Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo

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Transcrição:

Acórdãos STA Processo: 031/08 Data do Acordão: 28-05-2008 Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Tribunal: Relator: Descritores: Sumário: 2 SECÇÃO PIMENTA DO VALE CONTRA-ORDENAÇÃO COIMA REVERSÃO DA EXECUÇÃO GERENTE PRINCÍPIO DA INTRANSMISSIBILIDADE DAS PENAS PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA INCONSTITUCIONALIDADE É materialmente inconstitucional, por violação dos princípios da intransmissibilidade das penas e da presunção de inocência, consagrados nos artºs 30º, nº 3 e 32º, nº 2 da CRP, o disposto no artº 8º do Regime Geral das Infracções Tributárias relativo à responsabilidade subsidiária dos administradores, gerentes e outras pessoas, em relação ao pagamento de coimas aplicadas à sociedade. Nº Convencional: JSTA0009181 Nº do Documento: SA220080528031 Recorrente: A... Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam nesta Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: 1 A..., melhor identificado nos autos, não se conformando com a sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga que negou provimento ao recurso judicial que interpôs do despacho do Chefe dos Serviços de Finanças que condenou a sociedade B..., Lda, no pagamento de uma coima, por falta de entrega da declaração periódica de IVA, relativo ao ano de 2001 e que contra si havia revertido, na qualidade de responsável subsidiário, dela veio interpor o presente recurso, formulando as seguintes conclusões:

A. A decisão que o aqui recorrente questionou no TAF de Braga foi proferida num processo de contra-ordenação e não no âmbito da liquidação do imposto ou numa oposição à execução. B. Toda a tese da sentença sai viciada por não atender a essa distinção, facto que se nota pelas citações de jurisprudência que não tem aqui aplicação. C. Na verdade, estamos perante o recurso judicial (art. 80º RGIT) de uma decisão que condenou a firma B..., Lda., no pagamento de uma coima, e que está agora a ser executada contra o recorrente. D. Ora, se existe uma decisão que aplica uma coima, tem necessariamente de ser admitido a possibilidade de dela recorrer para o tribunal e por todos os que nisso tem interesse (art. 401 do Código de Processo Penal, aplicável por força do art. 3, alínea b) do RJIT, que remete para o art. 41 do DL. 433/82, de 27/10 e este para o citado artigo 401 do CPP, bem como também o art. 680, n 2 do Código de Processo Civil e o art. 22 da LGT)). E. E assim como se pode recorrer dessa decisão, tem de se poder questionar tudo o que a ela diz respeito, incluindo nulidades e outras questões acessórios, certamente não menos importantes. F. Tanto mais que o art. 80 do RGIT não faz uma restrição igual à do artigo 204 do CPPT. G. Daí que, qualquer decisão ou qualquer norma que diga o contrário é claramente inconstitucional, desde logo por violar o art. 20 da CRP, que consagra o «Acesso ao direito e tutela jurisdicional efectiva», bem como o nº 10, do art. 32 da mesma Constituição, e também o seu art. 268, particularmente o seu nº 4, que garante a todos os administrados a tutela jurisdicional efectiva dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos, incluindo, nomeadamente... a impugnação de quaisquer actos administrativos que os lesem, independentemente da sua forma...». H. Deste modo, podia o recorrente invocar a nulidade da falta de citação. I. Também na parte que desatendeu a invocada prescrição, a decisão de que se recorre labora num equívoco. J. Na verdade, não pode invocar-se contra o recorrente uma notificação efectuada noutra pessoa, designadamente na execução movida contra a sociedade, para com isso considerar interrompidos os prazos de prescrição. K. Nem contra si podem ser invocados prazos contados a

partir da citação efectuada ao devedor principal, mas sim a partir da sua própria citação. L. E tanto é essencial a sua citação, que até foi ordenada, apesar de ter falhado pelos motivos alegados. M. Aliás, como se alegou no requerimento de interposição de recurso, o art. 48, nº 3 da LGT estabelece até que a interrupção da prescrição relativamente ao devedor principal não produz efeitos quanto ao responsável subsidiário. N. Por outro lado, resulta dos autos que estamos perante uma decisão proferida num processo de contra-ordenação, contra uma sociedade comercial, mas cuja coima se pretende cobrar ao aqui recorrente. O. Ora, está documentalmente demonstrado nos autos que a firma infractora foi dissolvida por sentença proferida no processo 2148/04.3 TJVNF do 2 Juízo Cível de V.N. de Famalicão, transitada em julgado em 28/04/2005, instaurado pelo Ministério Público em representação do Estado. P. Consequentemente, tem de considerar-se extinto o processo por contra-ordenação ou, pelo menos, a coima nele aplicada, em conformidade com os artigos 61 e 62 do RGIF - o que não sucedeu. Q. O TAF de Braga andou perto desta questão, mas não a tratou especificamente, pelo que cometeu uma nulidade ao não apreciar uma questão de conhecimento oficioso. R. De qualquer modo, a decisão de que se recorre tratou de uma questão muito próxima, que é a de a sociedade devedora não ter actividade, apesar de laborar de novo no equívoco de considerar a legalidade da liquidação, como se estivéssemos a discutir um imposto propriamente dito e o presente processo fosse de oposição a uma execução. S. Mas se a coima aplicada resulta de se considerar ter faltado a apresentação de declarações de impostos, pode e deve ver-se se havia razões para exigir essa apresentação. T. Ora, se o Estado pediu a dissolução da sociedade e alegou e demonstrou que a empresa não tinha actividade desde o ano de 1993, como pode invocar infracções posteriores. U. Na verdade, se o Estado alega que a empresa não tinha actividade, não podia haver impostos a liquidar. V. É, pois, manifesto que a dissolução da sociedade acarretou a morte do processo e, ainda que assim não fosse, o facto de ter sido provado que a sociedade não tinha actividade na data em que vem acusada de não ter

entregue as declarações de impostos dessa actividade, compromete irremediavelmente o processo de contraordenação. W. Ao entender de forma diversa, a decisão recorrida violou os citados preceitos legais; A Fazenda Pública não contra-alegou. O Exmº Procurador-Geral Adjunto não emitiu parecer, uma vez que o Ministério Público junto da instância já tomou posição sobre o recurso (cfr. fls. 80) e que aqui se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais. Colhidos os vistos legais, cumpre decidir. 2 A sentença recorrida considerou provada a seguinte matéria de facto: 1. O Serviço de Finanças de Vila Nova de Famalicão 2, instaurou execução fiscal contra a sociedade «B..., Lda.» para cobrança de coima fiscal aplicada àquela sociedade por falta de entrega da declaração periódica do IVA relativamente a todos os meses do ano de 2001; 2. Em 31/05/2004 e em 01/06/2004 foi a sociedade «B..., Lda.» notificada na pessoa do sócio C..., mediante cartas registadas com aviso de recepção endereçadas e recebidas na Rua..., nº..., Vila Nova de Famalicão, para defesa no processo de contra-ordenação referente à não entrega das declarações de IVA de todos os meses do ano de 2001; 3. A decisão de aplicação da coima foi proferida a 23/02/2006, no respectivo processo de contra-ordenação, fixando-se o valor de 2.054,92, tendo a mesma transitado a 04/04/2006; 4. A execução fiscal foi revertida contra A..., tendo o mesmo sido citado a 02/08/2006, na pessoa do seu filho, D... 3 Conforme resulta dos autos, está em causa uma dívida proveniente de coima fiscal, relativa ao ano de 2001, aplicada à originária devedora, a sociedade B..., Lda e para cujo pagamento foi citado, por reversão, o ora recorrente, na sua qualidade de responsável subsidiário. A questão que, previamente, se coloca consiste em saber se o recorrente é ou não responsável pelo exigido pagamento. Essa questão prende-se com uma outra, aliás, de conhecimento oficioso, que tem a ver com a (in)constitucionalidade da responsabilidade subsidiária dos administradores, gerentes ou outras pessoas que tenham exercido a administração das pessoas colectivas

originariamente devedoras, nos termos do disposto no artº 8º do RGIT. A este propósito, escrevem Jorge Sousa e Simas Santos, in RGIT anotado, 2ª ed., pág. 94, que, mesmo alicerçando na responsabilidade civil por factos ilícitos a responsabilização dos responsáveis subsidiários e solidários aqui prevista e mesmo sendo ela dependente de actos próprios destes ou omissão de deveres de controle ou vigilância, é uma realidade incontornável que quem faz o pagamento de uma sanção pecuniária é que a está a cumprir, pelo que esta responsabilização se reconduz a uma transmissão do dever de cumprimento da sanção do responsável pela infracção para outras pessoas. Na verdade, a aplicação de uma pena de multa ou coima consubstancia-se na criação de uma relação de crédito de que é titular o Estado e devedor o condenado e a imposição da obrigação de pagamento da multa ou coima é precisamente a forma de cumprimento da sanção respectiva e, por isso, usem-se os eufemismos que se usarem, quem paga a multa ou a coima coactivamente está a cumprir a sanção. Nestas condições, é duvidosa a constitucionalidade material destas responsabilidades por não assentar (ou não depender, na situação prevista no n.º 6) na verificação em relação ao responsável dos pressupostos legais de que depende a aplicação da respectiva sanção. Com efeito, no n.º 3 do art. 30.º da C.R.P., enuncia-se o princípio da intransmissibilidade das penas, que, embora previsto apenas para estas, deverá aplicar-se a qualquer outro tipo de sanções, por ser essa a única solução que se harmoniza com os fins específicos que justificam a aplicação de sanções, que são de repressão e prevenção e não de obtenção de receitas. Os fins das sanções aplicáveis por infracções tributárias são exclusivamente de prevenção especial e geral, pelo efeito ressocializador ou a ameaça da sanção levar o infractor a alterar o seu comportamento futuro e conseguir que outras pessoas, constando a aplicação àquele da sanção, se abstenham de praticar factos idênticos aos por ele praticados Por isso, a aplicação de sanção a pessoa a quem não pode ser imputada responsabilidade pela sua prática não é necessária para satisfação dos fins que a previsão de sanções tem em vista e, por isso, é constitucionalmente proibida a sua aplicação, por força do preceituado no art. 18.º, n.º 2, da C.R.P. que estabelece o princípio nuclear da

necessidade de qualquer restrição de direitos fundamentais. Por outro lado, a própria presunção legal de que a falta de pagamento consubstanciadora da infracção fiscal é imputável aos gerentes parece igualmente inconstitucional por inconciliável com a presunção de inocência vigente em matéria sancionatória artigo 32.º, n.º 2, da Constituição. Aliás, o n.º 10 deste último preceito dispõe expressamente que são assegurados ao arguido, em quaisquer processos sancionatórios, contra-ordenações incluídas, os direitos de audiência e de defesa, os quais não estão assegurados ao revertido pois que têm que concretizar, desde logo, a possibilidade de recurso ou impugnação judicial do acto sancionatório e a possibilidade efectiva de contraditar eficazmente os elementos trazidos pela acusação. Cfr., por todos, o acórdão do Tribunal Constitucional n.º 220/89, in Boletim do Ministério da Justiça 384, p. 326. Em comentário àquele inciso normativo, os constitucionalistas Gomes Canotilho e Vital Moreira, in CRP anotada 4ª edição, p. 526, nota XVII, referem tratar-se, aí, de uma simples irradiação, para esse domínio sancionatório, de requisitos constitutivos do estado de direito democrático, assacando a tais processos sancionatórios, carácter para-penal, consequentemente de natureza pública. E o acórdão do Tribunal Constitucional n.º 265/01, de 19 de Junho, assinala que não só se aplicam, ao ilícito contra-ordenacional, garantias constitucionalmente atribuídas ao direito penal (v.g. princípios da legalidade e da aplicação da lei penal mais favorável), como também existe um evidente paralelismo entre o processo penal e o processo contra-ordenacional que é conformado por princípios básicos daquele, tendo em atenção os interesses subjacentes (Acórdão desta Secção do STA de 12/3/08, in rec. nº 1.053/07). No mesmo sentido, pode ver-se o Acórdão desta Secção do STA de 27/2/08, in rec. nº 1.057/07. É, assim, de concluir que, também no domínio do ilícito contra-ordenacional, se deve aplicar os princípios da intransmissibilidade das coimas e da presunção de inocência, pelo que estas não podem ser exigidas ao revertido, ainda que em termos de responsabilidade subsidiária, nos termos do artº 8º do RGIT. E tanto basta para o presente recurso proceder, ficando,

assim, prejudicada a apreciação das demais questões suscitadas nas conclusões da respectiva motivação. 4 Nestes termos e com este fundamento, acorda-se em conceder provimento ao recurso e revogar a sentença recorrida, julgando-se, assim, procedente o recurso judicial interposto pela recorrente. Sem custas. Lisboa, 28 de Maio de 2008. Pimenta do Vale (relator) António Calhau Jorge de Sousa