origem ao título. Só quando, pois, introduzidos no comércio jurídico e em poder de terceiros isto é, quando Página 2 / 6

à relação cartular deixe de corresponder a relação causal que lhe serviu de fonte os dizeres do título tornam-se válidos por si mesmos (sendo que a razão de ser é a de impedir que os obrigados na relação cartular possam opor a um portador legítimo terceiro qualquer excepção de direito material fundada em relações pessoais delas com o sacador ou portador anterior que visasse exonerá-los ). De onde resulta que no domínio de relações imediatas se a livrança foi preenchida pelo primeiro adquirente, e é este quem reclama o pagamento, lhe pode sempre ser oposta a excepção de preenchimento abusivo, aduz. O recurso deverá, pois, improceder, mantendo-se na íntegra a douta sentença recorrida. * Vêm dados por provados os seguintes factos: 1) Foi apresentado à execução o documento agora junto a fls. 12 da acção executiva de que estes autos são apenso, denominada livrança n.º../ /03, contendo, além do mais, os seguintes dizeres: Importância: 111.801,60 euros; Vencimento: 2003/03/03; Local e Data de Emissão: Porto, 2001/12/31; Do contrato de locação financeira n.º...; Subscritor: D., S.A., com a aposição de duas assinaturas no local respectivo; Tomador: E., S.A., actualmente denominada B., S.A. ; Avalistas: No verso da livrança estão nove assinaturas, entre as quais se encontra a do executado/opoente C.[1], antecedida da asserção bom para aval à firma subscritora. 2) Com a data de 17/12/1996, mas com o reconhecimento notarial das assinaturas efectuado em 16 de Janeiro de 1997, foi celebrado entre a executada D., S.A. e a aqui exequente E., S.A., agora denominada de B., S.A., o contrato de locação financeira que consta do documento de fls. 34 a 40 daqueles autos de acção executiva, aqui dado por integralmente reproduzido. 3) De acordo com as condições particulares do mencionado contrato de locação financeira, constantes do documento de fls. 39 e 40 da acção executiva, ficou estipulado que o quantitativo de esc. 27.756.331$00 (138.448,00 euros) seria pago em 36 rendas mensais, a primeira no montante de esc. 8.326.899$00 (41.534,40 euros) e cada uma das demais 35 no valor unitário de 635.704$00, correspondentes a 3.170,88 euros; 4) No documento de fls. 41 do processo executivo, aqui igualmente dado por reproduzido na íntegra e denominado Pacto de Preenchimento de Livrança Caução em Branco, intervieram como outorgantes: Primeiro: E., S.A., actualmente denominada B., S.A. ; Segundo: D., S.A. ; Terceiros outorgantes: F. e esposa G.; H. e esposa I.; C. e esposa J e esposa L.. 5) Nesse referido pacto de preenchimento ficou convencionado, para além do mais, que: Como garantia de todas e quaisquer responsabilidades, como locatário, decorrentes do Contrato de Locação Financeira (Operação n.º.) celebrado entre os aqui primeiro e segundo outorgantes, este entrega, nesta data, ao primeiro outorgante uma livrança-caução em branco, por si subscrita e avalizada pelos terceiros outorgantes autorizando o primeiro outorgante a preenchê-la pelo valor em dívida, bem como a fixar-lhe o vencimento que melhor entender, mas nunca para data posterior à do termo do referido contrato. Página 3 / 6

O montante da livrança corresponderá ao valor das responsabilidades em dívida do segundo outorgante, emergentes daquele contrato e suas eventuais alterações, nomeadamente as resultantes de negociações acordadas entre os primeiro e segundo outorgantes, quer quanto ao prazo, quer quanto ao plano de rendas, não podendo, no entanto, ser superior a esc. 27.756.331$00, acrescido do I.V.A.. 6) A executada D., S.A. foi declarada falida por sentença de 13 de Novembro de 1998, transitada em julgado em 30 de Novembro seguinte, proferida no processo n.º /97, do..º Juízo do Tribunal Judicial da comarca de Cantanhede (vidé a certidão de fls. 36 a 40 dos autos, cujo teor aqui se dá igualmente por reproduzido na íntegra). 7) Aberto o concurso de credores, por apenso a esse processo de falência, a aqui exequente E., S.A., ora denominada B., S.A. reclamou, entre outros, o crédito relativo ao incumprimento do contrato de locação financeira nº..., sendo esc. 743.774$00 (3.709,92 euros) a título de rendas vencidas e não pagas, esc. 128.071$00 (638,81 euros) a título de juros de mora e esc. 4.416.277$00 (22.028,30 euros) a título de indemnização. 8) O crédito reclamado foi reconhecido e graduado por sentença de 26 de Março de 2004, a qual foi objecto de recurso para o Tribunal da Relação de Coimbra e para o Supremo Tribunal de Justiça, tendo sido sempre confirmada (vidé a certidão de fls. 41 a 87 dos autos e cujo conteúdo aqui se dá também por reproduzido integralmente). * Ora, a questão que demanda apreciação e decisão deste Tribunal é a de saber se o avalista de uma livrança em branco pode opor ao respectivo portador uma excepção de violação do pacto de preenchimento celebrado afinal, se nos encontramos ainda no domínio das relações imediatas (reportadas ao negócio subjacente), ou já no das relações mediatas (reportadas ao próprio título). É isso que, hic et nunc, está em causa, como se vê das conclusões do recurso. Vejamos. Como pano de fundo para esta problemática temos o disposto nos artigos 10.º e 17.º da Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças (aplicáveis ex vi do seu artigo 77.º), nos termos dos quais se uma letra incompleta no momento de ser passada tiver sido completada contrariamente aos acordos realizados, não pode a inobservância desses acordos ser motivo de oposição ao portador, salvo se este tiver adquirido a letra de má fé ou, adquirindo-a, tenha cometido uma falta grave (aquele artigo 10.º); e as pessoas accionadas em virtude de uma letra não podem opor ao portador as excepções fundadas sobre as relações pessoais delas com o sacador ou com os portadores anteriores, a menos que o portador, ao adquiri-la, tenha procedido conscientemente em detrimento do devedor (tal artigo 17.º). O ora opoente avalizou uma livrança em branco e outorgou no respectivo pacto de preenchimento. O exequente preencheu a livrança mas apôs-lhe uma data de vencimento estranha à que havia sido pactuada. [Estes pontos da douta sentença recorrida não motivaram desacordo, nem sobre eles incide, por isso, o presente recurso.] O avalista, uma vez demandado na execução, vem excepcionar a violação do pacto de preenchimento por a data de vencimento não ter sido a acordada. A douta sentença recorrida deu-lhe razão. E bem, salva melhor opinião. É que aquele regime (proibitivo) previsto nos referidos artigos 10.º e 17.º da L.U.L.L. só tem aplicação no âmbito das chamadas relações mediatas quer dizer, daquelas que se Página 4 / 6

estabeleceram depois da livrança sair das mãos dos seus contraentes iniciais e, basicamente por endosso, entrar em circulação e passar a valer por si própria (vidé Abel Delgado na sua Lei Uniforme Sobre Letras e Livranças, Anotada, 5.ª edição, página 118: estamos no âmbito das relações mediatas, em virtude da letra estar na posse de pessoa estranha à convenção extracartular). Com efeito, aquelas características já sobejamente conhecidas dos títulos de crédito literalidade, abstracção e autonomia foram efectivamente criadas ao longo do tempo pelo labor dos juristas por uma razão simples: conferir-lhes um valor próprio, fazendo-os valer por si mesmos e, assim, criar um importante instrumento ao serviço e para facilitar o comércio jurídico. [Visando facilitar a circulação dos títulos de crédito e defender interesses dos terceiros de boa fé, o regime cambiário é informado pelas características da literalidade (a reconstituição da obrigação fazse pela simples inspecção do título), da abstracção (a letra é independente da causa debendi ) e da autonomia (o portador é considerado portador originário) Abel Delgado, idem, pág. 115.] Dessarte, quem se apresenta como seu portador legítimo ou por ser o seu primeiro beneficiário, ou porque o recebeu de outros (por endosso) tem o direito de receber dos obrigados que lá constem o valor também nele referido. E os obrigados só têm que pagar. Porém, no domínio das relações imediatas aquelas que têm que ver com o negócio jurídico subjacente ao título não há nenhuma razão para que se não possam invocar problemas advindos desse negócio, designadamente, como no caso sub judicio, uma violação do pacto de preenchimento. Pois se as partes se mantêm as mesmas que outorgaram no negócio inicial e subjacente à livrança, não se verificam os pressupostos e razões que estiveram na base daquele regime proibitivo previsto nos referidos artigos 10.º e 17.º. Assim, se os obrigados neles se incluindo naturalmente o avalista, que fica obrigado da mesma maneira e em igual medida que o avalizado (artigo 32.º da LULL) tiverem alguma objecção a fazer com referência às vicissitudes do próprio negócio extracartular, poderão ainda fazê-la perante os intervenientes originários no negócio e isso não faz perigar em nada aquela função circulatória para que o título foi criado. Traçado um tal quadro propositadamente simplificado, mas perceptível podemos, então, constatar como não assiste agora razão à recorrente, pois que o opoente, executado, ora recorrido, era ele próprio parte outorgante no contrato denominado Pacto de Preenchimento de Livrança Caução em Branco, como o era também o próprio recorrente, só que então com outra denominação social: razão por que aquela invocação da violação do pacto de preenchimento do título executivo, efectuada em sede de oposição à execução, porque o foi por quem e perante quem tinha outorgado nesse pacto, é perfeitamente possível, nada na lei a proibindo, pois que está no domínio das relações imediatas. Neste sentido, vidé os doutos acórdãos desta Relação do Porto publicados pelo ITIJ, de 27 de Junho de 2006, com a referência n.º 0623005, este invocado pelo recorrido, onde se lê no respectivo sumário: o avalista do subscritor de uma livrança pode deduzir oposição à execução que lhe é movida pelo tomador, quando este seja ou continue a ser o beneficiário originário da livrança, mantendo-se a mesma identidade da relação causal subjacente ; de 29 de Novembro de 2006, com a referência n.º 0624506, invocado na douta sentença recorrida, que diz a certa altura: se o portador da livrança for o beneficiário originário e o avalista for o da relação causal, está-se no domínio das relações imediatas, tornando possível a discussão das excepções que poderiam opor-se ao devedor avalizado, porque não se saiu da relação jurídica subjacente que deu origem ao título ; de 28 de Junho de 2007, com a referência n.º 0732705, onde se lê no respectivo sumário: Página 5 / 6

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org) encontrando-se a livrança no domínio das relações imediatas (na posse do portador inicial), o avalista tem legitimidade para excepcionar o preenchimento abusivo, caso tenha subscrito também o acordo de preenchimento ; de 4 de Dezembro de 2007, desta Secção, com a referência n.º 0724430, onde se lê no seu sumário: encontrando-se a livrança no domínio das relações imediatas foi preenchida pela entidade mutuante, beneficiária, não chegando a entrar em circulação os avalistas que subscreveram o pacto de preenchimento têm legitimidade para excepcionar o preenchimento abusivo ; e de 13 de Março de 2008, com a referência n.º 0734831, onde se lê no respectivo sumário: o avalista tem legitimidade para excepcionar o preenchimento abusivo, se ele subscreveu o acordo de preenchimento, já que nesse caso se está no domínio das relações imediatas. Como assim, num tal enquadramento fáctico e jurídico, nada há a alterar agora ao que se mostra decidido, mantendo-se na ordem jurídica a sentença da 1.ª instância e improcedendo o recurso podendo, pois, ter-se presentes, como se decidiu, as relações imediatas, subjacentes à emissão da livrança e as vicissitudes que estão por trás dessa emissão, pois foi com as mesmas entidades que constam do título que decorreu o negócio subjacente (artigo 17.º a contrario da L.U.L.L.), não se podendo exigir do opoente/recorrido o montante titulado a partir do momento em que a exequente/recorrente desrespeitou as regras de preenchimento que haviam sido assinadas por todos, maxime a do prazo de vencimento do montante titulado na livrança. Em conclusão dir-se-á: O avalista pode invocar perante o portador de uma livrança inicialmente em branco a violação do pacto de preenchimento respectivo, se estiver ainda no âmbito das relações imediatas, designadamente porque tanto esse portador como o avalista foram outorgantes no pacto de preenchimento da livrança. * Decidindo. Assim, face ao que se deixa exposto, acordam os juízes nesta Relação em negar provimento ao recurso e confirmar a douta sentença recorrida. Custas pela recorrente. Registe e notifique. Porto, 03 de Junho de 2008 Mário João Canelas Brás Maria das Dores Eiró de Araújo Anabela Dias da Silva [1] A assinatura do executado/opoente foi identificada pelo confronto com a que consta do pedido de apoio judiciário Página 6 / 6