AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DA A23 LIGAÇÃO COVILHÃ (NORTE)



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Transcrição:

AVALIAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE UM SISTEMA DE TRATAMENTO DA A23 LIGAÇÃO COVILHÃ (NORTE) Mário ALBUQUERQUE 1 ; Ana Estela BARBOSA 2 ; António ALBUQUERQUE 3 RESUMO A exploração de infra-estruturas rodoviárias tem contribuído para a produção de poluentes (e.g. SST, metais pesados, óleos e gorduras e hidrocarbonetos) que podem induzir impactes ambientais negativos no solo, na vegetação e no meio hídrico envolvente. Para minimizar os efeitos da descarga daqueles compostos no ambiente, têm sido projectados diversos sistemas de decantação e infiltração para as escorrências de vias. Na ligação Covilhã Norte auto-estrada A23 foram construídas quatro bacias de decantação, duas das quais descarregam os seus efluentes na ribeira de Corges (afluente do rio Zêzere). Uma destas bacias encontra-se em estudo no âmbito duma tese de mestrado, afim de serem avaliadas as condições de funcionamento hidráulico e capacidade de tratamento. Entre as principais tarefas realizadas encontram-se o levantamento in situ de parâmetros normalmente utilizados para o dimensionamento destas estruturas, a avaliação do seu funcionamento e comportamento estrutural ao longo do tempo e a realização de duas campanhas de amostragem para averiguação das características das escorrências, bem como da capacidade de tratamento do sistema. Foram detectados problemas de fissuração na estrutura e descolagem da tela impermeabilizadora, eventualmente associados ao assentamento dos taludes de terra, que, após terem sido reportados à entidade gestora (Scutvias-Autoestradas da Beira Interior S.A.), levou ao planeamento de uma série de intervenções, algumas das quais já executadas. O diagnóstico e resolução de problemas estruturais, alguns dos quais implementados após o período de monitorização, revelam a importância de existir um acompanhamento conjunto do projectista, construtor e entidade gestora durante a execução e operação deste tipo de obra. 1 Engenheiro Civil, Mestrando no Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Covilhã, +351.967714882, mapedial@yahoo.com 2 Bolseira de Investigação Doutorada, Departamento de Hidráulica, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Av. do Brasil, 101, 1700-066 Lisboa, +351.21.8443000, aestela@lnec.pt 3 Professor Auxiliar, Departamento de Engenharia Civil e Arquitectura, Universidade da Beira Interior, Edifício 2 (Engenharias), 6200-358 Covilhã, +351.275.329981, aa@ubi.pt 1

As campanhas de monitorização permitiram observar uma variação significativa da concentração de poluentes afluentes à bacia, que poderá estar relacionada com os diferentes períodos de tempo seco entre eventos de precipitação, bem como a diferentes contribuições provenientes de terrenos agrícolas. Esta circunstância levou, após avaliação conjunta dos resultados com a entidade gestora, à proposta de alteração da altura do descarregador de saída, que será concretizada a curto prazo. Desta forma, a bacia poderá reter os efluentes por um período de tempo mais alargado, permitindo a homogeneização da fase líquida e a remoção de alguns compostos por decantação, evitando que sejam descarregados para o meio receptor concentrações elevadas de poluentes. A infiltração detectada não parece, com base nos dados de estudos recentes, estar a afectar a qualidade da água das origens subterrâneas monitorizadas. A existência de uma camada de areia na zona basal da bacia, bem como a constituição dos solos na zona, poderão formar uma zona de retenção de compostos decantados. Contudo, só um período de monitorização mais alargado, com análises aos sedimentos da bacia e avaliação das características físicas do solo, poderá dar indicações mais precisas sobre a retenção e o modo de transporte de compostos no sistema baciasolo. Como demonstra este estudo, não são necessários meios muito complexos para efectuar uma avaliação conclusiva sobre o funcionamento dum sistema de tratamento de águas de escorrência de estradas, desde que sejam previstas condições mínimas para a realização de campanhas de monitorização. A realização deste tipo de campanhas, associadas a procedimentos regulares de inspecção, podem ajudar a identificar problemas estruturais e de funcionamento hidráulico destes sistemas, bem como, quando necessárias, propor medidas para a sua reabilitação. Desta forma, pode garantir-se o funcionamento adequado do sistema, preservando o ambiente e rentabilizando o investimento efectuado. PALAVRAS-CHAVE: Escorrências de rodovias, bacia de decantação, funcionamento hidráulico, capacidade de tratamento. 1 - INTRODUÇÃO Nas últimas décadas, principalmente no Noroeste da Europa e na América do Norte, muitos estudos sobre a poluição de solos e águas subterrâneas adjacentes a estradas de circulação rodoviária foram realizados e vieram provar que estas fontes de poluição não pontual constituem importantes focos de poluição. As escorrência de estradas, auto-estradas e viadutos são, pois, uma fonte difusa de poluição apresentando um carácter linear que as diferencia das restantes, e que atingem o solo e meio hídrico. Assim, um pouco como consequência do crescimento urbano e das diferentes necessidades a que as vias estão ligadas, como é o caso do seu papel imprescindível na circulação de pessoas e mercadorias, a utilização dos recursos hídricos pode ser ameaçada pela fonte de poluição não pontual que as estradas constituem, o que é preocupante, não só em termos ambientais, mas porque grande 2

parte destes recursos constituem uma importante fonte de água para abastecimento. Os efeitos desta poluição tendem a ser contínuos e cumulativos ao longo do tempo. Em Portugal, apesar da maioria da protecção ambiental se direccionar para fontes de poluição pontual, diferentes estudos têm comprovado as características dos poluentes das estradas (e.g. Barbosa, 1999 e Leitão et al., 2005) tornando-se assim cada vez mais necessário o alargamento do conhecimento nesta matéria, de modo a que estes problemas possam ser controlados e minorados. Este estudo pretende avaliar o funcionamento e a adequação de uma bacia de decantação utilizada para o tratamento das escorrências da ligação Covilhã Norte auto-estrada A23, junto ao viaduto sobre a ribeira de Corges, bem como angariar dados sobre efeitos resultantes da descarga de efluentes tratadas no meio hídrico receptor. Os objectivos principais deste estudo são: Caracterizar sucintamente a área drenante associadas às bacias de decantação construídas próximo do viaduto sobre a ribeira de Corges; Avaliar sucintamente as condições de funcionamento hidráulico de uma das bacias e a sua capacidade de tratamento, com base em dois eventos de precipitação diferentes; Avaliar e identificar problemas estruturais e de construção e propor medidas para a sua reabilitação. 2 - PROBLEMÁTICA DAS ESCORRÊNCIAS DE VIAS O tipo de poluentes, assim como a sua quantidade e concentrações, que com o passar do tempo se vão acumulando nas estradas, estão associados ao tipo de pavimento utilizado (materiais constituintes), ao tipo e quantidade de veículos em circulação (e.g. degradação de pneus, produtos de combustão, perdas do sistema de lubrificação, produtos resultantes da corrosão e do desgaste de componentes ou do derrame de produtos transportados em caso de acidente), a actividades de manutenção das vias e seus componentes (e.g. guardas de segurança) e, ainda, às características de ocupação dos terrenos adjacente às vias. O transporte de poluentes, por via atmosférica, pode, também, contribuir para as diferentes características observadas nos efluentes drenados do pavimento. As águas de escorrências das estradas possuem características próprias induzidas pelo tipo de poluentes que nelas se podem encontrar, como, por exemplo, metais pesados, hidrocarbonetos, partículas sólidas, nutrientes e matéria orgânica. Para a minimização do impacte ambiental associado às águas de escorrência das rodovias nos ecossistemas, vários tipos de infra-estruturas de tratamento, com diferentes tipologias de funcionamento, podem ser concebidos. Existem sistemas de infiltração/filtração e de detenção/retenção, que se podem diferenciar entre si pela presença de água permanente ou não, assim como pela utilização de vegetação. Interessa, neste estudo, descrever sucintamente os princípios de funcionamento e concepção de sistemas de detenção, visto que o trabalho incidiu sobre uma bacia de 3

decantação. O objectivo principal deste sistema baseia-se na intercepção de escorrências, tratamento por sedimentação (separação sólido - liquido) e descarga do efluente tratado em massas hídricas, ou infiltração no solo, que apresentem baixa sensibilidade à descarga de residuais, podendo, ainda, reter algum volume de líquido entre eventos de precipitação consecutivos. As bacias de detenção são, normalmente, estruturas construídas em betão armado ou terra, dotadas, quando necessário, de um sistema de impermeabilização em toda a zona basal e taludes. São dimensionadas para, durante uma chuvada, reterem as escorrências durante um período de tempo que, normalmente, é inferior a 24 horas (Barbosa et al., 2003). De acordo com a FHWA (1996), este tipo de sistema de tratamento pode ser utilizado para águas de escorrências de estradas sempre que se prevejam elevadas cargas de metais pesados (e.g. chumbo e cádmio), quando, por motivos de localização, tendo sempre em conta as características geológicas do terreno, não seja possível a utilização de sistemas de infiltração, ou, quando se torna necessário o controlo de caudais de ponta, de modo a serem minimizadas cheias ou protegidos terrenos contra a erosão hídrica, a jusante da bacia de detenção. 3 - CASO DE ESTUDO: LIGAÇÃO COVILHÃ NORTE - AUTOESTRADA A23 3.1 - Caracterização da área de estudo e selecção da bacia A ligação Covilhã Norte auto-estrada A23 engloba dois troços de via, com cerca de 2,0 km e 4,2 km de extensão, respectivamente (Figura 1). O primeiro troço faz a ligação entre a zona do Hospital e uma rotunda; o segundo entre esta e a autoestrada A23. Neste último troço, existe um viaduto em betão armado sobre a ribeira de Corges (afluente do rio Zêzere), com ligação em aterro a montante e a jusante. Parte da zona envolvente é classificada como RAN (Reserva Agrícola Nacional) e REN (Reserva Ecológica Nacional), existindo actividade agrícola em pequena escala e pequenos aglomerados urbanos de ambos os lados do viaduto, caracterizados por população carenciada e que subsistem com base na agricultura e na criação animal. Para minimizar eventuais impactes ambientais negativos das escorrências da via naquela zona, no que respeita a captações de água para rega e consumo animal e humano, foram projectadas e construídas quatro bacias de decantação, duas a montante do viaduto e outras duas a jusante, situando-se, em cada caso, uma de cada lado da via de acesso à rotunda norte da Covilhã (Figura 1). Desta forma, as escorrências do pavimento seriam captadas, encaminhadas, tratadas e lançada na ribeira de Corges com carga poluente reduzida. O dimensionamento das quatro bacias teve como objectivo captar, reter e tratar por decantação os poluentes presentes nas águas de escorrência do troço de estrada referido, para um período mínimo de 3 h e para uma chuvada média de 41 mm, podendo, ainda, acumular volumes de líquido entre chuvadas consecutivas. 4

N Figura 1 Ligação Covilhã Norte auto-estrada A23, com identificação das quatro bacias de decantação As bacias são caracterizadas por apresentarem duas zonas principais, o desengordurador e a zona de decantação (Figura 2 e 3). Saída Entrada Figura 2 Perfil longitudinal tipo das bacias de decantação localizadas na proximidade do viaduto sobre a ribeira de Corges 5

Saída Entrada Figura 3 Planta tipo das bacias de decantação localizadas na proximidade do viaduto sobre a ribeira de Corges O desengordurador permite a remoção de óleos, gorduras e hidrocarbonetos, uma vez que, sendo estes compostos menos densos que a água, acumulam-se à superfície saindo o efluente tratado para o interior da zona de decantação, a um nível inferior em relação ao nível do liquido no desengordurador. Este órgão pode, ainda, promover a intercepção de material sólido (e.g. areias, plásticos e garrafas) arrastado pelas escorrências, evitando que este atinja o interior da bacia. Para concretização dos objectivos deste estudo, houve necessidade de escolher uma bacia para monitorizar, tendo sido considerados, numa primeira fase, a sua localização e acessos. Nesta base, pré-seleccionaram-se as bacias 3 e 4, por se encontrarem mais próximas da Covilhã. Para selecção final da bacia para estudo avaliaram-se as percentagens relativas de áreas drenantes pavimentada e não pavimentada (Quadro 1), para as quais cada uma delas estava dimensionada. Quadro 1 Características das áreas drenantes para as bacias 3 e 4 Faixa [m 2 ] Taludes [m 2 ] Total [m 2 ] Percentagem de taludes (%) Bacia 3 2816 1200 4016 30 Bacia 4 6881 4175 11056 38 6

Uma vez que o objectivo deste estudo era identificar e quantificar os poluentes gerados no troço Covilhã Norte A23, interessava que a contribuição da zona de pavimento fosse a maior possível em relação à área total. De acordo com o Quadro 1, a contribuição de zonas em talude para a área total é inferior no caso da bacia 3, daí ter sido esta a bacia seleccionada para monitorização. 3.2 - Campanhas de amostragem Para a concretização dos objectivos propostos, elaborou-se um plano de monitorização, composto por duas campanhas de amostragem, realizadas em diferentes épocas do ano. A primeira foi realizada a 14 de Janeiro de 2006 (com um total de 20 amostras) e a segunda a 3 de Maio de 2006 (com um total de 17 amostras). Para cada campanha foram recolhidas amostras à entrada no sistema (1-Afluente à bacia), à saída do desengordurador (3-Efluente do desengordurador) e à saída da bacia (2-Efluente da bacia de decantação), como representado na Figura 4. Foram, ainda, colhidas amostras em dois poços próximos da bacia (pontos 4 e 5) e na ribeira de Corges (ponto 6), que constituem três pontos englobados no Plano de Monitorização da A23 que a Universidade da Beira Interior está a realizar desde 2004. A amostragem à entrada da bacia foi efectuada com um amostrador automático da marca Sigma 9000, programado para recolher amostras a diferentes intervalos de tempo. As restantes amostras realizaram-se manualmente. Em cada campanha foram analisados in situ a temperatura, ph, condutividade e oxigénio dissolvido (OD). As amostras foram recolhidas e conservadas de acordo com o descrito no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1995) e transportadas rapidamente para o laboratório para determinação dos seguintes parâmetros: azoto amoniacal, nitratos, Carbono Orgânico Total (COT), Carência Química de Oxigénio (CQO), zinco, cobre, crómio e SST. O OD foi medido instantaneamente através do sensor Oxical SL e a condutividade através do sensor TetraCon 325, enquanto que para as determinações de temperatura e ph se utilizou um sensor Sentix 41, todos da marca WTW e compatíveis com o medidor multiparamétrico MultiLine P4 da mesma marca. O azoto amoniacal foi avaliado através de eléctrodo ORION TM (método potenciométrico), enquanto que a determinação de nitratos foi realizada com base na reacção colorimétrica com 2,6 dimetilfenol, de acordo com o especificado norma DIN 38 405 09-2. O COT foi determinado através de um analisador TOC 5000 A da Shimadzu. A CQO foi determinada pelo método do refluxo aberto e os SST por gravimetria, ambos de acordo com os procedimentos indicados no Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA, 1995). O zinco, cobre e crómio foram determinados no laboratório CITEVE por métodos de referência. 7

Figura 4 Pontos de amostragem 3.3 Avaliação do funcionamento do sistema de drenagem e tratamento Durante o período do estudo (cerca de oito meses), efectuaram-se várias visitas ao sistema de drenagem (taludes, valetas e caixas de visitas e de derivação) e tratamento, em tempo seco e durante chuvadas, afim de serem avaliadas, quer as condições de escoamento, quer a estabilidade de elementos do sistema (estruturas de betão aramado, taludes e tela impermeabilizadora). 4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Características das águas de escorrência As campanhas de monitorização foram realizadas tendo em conta as variações sazonais, ou seja, foram pensadas para que uma delas fosse executada em época de Inverno, após um período seco relativamente curto (8 de Janeiro a 14 de Janeiro do ano de 2006, 6 dias sem precipitação), com uma precipitação diária de 17,9 mm, e a segunda amostragem na Primavera, com um período seco entre eventos de precipitação mais longo (23 de Abril a 3 de Maio do ano 2006, 11 dias), com uma precipitação diária de 2,5 mm. As gamas de valores para os diferentes parâmetros físico-químicos analisados, para cada evento de precipitação monitorizado, são apresentadas no Quadro 2. Apenas se reportam aqui os resultados relativos ao sistema de tratamento, não se apresentando os dados obtidos para o meio hídrico adjacente (poços e ribeira de 8

Corges), devido à escassez de resultados analíticos até à data de finalização desta comunicação. Contudo, os dados existentes, resultantes de duas campanhas de monitorização anteriores no âmbito do Plano de Monitorização Ambiental da A23 (Albuquerque e Carvalho, 2005a, 2005b), não revelaram a existência de concentrações preocupantes dos parâmetros analisados, quer nos poços referidos, quer na ribeira de Corges. Quadro 2 Gamas de valores nas águas de escorrência (campanhas de Janeiro e Maio de 2006) Gama de valores N.º de Parâmetro Afluente à bacia Saída do Descarga da amostras (1) desengordurador (3) bacia (2) ph 40 7,1-7,4 7,1-7,3 7,1-7,2 Temperatura (ºC) 40 8,8-13,1 9,0-12,1 9,0-11,6 Condutiv. (µ/cm) 40 18 362 42-433 41 487 OD (mgl -1 ) 40 2,1-6,0 2,3-5,3 2,1-5,3 SST (mgl -1 ) 22 5 180 15-40 10 65 CQO (mgl -1 ) 22 11,7 639,0 23,5 302,0 21,3 411,0 Amónio (mgl -1 ) 22 <0,02-2,95 <0,02-1,26 <0,02-1,84 Nitratos (mgl -1 ) 22 <0,01-33,60 <0,01-19,20 <0,01-23,10 Cobre (mgl -1 ) 22 0,005-0,011 0,005-0,010 0,015-0,016 Crómio (mgl -1 ) 22 0,001-0,003 0,002-0,003 0,003-0,004 Zinco (mgl -1 ) 22 <0,10-0,28 0,20 <0,10 Óleos e Gord. (mgl -1 ) 20 0,19-1,33 0,14-0,96 0,42-0,93 HAP (µg/l -1 ) 20 0,15-0,49 0,14-0,47 0,42-0,93 Para a primeira campanha, realizada em época de Inverno, obtiveram-se valores relativamente baixos para os diferentes parâmetros, apresentando o amónio, nitratos e zinco concentrações abaixo do limite de detecção. A segunda campanha, realizada na Primavera, com um período antecedente sem precipitação de 11 dias, revelou, à entrada do sistema, concentrações bastante mais elevadas para a maioria dos parâmetros analisados. Esta variação poderá ter estado relacionada com o maior período seco antecedente, embora a literatura refira não existir relação linear directa entre estas duas variáveis (FHWA, 1996). O aumento significativo de nutrientes (amónia e nitratos) pode estar directamente ligado com o transporte atmosférico destes compostos, dos campos de 9

cultivo adjacentes à rodovia, uma vez que estes são utilizados frequentemente para actividades agrícolas. Uma das dificuldades sentidas neste estudo foi a falta de recursos físicos no local de monitorização, como é o caso da inexistência de uma cabine estanque e dotada de energia eléctrica, onde equipamentos de medição pudessem ser convenientemente instalados. Outra dificuldade foi a de não poder prever, com rigor, a ocorrência dos eventos de precipitação, pois desta depende a fiabilidade dos resultados obtidos. 4.2 - Análise da infra-estrutura O adequado funcionamento hidráulico sanitário deste tipo de sistemas está directamente associado à qualidade da sua construção, havendo aspectos de funcionamento que deverão ser cuidadosamente tratados e inspeccionados. Durante a monitorização da bacia 3, observaram-se alguns factos que, do ponto vista funcional, poderiam afectar o desempenho esperado do sistema. O descarregador de saída (Figura 5), abertura de geometria quadrática de 20 cm de largura, está localizado a cerca de 50 cm em relação ao fundo da bacia, permitindo, apenas, a retenção de um volume parcial das escorrências afluentes. Para eventos de duração elevada, seria mais adequado promover um tempo de retenção hidráulico superior, o que poderia ser conseguido através da subida da altura do descarregador. Esta alteração permitiria, ainda, obter uma decantação mais eficaz dos poluentes. Esta proposta de alteração foi bem aceite pela Figura 5 Localização do descarregador de saída entidade gestora (Scutvias-Autoestradas da Beira Interior S.A.) que se encarregará da respectiva rectificação a curto prazo. Por inspecção local, verificou-se que a tela impermeabilizadora se encontrava descolada em alguns pontos de contacto com elementos de betão armado (Figura 6), permitindo a infiltração de volumes retidos naqueles pontos. A colocação da tela é executada de modo a que, no decorrer da vida útil da obra, garanta a estanquidade do sistema. Contudo, por motivos de origem diversa, pode ocorrer, durante a exploração da estrutura, a Figura 6 Ponto de descolagem da tela impermeabilizadora, junto a uma das saídas do desengordurador 10

deslocação ou descolagem da mesma. Por outro lado, detectaram-se, também, problemas de fissuração da estrutura, quer no desengordurador, quer no órgão de saída. Um dos factores que pode ter contribuído para estas duas situações foi a destabilização dos solos que constituem os paramentos da bacia. Para minimizar estes problemas, a entidade gestora disponibilizou-se imediatamente para a reconsolidação dos taludes, a reabilitação das estruturas e a recolagem da tela, afim do sistema poder desempenhar a sua função de tratamento. Contudo, convêm referir que, apesar de ter sido observada infiltração na bacia, não foram detectadas, nas campanhas de monitorização efectuadas nos últimos dois anos (Albuquerque e Carvalho 2005a, 2005b), concentrações anormais dos parâmetros físico-químicos analisados nos dois poços (pontos 4 e 5 da Figura 4) e na ribeira de Corges (ponto 6 da Figura 4). Outro factor importante para o adequado funcionamento do sistema é o estado de consolidação dos taludes drenantes para a bacia. Por inspecção local, verificou-se existir uma colmatação parcial do órgão de entrada (desengordurador), que poderia afectar o seu funcionamento (Figura 7). Figura 7 Aspecto do assoreamento parcial do desengordurador O assoreamento deste orgão prende-se com o arrastamento de elevadas quantidades de material sólido dos taludes e valas de drenagem, localizadas a montante, para a bacia, que não se encontravam totalmente consolidadas, como é normal em obras de vias recentemente executadas. Para minimizar os efeitos negativos deste problema, a Scutvias-Autoestradas da Beira Interior S.A. equacionou um conjunto de soluções para consolidação dos taludes e valas drenantes, que podem incluir, por exemplo, a colocação de enrrocamento e vegetação. O estabelecimento de um plano de inspecção e manutenção periódicos, 11

por exemplo no fim do Verão e durante o período pluvioso, está igualmente em fase de preparação. Por outro lado, a condução das escorrências até à bacia deve ser pensada de modo a que esta de desenvolva longitudinalmente e de forma suave, com o intuito de não haver perdas durante o transporte. Conforme se pode observar na Figura 8, o sistema de transporte das escorrências desenvolve-se em meia cana aberta e apresenta mudanças de direcção bruscas, levando a que, em alguns pontos, as águas saíssem do sistema de drenagem. Estes volumes acabavam por se infiltrar em áreas próximas da via, podendo contribuir para a erosão da estrutura onde assenta o pavimento. Para minimizar este problema, após discussão do assunto com a entidade Figura 8 Destabilização do sistema de transporte gestora, foi equacionada a colocação de valetas de secção alargada nestes pontos, que serão concretizadas a curto prazo. Não menos importante, é a distribuição da água que sai do desengordurador para o interior da bacia de decantação, que, ao utilizar três descargas, projectadas para a mesma altura, deveria ser uniforme. Durante os ensaios observou-se que a descarga ocorria maioritariamente por uma das caixas (Figura 9), estando as restantes desniveladas, provavelmente devido à ocorrência dos assentamentos já referidos. Esta circunstância, leva a que, para eventos de precipitação pouco intensos mas de longa duração, apenas a descarga que possui o nível de saída mais baixo sirva de comunicação com a bacia, ou seja, não se obtém uma uniformização na distribuição do efluente no seu interior. Este problema ficará resolvido após a reabilitação do sistema, nos termos atrás sugeridos. Figura 9 Descarga não uniforme do desengordurar para a bacia Interessa, por fim, salientar a importância que o perfil longitudinal tem para o correcto funcionamento da bacia, desde o sistema de transporte das escorrências ao sistema de tratamento. Assim, tendo em conta que todo o sistema hidráulico 12

sanitário funciona pelo princípio da gravidade e linhas de energia, é conveniente que o transporte e descarga das escorrências entre as diferentes fases de tratamento sejam executadas de maneira que, para situações extremas de caudais de ponta, o sistema não seja afogado. Esta situação poderá acontecer sempre que o nível da descarga de segurança no interior da bacia se encontre, sob o ponto de vista hidráulico, ao mesmo nível do sistema de transporte, pelo que, apenas, deverá ser controlado o nível durante a operação do sistema. 5 - CONCLUSÕES As duas campanhas de amostragens realizadas revelaram diferenças significativas de valores para os parâmetros físico-químicos analisados, que se atribuiu ao período seco antecedente respectivo e a diferentes contribuições de terrenos agrícolas adjacentes, embora se saiba que a variabilidade de concentrações seja uma característica intrínseca às escorrências de estradas. Contudo, só um período de monitorização mais alargado poderá dar indicações mais precisas sobre a variabilidade dos caudais e cargas afluentes afluentes à bacia. O aumento significativo de nutrientes (amónia e nitratos), na segunda campanha, pressupõe-se ter estado associado à prática agrícola nas terras de cultivo adjacentes ao troço de via em estudo. Esta observação revela a importância que o uso do solo circundante tem para a previsão da qualidade das escorrências de vias de comunicação. Os dados existentes relativos à qualidade da água nas origens monitorizadas (poços localizados junto à bacia e ponto de descarga na ribeira de Corges), quer obtidos durante este estudo (não apresentados, por parte estarem, ainda, indisponíveis), quer os obtidos em campanhas realizadas em 2004 e 2005, não indicam alteração significativa naqueles pontos. Esta circunstância, revela a importância da existência de um plano de monitorização ambiental, que permita a avaliação de eventuais variações na qualidade de origens de água e sua relação com a exploração da via ou de elementos envolventes (e.g. terrenos agrícolas). Da análise efectuada ao funcionamento estrutural da bacia, foram detectadas algumas anomalias, algumas das quais foram corrigidas pela entidade gestora após o período de monitorização, enquanto que outras estão a ser rectificadas. Os problemas mais significativos foram a observação de alguma fissuração nos elementos de betão armado e, em alguns pontos, a descolagem da tela, que teriam sido provocadas por dificuldade de compactação das terras. Para resolver estes problemas, foram discutidas várias soluções, tendo a entidade gestora tomado medidas, ou planeado acções, para a substituição de valetas em meia cana por outras de secção alargada e a consolidação de taludes, imediatamente a montante da bacia, a compactação dos terrenos da bacia, a reabilitação estrutural dos pontos com fissuração, o nivelamento das caixas de saída do desengordurador, a recolagem da tela e a alteração da localização do descarregador de saída. Esta circunstância revela a importância de existir um acompanhamento conjunto das entidades projectista, construtora e gestora durante a execução das estruturas, bem como a necessidade de implementação de um 13

plano de inspecção estrutural dos vários elementos do sistema (colecta, drenagem, tratamento e descarga final). Foi, ainda, observada infiltração das escorrências através da zona basal da bacia, embora não tenha sido detectada qualquer variação na qualidade da água das origens subterrâneas monitorizadas nos últimos dois anos. Nestes termos, não existe evidência, actualmente, da bacia não poder funcionar, também, como sistema de infiltração. Contudo, esta situação só deverá ser equacionada após a realização de um estudo mais pormenorizado ao sistema bacia-solo. Os resultados do estudo reflectem a importância da existência de planos de inspecção estrutural e monitorização ambiental, associados a procedimentos de exploração adequados, realizados por pessoal especializado, como observado na autoestrada A23, que permitem um adequado acompanhamento do funcionamento destas estruturas, implementadas para a protecção ambiental. Estes planos são essenciais para a revisão permanente das funcionalidades destas estruturas de tratamento e para a execução de eventuais acções de alteração/melhoramento, como ocorreu neste estudo. Considera-se que este exemplo prático demonstra como se pode, com meios relativamente reduzidos, efectuar uma avaliação conclusiva sobre o funcionamento dum sistema de tratamento de águas de escorrência de estradas. É essencial que essa avaliação seja efectuada e as necessárias medidas de reabilitação do sistema, quando necessárias, sejam implementadas. Caso contrário, podem ser comprometidos os objectivos de tratamento e de protecção ambiental equacionados, bem como desaproveitado o investimento efectuado. AGRADECIMENTOS Á Scutvias-Autoestradas da Beira Interior S.A., em especial ao Eng.º Paulo Torres, por todo o apoio prestado ao longo da realização deste estudo. À D. Paula, pelo fornecimento de electricidade para a execução das campanhas de amostragem. BIBLIOGRAFIA Albuquerque A. e Carvalho P. - Programa de monitorização da qualidade das águas - Lanço A23/IP2 (Teixoso/Alçaria-ligação à Covilhã). Plano de Monitorização Ambiental da A23, SCUTVIAS Autoestradas da Beira Interior S.A. Segundo relatório, UBI, Covilhã, 2 de Novembro de 2005, 20 pp., 2005a. Albuquerque A. e Carvalho P. - Programa de monitorização da qualidade das águas - Lanço A23/IP2 (Teixoso/Alçaria-ligação à Covilhã). Plano de Monitorização Ambiental da A23, SCUTVIAS Autoestradas da Beira Interior S.A. Primeiro relatório, UBI, Covilhã, Maio de 2005, 26 pp., 2005b. APHA - Standard methods for the examination of water and wastewater. 19ª Edição, APHA, AWWA, WEF, Washington DC. (EUA), 1220 pp., 1995. 14

Barbosa, A. E. - Curso Sobre Características de Águas de Escorrência de Estradas em Portugal e Minimização dos seus Impactes. LNEC, Lisboa, Outubro de 2003. Barbosa A. E. - Highway Runoff Pollution and Design of Infiltration Ponds for Pollutant Retention in Semi-Arid Climates. Tese de doutoramento, Environmental Engineering Laboratory, Aalborg University, Denmark, ISBN 87-90033-19-1, 1999. Barbosa, A. E. Leitão, T. e Carvalho, C.R. - Águas de Escorrência de Estrada. Sistemas para minimização de impactes. Relatório 233/03-NRE-DHA, LNEC, Lisboa, 2003. FHWA - Evaluation and Management of Highway Runoff Water Quality. Publicação da Federal Highway Adminitration n.º FWMA-PD-96-032, U.S. Department of Transportation, Washington, 1996. Leitão, T. E., Barbosa, A. E., Henriques, M.J., Ikävalko, V. e Menezes, J. T. M. - Avaliação e Gestão Ambiental das Águas de Escorrência de Estradas. Relatório Final. Relatório 109/05 NAS, LNEC, Lisboa, Abril de 2005, 243 pp. SEIA - Programas de Monitorização das Águas de Escorrência e Subterrâneas. Relatório Final para a Brisa, Lisboa, 1995. Vieira, A. R., Oliveira, R. M., Matos, J. S. e Barbosa, A. E. Controlo da poluição de escorrências pluviais de vias rápidas em Portugal. In 6.º Congresso da Água, Porto Março de 2002. 15